ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Árvore da Vida, A (The Tree of Life, 2011)
Estreia oficial: 17 de maio de 2011
Estreia no Brasil: 12 de agosto de 2011
IMDb
"A Árvore da VIda" não é um filme de fácil absorção. Não por ter uma narrativa super complexa e uma história intrincada. Mas pela fragmentação de seu roteiro e pela subjetividade de suas imagens. O mesmo motivo que fez diversas pessoas saírem mais cedo da sessão do cinema onde eu estava, também fez eu me apaixonar instantaneamente e incondicionalmente pela obra-pima de Terrence Malick.
O filme é basicamente um recorte de recordações e sentimentos, principalmente guiados pela visão de Jack O'Brien (Sean Penn quando adulto, e Hunter McCracken quando jovem). Filho mais velho do Sr. O'Brien (Brad Pitt) e da sua esposa (Jessica Chastain), o filme mostra o relacionamento dele com seus pais e com seus dois irmãos menores, R.L. (Laramie Eppler) e Steve (Tye Sheridan); ao mesmo tempo em que mostra o quão pequenos são os personagens (e todos os seres humanos) frente ao desenvolvimento do Universo.
Os atores têm um trabalho excepcional na composição dos personagens. Jessica Chastain (em seu primeiro trabalho de grande expressão no Cinema) cria a Sra. O'Brien como uma figura angelical, etérea, cuja comunhão que estabelece com a Natureza cria uma paz ao redor de seu mundo. O que contrapõe com a maneira que seu marido lida com as coisas, e Brad Pitt compõe um personagem sisudo, sempre rijo (basta notar a forma com que o ator levemente projeta sua mandíbula para frente, num sinal de masculinidade e constante tensão). E, se a Sra. O'Brien trata os filhos com espontaneidade, ensinando-os principalmente a amar a tudo e a todos. O Sr. O'Brien exige disciplina de sua prole, porém, Pitt é competente em não deixar seu personagem cair no estereótipo, fazendo com que ele tenha momentos de carinho e afeto com seus filhos. Já Sean Penn, mesmo com pouco tempo em tela, consegue transmitir todo peso e remorso de seu personagem. Sentimentos esses que são bem construídos pelo jovem Hunter McCracken.
E é através dos olhos deste último que Malick conduz a maior parte de sua narrativa, inclusive, colocando a câmera mais baixa, na altura dos olhos do jovem. São suas descobertas, seus sentimentos e suas recordações que, essencialmente, são transmitidas para o público.
Terrence Malick guia seus longos planos contemplativos de forma calma, estabelecendo, logo no início, o tom que guiará toda a sua história: a diferença entre os conceitos de "graça" e de "natureza". Sendo, a primeira, a bondade e humanidade dos seres; e a segunda, a maneira impiedosa com que se trata o mundo ao seu redor. Tudo isso num contexto ainda maior: o da criação da Terra e do próprio Universo.
E, se os personagens constantemente voltam-se a Deus, fazendo perguntas sobre o significado da vida e de sua própria existência, chega a ser paradoxal (de forma proposital, é claro) que Malick retrate sua história com a clara ausência deste. Deus aqui, apenas é visto nas construções das igrejas (como os vitrais). É como se Malick mostrasse que a criação do Universo já é algo sublime o bastante em sua evolução para precisar de algo a mais, de algo divino. Aliás, a religião é mostrada pelo diretor como algo paternalista e impositora, repleta de regras e preconceitos - simbolizada pelo Sr. O'Brien. Já a Natureza é o contraponto desta visão, sempre generosa e amorosa, assim como a Sra. O' Brien, ela consegue mostrar muito mais compaixão pelos demais do que as reações divinas (e a cena onde um dinossauro poupa a vida de outro, ferido, é a prova incontestável disso).
Mas não é apenas em seu discurso que "A Árvore da Vida" merece aplausos. Visualmente impecável, o filme conta com efeitos visuais de cair o queixo, seja com seus monumentais planos do espaço, ou daqueles singelos de microorganismos. São cenas que despertam as mais diferentes sensações em quem as vê, não pelo seu significado dentro da história, mas pelo simples fato de estarmos contemplando belíssimas imagens, que bastam por si só.
Enfim, é difícil explicar o sentimento que tomou conta de mim depois de assistir a este filme. Um turbilhão de emoções e de recordações. Ainda agora, escrevendo, sinto um nó no estômago ao lembrar dele. Ele faz-nos pensar que nossas memórias não fazem parte apenas do nosso passado; mas constituem o nosso presente, fazendo-nos, às vezes, até encarar a vida de outra maneira, assim como acontece com Jack adulto, que, ao encarar e aceitar o seu passado, consegue sorrir, ainda que timidamente, pela primeira vez em todo o filme. Sean Penn me emocionou com suas lembranças. Hunter McCracken me emocionou com suas experiências. Brad Pitt me emocionou com sua conduta. Jessica Chastain me emocionou com seu amor. Terrence Malick me emocionou pela sua grande celebração à vida.
Não é um filme fácil, isso é fato. E os espectadores acostumados ao imediatismo de entendimento condicionado pelo cinema da indústria estadunidense certamente vão odiá-lo. Mas como diz Ismail Xavier em seu livro "O Discurso Cinematográfico", "o nosso papel, como espectadores, é elevar nossa sensibilidade de modo a superar a 'leitura convencional' da imagem e conseguir ver, para além do evento imediato focalizado, a imensa orquestração do organismo natural e a expressão do 'estado de alma' que se afirmam na prodigiosa relação câmera-objeto". Ou como já disse o cineasta Gregory Markopoulos: "é preciso que o espectador se liberte dos condicionamentos do cinema dominante". São essa sensibilidade e essa liberação que se fazem necessárias para contemplar "A Árvore da Vida", um filme belíssimo, comovente e obrigatório. Fiquei com vontade de revê-lo. Mais e mais.
Fica a dica!
por Melissa Lipinski
2 comentários:
Sem palavras, filme lindão, apesar de pretensioso.
http://cinelupinha.blogspot.com/
é, Mel, quando eu fui assistir também teve um monte de gente saindo no meio... é um belo confronto pro público "enlatado"... pq é um filme que demanda esforço, é um filme que faz pensar, e esse público não está acostumado a pensar no cinema...
e o interessante é que apesar de longo, não senti o tempo passar...
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