sábado, 28 de janeiro de 2012

O Pecado Mora ao Lado

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Pecado Mora ao Lado, O (The Seven Year Itch, 1955)

Estreia oficial: 3 de junho de 1955
IMDb



A grande maioria das pessoas conhece a famosa cena na qual Marilyn Monroe tem seu vestido branco levantado pelo vento que vem dos túneis do metrô. O que muita gente não sabe, no entanto, é que o tal filme sofreu vários cortes da 20th Century Fox para poder ser lançado.

Assim, "O Pecado Mora ao Lado" acabou se transformando em uma comédia de costumes que, à primeira vista, pode parecer tola e inocente, fora do padrão dos filmes de Billy Wilder; mas que demonstra tal cinismo e críticas social e moral contidas em suas entrelinhas, que não poderia ter sido realizada por outro cineasta.

O roteiro de George Axelrod e de Wilder já demonstra sua origem teatral (baseado na peça homônima do próprio Axelrod) na manutenção de pouquíssimos cenários - a trama se passa quase que exclusivamente dentro do apartamento do protagonista, Richard Sherman (Tom Ewell) que, ao mandar sua esposa Helen (Evelyn Keyes) e seu filho para passarem as férias de verão no interior, vê-se tentado 'às fraquezas da carne' ao conhecer uma sedutora vizinha (Marilyn Monroe) que locou o apartamento de cima do seu.

Muitas são as histórias que cercam essa produção: as várias modificacões que Wilder teve que fazer para não explicitar que a traição de Richard realmente se concretizava; o casamento de Marilyn com o jogador de beisebol Joe DiMaggio que teria acabado depois da cena imortalizada que citei ali no primeiro parágrafo; a dificuldade que a atriz tinha para chegar no horário e em decorar suas falas (Wilder chegou a gravar 40 takes de um só plano até que ela acertasse seus diálogos!); o contrato de Marilyn com a 20th Century Fox que garantia que ela seria a estrela dessa adaptação, e que o filme seria produzido em cores (Wilder queria tê-lo feito em preto e branco)… Enfim, a lista vai longe. Mas os boatos não interferem em nada na qualidade do longa. Claro que o final pode até ser considerado um tradicional 'happy ending', mas não se pode esquecer que o ano era 1955, e o código Hays, que impunha regras morais e de conduta aos filmes hollywoodianos, por mais que já estivesse em descenso, ainda influenciava na censura.

Mas Billy Wilder era Billy Wilder e, por mais que mudasse diversas vezes sua história, continuava deixando um diálogo escancarado ou de duplo sentido, uma pausa, um olhar ou apenas um mero suspiro que transparecesse todo o tom cínico e de crítica a uma sociedade hipócrita e machista.

Se no início do filme o cineasta já deixa bem claro a sua intenção quando o protagonista, em uma narração em off, revela o 'costume' dos cidadãos nova iorquinos ao mandarem suas esposas para longe no verão e se comportarem como solteiros; outras 'alfinetadas' do diretor soam mais discretas ou subentendidas, e assim, mesmo com toda a censura, Wilder conseguia falar sobre racismo, homossexualismo (há dois decoradores que moram juntos no último andar do prédio), e a 'objetificação' da mulher - não é à toa que a personagem de Marilyn não tem nome e, além do mais, ela tem plena consciência do efeito que causa em qualquer homem.

E por falar nisso, o filme é mesmo de Marilyn Monroe. Ela, sem dúvida alguma, possuía um magnetismo, e 'devorava' as câmeras. Além de esbanjar sensualidade (o que os seus figurinos insistiam em evidenciar) de forma inocente (o que pode parecer um contrassenso, mas é a melhor forma de defini-la), Marilyn ainda tinha carisma de sobra e um ótimo timing para a comédia. E sua química com o comediante Tom Ewell é incontestável. Aliás, Ewell também está muito bem, principalmente quando seu personagem põe-se a delirar; mas o filme ganha mesmo quando ele e Monroe dividem a cena.

Enfim, "O Pecado Mora ao Lado" é uma deliciosa comédia de costumes que pode até parecer ingênua para os mais desatentos; mas para aqueles que a olharem com mais atenção, verão toda a malícia e esperteza de Wilder presentes, mesmo que em uma 'siimples' meia-calça esquecida sobre a cama…

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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