quinta-feira, 30 de junho de 2011

La Vieja de Atrás

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Velha de Trás, A (La Vieja de Atrás, 2011)

Estreia oficial: 20 de janeiro de 2011
IMDb



De um lado do corredor, o apartamento 9B, onde vive Rosa (Adriana Aizemberg), uma senhora que vive sozinha há tanto tempo que já se acostumou com a solidão e com a companhia apenas de seu pequeno canário e da televisão. Do outro lado do corredor, no apartamento 9A, vive Marcelo (Martín Piroyansky), um estudante de Medicina que veio de uma cidade do interior da Argentina para estudar na capital e tem que se desdobrar em três para conseguir levar seus estudos a diante.

Em seus diminutos mundos, invisíveis um para outro, eles seguem o rumo conformado de suas vidas até que um encontro casual e uma parada inesperada do antigo elevador do prédio, vai alterar a vida de ambos dali pra frente.

Este "La Vieja de Atrás", do diretor argentino Pablo José Meza, é um retrato desalentador da solidão que uma cidade grande pode infligir sobre seus habitantes. É a partir da solidão que cada um dos personagens sente (cada um a seu modo), que o encontro entre eles vai colocar a suas vidas em funcionamento (ainda que este dure apenas por um período).

Ainda que o tempo lento da narrativa e a fotografia com ares desbotado reforcem a solidão dos personagens, alguns diálogos e situações entre eles parecem forçados e prejudicam a história, dificultando um maior envolvimento do espectador.

Por fim, o grande destaque fica por conta da atuação de Aizemberg, que transforma Rosa em uma senhora capaz de gerar sentimentos tanto de raiva como de pena e empatia por parte do público.


por Melissa Lipinski


P.S.: Comentário escrito durante o FAM 2011.


quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Vida dos Peixes

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Vida dos Peixes, A (La Vida de los Peces, 2010)

Estreia oficial: 10 de junho de 2010
IMDb



Às vezes, você nem sabe explicar direito o porquê, mas um filme te cativa desde o primeiro minuto. Foi assim comigo e este "La Vida de los Peces", do diretor chileno Matías Bize, que apesar de jovem (32 anos), já dirigiu 5 longas.

O filme conta a história de Andrés (Santiago Cabrera), que volta ao Chile, depois de 10 anos, e, numa visita a um amigo durante o aniversário deste, revisita aqueles que fizeram parte de seu passado, inclusive o seu grande amor, Beatriz (Blanca Lewin).

Bize (que também é roteirista do longa junto com Julio Rojas) sabe como contar a história a partir dos diálogos que Andrés vai travando durante a festa. Despedindo-se desde a primeira cena, parece que algo impede o rapaz de sair da casa onde o longa inteiro acontece.

A grande sacada do roteiro é ter uma estrutura semelhante a de um road-movie: o tom episódico é o que dita a narrativa. Andrés vai passando por várias pessoas que, excluindo Beatriz, não voltam a cruzar com ele durante o resto da festa. E como ele caminha pela casa inteira encontrando seus antigos amigos e conhecidos, é como se fosse um "walk-movie" (não resisiti ao trocadilho!).

O que prende a atenção do espectador é justamente o fato de, aos poucos (à medida em que encontra cada uma das pessoas), ir construindo a história passada de Andrés. A cada novo diálogo, vamos descobrindo o que se passou com aquele rapaz e, em nosso imaginário, refazendo a sua vida.

A estrutura do filme lembrou-me um pouco "Antes do Amanhecer" (1995) e "Antes do Pôr-do-Sol" (2004), ambos de Richard Linklater, onde os sentimentos vão sendo revelados e construídos a partir das andanças, conversas e, principalmente, silêncios entre os personagens.

E Bize é sábio o suficiente em pontuar vários momentos com silêncios contemplativos que, mais do que levar o espectador a descobrir o que se passa (e passou) com o protagonista, leva-o a refletir sobre suas próprias indagações perante a vida.

Com uma fotografia que me pareceu inspirada em filmes de Won Kar Wai, com seus constantes flairs na lente da câmera, e luzes resplandecendo nos rostos dos protagonistas, uma cena chama a atenção por sua sensibilidade e genialidade de composição: em um lado do quadro está Andrés, do outro, Beatriz, e, em frente a eles (e em primeiro plano em relação à câmera), um aquário. Ambos contemplam os peixes nadando bucolicamente. Em seus tristes olhares, o reflexo de sentimentos não revelados, a falta de coragem de falar o que estão pensando e sentindo; ao mesmo tempo em que invejam o quão tranquila e simples é a vida daqueles peixes... Comovente.

As atuações são ótimas e dão o ar tão naturalista necessário para a direta identificação do público. Os diálogos, inteligentes, verdadeiros e intimistas, corroboram com esta familiaridade do espectador.

Ainda que a música (que parece onipresente) tenha me incomodado em certos momentos, a sutileza na construção de personagens tão densos faz com que pequenos deslizes como este sejam perdoados.

Enfim, Matías Bize dá uma prova incontestável que não é preciso histórias mirabolantes e efeitos pirotécnicos para se criar um bom filme. Prova justamente o contrário, é com tramas simples e comoventes que se faz um bom cinema.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


P.S.: Comentário escrito durante o FAM 2011.


terça-feira, 28 de junho de 2011

Rehén de Ilusiones

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.


Refém de Ilusões (Rehén de Ilusiones, 2011)

IMDb



"Refém de Ilusões" (em minha livre tradução), é um filme que tenta definir-se entre realista e de uma realidade fantástica. Infelizmente, por não se decidir exatamente com quem quer dialogar, acaba estancando no meio-termo e fica meio perdido.

Pablo (Daniel Fanego) é um escritor consagrado que, depois de uma entrevista é abordado pela fotógrafa Laura (Romina Ricci) e descobre que foi seu professor durante a faculdade. Laura que já havia declarado (à família e ao espectador) que nutria uma paixão pelo ex-professor, começa então a seduzi-lo. Os dois tornam-se amantes (já que Pablo é casado) e, aos poucos, Pablo vai descobrindo mais sobre a vida de Laura e seu distúrbio de deturpação da realidade.

A fotografia de Sebastián Gallo é dessaturada, com um aspecto sempre "gasto", remetendo a uma certa frieza. Frieza que contrasta com o relacionamento dos amantes, mas que pode ser interpretada como a maneira 'gelada' com a qual Laura encara o mundo, sempre sentindo-se deslocada e perseguida.

Porém, o roteiro não tem a mesma sutileza do visual do filme. Ainda que o começo do longa seja promissor (em especial uma cena que mostra Pablo em uma crise criativa), no decorrer do filme, a história vai perdendo a força e originalidade e cainda no lugar comum.

A intenção de colocar os desaparecidos da época da ditadura militar argentina nas ilusões de Laura soa um pouco forçado e fora de contexto. Mais um desabafo do próprio diretor, Eliseo Subiela, do que da personagem.

Enfim, partindo de uma premissa interessante, o filme se perde tanto narrativamente quanto no seu ritmo, e acaba se tornando um melodrama, ainda que reserve para o final, uma surpresa interessante.


por Melissa Lipinski


P.S.: Comentário escrito durante o FAM 2011.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Estamos Juntos

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Estamos Juntos (2011)

Estreia oficial | no Brasil: 01 de julho de 2011



Esse novo trabalho do diretor Toni Venturi tem um início promissor, com belíssimos planos aéreos da cidade de São Paulo. Porém, acaba perdendo-se na sua indefinição quanto à história que quer contar: acaba querendo abarçar temas demais, e não desenvolve nenhum com a profundidade esperada.

Leandra Leal é Carmem, uma jovem médica que encaminha-se para se tornar cirurgiã na rede pública de saúde. Carmem, devido à corrida vida que leva, não deixa tempo para relacionamentos. Um de seus poucos amigos é Murilo (Cauã Raymond), que veio com ela do interior para a capital paulista e tornou-se DJ nas baladas da juventude classe média-alta da metrópole. Murilo abriga em sua casa o jovem músico argentino Juan (Nazareno Casero), por quem está apaixonado. Numa dessas baladas, Murilo apresenta Juan a Carmem e os dois começam um romance. Mas Carmem não está disposta a abrir-se para Juan e revelar que possui um amigo/confidente imaginário (Lee Taylor), junto de quem alivia suas tensões da corrida vida cotidiana.

Mas toda essa trama aí serve apenas de pano de fundo para que Carmem descubra que está com um câncer no cérebro e tenha que reavaliar sua vida, ao mesmo tempo em que começa a trabalhar num projeto voluntário de instrução de saúde para mulheres do Movimento dos Sem Teto. Movimento este que vai ocupar boa parte dos dois terços finais da trama.

Dessa forma, os personagens apresentados no início do filme, e que estavam começando a ganhar tridimensionalidade são praticamente transformados em figurantes quando a nova subtrama de cunho social ganha corpo. Porém, nesta altura, o filme já passou da sua metade, e os novos personagens também não têm mais tempo para serem desenvolvidos adequadamente. Assim, o que se vê na tela é um passeio de várias promessas de personagens tridimensionais que acabam não se concretizando.

Neste mesmo sentido, a sub-trama social (Toni Venturi já tinha feito, em 2006, um documentário sobre este tema, "Dia de Festa") ganha uma força bem maior do que poderia se esperar, e parece desenvolver-se à parte da personagem principal. Assim, vemos a ocupação de um prédio abandonado pelo movimento através de televisões ligadas estrategicamente posicionadas enquanto a protagonista realiza outra ação. O que enfraquece aqui a narrativa é o descaso que Carmem mostra com relação ao evento, já que, em nenhum momento aparenta se preocupar com aquelas pessoas com as quais, até então, vinha convivendo como instrutora de saúde. A utilização de efeitos de "câmera amadora" também mostra-se desnecessário e chega a confundir o espectador, já que a imagem nunca é nítida o suficiente e sempre tremida, na intenção de mostrar-se como "verdade".

Desnecessários também, já que mencionei a fotografia, são os exagerados planos fechadíssimos dos rostos das personagens. Numa clara alusão ao sufocamento que a gigantesca cidade de São Paulo provoca nas pessoas, os planos muito fechados soam óbvios e um pouco exagerados. A intenção podia até ser a de gerar desconforto no espectador (o que realmente acontece), mas o problema é que acontece em excesso. Já em outros momentos, Lula Carvalho consegue fotografar São Paulo de forma belíssima, mostrando a frieza e dureza de suas ruas, numa cidade que engole os seus personagens, ao mesmo tempo em que rende-se à sua beleza e a transforma em céu estrelado, no melhor momento do filme.

Já o jovem elenco dá conta do recado, e tenta, mesmo que em vão, dar profundidade a seus personagens. O destaque fica por conta de Cauã Reymond que vive o jovem DJ homossexual com muita segurança.

Mas, o que mais me incomodou na história foi a doença de Carmem. O câncer no cérebro é uma metáfora lógica à própria vida da personagem. A doença a imobiliza. Sua vida também parece engessada, sem amigos, sem relacionamentos. Porém é aí que descamba. Carmem não tem um confidente imaginário? Esse amigo não parece suprir as suas necessidades de relacionamento? O câncer parece dizer: "olha, está aí a explicação de porquê ela projeta o seu inconsciente na forma de um companheiro invisível - é uma doença!". E, dessa forma, enfraquece a premissa do poder da projeção da imaginação.

Por fim, lançando uma pergunta que se repete em três momentos: "o medo deixa as pessoas mais egoístas?", o filme de Toni Venturi parece apenas preocupado em formular uma questão para causar impacto, sem se preocupar em calcar-se de subsídios para que seus personagens, e o próprio espectador, possam respondê-la.


por Melissa Lipinski


P.S.: Comentário escrito durante o FAM 2011.


domingo, 26 de junho de 2011

Tokyo!

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Tokyo! (Tokyo!, 2008)

Estreia oficial: 16 de agosto de 2008
Estreia no Brasil: 13 de novembro de 2009
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"Tokyo!" vem na onda dos filmes que tendem a homenagear as cidades-título. Aqui, a ideia era que três diretores (não japoneses) tecessem suas impressões sobre a capital japonesa. Michael Gondry, Leos Carax e Joon-Ho Bong mostram episódios que, por mais dissonantes que possam parecer, acabam mostrando o quão hipócrita, incompreensiva ou opressiva é a sociedade moderna.

Em "Interior Design", conseguimos ver a marca de seu realizador, Michel Gondry. Uma história com ares realistas mas que acaba mostrando-se uma fábula fantasiosa, com uma sutil crítica à sociedade. E a objetificação da personagem é uma clara alegoria daquilo que acontece aos habitantes das grandes metrópoles.

No segmento "Merde", de Carax, um monstro que habita os esgotos da capital nipônica começa a aterrorizar a população quando vai à superfície. Certamente, dos três médias-metragens, é o mais escancaradamente crítico. Carax não poupa "meias-palavras" para alfinetar o abuso das tecnologias (afinal, o Japão é o berço de todos os avanços nesta área), a antiga relação do país com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, a corrupção do governo... São críticas e mais críticas, desde estas mais escancaradas às mais sutis, relacionadas ao comportamento humano. O personagem Merde, brilhantemente interpretado por Denis Lavant, é um monstro, uma ameaça, mas, simultaneamente, uma cria da própria sociedade.

O último episódio, o mais intimista, "Shaking Tokio", de Bong, conta a história de um hikikomori, designação para um fenômeno social moderno no qual as pessoas isolam-se em suas casas, evitando qualquer relação com outros seres humanos. A sensibilidade do diretor e a belíssima fotografia fazem deste o segmento mais 'palatável' dentre os três. Os silêncios orquestrados por Bong dizem bem mais do que seus diálogos, e a atuação contida de Teruyuki Kagawa é perfeita.

Enfim, "Tokyo!" é uma mistura de estilos de três diretores que olham com um olhar mais crítico do que condescendente, não para a capital japonesa propriamente dita, mas para a sociedade moderna captalista. Porém, sem perder a sensibilidade e a poesia jamais!

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


   

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Esquadrão Classe A

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Esquadrão Classe A (The A-Team, 2010)

Estreia oficial: 11 de junho de 2010
Estreia no Brasil: 11 de junho de 2010
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"Esquadrão Classe A" é um filme descerebrado, que, a todo momento duvida da inteligência do espectador. Dito isso, vamos em frente.

Baseado na série de TV homônima dos anos 1980, a qual ficou famosa principalmente pelo personagem B.A. (interpretada por Mr. T) e pela sua trilha sonora, o filme conta como o tal esquadrão se conheceu, tornou-se o mais insano grupo de militares especializado em missões impossíveis e, depois de alguns anos, acabou injustamente condenado por roubar as placas de impressão da moeda estadunidense, num plano articulado para colocar a culpa neles. A partir daí, o coronel Hannibal (Liam Neeson), o tenente "Cara-de-Pau" (Bradley Cooper), o piloto "Mad" Murdock (Sharlto Copley) e o brutamontes B.A. Baracus (Quinton 'Rampage' Jackson) armam uma estratégia para limpar seus respectivos nomes.

Mas enfim, a história é o que menos importa no filme, já que a trama é uma sucessão de clichês absurdos. Desde diálogos óbvios e que narram exatamente o que estamos vendo na tela; ou o absurdo do grupo matar sem peso na consciência dezenas de pessoas e deixar justamente vivo o homem responsável por estragar suas vidas e que os persegue ao longo do filme todo (será que o fato de um dos roteiristas, Brian Bloom, ser justamente o protagonista do tal sujeito, Brock Pike, teve alguma coisa a ver com isso?); ou ainda o casal que se ama mas briga o tempo todo... Enfim, a lista vai longe.

Mas não são apenas os clichês que incomodam, mas sim, a capacidade que o filme tem de insultar a nossa inteligência, já que se auto-explica ou referencia o tempo todo.

O longa apenas torna-se menos insuportável devido ao carisma de seus personagens. Bradley Cooper exala o charme de sempre. Liam Neeson (apesar de não estar em seu melhor momento) consegue dar credibilidade e segurança ao coronel. Mas o destaque fica mesmo por conta de sharlton Copley, que transforma seu Murdock na figura mais engraça da e, por alguns momentos, na mais interessante do longa.

Falei "por alguns momentos" pois, o roteiro insiste em transformas os heróis em personagens rasos e superficiais, que não passam de projeções estereotipadas de seres humanos. Dessa forma, jamais sentimo-nos realmente preocupados com relação à sua segurança, já que sabemos, de antemão, que os protagonistas conseguirão superar qualquer obstáculo com facilidade.

E, se em alguns filmes, essa impressão se faz presente, mesmo que inconsciente, por se tratar justamente de seus protagonistas; neste "Esquadrão Classe A" esse fato incomoda justamente por, além de tudo, desrespeitar de maneira escancarada o espectador. Mas já falei isso, né? Estou entrando no espírito do filme e sendo óbvia e reiterativa.

Enfim, mesmo arrancando algumas risadas, "Esquadrão Classe A" é uma experiência totalmente descartável.


por Melissa Lipinski


quinta-feira, 23 de junho de 2011

Meia-Noite em Paris

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011)

Estreia oficial: 11 de maio de 2011
Estreia no Brasil: 17 de junho de 2011
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Quem me conhece sabe o quanto sou fã de Woody Allen. Porém, nos últimos tempos, digamos que ele não andava lá muito inspirado. E, ainda que tenha feito alguns bons filmes nos últimos cinco anos, como "Vicky Cristina Barcelona" (2008) e "Tudo Pode Dar Certo" (2009), estava longe de estar num de seus melhores momentos (que com certeza ficou pelos anos 70 e 80).

Minha frase acima apenas corrobora com o discurso deste novo filme de Allen, "Meia-Noite em Paris", onde o protagonista Gil Pender (Owen Wilson), apaixonado pela cidade de Paris da década de 1920, não consegue se estabelecer como escritor, ao ficar mergulhado na nostalgia do que chama os "anos dourados" da cidade e da cultura. Ao mesmo tempo, Gil tem que enfrentar a incompreensão e futilidade da noiva Inez (Rachel McAdams). Enquanto Gil quer se mudar para a capital francesa (onde acha que vai se sentir inspirado e conseguir se firmar como escritor) e viver de forma mais boêmia, Inez quer morar em Malibu e continuar levando uma vida luxuosa, já que Gil parece ser um bem-sucedido roteirista de Hollywood. Cego para a real personalidade de sua noiva, ele ainda não enxerga que ela não pára de derreter-se para um ex-professor, o pseudo-intelectual Paul (Michael Sheen). É então que Gil, ao se perder depois de uma longa caminhada noturna pelas charmosas ruas de Paris, acaba deparando-se em plena década de 1920, e tem a chance de conviver com seus ídolos artísticos (escritores, pintores, músicos e cineastas).

Logo nos primeiros planos do longa já vemos a genialidade de Woody Allen, já que o autor traz uma série de planos dos pontos mais conhecidos de Paris, indo, aos poucos, substituindo essas paisagens por locais mais desconhecidos (mas igualmente charmosos), cobertos pela chuva, levando-nos para o interior das ruas parisienses, onde a mágica acontece. Mostrando-nos que Paris (assim como tudo na vida) não é apenas o que se vê a princípio: há muita coisa (talvez as melhores) que está 'escondida' para aqueles que só dão uma olhada superficial.

Talvez um dos melhores pontos do roteiro seja o fato de que Allen não tenta explicar a razão das viagens pelo tempo, já que isso realmente não tem importância para a história. Dessa forma, o roteirista/diretor fica mais livre para brincar com as 'personas' dos artistas aqui retratados, como Ernest Heminghway (Corey Stoll), F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston), Zelda Fitzgerald (Alison Pill), Gertrude Stein (Kathy Bates), Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo), Salvador Dalí (Adrien Brody), Luis Buñuel (Adrien de Van), Man Ray (Tom Cordier), Cole Porter (Yves Heck), T.S. Eliot (David Lowe), Henri Matisse (Yves-Antoine Spoto), e muitos outros.

Aliás, é visível que os atores que interpretam essas celebridades estivessem realmente se divertindo. E, por mais que Stoll, como Hemingway, e Brody, como Dalí, pareçam um pouco caricatos em suas composições, é impossível não achar graça das situações aqui vividas por essas figuras tão conhecidas. Auxiliado por inspiradas interpretações de seus atores, Woody Allen recria as personalidades desses artistas de forma bem humorada.

Mas não são apenas as atuações dos atores que interpretam essas personalidade que são louváveis. Owen Wilson cria o que talvez seja o melhor personagem de sua carreira. E, por mais que o seu velho jeitão de bom-moço descolado seja novamente o fio condutor de sua composição, é impossível não notar as sutilezas que o ator doa a seu Gil, tão bem ilustradas num longo primeiro plano, quando o personagem passa de incrédulo pela viagem no tempo a deslumbrado pelo que está vivenciando. Além disso, o ótimo timing cômico do ator cai como uma luva para que este recrie um pouco da composição típica de Allen, do personagem neurótico e inseguro. Rachel McAdams, que costuma ser tão adorável em suas personagens, surge como uma pessoa egoísta, mesquinha e superficial, e a raiva que o espectador sente pela personagem apenas demonstra o quão competente é a atriz na sua criação. Já Marion Cottilard, como a bela Adriana, estabelece-se como uma verdadeira musa inspiradora, e, não à toa, tantos homens geniais competem por seu amor. Finalmente, Michael Sheen, mesmo que apareça pouco, consegue estabelecer-se como um pseudo-intelectual pedante e irritante que não deixa dúvida ser apaixonado por si mesmo e pelo seu conhecimento, o qual não perde a chance de 'recitar', mesmo que, algumas vezes, este seja incompleto ou, até mesmo, equivocado.

Inspirados também são os diálogos escritos por Allen, que realmente parece ter voltado à sua melhor forma, ao racionalizar situações absurdas, ou ao colocar o protagonista como sendo o autor da ideia do filme "O Anjo Exterminador", e doando-a para Buñuel, o qual, de forma cômica e que contrasta com sua veia surrealista, insiste em racionalizar sobre a questão.

A fotografia deste "Meia-Noite em Paris" também é belíssima e ajuda a contar a sua história, já que o presente de Gil é retratado sempre de forma cinzenta, em uma Paris nublada. Já os nos 1920 destacam-se por suas luzes (já que sempre aparece à noite), e com uma palheta de cores quentes, que tendem ao dourado. Assim, quando Gil, em uma feira de rua, vê um gramofone dourado (da época por qual é apaixonado), o espectador nota, de cara, a atração que o personagem sente pelo objeto.

Da mesma forma, quando na cena final, já de volta ao presente, notamos as mesmas cores que até então retratavam apenas a década de 1920, automaticamente vemos a evolução do personagem e que tanto ele como nós, espectadores, entendemos a mensagem de Woody Allen - seja Gil sonhando com os anos 20, ou Adriana com a Belle Époque, ou ainda Gauguin e Degas com a Renascença - o passado serviu para estabelecer o presente como este é; serve sim como objeto de admiração, mas ficar sonhando em viver no passado, soa apenas como constante frustração.

Passei a olhar com outros olhos minha vontade de viver nos anos 60. Ainda que a ideia de poder conviver com meus ídolos - Truffaut, Godard, Antonioni, Beatles, entre outros - nunca soará ruim.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


P.S.: Por que o cartaz brasileiro tem que remetar à uma simples comédia romântica, enquanto o cartaz original do longa (ambos no início deste post) instiga tantas outras coisas?


 
 

terça-feira, 21 de junho de 2011

Alta Ansiedade

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Alta Ansiedade (High Anxiety, 1977)

Estreia oficial: 25 de dezembro de 1977
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Mel Brooks é um diretor especializado em paródias de diversos gêneros cinematográficos. Em seus 50 anos de carreira, já satirizou as produções musicais em “Primavera para Hitler” (de 1968), os westerns em “Banzé no Oeste” (de 1974), os filmes de terror em “O Jovem Frankenstein” (1974), os filmes mudos em “A Última Loucura de Mel Brooks” (1976), os épicos históricos em “A História do Mundo: Parte 1” (1981), a trilogia de George Lucas, “Star Wars”, em “S.O.S - Tem um Louco Solto no Espaço” (1987), a lenda de Robin Hood em “A Louca Louca História de Robin Hood” (1993) e até o Conde Drácula em “Drácula - Morto, mas Feliz” (1995).

No filme “Alta Ansiedade” (de 1977), Brooks homenageia - ao mesmo tempo em que parodia - os filmes do ‘mestre do suspense’, Alfred Hichcock. A paródia de Brooks não apenas satiriza o teor das histórias de Hitchcok, mas também a forma de seus filmes.

“Alta Ansiedade” conta a história do psicanalista Richard H. Thorndyke (interpretado pelo próprio Mel Brooks), que acaba de assumir o cargo de diretor do ‘Instituto Psico-Neurótico para Pessoas Muito, Muito Nervosas’. Não vai tardar, entretanto, para o Dr. Thorndyke suspeitar que há algo errado acontecendo dentro do Instituto, que envolve a morte de seus ex-diretores. Assim, o protagonista é envolto em uma trama de assassinato.

Logo de cara, a temática envolvendo a psicanálise e uma história de assassinatos já nos remete ao filme de Hitchcok, “Quando Fala o Coração” (1945). Porém, as referências a este longa (e as semelhanças) param por aí, já que “Alta Ansiedade” vai trilhar sua própria história dentro deste contexto.

Com relação à sátira direta de cenas dos filmes do ‘mestre do suspense’, pode-se citar a sequência em que o Dr. Thorndyke chega no aeroporto e é recepcionado pelo seu motorista e assistente, Brophy (Ron Carey), que tira várias fotos suas em sequência, em uma alusão à cena em que vários flashes são disparados contra o assassino de “Janela Indiscreta” (1954).

Há ainda a cena que revela o medo que o Dr. Thorndyke sente de altura, mesmo sentimento do personagem de James Stewart em “Um Corpo que Cai” (1958). A inspiração é clara.

Do mesmo filme de Hitchcock, Mel Brooks parodia a sequência do campanário, de onde a personagem de Kim Novak é jogada. Aqui, os planos da escadaria que levam ao alto da torre são praticamente idênticos.

Claro que Mel Brooks não poderia deixar passar impunes talvez aquelas que são as duas sequências mais famosas dentre os filmes de Alfred Hitchcock. A primeira diz respeito ao longa “Os Pássaros” (1963), quando Melanie (Tipp Hedren) espera pela irmã de seu namorado do lado de fora de um colégio, em frente a um ‘trepa-trepa’, o qual vai sendo tomado por corvos. Em “Alta Ansiedade”, o Dr. Thorndyke está em um parque, também em frente a um ‘trepa-trepa’, que, por sua vez, é tomado por pombos.

Já a segunda, é a famosa cena do assassinato no chuveiro, de “Psicose” (1960), onde Marion (Janet Leigh) é morta à facadas enquanto toma seu banho. Mel Brooks faz a paródia usando-se basicamente dos mesmos enquadramentos, mas substitui a faca por um jornal enrolado, fazendo humor sobre a cena.

Nessas sequências pode-se notar que, além de referenciar o conteúdo, Mel Brooks também utiliza-se de enquadramentos semelhantes àqueles criados por Hitchcock. E faz isso durante todo o longa. Ele também faz uso de planos que eram bastante utilizados por Hitchcock, como closes bem fechados e planos detalhes de mãos e pés.

Porém, o humor de Brooks não se restringe à produzir paródias dessas cenas consagradas, ele vai além e também brinca com a estrutura do próprio filme. Na maioria da sua narrativa, o roteirista/diretor faz uso de uma estrutura clássica, que se caracteriza, entre outras coisas, por uma decupagem que proporciona um ilusionismo afim de que o espectador sinta identificação com a história contada. Segundo Ismail Xavier, o naturalismo ou realismo no cinema não se vincula à nenhum movimento literário de mesmo nome, mas à “construção de espaço cujo esforço se dá na direção de uma reprodução fiel das aparências imediatas do mundo físico, e à interpretação dos atores que busca uma reprodução fiel do comportamento humano, através de movimentos e reações ‘naturais’”.

Mas, se Mel Brooks utiliza-se desta narrativa clássica para criar identificação do público com a sua história e seus personagens, também sabe como desconstrui-la. Em algumas cenas, o diretor chama a atenção para os elementos que constituem a produção do próprio filme, como a trilha sonora e a presença física da câmera (mesmo sem mostrá-la diretamente).

Essa metalinguagem pode ser verificada na cena em que o Dr. Thorndyke e seu motorista estão se dirigindo para o Instituto, conversando a respeito da morte inesperada do diretor anterior. Neste momento, uma trilha sonora de suspense começa a tocar. Tal trilha não é só ouvida pelos espectadores (extra-diegética), mas também pelos próprios personagens, que olham ao seu redor, procurando uma explicação para a música. É quando aparece um ônibus, com a Orquestra Sinfônica de Los Angeles tocando, e ultrapassa o carro dos personagens. Assim, a música ouvida pelos personagens é explicada diegeticamente, ou seja, a fonte da música é mostrada de maneira a fazer parte integrante da história.

Outro momento em que essa ruptura da narrativa acontece é quando os médicos do Instituto estão jantando, e a cena começa com um enquadramento de fora do prédio, mostrando, através de uma janela de vidro, todos sentados à mesa. Então, a câmera começa a se aproximar. Aproxima-se tanto, que acaba quebrando o vidro. Neste momento, todos os personagens param o que estavam fazendo e voltam-se para a câmera, olhando para ela (e para o público), quebrando assim, o que se chama de “quarta parede” - que seria a parede imaginária que se coloca entre a ficção e a plateia, e através da qual tal plateia assiste a tudo de forma passiva, aceitando o que vê como um evento real.

O mesmo acontece na cena final, quando a câmera afasta-se da ação, que se passa dentro de um quarto de hotel, e acaba quebrando (agora, fisicamente) a parede no seu recuo. Neste momento, os personagens olham para câmera, chamando a atenção do espectador para ela. Ao mesmo tempo, duas vozes em off aparecem conversando (como se fossem os membros da equipe do filme responsáveis pelo ‘estrago’: diretor de fotografia e diretor), o primeiro pergunta o que farão agora, com a parede quebrada, ao que o segundo responde: “... continua recuando que pode ser que ninguém note”.

Claro que se pode interpretar tal diálogo como simples ferramenta cômica. Mas por outro lado, pode-se aferir-lhe um significado metalinguístico e de ruptura, como que chamando a atenção para que o espectador comece a enxergar para além daquilo que é mostrado pela câmera, para que veja as produções cinematográficas com um olhar mais crítico, com certo distanciamento, sabendo que o que está sendo mostrado não é uma realidade (nem “a” realidade), mas apenas uma peça artística destinada, principalmente, ao entretenimento.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


P.S: Resenha apresentada em junho de 2011 para a disciplina de História do Cinema, no curso de Especialização em Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná.


sábado, 18 de junho de 2011

Micmacs - Um Plano Complicado

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Micmacs - Um Plano Complicado (Micmacs à Tire-Larigot, 2009)

Estreia oficial: 28 de outubro de 2009
Estreia no Brasil: lançado diretamnete em DVD
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Jean-Pierre Jeunet é um contador de histórias fantásticas, todas elas mergulhadas em tons amarelos, vermelhos e verdes. Foi assim com "Delicatessen" (1991), "Ladrão de Sonhos" (1995) - ambos co-dirigidos com Marc Caro, "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (2001) e, de certa forma, até em "Amor Eterno" (2004). Todos trazem sua marca registrada com diálogos non-sense, a direção de arte impecável e repleta de detalhes e na belíssima fotografia que abusa das cores supra-citadas. Indícios que quando reunidos fazem o espectador dizer: "Taí, mais um filme de Jeunet!".

Neste "Micmacs - Um Plano Complicado" não é diferente. O roteiro aqui é centrado em Bazil (o ótimo e cartunesco Dany Boon), que acaba perdendo tudo o que tem depois de levar um tiro acidental na cabeça. Com a bala alojada no crânio, e sem nenhum bem, Bazil acaba juntando-se a uma incomum trupe que vive em um alojamento feito de sucatas. Cada integrante do grupo parece ter um "super poder", ou uma característica incomum, como a mulher contorcionista; ou a garota "calculadora, capaz de fazer a mais complicada das contas matemáticas; ou um inventor que é bem mais forte do que aparenta… A excentricidade vai longe… Encabeçando o grupo, está Fracasse (bom, seu nome já diz tudo, não necessita maiores explicações), interpretado por Dominique Pinon (grande colaborador de Jeunet: e se este é o sexto longa dirigido pelo diretor, é também a sexta colaboração entre Jeunet e Pinon).

Mas é quando Bazil encontra o fabricante da bala que está alojada na sua cabeça (interpretado por André Dussollier), e o fabricante de materiais bélicos (interpretado por Nicolas Marié) que foi responsável pela morte de seu pai, vítima de uma mina terrestre durante a guerra, que a história realmente começa, já que Bazil e sua turma traçam um plano mirabolante para colocar os dois 'mercadores da morte' em guerra e acabar com suas reputações e seus respectivos negócios.

Claro que por trás da história aparentemente bobinha, há toda uma crítica social, fato recorrente na filmografia do diretor, já que todos seus trabalhos, em maior ou menor grau, tecem alfinetadas contra a hipocrisia da sociedade capitalista, tudo travestido, claro, de muito humor negro.

Porém, a execução do complicado plano arquitetado pelos personagens parece atravancar um pouco o ritmo do filme, que se perde e não deixa a história fluída, já que parece se concentrar mais no plano em si do que no que poderia soar mais interessante: o desenvolvimento de seus excêntricos - e interessantes - personagens. Assim, diferentemente do que acontecia em "Delicatessen", em "Ladrão de Sonhos", e principalmente em "Amélie Poulain", os personagens deste "Micmacs" acabam sendo mais superficiais e nunca revelam-se tão interessantes quanto os dos longas anteriores.

Porém, como em todos os outros filmes com a 'marca Jeunet', a direção de arte bela e inventiva, a excelente edição e a colorida fotografia são os diferenciais. Comos nos seus dois primeiros longas, o diretor volta a trabalhar com cenários poluídos e repletos de objetos que dizem muito a respeito de seus personagens.

Finalmente, Jeunet mais uma vez brinda o espectador com uma direção rigorosa e apaixonada por aquilo que faz, gerando um filme prazeroso e que se destaca num mercado atual, tão carente de inovações e ousadias.


por Melissa Lipinski


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Delicatessen

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Delicatessen (Delicatessen, 1991)

Estreia oficial: 17 de abril de 1991
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Em um futuro apocalíptico, nos arredores de Paris, faz-se um curioso pacto velado entre os moradores de um pequeno edifício. A moeda de troca? em sua maioria alimentos secos como grãos. O vendedor? O açougueiro que mora no tal edifício. Os compradores? Os próprios moradores. A mercadoria? Carne... Carne humana. A vítima? O mais novo inquilino, um artista circense que acaba se apaixonando pela filha do açougueiro.

É a partir desse bizarro cenário que tem início este belíssimo filme dirigido por Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro. Um roteiro repleto de críticas à sociedade travestidas no melhor do humor negro e da arte calcada no grotesco. Humor negro esse que já se vê presente no próprio título: "Delicatessen", que remete a algo gracioso e saboroso. Porém, desfilam pelo filme personagens depressivos, solitários, que não são bem aquilo o que aparentam, em lugares não tão agradáveis, comendo carne humana, uma 'delicatesse' um tanto quanto esquisita.

A direção de arte é o grande atrativo do longa. Todo o universo criado em "Delicatessen" é repleto de riquíssimos detalhes. A cenografia tem um quê que Expressionismo Alemão, que, em consonância com a fotografia, expressam o estado de espírito ambíguo de seus personagens. As cores predominantes transitam entre o amarelo e o avermelhado, predominando o tom sépia na produção. Cada ambiente (apartamentos, açougue, esgoto) visto no filme é repleto de objetos que revelam a natureza dos personagens que ali habitam.

O humor do roteiro não é escancarado, mas sim sutilmente embutido nas situações, que soam mais trágicas do que cômicas, o que acaba dando o tom engraçado. Porém, por mais que o riso venha decorrente das situações, elas estão sempre imersas numa atmosfera sombria e densa.

O trabalho sonoro realizado aqui também é irrepreensível e, em duas cenas em particular, a música vem dos sons produzidos diegeticamente pelos personagens, como as molas de um colchão antigo, uma senhora batendo em um tapete, um metrônomo que dita o compasso de uma violoncelista, um pintor de teto, dois artesão trabalhando e um homem enchendo um pneu de uma bicicleta. Ou então, uma outra cena, na qual um serrote musical faz um dueto com o violoncelo. Belíssimas!

Enfim, um filme maravilhoso em seu rigor técnico e artístico. Uma poesia apocalíptica e escatológica. Uma mistura de conto de fadas pós-moderno, cinema grotesco e pastiche romântico. Imperdível!

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


terça-feira, 14 de junho de 2011

Edifício Master

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Edifício Master (2002)

Estreia oficial | no Brasil: 22 de novembro de 2002
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Pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, que Eduardo Coutinho é o maior documentarista da história do cinema brasileiro. Senão o melhor, certamente é aquele com a obra mais (merecidamente) reconhecida. Esse "Edifício Master" é apenas um dos seus ótimos filmes, que também incluem "Cabra Marcado Para Morrer" (1985), "Babilônia 2000" (1999), "Santo Forte" (2002), "Peões" (2004), "O Fim e o Princípio" (2006) e "Jogo de Cena" (2007). De todos eles, “Edifício Master” é mesmo o meu favorito.

Durante a realização deste documentário, Coutinho e sua equipe passaram uma semana entrevistando e filmando o cotidiano de moradores do tal edifício do título, um prédio de 12 andares e 23 apartamentos por andar (que totaliza 276 apartamentos!), onde moram aproximadamente 500 pessoas. Trinta e sete delas contam suas histórias para as câmeras do documentarista.

Dessa seleção de entrevistados, constroi-se um fascinante mosaico de personalidades que não só resumem a própria sociedade brasileira, como também mostram a extrema sensibilidade e humanismo do realizador.

Coutinho é hábil em, primeiro, mostrar depoimentos que dão um panorama geral do prédio e do seu passado, ambientando assim, o espectador tanto geograficamente quanto politicamente dentro desse microcosmo de Copacabana que é o Edifício Master. São depoimentos como o do síndico do prédio (Sérgio), um personagem ímpar, responsável pela melhor frase do longa: “eu uso muito Piaget, mas quando não dá, apelo pro Pinochet”.

São entre depoimentos desses personagens e cenas dos corredores do edifício que a montagem vai dando ritmo à narrativa. E os depoimentos mais gerais vão cedendo espaço para aqueles mais particulares, e assim, Coutinho vai do plano geral para o mais fechado, mais particular, com uma enorme diversidade de personalidades que relatam suas tão desiguais experiências e impressões.

Dessa forma, o cineasta vai tecendo a identificação do espectador com seus entrevistados. Alguns relatos mais felizes e esperançosos, outros totalmente desiludidos com a violência e com a vida. Uns fazem rir; outros, chorar. Todas histórias emocionantes, de personagens reais da vida real.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski



domingo, 12 de junho de 2011

Acossado

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Acossado (À Bout de Souffle, 1960)

Estreia oficial: 16 de março de 1960

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Hoje em dia, Jean-Luc Godard não precisa de apresentações. Em mais de 50 anos de carreira, um dos fundadores da Nouvelle Vague francesa, é reconhecido pela sua grande contribuição ao Cinema, principalmente no que tange à linguagem cinematográfica.

"Acossado" foi justamente a estreia desse aclamado diretor em longas-metragem, e é um clássico, não só da
Nouvelle Vague (é um dos primeiros filmes do movimento), mas de toda a Sétima Arte. "Acossado" surgiu numa época em que a juventude politizada (principalmente na França) vinha com uma enorme vontade em romper com regras e padrões de uma sociedade estanque e hipócrita. Não é exagero considerar o primeiro filme de Godard como um dos símbolos dessa juventude.

Em "Acossado" o roteiro é o que menos importa. Não temos aqui uma história nos padrões clássicos. (A ideia da história veio de François Truffaut - outro "monstro" da
Nouvelle Vague e do cinema francês). O que importa aqui é mais a forma de se contar - a linguagem, do que aquilo que está sendo contado. Godard não tinha em mãos um roteiro tradicional, mas sim a ideia e anotações. Improvisação era a palavra de ordem.

Dessa liberdade surge outra inovação do longa, o hoje já "institucionalizado",
jump cut, que consiste em cortes dentro de um mesmo plano (sem mudanças de enquadramento), dando a sensação de 'pulos', causando um certo estranhamento para quem assiste. Além dos jump cuts, Godard também se utiliza da quebra de eixo propositada e de falsos raccords (quebra de continuidade) para evidenciar ainda mais esse estranhamento, que era exatamente o que o diretor pretendia. Aqui, não há a busca da identificação do espectador com os personagens; mas sim a vontade de chamar a atenção para o filme em si. Fazer com que o público consiga perceber que o que está assistindo não é a realidade, mas sim uma peça de ficção, e que consiga pensar a respeito dela. O estranhamento e o distanciamento reflexivo era o que Godard - e tantos outros autores, antes e depois dele - buscavam e ainda buscam. Ver o cinema não só como entretenimento, mas também como arte que leva à reflexão e à quebra de paradigmas.

Esse estranhamento também está presente na direção de cena, já que os atores sentem-se livres para improvisar e não ficam presos a um texto pré-concebido. O fato de os atores olharem para a câmera em vários momentos, e em alguns, falarem diretamente para a plateia, também corrobora com esse discurso.

Devido aos recursos de edição utilizados (
jumps cuts, falsos raccords), o ritmo do longa é bastante acelerado. Ritmo esse que só é quebrado numa cena em que os protagonistas Michel Poiccard (o ótimo Jean-Paul Belmondo) e Patricia Franchini (Jean Seberg, linda, com seu visual que inspirou toda uma geração) conversam no quarto desta. Nesta cena, Godard revela todo o existencialismo que permeia seus personagens (e vai interpor-se em toda a sua obra daí em diante), já que o ritmo acelerado de até então, parece ceder tempo para divagações sobre a vida, demonstrando a necessidade que os personagens têm de se afirmar dentro da sociedade.

Em meio a tudo isso, Godard ainda confere um aspecto intertextual e metalinguístico, com citações de pintores e escritores clássicos, e, acima de tudo, demonstrando todo o amor que sentia pelo Cinema, já que "Acossado" é carregado de referências a outros filmes, principalmente aos filmes policiais estadunidenses. O próprio personagem de Belmondo, Michel, é claramente inspirado nos policiais interpretados por Humphrey Bogart - ele até pára, numa das cenas, em frente a um cartaz do ídolo (do personagem e do diretor), para admirá-lo.

Por fim, "Acossado" é um filme ímpar. Mesmo com uma história simples, que já tinha sido vista tantas vezes anteriormente em outros filmes, conseguiu (e ainda consegue) surpreender devido a uma conjunção de fatores: o carisma dos atores, o charme das ruas de Paris, a música envolvente, e principalmente, ao talento, à ousadia e à experimentação de seu realizador. Características que Godard apenas iniciava em 1960, e que viria a radicalizar ainda mais em suas obras posteriores.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski



 

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Se Beber, Não Case! 2

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Se Beber, Não Case! 2 (The Hangover Part II, 2011)

Estreia oficial: 25 de maio de 2011
Estreia no Brasil: 27 de maio de 2011

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"Se Beber, Não Case! 2" é a prova da indústria cinematográfica hollywoodiana. O primeiro filme foi sucesso de público e de crítica (e realmente é uma comédia bastante eficiente e engraçada), então não tardou para que produzissem uma continuação. Mas para que mexer em time que está ganhando, não é mesmo? E assim, esse segundo filme não traz nada novo, apenas repete as mesmas situações que deram certo no primeiro longa.

A estrutura narrativa é exatamente igual. (Agora vem um
spoiler!) E até o fato de o amigo desaparecido estar mais perto do que os três protagonistas poderiam imaginar volta a se repetir. Aliás, esse fato é a repetição que mais me incomodou. As demais situações até poderiam ser encaradas como coincidências, ou um "carma" que os três amigos estariam enfrentando novamente. Como se, a cada vez que um deles fosse se casar, todos estivessem destinados a passar pela mesma situação... Forçado? Pode até ser, mas só assim para encarar esta nova aventura de Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms) e Alan (Zach Galifianakis) sem se estressar muito.

Bom, a história não precisa nem falar muito, afinal já falei que as mesmas situações se repetem. Mas vamos lá. Agora é Stu quem vai se casar. Sua noiva é tailândesa, então, o casamento acontecerá em um resort no seu país de origem. Todos os seus amigos, Phil, Doug (Justin Barba) e Alan estão presentes. Na véspera do casamento, claro, eles bebem demais, e acabam acordando em Bangcoc, sem lembrar de nada da noite anterior. O desaparecido da vez é o cunhado de Stu, Teddy (Mason Lee). Então, Stu, Phil e Alan vão correr contra o tempo para descobrir o que aconteceu, achar Teddy e voltar a tempo para o casamento.

A veia politicamente incorreta mantém-se a mesma nesta continuação, acentuando-se as piadas e situações embaraçosas com teor sexual. Inclusive, as piadas que envolvem um travesti tailandês (os famosos
katoeys, conhecidos como os mais belos e convincentes travestis do mundo) me pareceram mais preconceituosas do que realmente engraçadas.

Porém, pode-se "ler" este "Se Beber, Não Case! 2" de uma outra maneira. Como uma crítica à sociedade mais conservadora. Afinal, é só nos momentos de 'loucura', quando bebem e se drogam, que o trio de amigos realmente entram em contato com o seu 'verdadeiro eu'. Como se, sob os efeitos das drogas, tirassem a máscara que a sociedade impõe-lhes (e a todos nós) que usem. Assim o filme ganha em significados, e consegue-se ver aí, a visão cínica de Todd Phillips (que também estava presente no
primeiro longa, de 2009, assim como em "Caindo na Estrada", de 2000, em "Dias Incríveis", de 2003, e em "Um Parto de Viagem", de 2010). Phillips sempre trabalha numa tênue linha entre o conservadorismo da sociedade e a crítica cínica sobre ele. Entre o riso fácil com apelos sexuais, e aquelas piadas mais elaboradas e sutis, que muitas vezes até mesmo se confundem com o próprio discurso que estão criticando. Como falei, é uma linha tênue que separa a crítica aos costumes da impressão de reafirmação dos mesmos.

