quarta-feira, 30 de março de 2011

VIPs

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
VIPs (2010)

Estreia oficial | no Brasil: 25 de março de 2011
IMDb



"VIPs", inspirado no livro "Histórias Reais de um Mentiroso", de Mariana Caltabiano, foi roteirizado por Bráulio Mantovani e Thiago Dottori, e conta a história (inspirada na vida real) de Marcelo Nascimento da Rocha (interpretado por Wagner Moura), que foi preso no final de 2001 e é considerado um dos maiores vigaristas brasileiros.

O roteiro segue a linha estrutural de "Prenda-me Se For Capaz" (2002), de Steven Spielberg, e acompanha o falsário desde sua adolescência até o momento de sua prisão. Se há algum mérito na história de Mantovani e Dottori é apostar mais em seu lado cômico, transformando-o em um passtaempo leve e divertido. Porém, o filme tem problemas estruturais e, principalmente, morais, ao "desculpar" as trapaças e crimes cometidos por Marcelo através de uma doença.

Mas, felizmente, "VIPs" tem Wagner Moura, que consegue mais um trabalho sólido em sua carreira, transformando o protagonista em alguém simpático ao público, o que, diga-se de passagem, é um feito arriscado, já que Marcelo é, acima de tudo, um criminoso. Moura consegue nos fazer esquecer do seu tão famoso Capitão Nascimento (de "Tropa de Elite 1 e 2"), e encarna Marcelo com fragilidade e carisma.

Wagner só não convence mesmo no início do filme, quando tem que interpretar um adolescente de 17 anos. Wagner Moura como adolescente? Nem todo o talento do mundo poderia dar jeito nisso, não é mesmo? E a peruca 'pseudo-emo' que o ator usa nessa fase da produção é horrível! Porém, na fase adulta (e trambiqueira) de Marcelo, Wagner pode mostrar todo seu talento de um dos melhores atores nacionais, indo da alegria quase juvenil à agonia e perturbação psicológica com extrema consistência.

Com um início fraco e um final moralmente duvidoso e forçado, "VIPs" traz em seu segundo ato a sua melhor parte. Assim, o ritmo do longa oscila muito, e só quando Marcelo realmente começa a enganar e mentir descaradamente é que o filme parece engrenar, mas só para descambar em seu terço final.

E assim chego no maior equívoco de "VIPs", o de justificar as ações de Marcelo como se fosse uma doença. E, por mais que a trama que envolva seu pai (assim como a edição de imagem e som que dão pistas da sua real condição) seja eficiente, o filme parece duvidar da inteligência do espectador. Como um cara com um raciocínio rápido e racional se auto-engana a tal ponto de realmente acreditar na mentira que está contando? A enfermidade do personagem acaba servindo para suavizar seus crimes (já que ele era contrabandista e traficante, além da falsidade ideológica) e suas escolhas morais.

Dessa forma, os realizadores perderam a chance de mergulhar mais a fundo na mente de um personagem fascinante - assim como o era o Frank Abagnale Jr. de Leonardo DiCaprio no ótimo "Prenda-me Se For Capaz".


por Melissa Lipinski


terça-feira, 29 de março de 2011

Sem Limites

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Sem Limites (Limitless, 2011)

Estreia oficial: 17 de março de 2011
Estreia no Brasil: 25 de março de 2011
IMDb



O roteirista Leslie Dixon parece ter finalmente acertado a mão. Depois de obras apenas medianas como "Uma Babá Quase Perfeita" (1993), "A Corrente do Bem" (2000), "Hairspray - Em Busca da Fama" (2005), e outras realmente fracas - "Sexta-Feira Muito Louca" (2003) e "Antes Só do que Mal Casado" (2007); com esse "Sem Limites", Dixon alcança o ponto alto de sua carreira (pelo menos até agora).

Não que o roteiro não tenha deslizes ou furos, mas sua realização equilibrada comandada por Neil Burger (de "O Ilusionista", 2006) faz com que essas falhas pareçam apenas pequenos detalhes frente à obra final, um entretenimento bem realizado e instigante.

Bradley Cooper é Eddie Morra, um escritor fracassado que acaba entrando em contato com uma pílula, o NZT, a qual tem a promessa de fazer com que quem a utilize acesse 100% da sua capacidade cerebral. Depois que Eddie passa a consumi-la, não apenas consegue ver informações onde outras pessoas não enxergam, mas também consegue acessar memórias 'escondidas' e aprender novas informações de forma muito mais rápida.

Bradley Cooper está muito bem, e consegue fazer com que sintamos empatia por aquele sujeito, desde o momento em que ele não passa de um fracassado, até quando, sob o efeito do AZT, consegue ganhar fama e dinheiro da noite para o dia, é claro, sem passar por cima de ninguém, Quem é que não sentiria um certa inveja? Quem não gostaria de poder lembrar de tudo o que já aprendeu e conseguir utilizar isso de forma a beneficiar a sua vida atual? O NZT é o sonho de qualquer pessoa.

Todos os elementos convergem para contar essa história: o que era a vida de Eddie antes, e o que ela passou a ser depois do NZT. A fotografia passa das cores azuladas, aos tons avermelhados, mais quentes. A arte muda de forma diegética, já que é o próprio personagem que transforma seu apartamento (numa montagem muito bem feita e inspirada). A trilha sonora também ajuda nesse processo de forma eficaz. E a montagem do filme é um de seus pontos mais fortes.

Mas são mesmo os efeitos visuais que chamam a atenção. Desde letras caindo ao melhor estilo "Matrix", até as cenas que mostram zooms intermináveis e acelerados pelas ruas de Nova York, todos são excelentes. Mas não entram de forma gratuita na história, e sim de forma a ajudar a contá-la.

Geralmente não gosto do uso de narrações em off. Mas aqui, ela não é de todo ruim. Por mais que às vezes soe reiterativa ou explicativa, na maioria das cenas acaba contribuindo para nos situar nos pensamentos do protagonista.

"Sem Limites" ainda conta com Robert De Niro praticamente como um coadjuvante de luxo. Pena que o ator aparenta estar no piloto automático e, assim, o ritmo do filme parece tropeçar toda vez que ele entra em cena. Em compensação Bradley Cooper leva o filme nas costas, emprestando dinamismo e carisma a seu personagem.

Contando ainda com um ritmo excelente, "Sem Limites" consegue prender a atenção do espectador do início ao fim, misturando ação e tensão nas doses certas. E ainda conta com um final em aberto que pode prenunciar uma continuação. Será?

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


quarta-feira, 23 de março de 2011

Sexo Sem Compromisso

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Sexo Sem Compromisso (No Strings Attached, 2011)

Estreia oficial: 21 de janeiro de 2011
Estreia no Brasil: 18 de março de 2011
IMDb



Ivan Reitman fez apenas um filme bom em sua carreira como diretor, "Os Caça-Fantasmas" (1984). Fez também "Os Caça-Fantasmas 2" (1989) e "Um Tira no Jardim de Infância" (1990), os quais têm seus bons momentos. Suas outras realizações não passam de medíocres. Infelizmente, esse "Sexo Sem Compromisso" entra nessa leva também, e só escapa da mediocridade graças ao carisma e talento de Natalie Portman.

O roteiro é aquela sucessão de clichês tão comum em comédias românticas. A história em si, pouco importa na verdade, pois todos nós sabemos que, no final do filme, os protagonistas vão "viver felizes para sempre". Mas, por mais que o roteiro não saia do lugar-comum, alguns poucos diálogos engraçados e espirituosos conseguem arrancar boas risadas da plateia.

E, se Ashton Kutcher não consegue inovar em seu papel (seus personagens sempre parecem variações de um mesmo), é Natalie Portman quem faz a diferença. Ela consegue dar frescor e densidade (dentro do que o roteiro permite) à sua personagem. As cenas em que a moça aparece sozinha, ou com seus colegas de apartamento/profissão, são sempre as melhores.

Não há muito mais o que dizer. "Sexo Sem Compromisso" é mais do mesmo, ou seja, mais uma comédia romântica cheia de convenções do gênero. Diverte? Claro. É um bom filme? Talvez não. Mas é bom ver Natalie Portman atuando, mesmo que o filme não colabore com ela.

Ivan Reitman, infelizmente, não consegue surpreender como diretor, e até nos enquadramentos segue a "cartilha" das comédias românticas. Ainda bem que Ivan Reitman deixou um bem maior para a Sétima Arte do que seus filmes, o seu filho, Jason Reitman, que em três longas ("Obrigado Por Fumar", 2005; "Juno", 2007; e "Amor Sem Escalas", 2009), já se mostrou um cineasta bem superior que seu pai. Será a evolução da espécie? (Infame! Eu sei).


por Melissa Lipinski
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Ok, é estranho saber que a Natalie Portman está em uma comédia romântica, mas o filme é muito bom. As situações são muito bem colocadas no filme e na medida certa para esse tipo de comédia. O casal principal está numa interação incrível. O roteiro também é muito bom.

Sobre o diretor: Ivan Reitman. Ele já fez filmes que marcaram a minha infância como "Os Caça-Fantasmas" (Ghost Busters, 1984); "Os Caça-Fantasmas 2" (Ghost Busters II, 1989). Já assisti a alguns mais fracos e que tem no elenco o Arnold Schwarzenegger sendo o irmão gêmeo do Danny DeVito, ou carregando um bebê, ou sendo babá num jardim de infância. Fracos. "Irmãos Gêmeos" (Twins, 1988); "Um Tira no Jardim de Infância" (Kindergarten Cop, 1990), "Júnior" (Junior, 1994). Felizmente ele deu uma melhorada generosa e fez esse "Sexo Sem Compromisso".

Humm, sim, ele é o pai do Jason Reitman (que dirigiu "Amor Sem Escalas", "Juno" e "Obrigado por Fumar"). O filho aprendeu o que o pai tinha de bom.

Vale a pena.


por Oscar R. Júnior


 

domingo, 20 de março de 2011

Jogo de Poder

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Jogo de Poder (Fair Game, 2010)

Estreia oficial: 15 de outubro de 2010
Estreia no Brasil: 18 de março de 2011
IMDb



Doug Liman ficou conhecido como diretor ao realizar "A Identidade Bourne" (2002), thriller emocionante e inteligente que consegue segurar o espectador do início ao fim. Depois, fez uma tentativa em um filme de ação mais 'light' e engraçado, "Sr. & Sra. Smith" (2005), que, apesar de não ser assim, nenhuma maravilha da sétima arte, diverte e tem uma química legal de seus protagonistas. Porém, tropeçou feio ao dirigir "Jumper" (2008), ficção científica sobre pessoas que conseguem 'pular' no tempo e no espaço. Agora, parece que o diretor viu realmente qual é a sua praia, e volta a dirigir esse longa mais sério.

E, se "A Identidade Bourne" já trazia um fundo político, agora Liman entrega-se totalmente a um longa baseado em eventos reais e que narra um dos fatos mais vergonhosos ocorridos durante o governo de George W. Bush. Fato esse que culminou com a segunda Guerra do Iraque. Uma guerra desnecessária e totalmente infundada. É a história de Valerie Plame (Naomi Watts), uma agente secreta da CIA que comandava uma investigação sobre a existência de armamentos nucleares no Iraque em 2002 (logo após os atentados às Torres Gêmeas). Quando precisa de um parecer sobre uma substância advinta do Níger e que, possivelmente, tinha como destino o Iraque, para a confecção de armas atômicas, Valerie sugere à CIA que mande ao país seu marido, o embaixador Joe Wilson (Sean Penn), para fazer um parecer, já que ele conhece mais sobre o assunto e possuía contatos no Níger. Quando Wilson vai a público, no New York Times, dizer que o país de Saddam não comprou tal substância e não possui armas de destruição em massa, a identidade de Valerie é revelada para a imprensa e funcionários do alto escalão da Casa Branca começam uma campanha de difamação do seu marido, e consequentemente, da própria Valerie. Assim, não só a carreira de ambos vai por água abaixo, mas também sua família acaba quase se desmoronando.

E logo um verdadeiro 'jogo de poder' (como diz o título nacional) tem início, e está longe de ser um 'fair game' (título original do filme), já que o governo tende a manipular diversas informações para macular a imagem do casal.

Doug Liman consegue dosar a tensão das cenas mais políticas, dentro de escritórios em Washington e quando Valerie está em campo, quando sua câmera, sempre 'nervosa', constantemente vira-se à procura de todos os personagens que da cena participam. E cenas mais tranquilas (visualmente) na casa dos protagonistas, mas que não são menos tensas, já que o desgaste emocional dos personagens acaba refletindo em sua vida doméstica.

O roteiro é muito bem construído, mas merece bastante atenção do espectador - principalmente daqueles que não têm familiaridade com os acontecimentos - já que os diálogos são repletos de siglas e menções a acontecimentos e lugares do Oriente Médio. E o que é melhor, os roteiristas Jez Butterworth e John-Henry Butterworth conseguem tratar desse tema tão delicado sem parecerem muito panfletários. Claro que o filme é obviamente anti-Bush e há, sim, alguns discursos emblemáticos, mas nada que incomode o ritmo e a evolução da história. Aliás, ambos os lados são retratados aqui, e embora haja uma clara acusação ao governo, também há críticas, por exemplo, ao próprio Joe Wilson. Porém, nessa vontade de não apontar para um só lado, o roteiro acaba amenizando alguns fatos importantes, como o papel da mídia nessa história toda, já que foi através da sua interferência que vidas foram profundamente afetadas e uma guerra foi deflagrada.

Sendo um filme tão político, anti-guerra (e, obviamente anti-Bush), é claro que Sean Penn seria um nome óbvio para uma produção como essa, já que o ator é, dentro da sua profissão, um dos mais ativistas. Mas, é claro também, que não só por isso, já que Penn, sempre talentoso, empresta a energia necessária para o personagem do diplomata Joe Wilson. Já Naomi Watts mostra que, quando quer, é extremamente competente, e consegue dar um ar mais humano e mais empático para a agente da CIA, facilitando a sua identificação com o espectador (além de ter o mesmo biotipo da Valerie real, que aparece nos momentos finais do longa).

Infelizmente, "Jogo de Poder" pode não ser um filme para o grande público, já que sua linguagem rápida e bastante politizada não irá agradar a todos. Mas, para aqueles que embarcarem nessa história, não apenas conhecerão um pouco mais do que aconteceu na época, mas também acompanharão um ótimo thriller político.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


sábado, 19 de março de 2011

Malu de Bicicleta

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Malu de Bicicleta (2010)

Estreia oficial | no Brasil: 4 de fevereiro de 2011
IMDb



Este "Malu de Bicicleta" é uma adaptação do romance homônimo de Marcelo Rubens Paiva (de 2004), feita pelo próprio autor. E é de se espantar que a obra possua diálogos tão fracos e sem graça, já que o 'forte' (digamos assim) de Paiva é justamente escrever sobre relacionamentos e a falta deles.

Mais surpreendente ainda é que o filme tenha levado três prêmios no Festival de Paulínia de 2010 - direção, ator e atriz; já que, nenhum deles é realmente merecido.

O roteiro é mal construído e inverossímel. Além da forçada de barra de tentar convencer o público de que Marcelo Serrado serve como bonitão conquistador, a história ainda tenta nos convencer de um relacionamento que, sinceramente, não sei nem como acontece. Por que Malu (Fernanda de Freitas) e Luiz (Serrado) se apaixonam mesmo? O filme não nos dá chance de conhecer a personagem Malu tão bem assim para que nos convença de que é ela realmente quem vai fazer Luiz sair da vida de conquistador que vive até ali. E por que Malu se interessaria por Luiz? Aparentemente um homem que não pode ver um rabo de saia, e que não possui nenhuma qualidade evidente de caráter. Difícil dizer. E, mais difícil ainda, comprar essa ideia.

Pra não dizer que tudo é ruim, algumas situações mais engraçadas funcionam (como a menina que não coloca a mão na frente da boca para espirrar), mas acabam sendo eclipsadas pelo fraco roteiro.

A direção de Flávio R. Tambellini (que também fez o terrível "Bufo & Spallanzani", de 2001) também não é nada inspirada, com planos burocráticos e alguns contra-planos que chegam a ser embaraçosos, já que, visivelmente não seguem a continuidade do seu plano anterior.

Chego então, ao ponto que mais prejudica o filme. Seu elenco. Marcelo Serrado até se esforça, mas não tem o carisma que o personagem exigia. Ele não consegue levar o filme. Fernanda de Freitas apenas cumpre seu papel. Já os coadjuvantes variam entre medianos e realmente ruins.

Enfim, um filme raso, com personagens mal delineados e atuações que não passam de medianas. Não foi dessa vez que o Brasil conseguiu emplacar uma comédia romântica, ou um romance, que valesse a pena...

Marcelo Rubens Paiva, continuo sua fã, mas desta vez, você errou feio.


por Melissa Lipinski


sexta-feira, 18 de março de 2011

Encontro Explosivo

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.


Encontro Explosivo (Knight and Day, 2010)

Estreia oficial: 2 de julho de 2010
Estreia no Brasil: 16 de julho de 2010

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Este "Encontro Explosivo" é um desastre. Talvez eu só não tenha achado pior, por tê-lo visto depois de assistir a "
O Turista". Já que as duas produções têm muito em comum: dois super astros reunidos em um longa que reúne ação e comédia.

