quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Espião que Sabia Demais

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Espião que Sabia Demais, O (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011)

Estreia oficial: 16 de setembro de 2011
Estreia no Brasil: 13 de janeiro de 2012
IMDb



"O Espião que Sabia Demais" passa-se em plena Guerra Fria, tendo como foco o MI6, serviço de inteligência britânico. Posicionando-se entre o conflito entre Estados Unidos (CIA) e a União Soviética (KGB), o MI6 tenta, a todo custo, conseguir informações privilegiadas que o coloquem em uma posição de destaque. E, se não bastasse toda essa tensão, o serviço secreto de sua majestade ainda tem que lidar com a traição dentro da sua própria equipe.

O roteiro escrito por Peter Straughan e Bridget O' Connor (baseado no romance homônimo de John le Carré) aborda justamente essas duas frentes. Logo no início vemos o agente Jim Prideaux (Mark Strong) em uma missão em Budapeste, tentando descobrir informações sobre quem seria o agente duplo dentro do MI6. Como a operação fracassa, seu chefe, Control (John Hurt), e seu braço direito, Smiley (Gary Oldman) são afastados do comando do MI6, que passa a ser dirigido por  Percy Alleline (Toby Jones), Toby Esterhase (David Dencik), Roy Bland (Ciarán Hinds) e Bill Haydon (Colin Firth). Porém, logo Smiley é chamado pelo governo britânico para que, secretamente, investigue a identidade do tal agente duplo; enquanto os atuais mandantes do serviço secreto tentam convencer o primeiro-ministro a apoiá-los em uma grande missão onde, supostamente, conseguirão informações valiosas sobre os planos da KGB.

O tom da narrativa imposto pelo diretor sueco Tomas Alfredson é sempre melancólico. Não só pela constante atmosfera de traição que cria, como também corroborado pela ótima paleta de cores, em tons de marrom, criada pelo diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema; que também mantém a maioria das cenas envolta em névoas, intensificando o clima frio que ronda os personagens.

Tal clima é intensificado pela excelente direção de arte, que cria ambientes que dizem muito a respeito dos personagens. Os detalhes nas composições vão desde a ambientação das salas do MI6 até a escolha dos figurinos dos personagens. A sala de reuniões do comando do serviço secreto é um espetáculo à parte, com suas paredes revestidas com material à prova de som, e que criam um ambiente tão opressivo quanto minimalista, sem deixar de ambientar a época em que o filme se passa.

Conseguindo conduzir a intrincada trama com segurança, Alfredson e seu montador Dino Jonsäter. optam por uma narrativa não linear, que vai e volta no tempo com fluidez, sem nunca soar confusa. Porém, a espionagem que se vê neste "O Espião que Sabia Demais", em nada remete àqueles filmes de ação à la James Bond. Aqui, o jogo todo é psicológico, realizado por indivíduos mais velhos, que aparentam constante cansaço, treinados durante uma vida inteira, e que há muito desistiram de qualquer tentativa em manter uma vida pessoal (até o envolvimento 'romântico' de determinados personagens revela-se parte do jogo político).

E dentre todos estes agentes o foco, é claro, recai sobre Smiley, e o longa de Alfredson mostra-se um excelente estudo de personagem. E a atuação magistral de Gary Oldman é peça fundamental para isso. Sempre comedido e tendo absoluto controle de suas emoções, Smiley sempre aparece de forma oposta ao que seu nome sugere ('sorridente'). Ator acostumado a arroubos de interpretação, tal discrição de seu personagem chama ainda mais a atenção e comprova o enorme talento de Oldman. É admirável, por exemplo, a contenção de qualquer emoção na cena em que Smiley recebe a notícia de que será afastado do MI6; ou naquela em que flagra a traição de sua esposa; ou ainda, quando demonstra todo seu preparo e eficiência como agente, na sequência em que, dentro de um carro, uma mosca voando atrapalha a todos que insistem em espantá-la - porém, esperando o momento certo, Smiley simplesmente abre a janela para que ela saia dali. Uma belíssima síntese da personalidade do agente.

Contando ainda com subtramas que resumem com excelência o espírito do filme: sacrifícios de vidas pessoais em prol de um bem maior, "O Espião que Sabia Demais" pode até não agradar ao grande público pelo seu ritmo lento, que traduz a atmosfera fria e altamente bem calculada da trama. Porém mostra que espionagem não era (e nem o é atualmente) feita apenas com perseguições e tiroteios, mas principalmente por aqueles que detêm a técnica e a paciência em um jogo de inteligência.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski



Um comentário:

Lipinski disse...

Quero muito ver esse filme, mas não encontro para baixar...