domingo, 21 de agosto de 2011

Entre Segredos e Mentiras

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Entre Segredos e Mentiras (All Good Things, 2010)

Estreia oficial: 3 de dezembro de 2010
Estreia no Brasil: lançado diretamente em DVD
IMDb



O diferencial de "Entre Segredos e Mentiras" não está na sua revelação final ou na sua conclusão, que, desde o início já se anuncia para o espectador, não sendo nenhuma surpresa. Mas sim, na sua cuidadosa composição dos personagens, que apoia-se em três fortes atuações.

David (Ryan Gosling) parece um sujeito pacato e normal que apenas quer se desvencilhar do império econômico construído por sua família. Assim, quando conhece Katie (Kirsten Dunst), uma jovem cheia de vitalidade, vê uma oportunidade de começar uma nova vida. Porém, o que Katie não suspeita, é que por trás do calado David, está uma mente traumatizada e problemática, que fará o que estiver ao seu alcance para realizar os seus objetivos.

Baseado em uma história real, o roteiro de Marcus Hinchey e Marc Smerling já denuncia, já de cara, que David está sendo julgado por um crime. Logo no início também vemos sacos sendo despejados num rio. Assim, a dúvida que surge não é mesmo se David cometeu ou não um assassinato (o que fica claro), mas quais das personagens que o cerca foi a sua vítima.

A estrutura narrativa, em flashback, escolhida pelo diretor quase estreante (já havia dirigido um curta e um documentário, o ótimo "Na Captura dos Friedmans", de 2003), Andrew Jarecki, peca pela falta de ritmo, tornando o filme um tanto quanto cansativo. Porém, as atuações contrapõe-se ao marasmo.

Ryan Gosling cria um personagem dúbio, com um olhar distante, de forma a nunca sabermos o que ele está pensando. Se suas ações podem demonstrar que ele é amável e dócil, seu olhar transmite o contrário. E, se aparentemente ele parece introspectivo, é apenas para mascarar seu caráter manipulador. E a tranquilidade que ele passa no início do filme vai, aos poucos, transformando-se em pura instabilidade emocional.

E, se Gosling é a frieza em pessoa, Kirsten Dunst cria o seu contraponto, numa atuação vívida e calorosa que, aos poucos, vai dando lugar a uma mulher frustrada e amargurada. Já Frank Langella, como o pai de David, mostra toda a força e crueldade que nortearam a vida do protagonista para ajudar a torná-lo o homem que se tornou.

Dando tempo em cena para seus personagens serem bem trabalhados, Jarecki também acerta em usar de imagens "de arquivo" para ajudar nessa construção. Por outro lado, a excessiva maquiagem que envelhece o protagonista parece nos distanciar da história, quebrando a ilusão, lembrando-nos que estamos apenas assistindo a um filme.

Enfim, Andrew Jarecki perdeu a oportunidade de transformar David num dos grandes psicopatas do Cinema. A atuação de Ryan Gosling merecia isso.


por Melissa Lipinski


 

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