Enquanto "
O Turista" se levava a sério demais, esse "Encontro Explosivo" ganha pontos ao parecer sempre tirar sarro das situações, parodiando filmes 'sérios'. E, se no primeiro, Angelina Jolie e Johnny Depp (os quais, particularmente, acho mais talentosos) não tinham química nenhuma e apresentavam atuações burocráticas; aqui, Tom Cruise e Cameron Diaz, por mais que não estejam mais no auge de suas respectivas carreiras, pelo menos apresentam uma ótima interação e conseguem dar um pouco de ânimo ao filme.

Sem uma boa história (se é que há alguma história!), o longa ainda é sabotado por péssimos efeitos visuais (vide a sequência que envolve uma corrida de touros em Madri). Parece que os roteiristas acharam que manter os protagonistas em constante movimento, seja em perseguições de carros, motos ou a pé, era o suficiente para mascarar os furos no roteiro. Assim, vemos Cruise e Diaz correndo o tempo todo. Não contente, o roteiro nunca confia na inteligência dos espectadores, assim, os personagens vivem explicando e re-explicando o que está acontecendo na trama.

Claro que há alguns bons momentos, como a apresentação dos personagens, e as sequências em que um dos personagens está sob o efeito de drogas e apenas vê flashes do que está acontecendo. Mas são exceção à regra.

Assim, como falei, tudo nesse filme leva ao desastre. E esse só não é maior pelo carisma de seus protagonistas. Tom Cruise volta a exibir o velho charme e energia que apresentava em tempos idos (anterior a isso, só mesmo na pequena participação que fez em "Trovão Tropical", de 2008, ou em 2006, em "Colateral"). E, se Cameron Diaz não faz muito além de correr e gritar, sua química com Cruise é bastante para gerar momentos engraçados.

Assim, acho que teria me divertido bem menos com esse filme se o tivesse visto antes de "
O Turista". Mas como não, só me resta dizer que Cruise + Diaz foi uma junção bem mais divertida (apesar dos péssimos efeitos visuais) que Depp + Jolie.


por Melissa Lipinski

 


quinta-feira, 17 de março de 2011

Casa Comigo?

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Casa Comigo? (Leap Year, 2010)

Estreia oficial: 8 de janeiro de 2010
Estreia no Brasil: 14 de julho de 2010
IMDb



Ok, vou tentar não dizer, mais uma vez, o quão clichês são as comédias românticas… O quão batidas são suas histórias… Mas enfim, não há como evitar.

Mas, de vez em quando, surge um filme do gênero que consegue surpreender. Consegue, por mais que utilize milhões de clichês ao longo de sua narrativa, ter um 'algo mais'. Uma coisa que te conquiste.

Neste, "Casa Comigo?", este 'ingrediente especial é, sem dúvida nenhuma, Amy Adams. Não só ela, mas também sua química com o ator inglês Matthew Goode.

Mas vou voltar um pouquinho…

A história é aquela velha de sempre do casal que não se suporta no início, e depois descobre que é apaixonado. Anna (Adams) é uma decoradora de imóveis à venda, que tem a sua vida toda planejada. Quando seu namorado, Jeremy (Adam Scott) não a pede em casamento, como ela esperava, e vai para um congresso em Dublin, ela parte em uma viagem atrás do rapaz para, ela mesma, pedi-lo em casamento. Como a viagem não sai exatamente como o imaginado, ela acaba pousando no País de Gales, quando consegue uma carona até Dublin com Declan (Goode). E é neste percurso, cheio de contratempos, que os dois irão se redescobrir e se apaixonar.

Não só a história é batida como todos os seus elementos. Fotografia, direção de arte… tudo mais burocrático possível. Há uma certa fixação do diretor Anand Tucker de fazer planos dos sapatos de Anna. Não entendi muito bem. Acho que os planos fechados servem somente para evidenciar que os chiquérrimos sapatos da personagem não condizem com as paisagens por onde ela acaba passando, e que culminam numa pisada 'na bosta' de vaca. Planos totalmente desnecessários, eu diria.

Mas, como falei, Amy Adams consegue emprestar simpatia e doçura para qualquer papel. Aqui não é diferente. E ela transforma sua Anna, apesar das manias e chatices iniciais, em uma personagem com a qual as espectadoras conseguem se identificar. Além do mais, Matthew Goode também é competente em transformar Declan no 'anti-herói' charmoso que encanta toda e qualquer mulher. Assim, a química entre os dois funciona, encanta e cativa o público.

Para coroar, as locações pelo interior do País de Gales e Irlanda são belíssimas. Simplesmente incríveis.

Enfim, uma dessas comédias românticas que você assiste apenas para passar o tempo e ver que a vida pode ser bela, pelo menos nas telas.


por Melissa Lipinski




terça-feira, 15 de março de 2011

Passe Livre

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Passe Livre (Hall Pass, 2011)

Estreia oficial: 25 de fevereiro de 2011
Estreia no Brasil: 11 de março de 2011
IMDb



Os irmãos Bobby e Peter Farrelly têm altos e baixos. Altos muito bons, e baixos nem tão ruins assim, pelo menos no geral. Seus melhores trabalhos (que, coincidentemente, são seus primeiros longas) com certeza são "Debi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros" (1994), "Kingpin - Estes Loucos Reis do Boliche" (1996) e "Quem Vai Ficar Com Mary?" (1998). Depois disso, sucederam os medianos "Eu, Eu Mesmo e Irene" (2000), "Osmose Jones" (2001), "Ligado em Você" (2003) e "Amor em Jogo" (2005). E, os mais fracos "O Amor É Cego" (2001) e "Antes Só do que Mal Casado" (2007). E, apesar desses filmes mais fracos, definitivamente é uma filmografia que deve ser levada em consideração. E, felizmente, esse seu novo trabalho, "Passe Livre", pode até não ser tão engraçado quanto "Debi & Lóide" e "Quem Vai Ficar Com Mary?", nem tão absurdo quanto "Kingpin", mas definitivamente entra para o primeiro grupo, já que garante gargalhadas do início ao fim do filme.

Aqui, os amigos Rick (Owen Wilson) e Fred (Jason Sudeikis), apesar de casados com mulheres lindas e inteligentes, não conseguem deixar o velho hábito adolescente de olhar (e desejar) toda e qualquer mulher que passa pelo caminho deles. Apesar de, na maioria das vezes, fazerem vista grossa às atitudes dos maridos, uma sucessão de acontecimentos faz com que Maggie (Jenna Fisher) e Grace (Christina Applegate) dêem passe livre para seus maridos, ou seja, uma semana de folga do casamento, para fazerem o que bem entenderem.

Aqui, os diretores voltam a fazer o que sabem fazer melhor: graça em cima de situações constrangedoras. Eles são mestres em levar as situações até o limite do tolerável (e quem já assistiu a pelo menos um de seus filmes sabe do que estou falando). Só pra ilustrar, há a cena em Fred está se masturbando em seu carro e é surpreendido por dois policias; ou naquela em que o mesmo está ajudando uma moça que não está se sentindo muito bem no seu quarto de hotel, e acaba presenciando um espirro nada convencional dela. A mesma cena prova que os Farrelly continuam sabendo usar a escatologia muito bem (diferentemente da maioria dos cineastas estadunidenses que, constantemente, apelam para ela), assim como a cena em que um dos amigos da dupla principal não consegue se segurar e faz suas necessidades no meio de um campo de golfe.

Porém (igualmente de forma diferente da maioria dos diretores de comédias estadunidenses), os diretores prezam pela construção de seus personagens. E, assim como acontecia nos seus três melhores longas, eles conseguem fazer com que o espectador realmente se interesse (e se importe) pela dupla protagonista. Claro que a competência dos atores também ajuda. Owen Wilson encarna o tipo boa praça ao qual está tão acostumado. Já Jason Sudeikis tem um trabalho mais difícil, já que seu personagem é mais machista, mais preconceituoso e mais "nojento" que Rick, e, dessa forma, é notável que, mesmo assim, o ator consiga a empatia do espectador.

Mas, acho que o grande mérito dos irmãos como diretores é acertar no tempo de suas piadas. Por mais que estendam ao máximo as situações constrangedoras, eles sabem exatamente o ponto onde cortar as cenas.

Outro ponto positivo é o elenco de apoio. Desde o excepcional Richard Jenkins, como o mulherengo Coakley; até o casal de amigos ricos, Gary e Britney (Stephen Merchant e Lauren Bowles), todos estão ótimos. E dão o tom certo das piadas.

Finalmente, "Passe Livre" trata de um tema que, normalmente, atinge a todos, a tendência a supervalorizar o passado e menosprezar o presente que nos cerca. Contando ainda com um discurso final bonitinho sobre família do personagem de Owen Wilson, este novo filme dos Farrelly consegue ser tocante sem ser açucarado demais, e, o melhor, sendo engraçado do início ao fim.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Os irmão Farrelly são conhecidos por fazerem comédias com um estilo próprio. Algumas piadas mais ácidas, cenas que fazem os filmes terem restrição de idade, entre outros. Que eles dirigiram recordo de ter gostado do "Debi & Lóide" (Dumb & Dumber, 1994); "Quem Vai Ficar com Mary?" (There's Something About Mary, 1998); "Eu, Eu Mesmo e Irene" (Me, Myself & Irene, 2000); "Osmose Jones" (2001). E lembro de não ter gostado muito de "O Amor É Cego" (Shallow Hal, 2001) e "Antes Só do Que Mal Casado" (The Heartbreak Kid, 2007).

Felizmente este "Passe Livre" me fez dar umas boas gargalhadas das situações e piadas. E não é à toa que não tem classificação indicativa de Livre, mas vale a pena.

A atuação está excelente e faço o devido destaque para Richard Jenkins, mesmo fazendo somente uma ponta, ele rouba a cena quando aparece.

Muito bom. Recomendo.


por Oscar R. Júnior


segunda-feira, 14 de março de 2011

Enterrado Vivo

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Enterrado Vivo (Buried, 2010)

Estreia oficial: 29 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 10 de dezembro de 2010
IMDb



"Enterrado Vivo" poderia ter dado muito certo. Um ideia original e interessante comandada por um promissor diretor espanhol, Rodrigo Cortés. Mas, infelizmente, parou por aí.

Ryan Reynolds é o motorista de caminhão Paul Conroy, que é, como diz o título, enterrado vido depois que o seu comboio é atacado, quando numa missão de ajuda no Iraque. Quando encontramos o personagem, ele já está dentro de um caixote de madeira, sob a terra; junto com ele, apenas um celular (que milagrosamente tem sinal), uma lanterna, um iluminador, uma garrafinha com alguma bebida alcoólica e um isqueiro.

A história é contada quase em tempo real, e permanece o tempo todo com Paul dentro do caixão. Não há nenhum recurso como flashbacks, ilusões ou sonhos. Durante os 95 minutos do filme permanecemos dentro do caixão.

Sim, a trama é claustrofóbica e, em vários momentos, angustiante. Mas é só, pois os diálogos não convencem, de tão inverossímeis. As autoridades ficarem impassíveis frente ao desespero de Paul é até compreensível, mas acreditar que parentes e amigos, ao ouvirem a voz desesperada do sujeito não tentariam, eles também, mover céus e terra para ajudá-lo, é algo que não dá pra engolir.

Ryan Reynolds também não ajuda muito, já que jamais conseguimos sentir o real medo e desespero que toma conta do sujeito. As situações mais desesperadoras são pontuadas sempre com a ajuda da trilha sonora que, diga-se de passagem, também acaba irritando a certa altura.

Até as críticas aos Estados Unidos são aquelas que todos já estão carecas de emitir. Porém, o filme é contraditório nesse ponto já que não se priva de colocar os iraquianos no papel de 'malvados'. Em certo ponto, chegam a falar que o tal sequestrador não é um terrorista, e sim um cara 'comum' querendo sua justiça pessoal contra o poderoso 'Tio Sam'. Isso não é colocar iraquianos e estadunidenses sob o prisma dos próprios 'yankees'?

Enfim, depois dos 30 minutos iniciais, você já está cansado das ações, pois a uma hora restante é só uma repetição incansável do que já foi visto até então.

No fim o que deu mais raiva não foi a maldade dos sequestradores iraquianos, nem o descaso das autoridades estadunidenses, mas sim ver que o celular de Paul funciona 90% do tempo, com sinal alto e claro... E o meu, mesmo em cima da terra, vive com o sinal falhando!!!


por Melissa Lipinski


domingo, 13 de março de 2011

Chumbo Grosso

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Chumbo Grosso (Hot Fuzz, 2007)

Estreia oficial: 14 de fevereiro de 2007
Estreia no Brasil: só lançado em DVD

IMDb



Depois do ótimo "Todo Mundo Quase Morto" (2004), os roteiristas Simon Pegg e Edgar Wright (este também é o diretor dos filmes) juntaram-se novamente nesse ótimo "Chumbo Grosso". O filme é uma comédia que, acima de tudo, homenageia os filmes policiais, ao mesmo tempo em que parodia os mesmos.

O próprio Simon Pegg é Nicholas Angel, o melhor policial de Londres, que é relocado para o interior pois deixa os outros policiais "mal na foto", de tão competente que é. A partir daí, Angel começa a estranhar o baixo índice de criminalidade do local, e se vê envolvido em uma trama bastante intrigante.

O humor tipicamente inglês, ácido, crítico e cínico, é o que torna o filme tão bom. Às vezes, a trama toma ares mais sérios, e nem parece uma comédia, como nas bem dirigidas cenas de ação.

Simon Pegg e Nick Frost (que também atuaram juntos em "Todo Mundo Quase Morto") têm uma química muito boa, e parte da graça do filme reside nessa interação. Jim Broadbent também está muito bem. E a minúscula participação de Bill Nighy é hilária.

Mas o melhor mesmo é o seu roteiro inteligente, com diálogos rápidos, engraçados e situações inusitadas. A boa edição também colabora para o ótimo ritmo que o longa tem. Mesmo as cenas inicias, de apresentação, não soam aborrecidas nem cansativas.

Enfim, com um ótimo casamento entre ritmo, ação e humor, Simon Pegg e Edgar Wright criam mais um excelente filme. Tomara que essa parceria renda ainda muitos outros.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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No geral eu gosto muito do tipo de humor inglês. Neste "Chumbo Grosso" eu apenas gosto. É que ao mesmo tempo que tem uma cena de decaptação ao estilo de filmes como "Premonição" (Final Destination, 2000), tem tiroteios imensos sem que ninguém seja alvejado. Não curti isso.

Em compensação as referências e zoações ao estilo de filmes como "Caçadores de Emoção" (Point Break, 1991) e "Bad Boys 2" (Bad Boys II, 2003) são cômicas e funcionam no filme.

Por fim, um filme para se assisitir num dia em que não se quer pensar muito, quer rir e ver algumas cenas de ação.

É isso.


por Oscar R. Júnior



 

 

sábado, 12 de março de 2011

Um Parto de Viagem

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Parto de Viagem, Um (Due Date, 2010)


Estreia oficial: 3 de novembro de 2010
Estreia no Brasil: 5 de novembro de 2010
IMDb



Todd Phillips é um diretor de filmes 'masculinos'. Explico. Em seus filmes, as mulheres não têm vez, não há personagens femininos interessantes, elas são sempre o interesse romântico do protagonista, como em "Caindo na Estrada" (Road Trip, 2000), as esposas chatas como em "Dias Incríveis" (Old School, 2003), as gostosonas de biquini como em "Starsky & Hutch" (2004), prostitutas doces ou esposas histéricas como em "Se Beber, Não Case" (The Hangover, 2009), ou simplesmente alguém do outro lado do telefone, como neste seu mais novo filme, "Um Parto de Viagem" (Due Date, 2010).

Não que isso seja exclusividade do diretor. Esse tipo de comédia já é quase um gênero. Tanto que esse filme é uma versão atual de "Antes Só do que Mal Acompanhado" (Planes, Trains & Automobiles, 1987), dirigido por John Hughes e estrelado por John Candy e Steve Martin. Porém, Todd Phillips tem seu diferencial. E o politicamente incorreto parece ser uma de suas marcas, já que o diretor não mede esforços para fazer humor.

Bom, a história, como no filme de John Hughes, é sobre o encontro inusitado de dois homens completamente diferentes que acabam embarcando em uma viagem cruzando os EUA. Porém as semelhanças param por aí, já que os personagens não poderiam ser mais diferentes dos que os da produção de 1987.

Robert Downey Jr. é o retrato do 'almofadinha' contemporâneo, que vive dentro dos conformes. Já Zach Galifianakis é o oposto: um 'projeto' de ator, nada convencional. E é na química entre os dois personagens que reside o 'algo mais' do longa. Downey Jr. é um ator sempre competente, Galifianakis é sempre hilário, e a conjunção destas duas figuras gera situações inusitadas e boas gargalhadas.

É justamente na crítica do 'politicamente correto' que está o melhor do filme, e o melhor do cinema de Todd Phillips. Não é tão bom quanto "Se Beber, Não Case", mas é bastante engraçado.


por Melissa Lipinski
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Comédia escrachada. A história é bem bobinha. O filme é tolo mas consegue ter algumas cenas engraçadas.

Só conheço Zach Galifianakis, tipo muito, muito estranho, pois já vi algo parecido no "Se Beber, Não Case" (The Hangoover, 2009) e na série "Bored to Death". Já Robert Downey Jr. é só o cara extressado o filme inteiro.

Ou seja, dei algumas risadas, achei algumas cenas apelativas demais e por aí vai.


por Oscar R. Júnior


sexta-feira, 11 de março de 2011

Um Lugar Qualquer

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Lugar Qualquer, Um (Somewhere, 2010)

Estreia oficial: 3 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 28 de janeiro de 2011
IMDb



Sofia Coppola nasceu e cresceu em Hollywood, entre atores e diretores de cinema. Portanto, não é de se estranhar que suas duas obras mais contundentes transitem neste meio. Primeiro com o belíssimo e delicado "Encontros e Desencontros" (seu melhor filme até hoje), e agora, este "Um Lugar Qualquer".

O filme fala, resumidamente, sobre o vazio. E Coppola utiliza-se da profissão de ator para demonstrar isso. Vazio da carreira, vazio da vida. Stephen Dorff é Johnny Marco, um ator bem sucedido que parece flutuar na sua própria vida, nunca fazendo algo significativo. Ele vai de um lugar para outro apenas porque as pessoas dizem para ele fazê-lo. Sua conexão com a maioria das pessoas também é algo efêmero, já que se baseia na sua figura como ator, e não em quem realmente ele é.

Desta forma, é simplesmente notável que Sofia Coppola consiga fazer com que nós espectadores nos identifiquemos com esse sujeito. Uma mistura de pena e empatia. A atuação de Dorff, sempre contida, também ajuda nesse sentido, já que ele cria Johnny como um sujeito introspectivo e monossilábico.

Outra opção acertada da diretora são os planos longos, que servem para enfatizar o cotidiano vazio do personagem. Um dos mais belos e representativos do filme, com certeza é o que Johnny bóia em uma grande piscina, e acaba, lentamente, sendo levado ao canto do enquadramento, o qual, imóvel, corta sua cabeça do quadro: como na vida de Johnny, ele sempre está flutuando pelos cantos, sendo levado por outras pessoas. Ou então, outro momento belíssimo, na cena em que vemos Johnny e sua filha pegando sol, e que a princípio parece um momento de comunhão entre os dois personagens, apenas para, na verdade, revelar - quando abre-se o plano - a superficialidade daquela relação, já que eles estão ali, na companhia de outras pessoas, como que dividindo aquele momento que deveria ser só deles.

E é uma pena que, no final, Sofia Coppola não consiga amarrar tão bem sua história como fez em "Encontros e Desencontros", e acaba pecando ao criar um desfecho que soa infantil e tolo. Porém, nada que desmereça o trabalho como um todo.

Enfim, Coppola nos dá, mais uma vez, um belíssimo filme sobre a melancolia. E, nada melhor do que utilizar-se de um ambiente que conhece tão bem para fazer isso.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Ok, tenho que admitir que não sou muito fã da Sofia Copola mas até que curti esse filme. Ele aparenta se mais paradão mas até que não. É quase uma história de reaproximação entre pai e filha.

Infelizmente isso é o máximo que consigo falar do filme.


por Oscar R. Júnior


quinta-feira, 10 de março de 2011

Bruna Surfistinha

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Bruna Surfistinha (2011)

Estreia oficial | no Brasil: 25 de fevereiro de 2011
IMDb



"Bruna Surfistinha" é um filme com bons momentos e boa atuação de Deborah Secco, mas que acaba diluindo-se em uma fraca narrativa, com uma narração em off totalmente desnecessária.
O roteiro (de José de Carvalho, Homero Olivetto e Antônia Pellegrino) parece escrito em episódios, sem a preocupação em vincular emocionalmente a trajetória da garota, e quando, o tenta fazer, descamba para um melodrama sentimentalóide. E, o que é pior, a história jamais tenta explicar as razões para as ações da protagonista: por que Bruna (ou melhor, Raquel) sai de casa? É verdade que há problemas em sua família, mas qual família não os tem? Por que ela decide se tornar uma prostituta? O roteiro parece bem mais interessado em afirmar como a 'Bruna' tornou-se tão popular entre seus clientes, ao mesmo tempo em que parece (não intencionalmente) apontar para o fato de que a moça teria um talento nato para a prostituição.

Mas o pior de tudo é mesmo a narração em off, que insiste em 'traduzir' tudo o que estamos vendo na tela, soando sempre repetitiva. A narração é tão desnecessária que quase consegue estragar a melhor cena do filme: em seu primeiro programa, Bruna não consegue dissimular a dor que está sentindo quando faz sexo com seu cliente; mas, aos poucos, seu olhar vai se tornando mais decidido. É quando a protagonista encara a câmera de frente, como que desafiando o próprio espectador. A força da cena é tamanha, que mesmo quando a tal narração entra, reiterando tudo aquilo que estamos vendo - que ela não chorou, nem pediu pra que ele parasse - mesmo assim, é a cena mais comovente do longa.

E se a cena funciona deve-se, em grande parte, à forte atuação de Deborah Secco, que depois de aparecer no cinema como uma sex symbol inespressiva em "Meu Tio Matou um Cara" (2004), e em um dos piores filmes ao qual já assisiti, "A Cartomante" (2004), finalmente mostra-se uma atriz competente. Sua atuação é tão intensa que, por vezes, quase nos esquecemos das falhas no roteiro. Seu único excesso na composição da personagem (na minha opinião) é a irritante mania de sempre se sentar com as pernas, não apenas abertas, mas escancaradas, tentando (acho) demonstrar que, por mais que utilize seu corpo para ganhar dinheiro e dar prazer, no fundo, ela ainda mantém aspectos da garota imatura que foi um dia. Porém, a ação só consegue se mostrar forçada e não natural. Porém, um pequeno deslize frente a uma atuação contundente.

E, se falei que quase nos esquecemos das falhas do roteiro, é porque nem mesmo Secco, nem as ótimas atuações de Drica Moraes, Cássio Gabus Mendes (que consegue superar até mesmo o esquematismo clichê de seu 'príncipe encantado') e Fabiula Nascimento conseguem dissimular o sentimentalismo barato por trás da história. Que, perde-se em sua estrutura, a partir da metade do filme, para assumir uma narrativa moralista de redenção da personagem.