Alguns espectadores vão se identificar com o trio protagonista; outros (incluo-me neste grupo) vão apenas ver o quão ridículos são um dentista recalcado, um pai de família frustrado e um
weirdo que só sente-se integrado em um grupo que ri às suas custas. Porém, as risadas do público serão unânimes, seja dos que apenas enxergam a conotação sexual das piadas, como daqueles que vêm o anarquismo e o cinismo contido no discurso de Todd Phillips.

Pena que o diretor utilizou-se da mesma estrutura narrativa do
anterior para fazer isso, o que tirou um pouco a força de suas críticas.


por Melissa Lipinski



quinta-feira, 9 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011)

Estreia oficial: 3 de junho de 2011
Estreia no Brasil: 3 de junho de 2011
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"X-Men: Primeira Classe" é uma prequel que faz jus à trilogia inicial dos X-Men (diferentemente do terrível "X-Men Origens: Wolverine", de 2009), já que jamais soa previsível - por mais que já saibamos como as coisas serão encaminhadas ao final. O interessante aqui, é ver como cada personagem chegou ao ponto onde os conhecemos anteriormente, o caminho que eles trilharam até chegarem a ser aqueles que já conhecemos. E, neste quesito este "Primeira Classe" é extremamente bem sucedido.

O roteiro nos apresenta a Erik Lehnsherr (ou Magneto) e Charles Xavier (Professor X) desde as suas respectivas infâncias, passando pelo momento em que os dois se conhecem, tornam-se amigos até o ponto onde vão dividir forças, recrutando mutantes para fins opostos. O roteiro é hábil em desenvolver seus personagens (e se preocupa com isso, o que não acontecia no pavoroso "Wolverine"), assim, passamos a entender as motivações do pequeno Erik, que, nos campos de concentração da Almenaha nazista chama a atenção do temível Sebastian Shaw (Kevin Bacon) em função dos seus poderes. Shaw tortura psicologicamente o menino em uma cena magistralmente dirigida por Matthew Vaughn (que já havia dirigido "Nem Tudo É o Que Parece", de 2004, "Stardust - O Mistério da Estrela", de 2007, e "Kick-Ass - Quebrando Tudo", de 2010), que a conduz de forma 'clássica' durante os diálogos, mostrando um medo e tensão do jovem Erik que podem até soar um pouco exagerados, mas que, no momento em que Vaughn faz uma quebra de eixo na sua montagem, descobrimos o porquê do menino sentir-se daquela maneira.

Dessa forma, tornam-se bastante compreensíveis as razões que transformaram Erik (o ótimo Michael Fassbender) em um homem amargurado e com tanta raiva reprimida. Passamos a compreender (e até a nos identificar) com Magneto. E o paralelo entre a vida sofrida de Erik e a boa vida de Charles Xavier é bem mostrada aqui. Este último, desde cedo já demonstra sua vocação para professor, sempre instruindo àqueles que o cercam. É fácil acreditar que esse jovem inteligentíssimo, corajoso, levemente arrogante e charmoso vá tornar-se o sábio Professor Xavier dos três primeiros filmes. E James McAvoy dá vida ao seu Xavier com uma vivacidade incrível. Chega a ser comovente ver a felicidade com que ele descobre que há mais mutantes ao redor do mundo do que inicialmente ele imaginara. Uma cena em particular me chamou a atenção para o talento tanto de McAvoy quanto de Fassbender: no momento em que Erik permite que Charles leia a sua mente para ajudá-lo a controlar melhor seus poderes, e dessa forma, compartilham as sofridas lembranças de Erik, as reações dos dois atores são comoventes.

Mas não só Xavier e Magneto são bem construídos aqui. Trazendo novamente a discussão sobre os preconceitos que a sociedade impõe às suas minorias (sejam raciais, geográficos, por orientação sexual, etc.), o roteiro utiliza-se de Mística (ou melhor, Raven) e de Hank McCoy para colocar em voga a questão. Jennifer Lawrence (do ótimo "Inverno da Alma") está sempre dividida entre mostrar-se à sociedade, ou seja, assumir sua forma azul mutante, ou incorporar-se à ela (em sua forma humana), e o dilema da garota é um dos mais tocantes do filme. Ela se identifica com o que Erik afirma, ao mesmo tempo em que tenta ser como Charles. Da mesma forma, Nicholas Hoult vive Hank McCoy como um rapaz brilhantemente precoce, cujo drama é bem descrito no longa pelo paralelo que faz como o sofrimento de Dr. Jekyll (de "O Médico e o Monstro", de R. L. Stevenson). McCoy sente-se tanto como o médico quanto como o monstro. Mas quem rouba todas as cenas é Kevin Bacon com seu vilão: Shaw passa a ser o pior vilão da franquia "X-Men".

Mas não é só no desenvolvimento de seus personagens que o longa é competente (por mais que o filme fique sempre melhor quando os mutantes estão descobrindo ou apenas demonstrando os seus poderes), Vaughn consegue manter o bom ritmo ao longo de todo o filme, intercalando cenas mais tocantes, com outras mais engraçadas (como toda a sequência em que Charles e Erik saem recrutando mutantes para a CIA), e com sequências de ação bem dirigidas.

A direção de arte também é irrepreensível, com sua recriação de época. O 'charme' da produção, por assim dizer, fica por conta do chamativo submarino do vilão, com suas cores fortes e um visual futurista dos anos 60 (bem ao estilo "James Bond" da época).

Porém, os efeitos visuais tropeçam de vez em quando, com montagens que não passam desapercebidas, como a queda de um avião em uma praia, e um primeiro plano de um general russo em Moscou. Mas, quando dizem respeito aos poderes dos personagens, os efeitos mostram-se sempre competentes.

Utilizando-se de acontecimentos históricos para ambientar a descoberta dos mutantes (e chega a ser engraçado pensar que toda um era de Guerra Fria aconteceu devido aos mutantes), "X-Men: Primeira Classe" volta a honrar a saga dos mutantes. Não só sendo um filme de qualidade, mas enriquecendo a construção de personagens que já eram bastante fortes.

Saí do cinema com vontade de rever os três primeiros filmes.

Ah! Além das piadinhas com relação ao cabelo do professor Xavier, há duas participações especiais de personagens conhecidos (com seus atores dos longas anteriores), que dão ainda mais graça aos momentos descontraídos do filme.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski