segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sonhos

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Sonhos (Dreams, 1990)


Estreia oficial: 11 de maio de 1990

IMDb



Nada melhor para começar esta obra-prima de Akira Kurosawa do que a frase: "Eu tive um sonho assim". E é justamente assim que ela tem início. Kurosawa utiliza-se de sonhos para abordar temas que inquietam a natureza humana, principalmente no que tange à morte.

O filme é dividido em oito sonhos. Nos dois primeiros, a morte ronda a infância. No terceiro segmento, a morte ronda alguns alpinistas, e o limite entre razão e alucinação é abordado. Na quarta parte, a morte é encarada por um comandante do exército que tem que enfrentar a culpa de ter mandado todo seu pelotão para uma missão suicida.


O quinto episódio, e o meu favorito, é onde Kurosawa utiliza-se da metalinguagem sobre as telas de Van Gogh para, acima de tudo, lançar um outro olhar sobre as obras de arte. A fotografia e a direção de arte praticamente transformam cada cena nos próprios quadros do pintor holandês.


Nos sexto e sétimo capítulos desses sonhos, a morte advém da iminência de uma catástrofe atômica, ou já instaurada depois de uma hecatombe nuclear.


Já no último sonho de Kurosawa, a morte é tratada de forma delicada e simples, através de um emocionante relato de um senhor com mais de 100 anos. É com ele que Kurosawa finaliza seu discurso sobre como se viver harmonicamente com a natureza, respeitando-a e aos outros seres humanos.

O conjunto dos Sonhos de Kurosawa é uma declaração de revolta ao comportamento que o homem contemporâneo tem em relação à sua vida e ao do planeta em que vive. Feito há mais de 20 anos atrás, o filme continua mais atual do que nunca. Imperdível!

Fica a dica!



por Mel
issa Lipinski


   

   

   

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Harry Potter e o Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half-Blood Prince, 2009)

Estreia oficial: 15 de julho de 2009
Estreia no Brasil: 15 de julho de 2009
IMDb



O que mais chama a atenção neste "Harry Potter e o Enigma do Príncipe" é o contraste da sua atmosfera sombria, deprimente e com perigos iminentes com aquela feliz e encantada dos primeiros filmes. Contraste também presente no próprio trio protagonista que, se antes desfilava sorridente pelos corredores da Escola de Hogwarts, a cada novo episódio, apresenta um semblante mais fechado e preocupado.

E, ao contrário do episódio anterior, onde Harry e Dumbledore mal se falavam durante a trama, aqui a relação entre os dois é o fio condutor do roteiro (que volta a ser assinado por Steve Kloves). É, inclusive, Dumbledore, ou melhor, Michael Gambon, o grande destaque deste capítulo da saga. Ver as pequenas nuances da composição de seu personagem é um deleite. Cada olhar de preocupação, cada ação minuciosamente calculadas, seu ar de remorso por ter dado a chance de Voldemort ter se tornado o grande bruxo que se tornou, a consciência e culpa por exigir demais de Harry Potter... Enfim, Gambon retrata todos esses sentimentos com perfeição.

Mas não só ele. Daniel Radcliffe cresce ainda mais em sua interpretação de Harry. Ao mesmo tempo em que Rupert Grint e Emma Watson sentem-se cada vez mais à vontade com seus personagens, Ron e Hermione, e a química entre eles, e seu relacionamento de amizade-amor não declarado-crises de ciúmes dá o contra-ponto divertido à densa narrativa. E, pela primeira vez na série, Tom Felton consegue dar uma carga dramática a Draco Malfoy, tornando-o um personagem tridimensional e em crise com sua própria consciência.

Dentre o notável elenco de apoio, Alan Rickman novamente sobressai-se e tem mais tempo em tela para construir seu complexo Professor Snape. Assim como Jim Broadbent, que junta-se ao elenco como o Professor Horácio Slughorn, e parece realmente se divertir em sua composição, servindo como um dos alívios cômicos da narrativa, o que não impede de ser deste personagem um dos momentos mais tocantes do longa.

A fotografia de Bruno Delbonel é extremamente eficiente em criar um clima crescente de apreensão e tristeza, com sua paleta de cores dessaturadas. Ao mesmo tempo em que o diretor David Yates acerta no tom conspiratório que emprega à narrativa, com uma câmera que sempre revela semblantes nos escuros cantos dos corredores de Hogwarts - seja o solitário e dividido Draco Malfoy ou os tórridos casais de namorados. Ao mesmo tempo em que o diretor dita o ritmo de sua narrativa com as bem decupadas (e executadas) cenas de ação.

Finalmente, mesmo sem ser o melhor livro escrito por J. K. Rowling, "O Enigma do Príncipe" gera o melhor filme até agora da sua franquia, preparando o terreno para os grandes conflitos que ainda virão nas duas partes finais da saga do bruxo mais famoso do mundo.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Harry Potter e a Ordem da Fênix

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Harry Potter e a Ordem da Fênix (Harry Potter and the Order of the Phoenix, 2007)

Estreia oficial: 11 de julho de 2007
Estreia no Brasil: 11 de julho de 2007
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A cada novo episódio da saga do bruxo Harry Potter, mais tensão e aspecto sombrio esta adquire. Tensão também é o que nos transmite Daniel Radcliffe na composição de seu personagem. O Harry alegre e maravilhado dos episódios iniciais vai dando lugar a um garoto angustiado e que, aos poucos, vai compreendendo que o mundo mágico que habita está longe de ser maravilhoso. E Daniel Radcliffe é extremamente bem sucedido em sua interpretação.

Neste primeiro filme da saga adaptado por Michael Goldenberg (que substituiu Steve Kloves), o tom de urgência dos dois últimos episódios está mais presente do que nunca, e o roteiro acerta em focar a história no ponto mais interessante do livro de J. K.Rowling, deixando as subtramas bobas de lado, e conseguindo um fato dificílimo: ser uma obra superior ao livro do qual se originou.

O diretor David Yates é hábil em dar seriedade à narrativa, entretanto falha no estabelecimento do ritmo da sua narrativa e esta parece sempre acelerada, às vezes, não dando a devida importância a certos acontecimentos.

Deixando um pouco os coadjuvantes de lado, o filme foca-se mesmo no próprio Harry Potter, o que prejudica o desenvolvimento dos personagens. Quem acaba se favorecendo disto é a excelente Imelda Saunton, já que sua vilã, Dolores Umbridge, acaba sendo a segunda personagem com mais tempo em tela. E, se atores como Maggie Smith (Professora McGonagall), David Thewlis (Lupin), Emma Thompson (Professora Trelawney) e Julie Walters (Molly Weasley) são usados praticamente como coadjuvantes de luxo, Alan Rickman (Professor Snape) consegue, em poucas cenas, transmitir toda a ambiguidade que seu personagem carrega, apenas reiterando o que para mim já está claro desde o primeiro filme: além de ser o melhor personagem, é também uma das atuações mais fortes da série. Assim como Gary Oldman, que transforma Sirius Black, mesmo que de forma rápida, em um dos personagens mais complexos da série.

Mesmo com os já habituais efeitos visuais primorosos, a direção de arte do longa consegue impressionar, com seus cenários grandiosos e suas detalhadíssimas composições de figurino.

"Harry Potter e a Ordem da Fênix" ainda se beneficia por trazer acontecimentos importantes para o futuro da série, como a morte de determinado personagem. E também a impressionante luta entre dois bruxos poderosíssimos, que dão mais intensidade e dramaticidade ao filme.

Enfim, a saga "Harry Potter", definitivamente, já é uma das melhores sequências de filmes da história do cinema, já que conseguiu, em cinco filmes, manter a qualidade técnica e narrativa de seus filmes.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


terça-feira, 12 de julho de 2011

Harry Potter e o Cálice de Fogo

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Harry Potter e o Cálice de Fogo (Harry Potter and the Goblet of Fire, 2005)

Estreia oficial: 16 de novembro de 2005
Estreia no Brasil: 25 de novembro de 2005
IMDb



Este quarto filme da série "Harry Potter" ganha um novo olhar sob a direção de Mike Newell, ainda que mantenha o clima sombrio iniciado no terceiro episódio.

A fotografia também muda, já que o fotógrafo Roger Pratt parece trabalhar em consonância com o clima melancólico do roteiro de Steve Kloves, mantendo o céu sempre nublado e cores acinzentadas que dominam as cenas.

E, se em "O Prisioneiro de Azkaban" o roteiro permitia-se parar um pouco sua narrativa para a construção (e aprofundamento) dos personagens, isso não acontece aqui, já que todas as cenas trazem informações importantíssimas para o andamento da história. Não há uma pausa, um respiro para que o espectador consiga processar o que está se passando. E se isso dá um ritmo acelerado e confere um tom de urgência à trama, sacrifica um pouco seus personagens e alguns momentos que poderiam ser mostrados para incrementar a história.

E, se alguns personagens perderam espaço, outros, ao contrário ganham mais peso. Como é o caso de Dumbledore (o ótimo Michael Gambon), que se faz mais presente. E, como já conhecemos um pouco do personagem, Gambon pode investir em detalhes da sua interpretação.

Como já de praxe, os coadjuvantes (ótimos atores britânicos) roubam a cena. Entre as caras novas, destacam-se Brendan Gleeson, como Olho-Tonto Moody; e Ralph Fiennes, que mesmo irreconhecível como Voldemort, consegue transmitir a maldade sem limites de seu personagem. Destaco, também, o excelente Alan Rickman, que consegue impressionar a cada olhar ou gesto de seu interessantíssimo Snape.

Já o trio principal mostra que conseguiu transpor com cautela e maturidade a transição da fase infantil para a adolescente de seus personagens. Daniel Radcliffe (Harry) e Rupert Grint (Ron) mostram uma química admirável e sua amizade sempre soa verdadeira, mesmo nos momentos mais turbulentos. Já Emma Watson, pela primeira vez, aparenta ser o elo mais fraco desse triângulo, fazendo com que os outros dois se sobressaiam.

Com efeitos especiais que se superam a cada novo filme (em especial os vistos no início, durante a Copa Mundial de Quadribol, que são espetaculares), "Harry Potter e o Cálice de Fogo" é mais uma ótima adaptação dos livros de J.K. Rowling, embora, em alguns momentos, pareça mais preocupado com o andamento da história do que com seus próprios personagens. Mas, no geral, um ótimo filme.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter and the Prisoner of Azkaban, 2004)

Estreia oficial: 31 de maio de 2004
Estreia no Brasil: 4 de junho de 2004
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"Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" é, dentre os livros da saga, um dos meus favoritos. Em parte, pela aparição de um dos melhores personagens criados por J. K. Rowling, Sirius Black (o tal prisioneiro do título). E o filme faz jus ao livro, ainda mais com a adição de Alfonso Cuarón na direção do projeto, o que deu mais agilidade ao longa, e uma sensação de urgência à história, que não tinha nos filmes anteriores.

Mas não foi a única contribuição de Cuarón, já que o diretor (assim como já acontecia nos livros), deixou o filme mais sombrio que os dois primeiros exemplares da série do bruxo mais famoso do mundo. Sem, no entanto, menosprezar detalhes dos personagens. Muito pelo contrário, os personagens, aqui, parecem melhores construídos e mais tridimensionais do que nunca, principalmente o trio principal com seus hormônios pré-adolescentes à flor da pele. São esses detalhes que transformam o roteiro desse episódio (novamente assinado por Steve Kloves) em superior aos seus anteriores, já que observar os alunos de Hogwarts interagindo e brincando nos dormitórios, faz com que nos identifiquemos mais com os personagens por torná-los mais humanos, além de deixar a narrativa mais fluida e descontraída, em vez de apenas intercalar acontecimentos relevantes para a trama.

E os atores aparentam estar cada vez mais à vontade com seus personagens. Daniel Radcliffe, em particular, segura cada vez melhor o peso de ter um personagem tão importante nas mãos. Mas, são sempre os coadjuvantes quem roubam as cenas. Além dos já habituais (e talentosos) Alan Rickman (Professor Snape), Maggie Smith (Professora Minerva) e Robbie Coltrane (Hagrid), novos atores juntam-se ao notável elenco. Emma Thompson está hilária como a Professora Trelawney; Timothy Spall (Rabicho) e David Thewlis (Lupin) também são felizes em suas composições 'animalescas'; e Michael Gambon substitui Richard Harris (que faleceu em 2002) com enorme competência, inclusive, conferindo novas características a Dumbledore, tornando-o mais ágil e cheio de vida. Mas é mesmo Gary Oldman que, apesar do pouco tempo em tela, chama a atenção, conferindo sua intensidade habitual ao personagem de Sirius Black.

Apesar de falhar em suas tentativas de humor (ainda mais fazendo com que Ron transforme-se, praticamente, em um 'bobo-da-corte'), esse terceiro filme da série consegue ser mais tenso e bem amarrado que seus antecessores, ainda mais na sua parte final, quando as brincadeiras com a volta no tempo engrandecem a narrativa.

Finalizando, mantendo a já tradicional competência no layout da produção, a direção de arte consegue se superar, e enriquecer ainda mais o castelo de Hogwarts, com novos cenários espetaculares. Os figurinos dos alunos (principalmente suas vestes da escola) também dizem muito daqueles adolescentes em seus pequenos detalhes, como nós de gravatas frouxos, mangas de camisas dobradas displicentemente, e saias encurtadas.

Enfim, é sempre a atenção por detalhes que fazem a diferença e transformam um filme em um espetáculo para além da sua própria história.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


domingo, 10 de julho de 2011

Harry Potter e a Câmara Secreta

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.


Harry Potter e a Câmara Secreta (Harry Potter and the Chamber of Secrets, 2002)

Estreia oficial: 14 de novembro de 2002
Estreia no Brasil: 22 de novembro de 2002
IMDb



Este segundo capítulo da saga de Harry Potter segue a mesma linha do filme anterior, e brinda o espectador com uma boa história e ótimas interpretações coroadas com efeitos visuais muito bem realizados.

O roteiro (novamente escrito por Steve Kloves) não precisa mais apresentar-nos aos personagens principais e, portanto, não perde tempo com isso, indo direto ao ponto. Kloves também consegue evitar o tom episódico que dominava o primeiro filme, e a narrativa surge bem mais fluida.

Novamente, a direção de arte é impecável, aumentando ainda mais os detalhes e ambientes fantásticos presentes no castelo de Hogwarts. E os efeitos visuais parecem bem mais convincentes agora, ainda mais no que tange ao personagem do elfo doméstico Dobby. A partida de quadribol vista aqui também surge mais bem "acabada" do que no anterior.

O trio principal da saga novamente não decepciona. E, mais uma vez, o destaque fica por conta do elenco secundário, que conta com atores consagrados: desde o 'shakespeariano' Kenneth Branagh (que compõe seu Gilderoy Lockhart exatamente da forma como eu havia o imaginado quando li o livro); os ótimos Alan Rickman (Snape), Maggie Smith (Professora Minerva) e Richard Harris (Professor Alvo Dumbledore); a carismática Julie Walters como Molly Weasley (uma pena que ela não apareça quase nada); Jason Isaacs, que rouba a cena como o sinistro Lúcio Malfoy; até dando-se ao luxo de usar o hilário John Cleese em uma pequena participação.

Enfim, "Harry Potter e a Câmara Secreta" apresenta-se como uma evolução bem sucedida com relação ao seu antecessor, e mais uma prova incontestável de que essa saga irá conquistar, definitivamente, tanto crianças quanto adultos.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


sábado, 9 de julho de 2011

Harry Potter e a Pedra Filosofal

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Harry Potter e a Pedra Filosofal (Harry Potter and the Sorcerer's Stone, 2001)

Estreia oficial: 16 de novembro de 2001
Estreia no Brasil: 23 de novembro de 2001
IMDb



Este primeiro filme do bruxo Harry Potter é uma adaptação bastante fiel ao livro homônimo escrito por J.K. Howling. Claro que certos fatos foram suprimidos ou alterados, afinal, levar às telas todos os detalhes da obra escrita seria um fato impossível.

E, parte deste êxito, deve-se ao trio de protagonistas escolhidos para interpretar Harry, Ron e Hermione. Respectivamente, Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson interpretam seus personagens com uma naturalidade impressionante. Porém, fica a cargo do elenco secundário - grandes atores britânicos - os grandes destaques. Particularmente sou fã de Snape, e a interpretação de Alan Rickman fez com que eu gostasse ainda mais do personagem.

Porém, o roteiro de Steve Kloves não tem a mesma fluidez da narrativa literária de Howling, e a trama, assim, ganha uma cara episódica, onde a passagem do tempo parece demasiada corrida, e, ao final, a sensação de que um ano inteiro se passou, soa forçada.

Outra sensação que o filme traz (e que não me recordo do livro) é a aparente predileção e impunidade com que os alunos da Grifinória são tratados. Por mais que os três protagonistas sejam dessa casa, no livro não me parece que haja um protecionismo por parte da autora, e os três são punidos pelos seus atos, ao mesmo tempo em que sofrem com o desprezo de seus colegas, fato que jamais ocorre no filme. Dessa forma, os perigos enfrentados por Harry e seus dois amigos não soam tão preocupantes e urgentes quanto no livro.

Já a parte do visual é impecável. Ainda que os efeitos visuais vistos durante a partida que quadribol sejam um tanto quanto desejosos, no restante do filme, sempre convencem. E a direção de arte é primorosa em todos os seus detalhes.

Finalmente, o consagrado compositor John Williams consegue criar um tema marcante para o personagem. Enfim, a versão cinematográfica do primeiro capítulo da história do bruxo mais famoso do mundo não decepciona, e é só a promessa de uma grande saga.


por Melissa Lipinski


quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante, O (The Cook the Thief His Wife & Her Lover, 1989)

Estreia oficial: 13 de outubro de 1989
IMDb



A história narrada no filme “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante”, parece tão simples quanto o seu título: Albert Spica (Michael Gambon), um criminoso rude e violento, visita diariamente o seu restaurante, Le Hollandais, sempre acompanhado de seus capangas e de sua mulher Georgina (Helen Mirren). Cansada das grosserias e bizarrices de seu marido, Georgina flerta com um solitário frequentador do local, Michael (Alan Howard), que é dono de uma livraria. Apaixonados, os amantes encontram-se às escondidas no restaurante, com a cumplicidade do chef de cozinha francês Richard (Richard Bohringer). Quando Albert descobre a traição da esposa, ela e seu amante fogem e se escondem no depósito de livros de Michael; porém, ao encontrá-los, Albert desfecha uma cruel vingança contra Michael, que por sua vez, será vingado por Georgina.

Pode-se dizer que a história é a menor das preocupações de Peter Greenaway (isso não quer dizer que ela seja menosprezada), que sempre foi um cineasta das sensações, priorizando a forma ao conteúdo. Para o diretor, um filme é feito sobretudo de imagens em movimento, portanto, a ele interessa mais a composição do plano cinematográfico do que a composição do roteiro em si. Seu olhar tem a mesma sensibilidade da visão de um pintor (e muito disso deve-se à sua carreira simultânea como artista plástico): ocupa-se em representar meticulosamente as cores na tela, a disposição dos objetos em cena, o movimento dos atores diante da câmera. Tanto que Greenaway chegou a dizer (logo antes da estreia de “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante”, em 1989): “A única arte que me ensinou algo foi a pintura, eu penso que ela é arte suprema. Se você quiser contar histórias, seja um escritor e não um cineasta”. E a sua preocupação com os detalhes da imagem é o que dá ao filme tantas possibilidades de interpretação.

O filme apresenta uma combinação de sete banquetes, distribuídos entre nove dias, os quais são identificados por menus do restaurante, que auxiliam na separação da narrativa em atos, aproximando a estrutura do filme a do teatro. O prólogo começa com a abertura das cortinas, o que já remete a uma certa teatralidade na representação. As cortinas voltam a aparecer no final, dando a entender que toda aquela história foi apenas uma ficção, uma dramatização. O filme também é montado com um ar teatral, como se o observador estivesse ali, olhando o deslocar dos personagens de um cenário para outro. A câmera, paralela à ação, acompanha os personagens como se fosse o olhar (subjetivo) do público presente.

Também o modo como cada ambiente está caracterizado com um código cromático auxilia que o espectador siga o movimento horizontal da ação. Nesse cenário teatral, a continuidade se rompe: do azul do estacionamento ao verde da cozinha, do vermelho do salão principal do restaurante ao branco do banheiro, assim como o amarelo-dourado da livraria e do hospital.

Sobre o verde, presente na cozinha, o próprio Greenaway diz que "representa a floresta de onde vem todo o alimento, pois se relaciona com a natureza em seu momento de maior vitalidade e exuberância". No entanto, a cor é colocada num ambiente que aparenta estar sempre imundo e fétido. Porém, verde também é a cor que popularmente significa a esperança, e pode ser assim interpretado, já que é na cozinha onde os amantes costumam se encontrar e onde o amor se consuma - como uma esperança de uma nova vida para Georgina, longe da violência e escatologias de seu marido. Também é na cozinha onde está Pup, o menino-anjo, com seu canto castrato, pedindo redenção; e onde está o cozinheiro, sensato e criativo. Será na cozinha a concretização dos principais fatos do filme, tanto para cenas extremamente violentas e degradantes, como para cenas belamente poéticas. Portanto, o verde tanto pode se referir à decadência, à matéria decomposta e à imundície; como também à esperança, vida e discernimento.

O estacionamento é azul, mas, em alguns momentos, o chão parece esverdeado, pois a luz verde da cozinha incide sobre ele, dando a impressão que, de certa forma, os dois ambientes confundem-se. Este é o ambiente mais sujo, onde ficam os caminhões com carnes em putrefação, muitos cachorros e é onde a história tem início - em uma cena que já traz indícios da violência presente em toda a narrativa, quando Albert humilha um homem ao colocá-lo em uma condição subhumana. Mas esse é só o início das cenas violentas que têm como cenário o estacionamento, onde Albert e seus capangas chegam a parecer animais ferozes, como na sequência em que Albert força Pup a testemunhá-lo abusando sexualmente de Georgina; ou ainda quando Albert e seus capangas torturam Pup, cortando-lhe fora o umbigo.

O restaurante é vermelho, "tom de sangue" segundo o diretor, e pode ser visto como a representação da animalidade do ato selvagem da comilança. É uma cor quente, associada aqui, às provocações da gula, da exuberância das atitudes grotescas de Albert; e também pode indicar o perigo que ronda o seu personagem. Por outro lado, pode significar glamour e sofisticação, que contrastam com os hábitos grosseiros do ladrão, o qual, ao mesmo tempo em que é rude e violento, parece se preocupar com a etiqueta, pois insistentemente cobra de seus capangas boas maneiras à mesa, mesmo que ele próprio não as possua.

Antagonicamente, o banheiro, local de expelir excrementos, as fezes, a urina, apresenta-se com uma ligação direta com a limpeza, como uma região purificada. O que pode ser interpretado como uma inversão de conceitos realizada por Greenaway. Para o diretor, o banheiro, local onde os amantes fazem amor pela primeira vez, "é como o paraíso", e assim como ele, tinha que ser branco.

O amarelo-dourado representado no depósito da livraria e no hospital, pode ser visto como o valor dos livros em relação à cultura do homem, bem como a sanidade estabelecida a partir das relações do ser humano sendo tratado. É o poder do conhecimento e da saúde físico-mental, que parece estar exprimido pela cor reluzente do ouro.

Mas as diferenças dos cenários vão além das cores na iluminação e nos objetos de cena. Enquanto o salão do restaurante e o banheiro são impecavelmente decorados e limpos; a cozinha e o estacionamento parecem guardar tudo o que é imundo - a sujeira e a podridão.

Os figurinos, principalmente os de Albert e de Georgina, também sofrem as alterações cromáticas, adequando-se ao ambiente onde os personagens se encontram. Assim, o vestido de Georgina, por exemplo, que era azul no estacionamento, torna-se verde na cozinha, passando a vermelho quando ela está no salão principal, e branco, quando no banheiro.

Mas não é apenas este fato que chama a atenção nos figurinos do filme. Pode-se observar um ar um tanto rebuscado nas vestimentas, que parecem tiradas diretamente de um desfile de alta costura. Também não era para menos, já que o figurinista é o aclamado estilista Jean-Paul Gautier.Há um certo excesso nos detalhes dos figurinos de Albert e seus companheiros, com faixas que cruzam o peito e a barriga, remetendo às roupas do século XVI ou XVII, mantendo uma certa semelhança com os trajes presentes no quadro disposto na parede de fundo do restaurante - “Banquete dos Oficiais da Companhia da Guarda de São Jorge” (1616), de Frans Hals. De fato, o que diferencia os personagens desse quadro são os babados no pescoço que não são utilizados por Albert e seus companheiros. Há aí uma certa paródia e crítica à burguesia britânica, que mantêm seus valores e costumes há décadas.

De maneira oposta, as roupas criadas para Michael, o amante, são ternos discretos, com corte clássico e cores pastéis; e que, normalmente, não alteram muito sua tonalidade nos diferentes ambientes. Michael é um intelectual e não representa, contrariamente a Albert, as classes sociais com maior poder econômico.

Já os vestidos de Georgina são apontados pela discrição e, ao mesmo tempo, pela excentricidade. São roupas de corte simples mas que não dispensam a composição feita pelos detalhes que chamam a atenção - penas, plumas, franjas, luvas, chapéus e bolsas - formando um conjunto sempre vistoso. Seu vestido da cena final, é um espetáculo à parte: possui um ar sado-masoquista, parecendo uma teia - uma alusão, pode-se dizer, da armadilha final que ela monta: ao servir o seu amante assado para que Albert o coma. A teia também pode remeter à ideia de aranha ou, no caso de Georgina, de uma viúva-negra, já que os dois homens que lhe proporcionavam prazer - Michael sexualmente, e Albert com o prazer da comida (já que é o dono do restaurante) - acabam mortos em uma relação direta com ela.


A temática do filme enuncia violência, sexo e comida como fazendo parte de uma vingança que acaba em canibalismo, o que pode ser interpretado como uma reflexão do homem moderno e sua natureza animal. Para isso, Greenaway usa e abusa do grotesco, como na cena na qual os dois amantes fogem para a livraria. Para isso utilizam um caminhão de carnes que fora deixado às portas do restaurante logo na primeira cena. Porém, quando o veículo é aberto, a sua carga apresenta-se podre, em estado de decomposição, com a presença de vários vermes.

É como se a fuga de Georgina e Michael estivesse fadada ao insucesso, como se fosse um prelúdio do que estaria por vir. E, realmente, o que se segue são sucessivas cenas de crescente violência. A começar pela tortura do pequeno Pup, para que ele revele o esconderijo dos dois amantes. Mas este é apenas o começo. Logo na seqüência, na cena em que Albert acha a livraria, presenciamos o seu ato máximo de crueldade: quando ele asfixia Michael fazendo-o engolir o seu livro favorito.

O auge do filme é, sem sombra de dúvidas, a sua cena final: a vingança de Georgina - quando ela convence o chef Richard a assar o seu amante para que este seja servido a Albert. Mas a plasticidade não está presente apenas neste 'banquete' final, e sim em todas as comidas presentes ao longo da narrativa. É o aspecto refinado, a imagem visualmente performatizada, dos pratos servidos por Richard (principalmente os direcionados a Georgina) que instigam os sentidos do espectador. A gastronomia apresentada no restaurante, como arte da composição, entra em oposição com os alimentos da cozinha, que parecem estar sempre sujos, como peixes crus e patos sendo depenados; e com as carnes dos caminhões, que já se encontram no estado de decomposição.

Talvez hoje o filme de Peter Greenaway não cause mais um choque tão grande. Mas a beleza e a plasticidade de sua composição, assim como os vários níveis de relações e leituras que se podem fazer da sua obra, essas são eternas.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


P.S.: Parte do trabalho realizado para a Disciplina de Semiótica do curso de Especialização em Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná, em junho de 2011.


terça-feira, 5 de julho de 2011

Ronda da Noite

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Ronda da Noite (Nightwatching, 2007)

Estreia oficial: 02 de novembro de 2007
Estreia no Brasil: lançado diretamente em DVD
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Ao assistir a este "Ronda da Noite", de Peter Greenaway, é inevitável não fazer uma ligação direta com o belíssimo "Moça com Brinco de Pérola" (2003), de Peter Webber. Ambos ficcionam sobre a história por detrás dos quadros de dois dos mais famosos pintores holandeses do século XVII. Enquanto o filme de Webber tratava sobre o quadro homônimo de Vermeer, o de Greenaway também tem como pano de fundo a realização da obra de mesmo nome de Rembrandt. A estética da fotografia dos dois filmes também se assemelha, já que ambos, cada um a seu modo, tentou remeter à aparência das obras de cada um dos pintores. Até Martin Freeman, que interpreta Rembrandt, lembra Colin Firth como Vermeer.

Mas, as semelhanças param por aí. Peter Greenaway imprime sua marca tão característica à sua obra, transformando-a numa espécie de teatro filmado, onde a maioria da ação acontece como se estivesse à frente do espectador, com cenários que remetem ao teatro ou à ópera. Inclusive o descortinar da cena inicial, faz com que o autor deixe claro que o que veremos dali em diate faz parte de uma encenação, e não de uma realidade. É a quebra da ilusão da suspensão da descrença (efeito onde o especatdor toma a ficção como parte de uma realidade e crê nela como um evento real).

Teatral também é a performance dos protagonistas que, vez por outra, interrompem a narrativa para dirigir-se diretamente ao espectador.

Cada plano idealizado por Greenaway é como se fosse uma pintura de Rembrandt, já que a belíssima fotografia de Reinier van Brummelen recria os efeitos de luzes e sombras das obras do pintor. Só que Greenaway não fala apenas do quadro de Rembrandt, mas usa-o como ponto de partida para retratar a vida privada do pintor e criticar o modo de vida da burguesia do século XVII, numa clara alusão à sociedade contemporânea.

O ritmo lento (também característico do diretor) e os difíceis diálogos fazem de "A Ronda da Noite" uma experiência menos palatável para aqueles adeptos do 'cinemão' hollywoodiano. Porém, para aqueles que derem uma chance à rebuscada narrativa de Greenaway, irão se deliciar com uma trama policial travestida de filme de arte.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sonhando Acordado

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Sonhando Acordado (La Science des Rêves, 2006)

Estreia oficial: 16 de agosto de 2006
Estreia no Brasil: 30 de outubro de 2007
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Michel Gondry é um artesão de histórias calcadas na realidade fantástica. Fábulas que se beneficiam de seus efeitos visuais para ganharem formas. Este "Sonhando Acordado" é seu primeiro trabalho solo como roteirista (ele escreveu "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" em parceria com Charlie Kaufman), e vem corroborar com sua cinematografia marcada pela criatividade e originalidade.

Gael Garcia Bernal é Stephane, um jovem de mãe francesa e pai mexicano, que volta para a França depois de morar um tempo no México. Stephane tem dificuldade em distinguir o que é realidade e o que é sonho, o que acaba confundindo um pouco sua vida, já que o tímido rapaz parece se sentir mais à vontade em seus sonhos. Quando conhece a sua vizinha Stephanie (Charlotte Gainsbourg), Stephane começa a gostar mais da vida real, porém sua insegurança e sua confusão entre sonho e realidade podem impedir a concretização deste relacionamento.

Essa confusão do protagonista faz com que Michel Gondry possa brincar com os objetos de cena, fazendo cenas de uma apurada qualidade técnica (mesmo que o seu orçamento tenha sido pequeno), comprovando a inventividade do diretor.

Os diálogos ácidos e ligeiros ajudam a dar ritmo à narrativa, e a excelente atuação de Bernal e Gainsbourg evitam que seus personagens caiam no caricato e faz com se tornem tridimensionais.

Deixando claro que a fantasia é bem mais aprasível e fácil de ser encarada do que a realidade, Michel Gondry transforma a história entre Stephane e Stephanie em uma alusão à relação entre espectador e cinema. A fantasia de um amor perfeito dos contos de fadas e das histórias cinematográficas é mais fácil do que a realidade de uma relação que precisa ser construída e conquistada constantemente, diariamente. Cabe a nós, espectadores, sabermos a dose certa entre nossas fantasias e nossa realidade. Michel Gondry, como todo bom artesão, nos mostrou como fazer (ou como não fazer), resta a nós colocar em prática.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


domingo, 3 de julho de 2011

Rebobine, Por Favor

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Rebobine, Por Favor - Uma Locadora Muito Louca (Be Kind, Rewind, 2008)

Estreia oficial: 22 de fevereiro de 2008
Estreia no Brasil: 30 de janeiro de 2009
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Michel Gondry é um cineasta conhecido pela sua inovação e criatividade. Desde os videoclipes que dirigiu até seus longas, as dificuldades técnicas nunca foram problemas para o diretor, que, chegou a criar efeitos visuais com fotografias, ou ainda contornar o uso de efeitos digitais construindo cenários que suprissem o seu uso. Neste aspecto, pode-se dizer que este "Rebobine, Por Favor" tem um quê de auto-biográfico.

Dirigindo pela primeira vez uma história de sua autoria exclusiva ("Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças", de 2004, foi co-escrito com Charlie Kaufman; e "Natureza Quase Humana", de 2001, escrito apenas por Kaufman), o roteiro gira em torno de dois amigos, Mike (Mos Def) e Jerry (Jack Black), que decidem recriar grandes obras cinematográficas hollywoodianas depois que Jerry sofre um acidente e desmagnetiza todas as fitas VHS da locadora onde Mike trabalha. Locadora esta cujo dono, Elroy Fletcher (Danny Glover), está prestes a ser despejado para que haja a modernização do prédio. Assim, quando os filmes "suecados" (como chamam as fitas que Mike e Jerry regravam) começam a fazer um enorme sucesso, surge um última oportunidade de salvar o empreendimento do Sr. Fletcher.

E é nas regravações das superproduções do cinema estadunidense que o filme ganha o seu charme. "Conduzindo Miss Daisy", "2001 - Uma Odisséia no Espaço", "Caça-Fantasmas", "A Hora do Rush 2", "O Rei Leão", "Os Donos da Rua", "King Kong", "Carrie - A Estranha", "Robocop", "Rocky"… A lista de filmes suecados é longa. E é justamente quando Gondry, emulando um único plano sequência, mostra uma série de filmes "suecados" sendo gravados, a cena mais bela do longa. A nostalgia é inevitável.

Por vezes uma clara homenagem aos longas recriados, por outras incluindo certa crítica àquelas produções, "Rebobine, Por Favor" é uma clara alusão ao processo de produção de filmes. Gondry, através de Mike e Jerry, vai revelando (mesmo que de forma artesanal e sem que os personagens saibam o porquê estão utilizando determinados recursos) métodos e técnicas de realização. Como na cena onde, depois de gravar vários depoimentos em fitas K7 que servirão como base de um pseudo-documentário, os protagonistas espalham estas fitas sobre uma mesa e, a partir delas, determinam a ordem das cenas do filme que estão prestes a realizar; mesmo artifício que muitos roteiristas fazem ao escrever, porém em vez das fitas, utilizam cartelas.

Mas como falei, Gondry não apenas homenageia o cinema, também o critica. E sua crítica vai além, pois alfineta a produção contemporânea de filmes não pelo viés do lugar comum, criticando a indústria (não que esta saia ilesa da crítica). O seu olhar volta-se para o público consumidor, que é quem procura por filmes descerebrados, levando à massiva produção destes.

Enfim, "Rebobine, Por Favor" é engraçado quando volta-se para a produção caseira dos filmes "suecados" de Mike e Jerry, e tocante quando torna-se uma bela homenagem (sem perder a visão crítica) ao Cinema.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski