ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Incrível Suzana, A (The Major and the Minor, 1942)
Estreia oficial: 16 de setembro de 1942
IMDb
Quando chegou aos Estados Unidos, em 1933, fugindo do nazismo que já se consolidava na Alemanha, Billy Wilder mal falava inglês, mas com a ajuda de seu compatriota Peter Lorre, logo conseguiu um emprego como roteirista em Hollywood. Wilder, que já havia co-dirigido seu primeiro longa na França "Semente do Mal" (1934), já em sua fase estadunidense, escreveu vários roteiros, a maioria em parceria com Charles Brackett, dentre os quais "Ninotchka" (de 1939, de Ernst Lubitsch) e "Bola de Fogo" (de 1941, de Howard Hawks). Em 1942, no entanto, lutando por mais controle sobre seus roteiros, Wilder conseguiu dirigir seu primeiro filme solo, este "A Incrível Suzana", também escrito com Brackett, numa parceria que ainda duraria mais cinco filmes, dentre eles o incrível "Crepúsculo dos Deuses" (de 1950, justamente o último da dupla).
Neste "A Incrível Suzana", Ginger Rogers é Susan Applegate, uma esteticista que, cansada de penar em Nova York, decide voltar para sua cidade natal no Iowa. Porém, ela não tem o dinheiro necessário para a passagem de trem e resolve se travestir de uma menina de 11 anos para pagar apenas meia. Claro que as coisas não darão muito certo e, descoberta pelos condutores, Susan acaba conhecendo o major Phillip Kirby (Ray Milland) que, acreditando na sua história, ajudará a 'pequena' Susu. Mas devido a um problema no trem, ela precisará esperar 3 dias na Escola do Exército onde ele trabalha e, claro, os dois acabarão se apaixonando, para o desgosto da noiva do major (Rita Johnson).
Claro que, sob a ótica atual, o roteiro parece bastante inocente. Mas, mesmo assim, traz questões bastante ousadas. E, se pensamos que hoje em dia não temos tantos tabus quanto no passado, alguém pode me apontar um filme atual onde um adulto se apaixona por uma menina de 11 anos? Claro que essa questão é tratada com o humor e a leveza habituais das comédias de Billy Wilder, que ameniza o assunto travestindo Rogers, mesmo colocando-a em um bocado de situações insunantes e de duplo sentido com Ray Milland; porém, olhando superficialmente, é apenas um adulto protegendo uma garotinha, mas a malícia está ali, implícita, pero no mucho.
E é justamente nas situações de duplo sentido, que o roteiro de Wilder-Brackett sobressai-se. O próprio título origiinal já é um trocadilho, afinal poderia ser traduzido como 'o major e a menor', ou também, 'o maior e a menor (de idade)'. Além, é claro, dos diálogos rápidos e inteligentes, que ganham vivacidade quando ditos por uma ótima Ginger Rogers.
Rogers, obviamente, não parece uma garota de 11 anos, mas toda sua postura muda quando Susan traveste-se. Seus gestos tornam-se menos comedidos, sua voz mais estridente, e sua ironia e esperteza (para uma pré-adolescente) cativa não só o major Kirby, mas também o espectador.
O final, é claro, é óbvio e previsível; mas é o percurso até chegarmos lá que vale a pena. Na cena do baile, em particular, há um momento hilário, onde todas as meninas sofrem do 'mal Veronica Lake'.
Com perdão do trocadilho, é um Wilder 'menor' que vale pela sua 'menor', afinal como diz o major em certo momento: "Sabe, Susu, você é uma garota muito especial"; ao que ela responde: "Pode apostar que sim!". E ela realmente é, pode apostar!
por Melissa Lipinski
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