Ganhando pontos por alguns diálogos espirituosos e engraçados, e algumas situações cômicas, assim como algumas sacadas inteligentes de seu diretor - o estreante em longas Marcus Baldini - como por exemplo a economia de palavras para expor alguns personagens, e a construção sempre egocêntrica da personagem-título (que, mesmo que seja mérito da atriz, sempre tem a direção de alguém), é uma pena que o filme seja sabotado por sua parte final, que insiste em retratar toda prostituta como sendo alguém que precise de um 'anjo da guarda' para resgatá-la de sua vida miserável, o que acaba comprometendo seu resultado.

Enfim, "Bruna Surfistinha" consegue alguns méritos graças, principalmente, às suas atuações e à força de sua protagonista - mas não da sua personagem.


por Melissa Lipinski
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Vou começar pelo que gostei. O elenco. É a melhor atuação que já vi da Deborah Secco, mas isso se deve ao fato dela ser uma atriz mediana no geral. Quem quase rouba a cena são a Drica Moares e o Cássio Gabus Mendes. Estão excelentes.

Sobre a história. É fraca. A personagem principal não tem motivação. Ou melhor, não nos é mostrado uma razão decente para que ela entre nessa vida. Não que eu necessite saber o porquê ela virou prostituta, mas quando o filme mostra momentos dela na casa dos pais, eles dão margem para que eu queira um motivo. No filme a razão está muito, mas muito artificial mesmo. Tão artificial quanto a atuação do irmão da Bruna Surfistinha, ele consegue ser o pior em cena.

Na verdade o que mais me incomodou no filme é que ele glamuriza muito a personagem principal. No filme aparenta que ela sente prazer em todas as transas que faz. Parece que foi tudo muito fácil, mas vamos e convenhamos: não é um vida fácil. As únicas coisas ruins que acontecem com ela é o irmão xingá-la, a outra prostituta roubá-la e o fato dela cair nas drogas. Nenhum cara bateu nela, nenhum a forçou a transar de alguma forma mais bruta. É quase como se ela nunca tivesse dado o c*. É o que parece. Isso me incomodou bastante.

Humm, e tem a narração em off da Deborah que poderia ser totalmente extirpada. Totalmente.

Por fim, faço um destaque para a Fabiula Nascimento. Ela é a outra prostituta que tem um filho e tudo mais. Ela está ótima nesse filme e eu recomendo outro que tem ela no elenco: "Estômago" (2007, direção de Marcos Jorge).

É isso.


por Oscar R. Júnior


quarta-feira, 9 de março de 2011

O Besouro Verde

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Besouro Verde, O (The Green Hornet, 2011)

Estreia oficial: 12 de janeiro de 2011
Estreia no Brasil: 18 de fevereiro de 2011
IMDb



O cineasta francês Michel Gondry até agora não tinha me decepcionado. Muito pelo contrário, estava virando cada vez mais sua fã. Desde sua estreia em longas com o crítico "Natureza Quase Humana" (2001), passando pelo onírico "Sonhando Acordado" (2006), o nostálgico "Rebobine, Por Favor" (2008), até sua obra-prima "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" (2004), todos contavam com uma direção inspirada, que primava pelo estímulo visual do espectador.
Entretanto, com este "O Besouro Verde", Gondry pisa feio na bola. Não só o roteiro do filme é fraco, mas a direção parece ter sido realizada por um "Michael Bay da vida", o que é realmente preocupante.

A história é baseada no personagem criado para o rádio, por George W. Trendle, na década de 30, e que depois virou série de TV nos anos 60 (a qual tornou Bruce Lee conhecido; ele é, inclusive homenageado aqui, através de um desenho feito pelo atual Kato, papel de Lee na série). Acompanhamos como o playboy babaca e imaturo, Britt Reid (Seth Rogen), torna-se o Besouro Verde. O problema aqui, é que o protagonista não se faz passar por inconsequente, ele realmente o é.

Mas não só o protagonista é mal desenvolvido. O conflito entre pai (Tom Wilkinson) e filho (Rogen) soa falso e não convence. O vilão (Christoph Waltz), que até tem uma introdução promissora graças à participação eficiente de James Franco, jamais é desenvolvido com eficiência. Fora os diálogos (que, em excesso) soam maçantes e repetitivos. Sem falar em Lenore Case, personagem totalmente idiota de Cameron Diaz - acho que nunca vi uma mocinha tão mal desenvolvida.

Porém, é verdade que algumas piadas funcionam. E o grande destaque do filme é mesmo Kato (Jay Chou). Porém, os roteiristas (Seth Rogen e Evan Goldberg) parecem não querer que Kato roube o posto de herói de Britt e, da mesma forma, logo desperdiçam esse personagem. Porém, as sequências de luta encenadas por Chou funcionam, embora eu tenha achado que não trazem realmente nada de novo.

Por fim, apesar de uma ou outra cena inspirada, Michel Gondry parece ter dirigido este "O Besouro Verde" em estado de sonolência profunda, resultando em um filme tão idiota e desnecessário quanto seu protagonista, Britt Reid.


por Melissa Lipinski
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Ok, achei que era baseado em uma história em quadrinhos e descubro que não. Besouro Verde foi primeiro uma série de rádio, chegou a ser série de TV entre 1966 e 1967 (com Van Williams e Bruce Lee), tendo somente uma temporada. E agora virou novamente filme. E, segundo o IMDb, já houveram mais 2 versões, outra série de TV em 1940 e um curta em 2006. Mas vamos ao filme.

A história é um tanto fraca. Personagens mal construídos e sem motivação plausível. Atuação bem mediana até mesmo a do Christoph Waltz, que renderia muito mais.

Por outro lado a parte cômica do filme foi bem engraçada. Ri ao menos. Próximo do fim o filme vai descambando em cenas fracas e pirotecnias sem fim e tem um final bem brochante.

Por fim, não sei o que deu na cabeça do diretor Michel Gondry fazer um filme assim. Ele que já dirigiu os bons "Rebobine, Por Favor" (Be Kind Rewind, 2008), "Sonhando Acordado" (La Science de Rêves, 2006) e o maravilhoso "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004), vem e me dirige esse "O Besouro Verde". Infelizmente isso aconteceu.


por Oscar R. Júnior