sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Albert Nobbs

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Albert Nobbs (2011)

Estreia oficial: 21 de dezembro de 2011
Estreia no Brasil: ainda sem data prevista
IMDb



Fazia tempo que Glenn Close não se envolvia em um filme live action. Desde 2007 encarnando com perfeição a advogada Patty Hewes da série "Damages" e emprestando sua voz à animações, Close parece ter se dedicado muito a este seu novo projeto, já que, além de atuar, também é produtora e co-roteirista junto com John Banville.

O roteiro, baseado em um conto de George Moore, fala do persongem-título, mordomo do Morrison's Hotel (nenhuma relação com o disco do The Doors; aliás, ainda hoje existe um Morrison Hotel na capital irlandesa), e que esconde um segredo: traveste-se de homem há mais de 30 anos para sobreviver. O hotel, comandado pela entusiasmada Sra. Baker (Pauline Collins), conta ainda com um pequeno número de serviçais, dentre os quais a camareira Helen Dawes (Mia Wasikowska), e o recém contratado Joe Macken (Aaron Johnson); e como um dos hóspedes fixos do local, o Dr. Holloran (Brendan Gleeson). Porém, absolutamente ninguém desconfia de Albert Nobbs. Até que um dia, Hubert Page (Janet McTeer), pintor que está trabalhando provisoriamente no Hotel, é obrigado a dividir o quarto com Albert e acaba descobrindo o seu segredo (em uma cena um tanto quanto forçada e inverossímel). Acontece que o próprio Sr. Page também possui fatos a esconder, e acaba se transformando em amigo e confidente de Albert.

O grande mérito do longa são as atuações de Glenn Close e Janet McTeer que, mais do que homossexuais ou cross-dressings, transformam seus personagens em pessoas sofridas que, devido à necessidade viram-se obrigadas a se transformar em outras pessoas. Glenn Close, principalmente, faz de Albert Nobbs um ser quase que assexuado, cujo interesse pela companheira de trabalho Helen dá-se mais por conveniência e interesse em montar, no futuro, seu próprio negócio, do que por uma paixão arrebatadora. E são nas sutilezas e pequenos atos que a atriz cria um personagem interessante, fruto de quem demonstra extrema cumplicidade com seu objeto de estudo (vale lembrar que Close já havia vivido o mesmo personagem em peça de teatro no anos 1980).

Porém, infelizmente, o roteiro não colabora. Todos os demais personagens vistos no longa não passam de seres unidimensionais e estereotipados que não têm tempo suficiente em tela para serem melhor desenvolvidos. E, se Pauline Collins e Brendan Gleeson conseguem extrair alguma coisa de seus personagens e se destacarem dos demais, é mais por mérito de suas composições do que pelo roteiro. E se Aaron Johnson nada pode fazer com um personagem que, desde sua primeira cena, já mostra qual será seu arco dramático na história; Mia Wasikowska consegue transformar sua Helen em uma personagem chata, irritante e desinteressante, e que, em nenhum momento justifica a atenção que recebe nem do protagonista, nem do Sr. Page.

Mas o pior de tudo é que, aparentemente com medo de que os espectadores não entendessem suas motivações, os roteiristas fazem Albert Nobbs falar sozinho em vários momentos, narrando o que está fazendo, ou declamando seus pensamentos, em monólogos que parecem extraídos diretamente das novelas da Globo.

Contando com um ritmo irregular e um desenvolvimento da narrativa que se prende em supérfluos (por que, por exemplo, perder tempo com tantos hóspedes do hotel se esses não têm a mínima importância para o arco dramático e desenvolvimento da trama central?), "Albert Nobbs" traz ainda um desfecho bastante desinteressante e decepcionante para seu protagonista.

Por outro lado, a produção dirigida pelo cineasta colombiano Rodrigo García (que é filho do escritor Gabriel García Márquez) esmera-se na parte técnica. Desde a fotografia cuidadosa de Michael McDonough, até o seu design de produção e direção de arte, que recriam com perfeição uma Dublin do século XIX, além dos figurinos ricos em detalhes, que evidenciam as diferenças entre os trajes dos ricos e daqueles com um menor poder aquisitivo.

Enfim, contando com duas atuações que 'seguram' o longa, "Albert Nobbs" é um filme com erros e acertos que se equivalem, mas que teve a sorte de ter a talentosa Glenn Close como sua idealizadora.


por Melissa Lipinski


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