terça-feira, 16 de agosto de 2011

Super 8

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Super 8 (Super 8, 2011)

Estreia oficial: 9 de junho de 2011
Estreia no Brasil: 12 de agosto de 2011
IMDb



"Super 8" pode ser encarado como uma mistura de "Os Goonies" (1985) e "Cloverfield - Monstro" (2008). O roteiro de "Os Goonies" partiu de uma história de Steven Spielberg, já o de "Cloverfield", de uma ideia de J.J. Abrams. Spielberg é o produtor de "Super 8", Abrams, seu diretor. Portanto, acho que não há coincidências nenhuma neste fato.

O filme dirigido por Abrams é como uma homenagem a filmes como o próprio "Os Goonies", e "E.T. - O Extraterrestre" (de 1982, dirigido também por Steven Spielberg). E assisti-lo traz uma certa nostalgia, principalmente por aqueles que, assim como eu, cresceram nos anos 1980, assistindo a filmes como esses dois citados.

"Super 8", que foi escrito pelo próprio Abrams, conta a história de um grupo de amigos pré-adolescentes que, no verão de 1979, ao gravar uma cena de um filme em super 8 que estão realizando, presenciam um fenomenal acidente de trem, próximo à estação da pequena cidade onde moram, Lilian. Não demora muito para que o exército tome conta da situação, encobrindo alguns fatos, inclusive a presença de uma criatura extraterrestre que logo começa a atacar a cidadezinha. Em meio a tudo isso, o grupo de amigos ainda tem que lidar com problemas com seus pais e com o surgimento do primeiro amor.

É interessante notar que sempre que o filme explora o relacionamento entre os amigos e a realização do filme destes, ele fica melhor. Quando volta-se para o "monstro", ou para o drama familiar, acaba derrapando.

A dinâmica entre os jovens atores é muito boa, e o relacionamento entre eles passa uma veracidade incrível; assim, não é de se espantar que, em meio a uma conversa importante em uma lanchonete, o assunto logo descambe para piadinhas, provocações e brincadeiras típicas da idade. São momentos que ajudam a construir os personagens e fazem com que os espectadores identifiquem-se com estes. Da mesma forma, os momentos em que a trupe está gravando cenas para seu curta em super 8 são engraçados e dão o alívio cômico certo para a narrativa.

Porém, Abrams coloca um drama familiar forte envolvendo o casal protagonista, Joe (Joel Courtney) e Alice (Elle Fanning), e seus respectivos pais, que sempre soa maniqueísta, tendo o único propósito de levar os espectadores às lágrimas. Tentativa que falha justamente por aparentar forçada e melodramática. Aqui há uma certa similariedade com as obras de seu 'mentor', Spielberg, já que a ausência da figura paterna é recorrente nos trabalhos deste cineasta.

Ainda lembrando os filmes do gênero com a 'marca' Spielberg, J.J. Abrams abusa do uso de lanternas (alguém falou "Os Goonies" e "A Casa Monstro"?) e de bicicletas (hãããã, "E.T."?) para marcar a aventura dos amigos 'cineastas'. Elementos que auxiliam na tal da nostalgia, fazendo uma bonita homenagem.

Acertada também é a parte técnica do longa. Desde a fotografia de Larry Fong, que varia entre uma escuridão profunda, que auxilia a manter o clima de tensão, e cenas mais iluminadas para ilustrar o cotidiano da pequena cidade onde a história acontece. Passando pela cuidadosa direção de arte que recria com perfeição o ambiente da época, assim como o capricho com os objetos de cena e com os figurinos. Até chegar aos incríveis efeitos especiais, que criam um espetacular acidente de trem e uma criatura monstruosa que, quando aparece, convence em seus movimentos e texturas.

Porém, é exatamente quando volta-se para a tal criatura que "Super 8" falha. Optando, acertadamente, por não mostrar o monstro durante a maior parte do filme, J. J. Abrams deveria ter continuado desta maneira até o fim do longa. Para completar, o final, explicando 'as razões' do monstro soa forçado e inverossímil (e não só para a 'vida real', o que seria perdoável se fizesse sentido dentro da lógica do próprio filme, o que também não acontece). Assim como a tentativa de humanizar o monstro, num confronto totalmente patético entre este e o protagonista.

Finalmente, é interessante notar que o filme realizado pelos personagens - e que, acertadamente, é mostrado durante os créditos finais - seja mais interessante (e até melhor!) do que o próprio filme em que ele está contido. O filme em super 8, "O Caso", é uma mistura entre filmes de detetive e filmes de zumbis, contendo, inclusive uma justa homenagem a George Romero (talvez o maior diretor de filmes de zumbis, responsável pelos clássicos "A Noite dos Mortos-Vivos", de 1968; "Zombie - O Despertar dos Mortos", de 1978; "Dia dos Mortos", de 1985; e o mais recentes "Terra dos Mortos", de 2005, e "A Ilha dos Mortos", de 2009).

Enfim, J.J. Abrams deveria ter seguido melhor os ensinamentos de seu 'mestre', e se inspirado em filmes como "A Casa Monstro" (2006), também produzido por Spielberg, onde não há espaço para tanto sentimentalismo barato e explicações estapafúrdias. Apenas o bom entretenimento e a mais pura diversão em histórias de monstros voltadas para o público juvenil.


por Melissa Lipinski


Um comentário:

Rafael W. disse...

Um dos melhores blockbusters do ano, divertidão e extremamente nostálgico.

http://cinelupinha.blogspot.com/