terça-feira, 31 de maio de 2011

O Solteirão

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Solteirão, O (Greenberg, 2010)

Estreia oficial: 1 de abril de 2010
Estreia no Brasil: lançado diretamente em DVD
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Neste "Greenberg" (ou "O Solteirão", na terrível tradução do título no Brasil), Noah Baumbach, que já tinha mostrado todo seu talento em produzir ácidos dramas em "A Lula e a Baleia" (2005) e "Margot e o Casamento" (2007), volta a impressionar.

Talvez o maior choque seja ver Ben Stiller interpretando um sujeito deprimido, insatisfeito e totalmente perdido na vida. Não é uma comédia. Não há caretas nem piadas. Stiller mostra que também é capaz de encarar um roteiro com um grande peso dramático de cabeça erguida. Ou não tão erguida assim, já que a própria composição física do personagem revela sua personalidade, sempre cabisbaixo, meio encurvado, andando sempre a olhar para baixo, Stiller já nos demonstra que o seu Greenberg é uma pessoa um pouco esquisita, com problemas de relacionamento, e um tanto introspectiva.

E o filme é o personagem. Ele é a sua alma, sua essência. Assim como o relacionamento de Greenberg com a jovem Florence (Greta Gerwig). Uma jovem que pode ainda ter toda uma vida pela frente, mas que, no período em que a história do filme se desenrola, parece estar tão enclausurada neste mundo deprimido e repleto de frustrações que o personagem-título criou para ele mesmo e parece, de certa forma, influenciar as pessoas mais próximas a ele. Assim como acontece com Ivan (o ótimo Rhys Ifans), que parece ter construído sua vida em cima de sua própria frustração, também causada pela influência direta de Greenberg.

Assim, enquanto os personagens vão se auto-descobrindo e revelando suas ambições (ou a falta delas) em meio ao cotidiano de uma sociedade de classe média de Los Angeles, os espectadores também vão, aos poucos, conhecendo-os melhor. E, se a identificação do público não é imediata com esses depressivos personagens, isso não é à toa, já que Noah Baumbach parece estar mais interessado em chamar a atenção para o drama intimista dos personagens do que fazer com que o espectador saia feliz ou realizado depois de assistir ao filme. E, por mais que o espectador possa não suportar o personagem de Stiller, também é impossível não sentir empatia por ele.

Claro que "O Solteirão" não vai agradar ao público em geral. É um filme deprimente, com personagens sem um propósito na vida. Mas, se você conseguir se desvencilhar do comodismo intelectual que os filmes "padronizados" (ou seja, a maioria dos filmes hollywoodianos) tendem a colocar o público, conseguirá ver a beleza inerente ao filme de Noah Baumbach.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


segunda-feira, 30 de maio de 2011

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides, 2011)

Estreia oficial: 15 de maio de 2011
Estreia no Brasil: 20 de maio de 2011
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"Piratas do Caribe 4" segue uma tendência verificada pela trilogia anterior: vai indo por água abaixo (com o perdão do trocadilho), e revela-se o pior dessa 'quadrilogia'.

Dessa vez, os roteiristas Ted Elliott e Terry Rossio (que também são responsáveis pelos três filmes anteriores), deixaram de lado o casal romântico interpretado por Orlando Bloom e Keira Knightley para focar-se ainda mais no Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp), abrindo brecha para novos filmes que poderão surgir a partir de agora (sinceramente espero que Depp ponha logo fim nessa franquia negando-se a participar de novos exemplares, mas enfim...).

A história baseia-se na descoberta da lendária Fonte da Juventude por Ponce de León, e na busca dessas águas milagrosas por espanhóis, ingleses e piratas, dentre eles o próprio Jack Sparrow, o malvado Barba Negra (Ian McShane), Angélica (Penélope Cruz) e o Capitão Barbossa (Geoffrey Rush). O grande problema do filme é o seu roteiro, que preocupa-se demais em explicar tudo o que acontece. A toda hora os personagens viram-se uns para os outros e explicam o que aconteceu ou o que vai acontecer. Chegam ao cúmulo de explicar o óbvio para ninguém! Por exemplo, (e aí vai um spoiler!) há uma cena em que Jack separa-se do grupo para achar o navio de Ponce de León, e quando por fim o encontra, ele fala (não exatamente com essas palavras): - Finalmente, achei o navio perdido de Ponce de León (detalhe é que ele tinha saído justamente à procura de tal navio, e isso já havia sido dito minutos antes). Simplesmente para olhar ao seu redor e notar que não há ninguém com ele, ou seja, ele está explicando a situação para ninguém, ou melhor, para o público, Os roteiristas devem ter pensado: - Ah, vamos explicar tudo tim-tim por tim-tim que é pra não restar dúvidas nas cabecinhas ocas dos nossos queridos espectadores! Eles não só duvidam da capacidade de raciocínio do público, como insultam a nossa inteligência, com explicações redundantes, ao mesmo tempo em que sabotam a própria narrativa, já que em certos momentos, a história pára simplesmente para alguma coisa ser explanada, prejudicando (e muito) o ritmo do filme.

E, se Johnny Depp conseguiu transformar o seu Jack Sparrow em um fenômeno mundial graças ao seu enorme talento e sua composição de personagem única, ele realmente chegou ao seu limite. O que me leva a pensar que o seu Capitão é melhor quando aparece como coadjuvante, já que como protagonista, assim como aconteceu também no terceiro filme, não consegue manter o nível da atuação durante toda a projeção, apelando para maneirismos que soam forçados até mesmo para... bom, Jack Sparrow!

E, se Geoffrey Rush consegue sair-se bem como o Capitão Barbossa, já conhecido do público, e do ator, o que fez (talvez) com que ele se sentisse mais à vontade no papel, sendo responsável pelos momentos mais engraçados do longa; o mesmo não pode ser dito do restante do elenco. Ian McShane é sabotado por um vilão chato e sem nenhum carisma. Penélope Cruz é relegada ao posto de mais um dos "rostinhos bonitos" do filme, já que sua personagem consegue ser mais chata e sem personalidade do que todos os outros, só perdendo para o clérigo interpretado pelo insosso Sam Claflin. O filme ainda desperdiça as participações de Judi Dench e Keith Richards.

E, se o roteiro é ruim, o mesmo pode ser dito do diretor Rob Marshall, que não consegue dar dinamismo nem mesmo às cenas de ação. Em outros momentos, utiliza-se do mesmo recurso várias vezes, transformando-o em clichê dentro do próprio filme, como quando introduz um personagem na cena sem revelar de imediato quem ele é, mantendo-o na sombra até finalmente mostrá-lo - o diretor faz isso (pasmem!) em três momentos distintos do filme, mesmo com um personagem que já havia aparecido e que logo sabemos quem é. Talento?!? Bom, o passado do diretor o precede. Dos filmes anteriores de Rob Marshall, "Nine" (2009) não precisa de comentários, de tão ruim, "Memórias de uma Gueixa" (2005) tem uma bela fotografia e ponto, e só "Chicago" (2002) pode realmente ser considerado um filme bom.

Mas, para não dizer que tudo é ruim, a direção de arte (como nos filmes anteriores) é deslumbrante, com um impressionante apreço aos detalhes. As embarcações vistas nos filmes são únicas e distintas entre si graças às minúcias concebidas pela equipe de arte do longa. O barco de Barba Negra, por exemplo, destaca-se não só pelo seu layout escuro e sombrio, mas pelo preciosismo de seus objetos, como um armário que guarda navios (de verdade) engarrafados - por mais que essa ótima ideia seja tremendamente mal aproveitada pelo roteiro.

Enfim, acho que mais vale a pena divertir-se revisitando as primeiras aventuras de Jack Sparrow do que se cansar assistindo a esta última.


por Melissa Lipinski


quarta-feira, 25 de maio de 2011

Reflexões de um Liquidificador

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Reflexões de um Liquidificador (2010)

Estreia oficial | no Brasil: 9 de agosto de 2010
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"Reflexões de um Liquidificador" é uma comédia de humor negro que tem como narrador o eletrodoméstico aí do título, dublado por Selton Mello, em mais um papel cínico na sua talentosa carreira pelo cinema nacional.

A história é simples e inusitada. Depois de passar por um conserto, um antigo liquidificador adquire consciência da sua própria existência e de sua peculiar condição de eletrodoméstico e passa a conversar com sua dona, Elvira (Ana Lúcia Torre). O liquidificador logo vai virar amigo confidente da dona-de-casa, e seu cúmplice diante do crime que move a história.

"Reflexões de um Liquidificador" abusa do cinismo, personificado nas reflexões do tal liquidificador, e beneficia-se da narração de Selton Mello para isso, já que o ator consegue realmente dar vida ao objeto, mesmo utilizando-se apenas da sua voz para isso, já que o liquidificador não apresenta (obviamente) nenhum gestual nem expressão. Ponto para Mello, que, se já era um ator realmente competente em carne-e-osso, agora prova (se é que precisava disso) todo seu valor e talento.

Mas não é só Mello quem faz um ótimo trabalho na atuação. Ana Lúcia Torre "divide" a tela com o liquidificador sem deixar por menos, e os dois possuem conseguem estabelecer uma boa dinâmica. Fabiula Nascimento, como a vizinha de Elvira, também faz um bom trabalho, sendo responsável pelo humor mais escrachado da trama. Em compensação os protagonistas masculinos não conseguem um desempenho semelhante, Germano Haiut (como Onofre, o marido de Elvira) é, sem dúvida, o ponto fraco das atuações; e Aramis Trindade (como o investigador da polícia, Fuinha) peca pelo excesso, transformando seu personagem em uma caricatura exagerada. Está certo que, no seu caso, o estereótipo era o que procurava alcançar, mas me atrevo dizer que ele passou do ponto.

Mas o ponto alto do filme é mesmo seu roteiro (de José Antônio de Souza), que não se preocupa (ainda bem!) em explicar o porquê do liquidificador ganhar uma consciência e começar a falar. Os diálogos ácidos e rápidos dão dinamismo à narrativa.

Mas o diretor André Klotzel também acerta em cheio nos enquadramentos, ao colocar, por exemplo, o liquidificador em primeiro plano e sua dona, desfocada, falando em segundo plano, levando-nos a esperar (por mais que saibamos que isso é impossível) uma certa reação desse objeto (não tão inanimado assim).

Enfim, ao assisti-lo lembrei-me muito de "Durval Discos" (2002, de Anna Muylaert), já que, além de se passarem em meio à "paulicéia desvairada", têm como pontos comuns o humor negro e a presença de cenas com muito sangue. Finalmente, "Reflexões de um Liquidificador" é um bem-vindo filme nacional, que vem fugir das comuns "comédias-palestão" (assinadas pela Globo Filmes) que tomam conta de nossos cinemas.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Primeiramente destaque para o trailer, que me instigou instantaneamente para ver o filme.


Quanto ao elenco, Selton Mello dá um banho emprestando sua voz ao liquificador. Um objeto inanimado e que só com a fala transmite muito bem o que sente e pensa. Ana Lucia Torre (Elvira) está excelente, mas Fabiula Nascimento (a vizinha) rouba um pouco a cena quando aparece. Aramis Trindade (investigador) também está ótimo. Dos principais quem é mais fraco é o Germano Haiut, que faz o marido “desaparecido”.


Bem, o roteiro é bem construído e as personagens bem embasadas. Rola uma empatia forte pelo liquidificador. Na verdade a história lembrou um pouco “Durval Discos” (2002, de Anna Muyalert). Ambos excelentes filmes.


Recomendo.


por Oscar R. Júnior


segunda-feira, 23 de maio de 2011

O Casamento do meu Ex

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Casamento do meu Ex, O (The Romantics, 2010)

Estreia oficial: 10 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 3 de junho de 2011
IMDb



O título nacional do filme o vende como uma comédia romântica. Mas "O Casamento do meu Ex" não tem nada das comédias românticas hollywoodianas. Tem muito mais de romance do que de comédia. Ares muito mais de filme independente do que de blockbuster hollywoodiano. Fatores que contam a seu favor.

Partindo de uma premissa não muito original - Laura (Katie Holmes) volta para sua cidade natal, para reencontrar os amigos de faculdade durante o casamento de sua melhor amiga da época, Lila (Anna Paquin), com seu ex-namorado, Tom (Josh Duhamel); o diferencial aqui, é a forma pela qual essa história é contada.

No momento em que o filme começa, já encontramos Laura chegando para as festividades do casamento. Os olhos fundos e vermelhos e o meio sorriso de Katie Holmes já deixa transparecer que aquela não é uma situação fácil para a garota. Um dos pontos fortes do roteiro é que a história passada dos amigos vistos aqui, não é contada ao espectador por meio de flashback ou qualquer outro recurso mais 'fácil'. Aos poucos, fragmentos dessa história são largados em meio a conversas corriqueiras, e assim, nós espectadores, vamos montando o passado desses personagens em nossas próprias cabeças.

Outro ponto positivo são os diálogos. Conversas ácidas e cheias de subtextos enriquecem as situações. Mas, o principal em "O Casamento do meu Ex" não é aquilo que é dito pelos personagens, mas sim o que eles não dizem, e apenas sugerem com olhares, gestuais ou silêncios. É esse subtexto com que faz com que as personagens tornem-se mais do que simples estereótipos e tornem-se figuras tridimensionais, complexas e contraditórias, como todos nós, meros seres humanos.

A fotografia também é muito bem pensada, já que aposta em câmeras na mão, planos longos e um visual sem muitas cores e com sombras que auxiliam, e muito, para a narrativa.

As atuações são todas muito corretas, e se nenhum ator se sobressai, é apenas porque todos estão muito bem em cena. As personagens de Anna Paquim e Kate Holmes, obviamente, chamam a atenção pelo contraponto de suas personalidades. Josh Duhamel também mostra que pode ir além do papel de mocinho mais cômico das comédias românticas que está acostumado a fazer.

Porém, nem tudo é perfeito no longa. Principalmente o seu final, que acaba sabotando um pouco o próprio roteiro. Se até então, a história se baseava nas escolhas erradas feitas pelos seus personagens, no final, parece que os roteiristas não souberam como dar um desfecho razoável para aquelas pessoas (ou então tiveram que ceder a um final 'mais comercial'), e resolveram apelar para as forças do destino. Assim, se a razão norteava as escolhas dos protagonistas até então, na parte final do longa, ela dá lugar para que o acaso acabe por definir o que acontecerá com eles dali em diante, soando um pouco como um final feliz (por mais que ele, de fato, não se concretize perante nossos olhos).

Mas enfim, no geral "The Romantics" (o título original, e bem mais adequado ao longa) surpreende pela sensibilidade e profundidade com que desenvolve os seus protagonistas.


por Melissa Lipinski


domingo, 22 de maio de 2011

Cartas para Julieta

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Cartas para Julieta (Letters to Juliet, 2010)

Estreia oficial: 13 de maio de 2010
Estreia no Brasil: 11 de junho de 2010
IMDb



"Cartas par Julieta" é 'demais'. 'Mais' uma comédia romãntica formulaica. 'Mais' uma boa premissa desperdiçada pelo gênero. 'Mais' atuações medíocres... A lista de 'mais' vai longe. Ou seja, mais do mesmo.

Como falei a premissa até que é boa. Sophie, uma aspirante a jornalista, vai até Verona (cidade imortalizada por Shakespeare com seu romance mais famoso, "Romeu e Julieta"), vai até a sacada de Julieta e se depara com moças de todos os lugares que vão até ali pedir conselhos sentimentais para a heroína Shakespeariana. Sophie (Amanda Seyfried) então descobre que a prefeitura mantém um serviço de respostas para essas cartas: todos os dias um grupo de mulheres as recolhe e as responde, uma a uma. É nesse ínterim, ajudando as tais "Secretárias de Julieta", que Sophie descobre uma carta escrita há mais de 50 anos e resolve respondê-la.

A partir daí, entretanto, o filme cai na mesmice. Mesmice essa que pode ser antevista desde a primeira sequência do longa, quando conhecemos a personagem e seu noivo (Gael García Bernal). As situações são tão previsíveis que já sabemos o que vai acontecer ao final do filme.

As protagonistas da história, Amanda Seyfried e Vanessa Redgrave até tentam dar um pouco de dinamismo e singularidade ao filme, mas em vão, já que suas personagens acabam revelando-se estereótipos superficiais. Já os atores do longa, falham miseravelmente em suas composições de personagens. Chritopher Egan (como o 'mocinho' por quem Sophie vai se apaixonar) é totalmente inexpressivo. E Gael García Bernal (o noivo que não dá a devida atenção à protagonista) - um ator talentoso - é totalmente desperdiçado em um papel caricato e dispensável à história. E Bernal, visivelmente, nem se esforça e parece estar no piloto automático, menos por culpa do ator do que do roteiro, já que nem um milagre conseguiria fazer com que se saísse bem com as falas e situações escritas para seu personagem.

No fim, o amor verdadeiro descrito em "Cartas para Julieta" soa artificial e banal, uma deturpação do amor descrito por Shakespeare em sua obra.


por Melissa Lipinski


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Os Agentes do Destino

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.


Agentes do Destino, Os (The Adjustment Bureau, 2011)

Estreia oficial: 3 de março de 2011
Estreia no Brasil: 13 de maio de 2011
IMDb



Tenho que avisar, desde já, que "Os Agentes do Destino" quase consegue jogar fora um bom filme devido a um final burro, medíocre e simplista.

Mas voltemos ao princípio. O filme, escrito e dirigido por George Nolfi a partir de um conto de Philip K. Dick, é, acima de tudo, uma história de amor. Um romance travestido de ficção científica.

Mas o filme vai além da história de amor. Nolfi consegue prender o espectador numa história intrigante repleta de tensão. Mas que não funcionaria se não fosse pela grande química entre o casal protagonista. Matt Damon e Emily Blunt estabelecem uma ligação crucial para o desenvolvimento da história desde o primeiro momento em que se cruzam na tela. Só assim mesmo para que o espectador seja convencido de que vale a pena arriscar tudo na vida por aquele amor.

A introdução do filme é bastante eficiente, com uma sequência ágil que apresenta o personagem de Damon, David Norris, e sua promissora campanha ao Senado dos Estados Unidos até chegar ao momento em que um escândalo faz com que ele não seja eleito. É neste ínterim que ele conhece, em um local inusitado (um banheiro masculino), Elise (Blunt). Entre os dois, como falei, logo surge uma atração mútua e irresistível. É impossível contestar que aqueles dois foram realmente feitos um para o outro.

É a partir daí que o filme começa a ficar interessante, com a aparição de um grupo de homens misteriosos que parecem determinados a manter David e Elise separados a todo custo. É justamente o mistério que envolve esses seres que engrandece o roteiro. Em momento nenhum esse enigma é completamente desvendado. Quem são realmente esses homens? Anjos trabalhando a mando de Deus? Agentes do governo? Uma espécie de sociedade secreta trabalhando sob ordens de um 'presidente do Mundo'? Por mais que a história dê dicas sobre quem eles são, fica a cargo de cada espectador tirar sua próprias conclusões e montar a 'sua verdade' a respeito deles. Ponto para o filme!

O visual desses 'agentes do destino', inclusive, me lembrou um pouco aquele adotado pelos anjos de "Asas do Desejo" (1987, de Wim Wenders), o que talvez seja mais uma dica de sua origem. Especulação minha. Mas é fato que a gama de cores escolhida para o visual desses homens, e a paleta acinzentada da fotografia de John Toll não é por acaso. O cinza da cidade serve como um tipo de camuflagem para Thompson (Terrence Stamp), Richardson (John Slattery), Harry (Anthony Mackie) e os outros agentes.

Contando ainda com enquadramentos que auxiliam a narrativa, como o uso de planos mais abertos quando David está sozinho, mostrando-o sempre solitário; e quadros mais fechados quando ele está com Elise, destacando a importância e a mudança que esta traz à sua vida, George Nolfi também consegue criar tensão com batidas de carros inesperadas e uma perseguição pelo centro de Nova York que envolve inusitadas portas, que, mesmo que não empolgue a todos, com certeza merece créditos por sua originalidade.

Porém, não sei se Nolfi teve que fazer algum concessão para seu roteiro ficar 'mais comercial' e agradar aos executivos hollywoodianos, ou se o fim idealizado por ele era esse mesmo. Mas a verdade é que toda uma história bem construída é quase posta a perder por um final lamentável. Os cinco minutos finais do filme parecem não condizer com o restante. Como não se irritar com um final (e aí vai um spoiler) que simplesmente nos mostra que todo o sofrimento que os protagonistas passaram até ali foi em vão? Se 'o presidente' (como chamam quem manda nos destinos dos humanos) iria dar o braço a torcer e aceitar que David e Elise ficassem juntos, por que eles tiveram que passar por tudo aquilo? Um final simplista e que reduz as possibilidades de interpretação do filme. Mas o pior de tudo é a narração em off que surge no último plano, explicando (de forma absurda) o que acabamos de ver durante o filme. Será que os espectadores não são inteligentes o suficiente para tirar suas próprias conclusões? Faz-se necessário que uma voz em off nos diga como e o quê devemos pensar? Uma lição de moral totalmente desnecessária.

Felizmente, a qualidade do que se viu até esses cinco minutos finais é muito boa para que eles consigam arruinar todo o filme. Infelizmente, e por causa desse final, não vai um "fica a dica!"...


por Melissa Lipinski
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Esse filme tem uma idéia interessante, da agência que faz com que o "destino" se realize, fazendo para isto pequenos ajustes. Com essa base eles seguram a maior parte do filme. A maior parte, eu disse.

Primeiro o elenco: Matt Damon e Emily Blunt estão muito bons.. Eles são extremamente competentes e nos mantêm presos ao filme.

A Direção de Fotografia, Direção de Arte e os efeitos especiais nos impressionam com destaque para a cena da perseguição pela cidade, entrando por portas e saindo em outros lugares. Muito boa.

Já o roteiro, humm, ele é regular. A idéia, como já falei, é muito interessante, mas o romance entre o casal principal é fracamente baseado. E o desfecho da trama é ridiculamente fraco. Tava legal até chegar próximo do final. Pessoalmente não curti.

Por hora é isso.


por Oscar R. Júnior


 

sábado, 7 de maio de 2011

Férias Frustradas de Verão

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Férias Frustradas de Verão (Adventureland, 2009)

Estreia oficial: 3 de abril de 2009
Estreia no Brasil: lançado diretamente em DVD
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Mais um filme com uma tradução de título insuportável. O que passa na cabeça dos distribuidores de nosso país? Traduzir "Adventureland" como "Férias Frustradas de Verão" é uma tentativa de qualificar o filme naquilo que ele não é, já que o título nacional remete àquelas comédias típicas de 'Sessão da Tarde'.

Felizmente, "Adventureland" (sim, me recuso a chamar a produção pelo título brasileiro) é bem mais do que isso. A história do longa é uma clara referência, e homenagem, às saudosas comédias juvenis dos anos 1980 (que hoje são consideradas cult), como "Curtindo a Vida Adoidado" (1986) e "Clube dos Cinco" (1985) - ambas dirigidas por John Hughes - onde o amor e a amizade guiavam jovens idealistas ou simplesmente perdidos em uma fase de transição entre a vida adolescente e a vida adulta.

"Adventureland" transita exatamente nesta faixa. E, segundo o próprio roteirista/diretor, é um filme biográfico, já que se baseia nas experiências pessoais que Greg Mottola teve durante um "verão perdido" da sua própria fase de transição.

No filme, Jesse Eisenberg é James Brennan, o alter-ego do autor que vê o seu sonho de viajar à Europa antes de ingressar na faculdade de Jornalismo ir por água abaixo devido a uma crise financeira que seus pais atravessam. Assim, James consegue um emprego em um parque de diversões, o tal "Adventureland", a fim de juntar dinheiro para poder ir a Nova York estudar.

E é em "Adventureland" (o parque e o filme) que James vai se autodescobrir. Sua convivência com os arquétipos típicos desta fase da vida (e talvez de outras fases também) fará com que, ao final, saia transformado - e amadurecido - de suas experiências, assim como todo herói deve passar em sua jornada (Joseph Campbell já o dizia).

O filme acaba saindo-se melhor do que poderia se supor inicialmente graças à sua inocência (um reflexo da juventude dos anos 1980), à sua cuidadosa e caprichosa caracterização da época, ao seu elenco afiado e à uma trilha sonora maravilhosa e saudosista.

Quanto ao elenco, jovens que conseguem dar vida de forma convincente aos estereótipos que rondam as juventudes de todas as épocas: o nerd que sofre bullying (como se fala hoje em dia), o bad boy, o cara mais velho idolatrado por todos, a gostosona, e é claro, os protagonistas incompreendidos que apenas querem viver as suas próprias vidas. E Jesse Eisenberg consegue elevar a produção devido ao seu imenso carisma. Até a escalação de Kristen Stewart (cujo talento é questionável) parece acertada, já que a inexpressividade da atriz e sua aparente incapacidade de olhar os outros nos olhos parece se adequar perfeitamente à sua personagem, que vive deslocada em um 'mundinho' ao qual não pertence.

Quanto à trilha sonora, famosas músicas de grandes bandas da década em questão são trazidas à tona. É impossível não se deixar levar pelas canções de Velvet Underground, INXS, David Bowie, The Outfield, Lou Reed, The Cure, entre outros.

Apesar de perder um pouco do ritmo no seu terço final, parecendo assim, um pouco mais longo do que deveria, e do seu final que se rende às convenções açucaradas das comédias românticas hollywoodianas, "Adventureland" consegue cativar justamente por ter sido feito de coração, por alguém que tinha total conhecimento daquilo sobre o que estava falando, e melhor ainda, com uma certa nostalgia que acaba contagiando também a nós espectadores. Afinal de contas, quem não passou por esta fase onde a adolescência já parecia ter ficado para trás ao mesmo tempo em que as obrigações e responsabilidades da vida adulta ainda pareciam não pertencer à realidade?


por Melissa Lipinski
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Sim, esse é daqueles filmes que assistíamos na 'Sessão da Tarde'. Só que nós já estamos nos anos 2000 e esse tipo de filme já não me agrada tanto. Mas vamos lá.

O elenco é mediano. Nada de fascinante mas nada que nos dê raiva. O roteiro é regular, nada de especial além das "tremendas confusões que James e sua turma aprontam nesse parque que é pura confusão", hehe. Quem não entendeu veja esse vídeo: É muita confusão.

Ou seja, tudo bem mediano, com algumas piadas forçadas, outras engraçadinhas e só.

E só para constar: como que "Adventureland" virou "Férias Frustradas de Verão"? Fico por aqui.


por Oscar R. Júnior


P.S. Nunca leio o texto da Melissa antes de escrever o meu para não me "contaminar" com as idéias dela. Mas o lendo agora, concordo com ela. Não é um filme fora de época. É um filme com base naquela época. Faz parte.... mas não vou mexer na minha pontuação nem no texto. Abraços.


domingo, 1 de maio de 2011

O Solteirão

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Solteirão, O (Solitary Man, 2009)

Estreia oficial: 21 de maio de 2010
Estreia no Brasil: 22 de outubro de 2010

IMDb



Pra começar, a tradução em português do título do filme, "O Solteirão", é horrível e não condiz com o seu conteúdo, soa mais como uma comédia do que como o drama intimista que realmente é. "Solitary Man", seu título original ("Homem Solitário", na tradução literal), retrata muito melhor essa produção sobre um homem de meia-idade, Ben Kalmen (Michael Douglas), que, frente a um possível problema sério de saúde, resolve transformar sua vida, deixando a sua família e arruinando seu promissor trabalho no ramo de vendas de automóveis, para entregar-se a uma vida desregrada de prazeres no intuito de "enganar" a morte e não perder aquilo que vê passando diante de seus olhos: sua juventude.

Um dos pontos positivos do longa, é que nada disso que falei é jogado na cara do espectador sob a forma de uma introdução, flashback ou narração em off. Os diretores Brian Koppelman (que é também o roteirista do filme) e David Levien, sabiamente optaram por ir revelando esse passado de Ben aos poucos. Dessa forma, quando o encontramos no início do filme, ele já está divorciado, já perdeu todo seu dinheiro em uma fraude e dá em cima de qualquer bela mulher (mais jovem, é claro!). Assim, vamos descobrindo ao longo do filme o que realmente levou o protagonista a estar neste estágio da sua vida.

Talvez o filme funcione tão bem, em grande parte, pela qualidade do seu elenco, principal e secundário. Susan Sarandon como a ex-mulher de Ben, Nancy Kalmen, está ótima, e ela sempre domina as cenas em que aparece (é incrível o magnetismo que Sarandon possui). Jesse Eisenberg (que eu, particularmente, adoro) cumpre bem o seu papel de "pupilo" (mesmo que provisório) do protagonista. Danny DeVito faz uma ponta como um antigo amigo de Ben, Jimmy, e é sempre competente. Mary-Louise Parker, como a namorada atual de Ben, também aparece pouco, mas não decepciona. E Jenna Fisher como Susan, a filha do protagonista, transmite doçura à sua personagem, contrapondo-se à uma certa frieza do personagem de Douglas.

Mas o filme é mesmo de Michael Douglas, e é notável como ele se sente à vontade no papel. Ben Kalmen não é tão inescrupuloso quanto o Gordon Gekko de "
Wall Street", mas é notável como Douglas faz bem esse tipo de personagem, que não liga para nada nem ninguém. Claro que, aqui, as motivações do protagonista são totalmente diferentes. E Michael Douglas é muito competente para nos fazer notar isso, já que, mesmo percebendo que o seu personagem "não é flor que se cheire" (digamos assim), ele consegue fazer com que o público se identifique, em um primeiro momento, com ele. No decorrer do filme, entretanto, esta empatia vai se transformando em uma certa pena, pois o espectador (e o próprio Ben) começa a perceber que esse modo de vida ao qual ele escolheu é na realidade uma fuga para os seus problemas.

E é aí que o filme ganha em conteúdo, pois não tenta dar uma lição de moral, fechando todas as pontas da sua história. Mas sim, deixa o espectador, com um final (em aberto) muito bom, refletindo sobre a sua própria vida. Será que nós mesmos somos um pouco como Ben Kalmen e, frente a um momento desesperador, podemos ter esse tipo de comportamento, machucando e afastando aqueles que nos cercam e nos amam? Como será que encaramos (ou vamos encarar) a morte quando esta começar a nos rondar?

Enfim, "O Solteirão" pode não ter uma beleza estética apurada, ou enquadramentos arrebatadores, mas, graças ao bom trabalho do seu elenco, a um roteiro que não subestima a inteligência do espectador e a diretores que souberam fazer as escolhas certas, torna-se um filme surpreendentemente tocante.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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O filme tem uma boa estrutura, um ótimo roteiro com diálogos bem inteligentes. Michael Douglas consegue focar o filme inteiro nele com sua ótima atuação. O restante do elenco também está muito bom como a Susan Sarandon e o Jesse Eisenberg. Destaco também a participação de Danny DeVito.

Tenho que admitir que o filme começou meio devagar mas foi me conquistando. E tem um final excelente.

Vale a pena.


por Oscar R. Júnior