ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Estorvo (2000)
IMDb
"Estorvo" é um filme baseado no livro homônimo de Chico Buarque de Hollanda e, assim como acontecia na obra literária, o filme também incomoda. Não é uma obra fácil. É perturbadora. Um estorvo, realmente.
Desde o início o espectador é colocado frente a frente com a paranoia do protagonista/narrador e o segue em suas viagens sem rumo, quase cegas - os personagens como quem cruza não têm nome, as cidades não têm nome. Não se sabe a verdade, mas apenas o que este narrador de índole incerta nos revela.
A narrativa do longa não segue uma linearidade, é toda fragmentada. E vamos, ao longo do filme, construindo a nossa própria narrativa, com as meias histórias reveladas pelo protagonista (Jorge Perugorría).
O próprio sotaque do protagonista (que é cubano), com seu péssimo 'portunhol' ajuda na construção do mundo caótico vislumbrado e vivenciado por ele. Também é a marca de um mundo globalizado, onde as línguas misturam-se de tal forma a não ter mais nações de origem. E o fato de o personagem falar portunhol e sua irmã (Bianca Byington) um português claro é prova disso.
A belíssima fotografia lavada de Marcelo Durst corrobora com a estética fria do filme. Um mundo revelado pelas angústias, aflições e dúvidas internas do personagem principal. Um mundo quase preto-e-branco, de uma direção de arte propositalmente feia, que tem o objetivo principal de provocar o espectador, chamar sua atenção para a crua realidade, e não para o belo colorido do mundo do "faz-de-conta".
Não é um filme que traz uma história de acontecimentos e subsequentes soluções que saciam a vontade do especatdor. Ao contrário, é uma obra que anda no fino limiar entre a realidade e a ilusão, e levanta questionamentos, inquietações. Definitivamente, não é um filme fácil.
Fica a dica!
por Melissa Lipinski
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