segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Bye Bye, Brazil

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Bye Bye, Brazil (1980)

Estreia oficial | no Brasil: 9 de fevereiro de 1980 

IMDb



"Bye Bye Brazil" era, em seu tempo, uma anunciação de um Brasil que ainda não existia completamente, que estava passando por uma grande transformação. Hoje, esse "Brazil" está aí. Qualquer um pode ver, é só olhar para fora da sua própria janela. Ou ainda, olhar para dentro da própria janela.

Ironicamente, o filme de Carlos (antigo Cacá) Diegues, continua mais atual do que nunca. "Bye Bye Brazil" fala de uma trupe mambembe, a Caravana Rolidei, que roda o interior do Brasil apresentando seus poucos números. O grupo conta com Lorde Cigano (José Wilker), um mago que prevê o futuro e lê mentes; Salomé (Betty Faria), uma dançarina de rumba; e o motorista do caminhão, um faz tudo do show. Em uma das cidadezinhas por onde passam, acabam levando consigo o sanfoneiro Ciço (Fábio Júnior) e sua mulher grávida, Dasdô (Zaira Zambelli), que integram-se ao espetáculo.

A decadência da caravana era uma alusão a uma realidade nacional que estava chegando ao fim. Ainda em regime ditatorial, não se podia falar das coisas "abertamente", e a metáfora utilizada por Diegues nem sempre era da forma mais sutil.

Mas voltando à história em si, a mudança que o roteiro traz com o advento da televisão, continua muito atual, é só trocar a TV por qualquer outra tecnologia. Mas tem coisas que não mudam, como a pobreza do interior do nordeste brasileiro por onde a caravana passa (e passaria ainda hoje nas mesmas situações).

As atuações são corretas, destacando-se José Wilker, como o cínico e bem-humorado líder da caravana, Lorde Cigano. A estética do filme ainda 'bebia' do Cinema Novo, movimento do qual Diegues também fez parte na década de 1960, e abusa da câmera na mão, em um estilo 'mais documental', sem muita iluminação artificial. O longa ainda é coroado com a belíssima canção homônima de Chico Buarque, cujos arranjos entrecorta toda a narrativa e que pode ser ouvida na íntegra durante os créditos finais.

O filme ainda traz uma cínica crítica à globalização (olha a contemporaneidade novamente!) e ao imperialismo estadunidense. Um exemplo escrachado é a cena em que Lorde Cigano faz 'nevar', exclamando: "Agora o Brasil também tem neve! Assim como todo país civilizado do mundo!"; ou o próprio nome da trupe: Rolidei… Ou "Rolidey, com y", como corrige o mágico, ao que complementa: "Como a gente era burro!".

Burro somos nós que continuamos a nos vislumbrar com o produto estrangeiro, atônitos, impassíveis, ou com os produtos nacionais com o "padrão Globo de qualidade", da mesma forma que a população de uma das vilas mostradas no longa encantava-se pela televisão e pela novela da Rede Globo.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski 



Nenhum comentário: