sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Não Por Acaso

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Não Por Acaso (2007)

Estreia Oficial | no Brasil: 7 de junho de 2007



“Não Por Acaso”, primeiro longa de Philippe Barcinski, utiliza-se de pessoas cujas rotinas baseiam-se em controle e precisão para provar que essas coisas inexistem na vida. Ao colocar tais indivíduos em situações incontroláveis, o diretor tenta mostrar o quão inútil é o esforço de tentar represar as mudanças que o acaso reserva para qualquer um.

O filme narra de forma paralela duas histórias passadas em São Paulo. Ênio (Leonardo Medeiros) é um engenheiro de trânsito que ainda nutre sentimentos por sua ex-esposa, Mônica (Graziela Moretto). Esta tenta reuni-lo com Bia (Rita Batata), sua filha que ainda não conhece. Já Pedro (Rodrigo Santoro) é um marceneiro especializado em construir mesas de sinuca e um hábil jogador do esporte. Ele é feliz em seu trabalho e em seu relacionamento com Teresa (Branca Messina), jovem de classe econômica mais alta que acabara de se mudar para o humilde apartamento do namorado, após alugar seu grande apartamento para Lúcia (Letícia Sabatella), uma analista de investimentos. As vidas destas pessoas irão se interligar e mudar após um trágico acidente de carro.

A metáfora com as profissões das personagens é óbvia. Pedro e Ênio, cada um em seu ofício, contam com a precisão, a meticulosidade e o controle. Porém como na sinuca ou no trânsito, uma mera colisão altera tudo que havia sido planejado. Algo que também se nota na personagem de Lúcia – uma mulher estressada e muito envolvida com sua carreira e que começa a se questionar quando uma transação da qual era responsável dá errado. Diferentemente do que estavam acostumados – seja na vida pessoal ou profissional – a previsibilidade que regia suas vidas acaba indo por água abaixo e as personagens descobrem a impotência diante das mudanças de rumo que o acaso trágico lhes reservara.

A narrativa de “Não Por Acaso” lembra os filmes de Alejandro Gonzalez Iñarritu, principalmente “Amores Brutos” e “21 Gramas”, onde um único acontecimento (também acidentes de trânsito) desencadeiam conseqüências na vida de algumas personagens, em tramas paralelas e distintas, mas com algumas semelhanças.

Apesar das personagens extremamente bem construídas (e, diga-se, muito bem interpretadas principalmente por Leonardo Medeiros e Rodrigo Santoro), o que se sobressai na narrativa de Barcinski é o seu esmero técnico, especialmente no que diz respeito à fotografia e à montagem. Isto fica especialmente evidente nas cenas de sinuca (no caso de Pedro) e nos planos gerais que mostram o trânsito da capital paulista fluindo (no caso de Ênio). Nos dois casos, o diretor ilustra com perfeição os dois homens em plenitude do exercício da obsessão que nutrem por controle. Pedro anota e desenha as jogadas futuras que fará em seu caderno de bolso, treinando duro para reproduzi-las com perfeição – e as cenas que mostram como ele pensa as jogadas antes de executá-las são o exemplo vivo de que se pode sim ter um filme bem editado (inclusive com efeitos especiais) realizado no Brasil. Já Ênio, faz e desfaz congestionamentos rapidamente, fazendo seus complicados cálculos matemáticos parecerem simples para qualquer ‘mortal’ – em uma das seqüências (talvez a mais impressionante do longa), vê-se, através de um plano do alto, um engarrafamento de várias ruas se formando, após o simples digitar de um número ordenado pelo personagem.

Assim como seus personagens (Philippe Barcinski é co-autor do roteiro, juntamente com Fabiana Werneck Barcinski e Eugenio Puppo), o diretor também tenta evitar a interferência do acaso e controlar todos os detalhes do filme. Dá para sentir o dedo do cineasta em cada seqüência, em cada palavra dita pelos atores. Mesmo assim, como nas vidas de Pedro e Ênio, o acaso teima em se manifestar. Um filme nunca resulta exatamente naquilo que o diretor quer que ele seja (a não ser que falemos de Alfred Hitchcock). Como seus dois protagonistas, Barcinski não consegue evitar as armadilhas do caos – e é aí que o excesso de técnica, apesar de muito bem dominada, revela-se como um defeito do filme.

Esse excesso ‘rouba’ o calor humano das personagens, transforma a narrativa do longa em algo frio, inerte. Apesar das personagens cumprirem jornadas idênticas, voltando a se embriagar com a vida, “Não Por Acaso” não consegue ser totalmente bem sucedido na tarefa de envolver o espectador emocionalmente na trama. Há uma barreira entre história e público. Barreira esta que o diretor tenta quebrar com o uso quase ininterrupto de música, a qual acaba dando ao filme um tom artificial, de melodrama. Talvez fosse essa a intenção de Barcinski, mas mesmo assim, ela quebra com a unidade do filme. O resultado final acaba por se tornar mais mecânico, como se o cineasta procurasse o controle absoluto e construísse um engenhoso jogo de montar, com sistemas interessantes de semelhanças, oposições e paralelismos. Porém, o excesso de equivalências e o esquematismo com que a narrativa é conduzida também o deixam facilmente desmontável. Faltou um mergulho mais fundo na subjetividade dos seus personagens – que é sugerida, mas pouco desenvolvida.

Pecadilhos dentro deste belíssimo filme! Fica a dica!


por Melissa Lipinski




** Texto originalmente escrito em 2007, durante o Curso de Graduação em Comunicação Social - Cinema e Vídeo, para a disciplina de Comunicação Comparada.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Reencontrando a Felicidade

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Reencontrando a Felicidade (Rabbit Hole, 2010)

Estreia Oficial: 17 de dezembro de 2010
Estreia no Brasil: 18 de fevereiro de 2011



O roteiro de "Rabbit Hole" trata de um drama intimista vivido por um casal de classe média alta estadunidense que vive no subúrbio, e muito se assemelha, em estrutura e conteúdo, aos dramas dirigidos por Sam Mendes, como "Beleza Americana" (1999) e "Foi Apenas um Sonho" (2008), ou a "Pecados Íntimos" (2006), filme de Todd Field.

O diretor John Cameron Mitchell não recorre a clichês, e a estrutura narrativa do longa jamais cai no lugar comum; assim, as situações criadas pelo roteirista David Lindsay-Abaire e comandadas por Mitchell nunca forçam a barra e sempre parecem naturais e reais.

E são potencializadas pelas ótimas atuações de todo o elenco. Aaron Eckhart está muito bem, e consegue transformar algo que poderia cair no melodrama em uma dor autêntica e, em alguns momentos, até mesmo esperançosa. Mas é Nicole Kidman quem 'manda' no filme. Ela está em um dos melhores momentos de sua carreira (senão o melhor). Kidman nos brinda com uma atuação visceral, cheia de nuances, que vai da dor explícita de uma mãe desesperada, até a tentativa (frustrada) de fazer humor e parecer que está tudo bem, sempre deixando 'farpas' em suas falas para machucar aqueles a quem ama. É a prova de que Nicole Kidman deveria deixar de lado besteiras como "Invasores" (2007), "A Bússola de Ouro" (2007) e "Austrália" (2008), e se dedicar a projetos com uma maior carga emocional, que é onde ela tem se saído melhor, vide "As Horas" (2002), "Dogville" (2003) e "Margot e o Casamento" (2007). Ainda com relação ao elenco, Diane Wiest faz uma ótima participação e rouba as cenas em que aparece.

O ritmo do filme é guiado pelos seus diálogos e, principalmente, pela dor. Dessa forma, não teria como ser um filme de 'edição rápida', já que a sensação de dor (principalmente aquela da perda) nunca o é, e John Cameron Mitchell e o montador Joe Klotz acham o ponto ideal.

Enfim, "Rabbit Hole" mostra que, no geral, as pessoas tendem a tratar das tragédias dos outros como algo contagioso, algo que afeta cada alegria de quem entra em contato com quem está sofrendo. E ainda, o seu ponto mais forte, é que o filme não tenta dar soluções para a dor vivenciada pelos protagonistas, mas sim mostrar o quanto ela está presente em suas vidas, e sempre estará.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Como superar a morte de um filho? É para este universo que entramos vendo o filme que tem situações pesadas com belíssimas atuações.

Destaco a atuação da Nicole Kidman. Os últimos filmes que vi com ela foram sofríveis, ao exemplo do "Austrália" (2008) que é uma porcaria. Mas nesse "Rabbit Hole", ela concentra a força do filme nela.

Uma frase para resumir o filme: forte e sensível.

Recomendo.


por Oscar R. Júnior

 


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Inverno da Alma

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Inverno da Alma (Winter's Bone, 2010)

Estreia Oficial: 17 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 28 de janeiro de 2011



"Inverno da Alma" não é um filme para qualquer espectador. Ritmo lento. História centrada nos personagens. Personagens fortes. Muitos diálogos. Se você não tem a predisposição para este tipo de Cinema, passe longe. Mas, para quem gosta de um bom filme, ou simplesmente para quem gosta de Cinema, é uma ótima pedida.

Como eu falei, o ritmo do filme é lento. Vai na cadência da personagem central, Ree Dolly (Jennifer Lawrence), procurando por seu pai desaparecido. À medida em que ela vai atrás de seu pai, vamos conhecendo as demais personagens e desvendando, aos poucos, a história do longa. E, junto com a protagonista, o espectador vai montando o quebra-cabeças do pai desaparecido.

O filme baseia-se nas atuações. E que atuações! Uma mais forte do que a outra. De Dale Dickey, como a vilã Merab, cuja composição chega a dar raiva. Passando por John Hawkes, o tio Teardrop Dolly, cuja atuação balanceada gera um personagem tridimensional e (portanto) realista, cheio de defeitos e contradições ao mesmo tempo em que mostra força e qualidades. Até Jennifer Lawrence, a protagonista até então deconhecida, e que leva o filme nas costas. Ela cria uma personagem comovente, com uma força que muitas atrizes pra lá de experientes nunca encontraram.

Finalizando, a fotografia, os cenários e a trilha musical dão o tom certo para uma história que passa num lugar que mais parece o fim do mundo. Um ambiente frio e desolado.

Enfim, uma ótima pedida. Uma pedida lenta, é verdade. Mas ainda assim, uma ótima pedida.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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O filme se passa num lugar desértico e gelado. A fotografia do filme contribui para essa sensação de que estão no fim do mundo. Como se isso não bastasse, a adolescente Ree (Jennifer Lawrence) tem que cuidar da mãe doente e dos dois irmãos menores. A atuação da personagem principal é brilhante. Entramos no jogo de seguir com ela para tentar encontrar o pai.

Outra atuação que merece destaque é a do tio da personagem principal, Teardrop (John Hawkes). Ele é o único que quase rouba a cena da protagonista.

Bem, o roteiro é excelente, com um final à altura. Uma boa pedida.


por Oscar R. Júnior

 


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Atração Perigosa

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Atração Perigosa (The Town, 2010)

Estreia Oficial: 17 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 29 de outubro de 2010



Ben Affleck parece estar se redimindo de sua carreira morna como ator. Investindo na direção, seu primeiro longa foi o ótimo "Medo da Verdade" (2007), e agora, esse segundo, "Atração Perigosa", que, embora previsível, surpreende por ótimos momentos e boas atuações.

A maioria das situações são realmente clichês, mas Affleck parece ter um bom olho para dirigir cenas de ação, já que confere dinamismo a estas, e o destaque fica com uma das primeiras cenas do filme, no qual o personagem interpretado por ele (Doug MacRay) e o por Jeremy Renner (James Coughlin) lideram um assalto a um banco, cuja gerente Claire é interpretada por Rebecca Hall.

Embora o filme seja um pouco longo demais, as atuações são o fio condutor para que não fiquemos cansados com a trama. Ben Affleck está bem. Rebecca Hall passa fragilidade e doçura a uma personagem cujo destino na trama já é traçado em seus primeiros minutos. Mas é Jeremy Renner quem rouba a cena, como o amigo violento de Doug. O personagem bem que poderia cair no caricato, mas Renner dá tridimensionalidade e peso dramático a ele.

Enfim, em um filme de bandido-e-mocinho onde quase tudo é lugar comum, Ben Affleck consegue extrair bons e sutis momentos da história. E, talvez até agora em sua curta carreira como diretor, sua maior qualidade realmente seja a sua direção de atores.


por Melissa Lipinski
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É o segundo filme que assisto que é dirigido por Ben Affleck. E até agora o achei um ótimo diretor. Neste "Atração Perigosa" a história vai nos envolvendo bastante.

A trama funciona, os personagens também, com destaque para o impaciente James (Jeremy Renner). Quem também chama a atenção é a participação de Chris Cooper. São duas aparições que valem a pena.

Não tenho muito a dizer, mas recomendo.


por Oscar R. Júnior


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Lenda dos Guardiões

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Lenda dos Guardiões, A (Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole, 2010)

Estreia Oficial: 24 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 8 de outubro de 2010



"A Lenda dos Guardiões" traz todos os ingredientes que um filme épico pode conter. Aliás, a Jornada do Herói descrita por Campbell é empregada de cabo a rabo aqui. Dá até pra fazer uma analogia com "Star Wars", já que Soren, a coruja protagonista também encontra um tutor, digamos assim, para ensiná-la a arte da guerra. Só que em vez da Força do filme de George Lucas, aqui fala-se em Moela… Sim, Moela! Aquela que as aves têm. É ela quem "guia" os instintos dos animais mais treinados.

Sobre a história não há muito o que falar. Não há nada de novo. Todos aqueles clichês épicos que já vimos milhões de vezes. Acho que dá pra fazer um paralelo também com o Nazismo, com as corujas malvadas tentando selecionar uma "raça pura"… Ou, os mais jovens podem fazer uma comparação até mesmo com "Harry Potter"… Enfim, nada de novo.

Também acho que a narrativa não tem ritmo. Chega uma hora que cansa de ver as corujinhas voando de um lado para o outro, sempre à procura de algo. Faltou, também, um maior alívio cômico, afinal, estamos falando de uma animação cujos personagens são 'fofinhos', ou seja, com um apelo infantil muito forte, mas que peca em não oferecer substrato que chame a atenção desse público. Afinal de contas, a história é bem densa e repleta de violência. Mas não se poderia esperar nada diferente de Zack Snyder (diretor de "300"), e sua 'mão' faz-se presente nas sequências de ação, com suas câmeras lentas excessivas acompanhadas de efeitos sonoros.

Em compensação (assim como em "300"), o visual do filme é impressionante. A textura das penas de cada coruja é algo único. Você consegue ver movimento em qualquer parte do corpo desses animaizinhos. Os cenários também são grandiosos e muito bem feitos.

Pena que a história não seja a contento do seu visual. Acho que é um filme que vai agradar mais a adultos adeptos a filmes épicos de ação do que a crianças de um modo geral.

 
por Melissa Lipinski
 


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Minhas Mães e Meu Pai

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right, 2010)

Estreia Oficial: 30 de julho de 2010
Estreia no Brasil: 12 de novembro de 2010



"Minhas Mães e Meu Pai" trata de uma família estadunidense moderna. Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore) engravidaram usando o mesmo doador de espermas e tiveram, respectivamente, Joni (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson). Quando Joni completa 18 anos, seu irmão pede que ela entre em contato com o pai, Paul (Mark Ruffalo), para que o conheçam. E, a partir deste encontro é que as dúvidas e inseguranças do casal principal começa a aflorar.

Um típico filme do circuito independente estadunidense, "Minha Mães e Meu Pai" peca em ser caricatural demais. Nic surge como o papel masculino da relação. Já Jules é a mulher que abriu mão da carreira para cuidar dos filhos. Nic mostra-se distante dos afazeres domésticos, menospreza delicadamente a capacidade de Jules arranjar um emprego e, está sempre irritada. Já Jules, agora com os filhos crescidos, tenta se encontrar em uma nova carreira. Porém as duas são "cabeças-abertas", esclarecidas, inteligentes, cultas… Um típico casal moderno.

Até aí tudo bem, só que acontece que as personagens não são bem desenvolvidas. Principalmente a personagem de Annette Bening. Nunca compreendemos a razão do descontentamento e irritação desta. E suas neuroses e inseguranças variam conforme o andar da carruagem, adaptando-se às necessidades do roteiro, e nunca mostrando-se bem fundamentadas. Já o interesse que Jules começa a sentir por Paul devido à crise em seu casamento nunca é bem explicado, e parece gratuito, apenas para criar um conflito na trama. Os personagens secundários, os amigos de Joni e Laser, também são praticamente esquecidos a partir de certo ponto da história.

E é quase um milagre o que Bening, Moore e Ruffalo conseguem fazer por seus personagens. E toda a força do filme reside em suas atuações. Annete Bening encontra o ponto certo para compor sua personagem, que é mais 'masculinizada' que sua companheira. Juliane Moore, como de costume, dá fragilidade e sutileza à sua personagem, e é o carro guia que move o filme. Já Mark Ruffalo, encarna mais uma vez, o homem sensível a que está acostumado, saindo-se muito bem. Quanto às "crianças", está tudo bem, como sugere o título original, e Mia Wasikowska está muito mais eficiente do que em "
Alice no País das Maravilhas".

Pena que o roteiro não tenha dado conta dos atores que tinha em mãos, já que é clichê do começo ao fim, embora a segunda metade da trama pareça ganhar em sensibilidade e carga emocional, mas acho que isso se deve principalemente ao desempenho de seus protagonistas.


por Melissa Lipinski

 


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Tron - O Legado

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Tron - O Legado (TRON: Legacy, 2010)

Estreia Oficial: 17 de dezembro de 2010
Estreia no Brasil: 17 de dezembro de 2010
IMDb



Este "Tron - O Legado" é a continuação de um filme de 1982, "Tron - Uma Odisséia Eletrônica", que confesso não assisti. Mas, pelo que ouvi falar, tentou se manter fiel aos conceitos e princípios estipulados pelo original.

Mas, independente de ser uma continuação ou não, a verdade é que "Tron - O Legado" não funciona. Não tem história. Apenas efeitos especiais muito bem feitos.

Um dos únicos pontos positivos, é permitir que Jeff Bridges encarne dois personagens, sendo que um deles surge como uma versão jovem de Kevin Flynn (o protagonista do original), a sua versão digital Clu. E é Bridges o responsável pelos menlhores momentos do filme, surgindo como uma espécie de guru hippie do mundo virtual. Outro destaque (embora caricato demais) fica com Michael Sheen, que parece uma versão cibernética de David Bowie, mas que diverte com suas caras e bocas ao mesmo tempo em que cita "Casablanca" e faz referência a Charlie Chaplin.

Porém, todas as apostas da produção recaíram sobre seus efeitos visuais que, repito, são muito bem realizados. Porém, aqui volto a uma antiga birra minha: não é a presença de efeitos biliardários que asseguram a qualidade de um filme. Claro que, de uma maneira ou de outra, acabam nos impressionando, mas, sem um bom roteiro, do que adianta? Será que vale a pena ficar impressionado (visualmente) por alguns minutos e depois esquecer totalmente do filme em questão? Acho, e isso é uma opinião minha, que os efeitos visuais são mais do que bem vindos quando ajudam no desenrolar da história, de maneira a dar co-substância ao roteiro, e não quando surgem de maneira a tirar o foco dos defeitos que este possui, como se a beleza bastasse por si só… Mas, e o conteúdo? Afinal de contas, não é isso o que realmente importa? Às vezes é decepcionante ir ao cinema… Mas, também, lembro que no último Oscar (que é o símbolo máximo do cinema industrial, que não dá a mínima para o conteúdo e para a opinião popular), quando "Avatar
" (um filme puramente visual, sem conteúdo) foi totalmente eclipsado pelo ótimo "Guerra ao Terror"… E nesses momentos, ainda vejo que nem tudo está perdido…

Mas voltando ao "Tron", se é que há muito mais o que falar… A trilha sonora remete ao jogos de videogame da década de 80, mas em alguns momentos, fica tão 'over' que acaba irritando.

Enfim, apostando apenas em seus efeitos especiais, "Tron" impressiona por seus cenários virtuais megalomaníacos, mas irrita por sua barulhenta trilha e pela falta de história e personagens interessantes.


por Melissa Lipinski
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Primeiro preciso falar sobre os filmes em "3D". Neste "Tron - O Legado", antes de começar o filme, tem uma mensagem dizendo que partes do filme não são em 3D e avisando as pessoas para usarem os óculos o tempo todo. Na minha opinião a única coisa legal, em 3D no filme é a abertura da Disney. Isso antes de começar o filme. O filme não oferece nada em 3D. É isso.

Mas vamos ao filme. O início do filme lembra o filme "O Sobrevivente" (The Running Man, de 1987). Neste outro filme, Arnold Schwarzenegger vai para um arena e tem que sobreviver enquanto é caçado, numa alusão aos gladiadores da Roma antiga. Em Tron, Sam Flynn (Garrett Hedlund), com a indumentária devida, ganha armas e vai para uma arena duelar pela própria vida. Mesmo sendo a primeira vez em que está num duelo desses e usando esse tipo de arma, ele consegue vencer facilmente os oponentes. Arran Claudia, só no filme mesmo. Mas beleza, vamos em frente. 

Algumas coisas me incomodaram muito no filme. Quem se passou mesmo foi a trilha sonora. Alta demais, e em vários momentos totalmente fora de contexto. Não curti. 

Pra não dizerem por ai que só falei mal do filme. Gostei de algo sim. Além da abertura da Disney, hehe, gostei também da maquiagem do Jeff Brigges. Muito legal a maquiagem que conseguiram fazer nele para que aparentasse uns 25 anos mais novo. E conseguiram. Mas foi só isso também!

Por fim, o nome do filme é qual mesmo? Tron. Humm. Mas quem é o Tron que aparece muito pouco no filme? Ele só apareceu no fim do filme, numa cena que qualquer outro poderia ter feito o que ele fez. Ou seja, o nome do filme é de um personagem que nem tem importância para a história. Ok, ok. Vou revelar que quando pesquisei no IMdB vi que tem o filme "Tron, Uma Odisséia Eletrônica", de 1982 e que conta com alguns atores que também estão na nova versão. Atores e personagens como o próprio Jeff Bridges interpretando o mesmo papel e Alan Bradley interpretando o mesmo papel de Tron. Logo, imagino que nesse filme o Tron deve ser importante. Mas como podem fazer uma continuação, 28 anos depois e que precisa ter visto o primeiro filme para entender o segundo? Parece piada mas é real. 

Por hora é isso. Não recomendo.


por Oscar R. Júnior


domingo, 19 de dezembro de 2010

Albergue Espanhol

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Albergue Espanhol (L'Auberge Espagnole, 2002)

Estreia Oficial: 19 de junho de 2002
Estreia no Brasil: 28 de outubro de 2003
IMdB



Esses dias revi, junto com alguns bons amigos, esse ótimo "Albergue Espanhol". E, olhando para os meus amigos (os melhores, diga-se de passagem), e com o filme passando, pensava: como é bom ter amigos!

Afinal, é sobretudo disso que fala o filme. Além, é claro, de como ser um estrangeiro em um país diferente, e da auto-descoberta e crescimento pessoal do protagonista, Xavier (Roman Duris). Mas, principalmente sobre amizade.

A grande força desse "Albergue Espanhol" está em seu elenco, e a química formada entre os integrantes do albergue é o que realmente move o filme. O companheirismo demonstrado por eles é algo tocante.

Para todos aqueles que gostam de conhecer outras culturas, o filme é um prato cheio, já que traz entre os moradores do albergue, além do francês Xavier, uma inglesa, um italiano, um dinamarquês, um alemão, uma espanhola e uma belga. Uma verdadeira salada cultural.

Destaco o personagem inglês (irmão de uma das moradoras) que chega ao albergue e que é responsável pelos momentos mais cômicos da história, além daqueles mais preconceituosos também.

Enfim, "Albergue Espanhol" retrata o crescimento por qual todos nós (ou pelo menos a grande maioria) passamos quando iniciamos a vida adulta, o crescimento pessoal, expectativas e frustrações que temos que aprender a lidar e conviver. Imperdível para ver e rever quantas vezes puder.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


sábado, 18 de dezembro de 2010

Zona Verde

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Zona Verde (Green Zone, 2010)

Estreia Oficial: 11 de março de 2010
Estreia no Brasil: 16 de abril de 2010
IMDb



Qualquer pessoa que tenha um mínimo de conhecimento e que esteve ligada nos acontecimentos internacionais dos últimos anos sabe que os EUA invadiram o Iraque e depuseram seu ditador, Saddam Hussein, tendo os atentados de 11 de setembro de 2001 apenas como pretexto para, na verdade, colocar a mão no petróleo do tal país. Inventaram a localização de várias armas de destruição em massa para justificar a ação do exército em vários pontos do Iraque, arriscando a vida de vários soldados estadunidenses e, obviamente, de muitos iraquianos que certamente envolveriam-se em confrontos que nem deveriam existir.

E é justamente sobre essas armas de destruição em massa inexistentes e a invenção dessa guerra que trata esse "Zona Verde", dirigido pelo sempre competente Paul Greengrass. O filme mantém o foco em um oficial do exército estadunidense, Matt Damon, que, cansado de liderar suas tropas em buscas que nunca encontram nada, começa a questionar as autoridades sobre suas fontes e, juntamente com um aliado da CIA, Brendan Gleeson, acaba descobrindo que o representante do Pentágono, Greg Kinnear, tem o nome mais sujo do que podia, a princípio, imaginar.

Greengrass consegue manter a tensão desse thriller político do começo ao fim, da mesma forma que faz um balanço entre cenas mais calmas e cenas de ação muito bem orquestradas. Assim, "Zona Verde" deixa de ser um simples filme de ação, já que seus personagens, todos inteligentes, tentam a toda hora passar uns aos outros para trás.

O elenco está muito bem e coeso. Desde Matt Damon que vem se especializando em tipos durões e bons de briga, mas que sempre demonstram um quê a mais do que simples brutamontes; passando pelo competente Brendan Gleeson; até o ótimo Greg Kinnear que consegue criar um 'vilão' inteligente, mas que age com a certeza de um bem maior.

Acho que o filme é mais do que válido, já que traz em um longa de ação, assuntos bastante polêmicos e que merecem ser trazidos à tona e discutidos. Muito melhor do que esses filmes descerebrados de ação que vemos às pencas por aí.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski

 


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Rede Social

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Rede Social, A (The Social Network, 2010)

Estreia Oficial: 01 de outubro de 2010
Estreia no Brasil: 03 de dezembro de 2010



Falar que esse "A Rede Social" é o filme 'do Facebook' chega a ser um desrespeito ao próprio filme. Ele é muito mais do que isso. Bom, o Facebook todo mundo sabe o que é, todo mundo usa, não precisa introduções. Como ele surgiu também não é o principal aqui. Mas sim o seu criador. É muito mais sobre a pessoa de Mark Zuckerberg e seus relacionamentos - ou incapacidade de mantê-los - que trata o longa.

Interessante notar que Zuckerberg, dono de uma inteligência racional e de um raciocínio matemático muito acima do normal, possui uma inteligência emocional inversamente proporcional, não conseguindo qualquer nível de amizade ou relacionamento com outro ser humano. Sua incapacidade de falar palavras polidas ou corteses é latente. O traquejo social que todos nós temos - ou que a grande maioria tem - de, às vezes, não ser totalmente sincero em sua opinião para não machucar os sentimentos alheios, é uma coisa inexistente no protagonista. E é esse paradoxo que torna o personagem tão interessante.

O raciocínio rápido, a inteligência superior e a incapacidade de se relacionar são arremessados na cara do espectador logo na primeira sequência do longa, quando, conversando em um pub com a namorada, Zuckerberg é capaz de falar sobre mais de um assunto ao mesmo tempo, em uma velocidade de deixar qualquer um tonto, ao mesmo tempo em que é incapaz de dar dois segundos de atenção à namorada que, justamente, sente-se magoada pela crueldade das palavras que o companheiro desfere (mesmo que este pareça incapaz de perceber o quão ferino está sendo).

Apesar da sua incapacidade de se relacionar, Zuckerberg possui uma perceptividade muito grande, e rapidamente consegue ver para que caminho os outros estão levando determinadas conversas, cortando-os com sarcasmo e grosseria, que vêm do seu aparente menosprezo pela inteligência e raciocínio da maioria das pessoas. Porque sim, ele possui um ego e uma necessidade de se auto-afirmar diretamente proporcional à sua inteligência - gigantescos!

Falando nisso, devo ressaltar que Jesse Eisenberg interpreta o protagonista de maneira magistral, evidenciando seu comportamento e elevado QI através de fala rápidas e uma chamativa inexpressividade. Em contraponto a ele, seu melhor amigo e co-fundador do Facebook, o brasileiro Eduardo Saverin é interpretado por Andrew Garfield de maneira carismática e acolhedora. Já Justin Timberlake, surge como o interesseiro e esbanjador Sean Parker, o criador do Napster e que, logo, torna-se sócio do Facebook, manipulando Zuckerberg. Timberlake oferece uma ótima atuação aqui. Fechando o elenco, Armie Hammer encarna os gêmeos Winklevoss, personagens tão cheios de nuances e tridimensionais que, mesmo estando na trama como antagonistas diretos de Zuckenberg, fica impossível vê-los como tais, tamanho o carisma dos irmãos.

Com personagens tão intrigantes, o roteirista Aaron Sorkin cria uma história pra lá de interessante (com diálogos rápidos, engraçados e repletos de referências), estruturada ao redor dos processos movidos por Saverin e pelos gêmeos contra Zuckerberg, ao mesmo tempo em que vai mostrando como a ideia da criação do Facebook foi tornando-se realidade. E é muito interessante ver coisas tão corriqueiras para nós atualmente, como certos termos da rede social, sendo desenvolvidas.

David Fincher (que já não mais precisa provar seu talento) mostra-se bem mais eficiente do que em seu último trabalho "O Curioso Caso de Benjamin Button", criando um bom ritmo da narrativa, já que o filme passa muito rápido, tamanha a eficiência da direção. Aliado à isso, a fotografia é acertadíssima, apostando em ambientes sempre frios e monocromáticos, com exceção à cena que se passa na Inglaterra, que, contrapondo-se ao universo de Zuckerberg, mostra-se cheia de cores mais vivas.

Interessante notar que o Mark Zuckerberg mostrado em "A Rede Social" tem um quê de Charles Foster Kane ("Cidadão Kane", 1941), além de criar um império da comunicação (guardadas as carcaterísticas inerentes a cada um e à cada época), são homens que não conseguiam se expressar da maneira convencional, mas que, ironicamente, ligavam um número gigantesco de pessoas.

O melhor do filme de Fincher é que ele nunca tenta tirar a culpa das ações de Zuckerberg, ou explicar o porquê de ele ter agido (ou roubado ideias, ou traído o amigo, como queiram) da maneira como o fez. E é aí que o filme ganha excessiva força.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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O filme já começa numa cena de tirar o fôlego. Não por ser agitada, e sim pela rapidez e complexidade do diálogo entre Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) e Erica Albright (Rooney Mara).

O elenco está ótimo e rende personagens complexos e bem encenados. Destaco o Justin Timberlake que me surpreende cada vez mais quando atua. E o grande destaque do filme é Jesse Eisenberg que obviamente rouba a cena pra ele.

A trilha sonora do filme é muito bem construída assim como a montagem. Na verdade, a montagem é sensacional pois centra o filme no criador, e não na criação do Facebook, montando em paralelo a briga judicial e o crescimento da rede social.

Por fim, destaco também a forma de retratar esse universo de quem monta sites, com seus cálculos estranhos para todo o resto da população. O filme, mesmo tendo várias vezes esse linguajar técnico, consegue ser muito abrangente no entendimento.

Recomendo !


por Oscar R. Júnior


 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Como Treinar o Seu Dragão

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Como Treinar o Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2010)

Estreia Oficial: 26 de março de 2010
Estreia no Brasil: 26 de março de 2010

IMDb




A Dreamworks acerta nesse "Como Treinar o Seu Dragão". Com um roteiro inteligente, personagens cativantes, cenas de ação e uma montagem rápida, o filme não é apenas uma boa diversão, mas principalmente, um ótimo filme.

A amizade "proibida" entre seres que deveriam ser inimigos já foi bastante explorada pela Sétima Arte. Mas, embora "Como Treinar o Seu Dragão" recicle velhos clichês, jamais cai na mesmice, sabendo encará-los com comicidade ou ironia, e sempre com delicadeza, dando-lhes uma nova roupagem.

Mas a animação não fica apenas na diversão. E aposta na profundidade do relacionamento entre os personagens como o ponto auge do filme. E acerta em cheio. A ternura e amizade que envolvem o protagonista Soluço e seu amigo dragão são comoventes, não tem como não se emocionar. Acho, inclusive que, além dos desenhos da Pixar, ainda não tinha visto tamanha densidade dramática em nenhuma outra animação. Pontos novamente para a Dreamworks.

Outro ponto que chama atenção aqui é o visual do filme. Os cenários são grandiosos. A fotografia é belíssima. E os efeitos das explosões e incêndios causados pelos dragões são incríveis. Além, é claro, das cenas de vôo, que são de tirar o fôlego de tão realistas.

Eu diria que a Dreamworks conseguiu alcançar a Pixar... pelo menos até a próxima animação. Mas até lá, é só subir no dorso de um dragão e se lançar num desses vôos emocionantes... Sensação de liberdade maior não há.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski

 


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Megamente

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Megamente (Megamind, 2010)

Estreia Oficial: 5 de novembro de 2010
Estreia no Brasil: 3 de dezembro de 2010




"Megamente", nova animação da Dreamworks, faz, logo em seu início, uma alusão explícita ao maior ícone dos super heróis, o Super-Homem. Porém, o filme não fica apenas na sátira. Há muito dela, é verdade. Mas, felizmente, "Megamente" vai além.

O personagem-título teve o início da sua vida exatamente igual ao do super-herói citado ali em cima, mas justamente por causa dele, e de um pequeno desvio que ele causa em sua nave, o destino de Megamente e do Metro Man (o Super-Homem da vez) tornam-se antagônicos. Enquanto esse último torna-se o herói de Metro City; o primeiro acaba sendo criado pelas mentes mais perigosas da cidade e se transforma no seu maior vilão.

Porém, como somos desde cedo apresentados à verdadeira índole do anti-herói, fica fácil passarmos a torcer por ele, já que sua decisão de se tornar vilão se dá, principalmente, pela sua falta de popularidade. Aqui, poderíamos até falar em preconceito ou em bullying (já que esse assunto está tão em alta), e são temas que surgem de pano de fundo da história, porém sempre de maneira divertida.

Mas a história realmente começa quando Megamente finalmente consegue aniquilar seu oponente e se dá conta de que a vida precisa de dois lados de uma mesma moeda. Afinal, o que seria do mal se não houvesse o bem? E, numa cidade sem o bem, ele não tem muito o que fazer. E é quando decide criar um novo herói que acontece a melhor parte do filme. Não vou estragar surpresas, apenas digo que uma referência a Marlon Brando é a responsável por isso.

Sem ter a mesma profundidade no roteiro que as animações da Pixar, "Megamente" diverte pela história bem amarrada e pelos personagens engraçadíssimos. E é claro, pelas suas referências, que vão encantar os adultos, citações óbvias como ao filme do Super-Homem, mas também à clássicos dos anos 80, principalmente em sua trilha sonora, que traz ótimos clássicos, desde Guns n' Roses até Michael Jackson.

"Megamente" ganha força, então, pela tridimensionalidade de seus personagens e pela profundidade das questões discutidas. Afinal, nem todo mundo é bom por completo ou mal por completo. E, ao dessacrilizar a figura do herói, o filme ganha pontos.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Eis aí um filme em que eu não havia gostado do trailer. Achei que seria uma dessas animações com roteiro mais fraco, que só atenderia ao público infantil. Tive uma grata surpresa.

Os personagens são bem construídos, a trama funciona e a técnica de animação nos satisfaz. Mas o que mais me chamou a atenção foram as piadas com situações de filmes como "O Poderoso Chefão" e "Homem Aranha". Engraçadíssimas.

Dos personagens destaco, obviamente, o Megamente (como ele mesmo e como o mentor do Titan) e o ajudante dele Minion (Criado em português), que têm as cenas mais cômicas do filme.

Por fim a dublagem. Funciona muito bem, só tive uma leve estranheza com a dublagem do Metroman que foi feita pelo Thiago Lacerda. Os demais estão muito bons. Obviamente estou ansioso para ver legendado com vozes de Will Ferrell, Brad Pitt, Tina Fey, entre outros.

Recomendo!


por Oscar R. Júnior


 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cinema, Aspirinas® e Urubus

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Cinema, Aspirinas® e Urubus (2005)

Estreia Oficial | no Brasil: 11 de novembro de 2005

IMDb



"Cinema, Aspirinas® e Urubus" narra o encontro de Johann, alemão que percorre o sertão nordestino projetando filmes a fim de vender aspirinas, e Ranulpho, um nordestino que pega carona e vira assistente de Johann. Dois homens com personalidades e visão de mundo bem distintas, convivendo por um certo tempo enquanto viajam pelo interior nordestino na década de 40.

Johann veio ao Brasil para fugir da Segunda Guerra Mundial, que assolava seu país-natal; enquanto Ranulpho sonha ir para a capital do Brasil – o Rio de Janeiro – para fugir da “guerra” que enfrenta todos os dias pela sua sobrevivência. São dois fugitivos, porém de personalidades quase opostas – enquanto Johann olha para uma cultura estranha à sua e acha tudo interessante, Ranulpho reclama de tudo, despreza e sente vergonha daqueles a quem chama de “povo”, e nega aquela terra que o condenou à fome, à sede e à pobreza. Enquanto o filme narra, em primeiro plano, o encontro desses dois personagens tão diferentes, vai também tecendo, como pano de fundo, uma visão sobre o sertão nordestino, a seca que o atinge, a miséria de seu povo, o choque entre as culturas e as identidades, e os efeitos da guerra mesmo em um país dito pacifista como o Brasil.

Mesmo narrando uma história que se passa nos anos 40, o filme consegue ser atual, mostrando as mazelas sofridas pelo povo. A fotografia consegue deixar o sertão nordestino ainda mais árido e inóspito através da dessaturação das cores (que parece deixá-lo sem vida), e da superexposição à luz (que deixa o ambiente mais sufocante). Há uma transposição do tempo – os problemas sociais da década de 40 continuam praticamente os mesmos até hoje. Mostrando isso de forma sutil, o filme talvez tente levar o espectador a refletir sobre o problema, fazer o público identificar-se com aquilo que está vendo para poder lançar um olhar crítico sobre a própria sociedade em que vive. É um filme de ficção que pode até se aproximar do documental por utilizar pessoas da própria comunidade local para representar o povo do sertão nordestino, o que pode gerar relações com o Cinema Novo ou com um cinema neo-realista, mas que, acima de tudo, torna-o um cinema que fala do povo e para o povo.

O filme também aborda a falta de identidade que acomete o povo brasileiro. Ranulpho olha para o “seu” povo, aqueles que passam pelo que ele passa, vivem o que ele vive, e os nega, critica-os. É a falta de identidade. O desprezo pela sua cultura. Sempre olhando para o que é de fora e achando que é melhor do que aquilo se tem aqui – pois assim é “dito” para que se pense. Mas Ranulpho não age assim à toa, é a sua maneira de sobrevivência à sua guerra cotidiana – pensar que no Rio de Janeiro achará uma vida de oportunidades e empregos, onde não passará fome e miséria, quando a realidade, sabe-se, é exatamente o contrário.

Mas não apenas Ranulpho sente-se perdido, Johann também não quer voltar para a Alemanha, coloca a sua identidade em cheque. É alemão, e isso nunca irá mudar. Mas ao mesmo tempo, não concorda com a guerra travada pelo seu país, e decide ficar no Brasil. Não se identifica mais com o seu país. Mas sabe que aqui será tratado sempre como estrangeiro. Os dois personagens passam por essa “angústia cultural”, um certo “despatriamento” causado por idiossincrasias e calamidades.

Ao final do filme, é como se houvesse uma inversão de papéis, uma troca de identidades: Johann que sempre planejara seguir viagem como bem entendesse, se vê obrigado a embarcar para a Amazônia (destino de muitos nordestinos na época), para não ter que voltar a seu país e fazer parte daquilo que tanto repudia – a guerra; já Ranulpho, um nordestino que, em situações diferentes talvez embarcasse com destino à Amazônia, pelo seu contato com Johann, vê-se dirigindo o caminhão deste em direção ao Rio de Janeiro – destino inicial de Johann.

Fica a dica!



por Melissa Lipinski





** Texto originalmente escrito em 2007, durante o Curso de Graduação em Comunicação Social - Cinema e Vídeo, para a disciplina de Cinema Latino Americano.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1, 2010)

Estreia Oficial: 19 de novembro de 2010
Estreia no Brasil: 19 de novembro de 2010

IMDb



A franquia "Harry Potter" fica, a cada filme, melhor, mais tensa e mais adulta. Esse sétimo filme em nada lembra o clima divertido e despreocupado do primeiro da série. Claro que, com relação aos livros também é assim, mas não deixa de ser um ponto positivo também da cinematografia.

E acho que muito da qualidade dos últimos três filmes deve-se a David Yates, que assumiu o comando da saga em "
Harry Potter e a Ordem da Fênix", e vem tornando os filmes cada vez mais sérios e politizados, sem as brincadeiras e deixas cômicas vistas nos anteriores.

O clima de suspense e tensão está presente desde o primeiro segundo da trama, e o roteirista Steve Kloves (que só não assinou "
A Ordem da Fênix") não deixa dúvidas quanto a isso, fazendo com que fique claro, desde o princípio, que os personagens não podem confiar em ninguém. A belíssima fotografia em tons de cinza de Eduardo Serra também contribui para isso; assim como a escolha das locações, colocando o trio protagonista sempre em paisagens áridas ou isoladas, que realçam os sentimentos de solidão e vazio que tomaram conta do mundo bruxo.

Com efeitos visuais superiores aos vistos até então na franquia, esse "Harry Potter 7" faz com que as criaturas do mundo bruxo sejam mais realistas, como os elfos domésticos Dobby e Monstro, que pela primeira vez em sete filmes parecem realmente seres de verdade, com expressões convincentes e uma textura de pele impressionante e terrivelmente real.

Diferenciando-se dos filmes anteriores em sua forma, este filme é o único que não tem o ano letivo de Hogwarts como seu fio condutor. Dessa forma, o tom episódico que faz com que os outros filmes tenham a passagem de tempo tão demarcada não está presente, o que, de certa forma, ajuda na dramaticidade da história, deixando-a mais fluida.

Mas, para mim, o ponto mais positivo (se é que posso chamar assim) do filme é a atuação. Além dos coadjuvantes excelentes, que trazem a 'nata' do cinema inglês, os três protagonistas merecem destaque. Daniel Radcliffe continua bem sucedido em demonstrar o peso e a responsabilidade que pousam sobre os ombros de seu personagem. Rupert Grint finalmente deixou de ser o alívio cômico entre os amigos, e faz um excelente trabalho; ouso dizer que ele até se sai melhor do que Radcliffe. Mas é a (cada vez mais) linda Emma Watson quem rouba a cena e mostra que não é mais apenas aquela garotinha bonitinha e CDF dos primeiros filmes. Pela primeira vez na série é ela quem segura todo o peso dramático da narrativa, mostrando carisma, segurança e talento. E, sem sombra de dúvida, a dinâmica e a química atingida pelos três é algo impressionante e imprescindível para o sucesso da franquia.

Enfim, esse "Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1" não é apenas um belo início do fim. Mas, principalmente, é um ótimo filme por si só.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski