quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Inferno Nº 17

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Inferno Nº 17 (Stalag 17, 1953)

Estreia oficial: 29 de maio de 1953
Estreia no Brasil: 10 de agosto de 1953
IMDb



"Inferno Nº 17" é um filme de guerra cuja trama se passa inteiramente dentro de um campo de prisioneiros durande a Segunda Guerra Mundial. Porém, o grande diferencial aqui é a sua pitada de humor. Não um humor hilário, mas sim, seco, cínico, ou seja, daquele inerente a Billy Wilder.

O roteiro escrito por Wilder e Edwin Blum (baseado em uma peça de teatro), começa justamente com seu narrador, Cookie (Gil Stratton), apresentando o próprio filme: "não sei quanto a vocês, mas eu sempre fico mal quando assisto a filmes de guerra. (…) O problema é que nunca fazem filmes sobre PDG (prisioneiros de guerra)". A partir daí, conhecemos os protagonistas dessa história, que gira principalmente em torno de descobrir quem seria o espião alemão dentro do galpão onde todos eles ficam presos. E, dentre as principais figuras ali confinadas estão Sefton (William Holden), o negociante do local; Hoffy (Richard Erdman), o chefe do galpão; seu segurança, Price (Peter Graves); e os engraçadinhos Animal (Robert Strauss) e Harry Shapiro (Harvey Lembeck).

Claro que o principal suspeito de traição será Sefton, já que, através de suas habilidades de negociação, consegue regalias que seus companheiros de prisão não compreendem. O clima de traição aumenta quando um novo prisioneiro do campo, o tenente Dunbar (Don Taylor), é ameaçado ser condenado por sabotagem a um trem nazista. Assim, para provar sua inocência, o próprio Sefton começa a investigar quem seria o tal espião que delata todo e qualquer movimento dos prisioneiros aos oficiais alemães.

O clima que Wilder emprega ao longa é o da camaradagem: todos ali, prisioneiros de guerra, confraternizam e bolam seus estratagemas em conjunto. Quando um elemento entra em dissonância com o grupo - Sefton - ele logo é acusado, e o clima passa a ser de tensão. Claro que há a tensão própria pela presença dos oficiais nazistas, mas a principal é dada pelo clima de traição que impera dentro do galpão.

Mas há sempre espaço para o humor. Um humor triste, é verdade, forçado - mas como esperar algo diferente de homens que presenciaram o horror da guerra e encontram-se confinados em condições terríveis? E as piadas e os momentos de descontração não têm o propósito de fazer o espectador gargalhar, mas sim chamar a atenção para a dureza e o absurdo da realidade daqueles homens.

Mas todas essas emoções só são bem sucedidas graças ao ótimo elenco que Wilder tinha nas mãos. William Holden (que já havia trabalhado com o diretor em "Crepúsculo dos Deuses") é a força-motriz do longa, com um personagem que não faz questão de ser simpático, já que seu cinismo é o principal motivo por manter seus companheiros afastados; porém, como o público sabe de antemão de sua inocência, a identificação com ele, injustiçado, torna-se imediata. Já Robert Strauss e Harvey Lembeck saem-se bem como a dupla de 'palhaços' do campo, cujas tiradas, como falei, têm uma função bem mais importante no roteiro do que apenas a risada pura e simplesmente. Há que se destacar a presença do excelente diretor Otto Preminger como o oficial nazista chefe do Stalag 17, Oberst von Scherbach; suas rápidas aparições roubam a cena devido a seu enorme carisma, além de sua composição caricata que, propositalmente, beira o ridículo - vale lembrar que, assim como Wilder, Preminger também era austríaco e judeu, e fora para os Estados Unidos fugindo da sombra nazista que já 'rondava' seu país antes mesmo da eclosão da guerra; os cineastas também brincam aqui com a fama de Preminger, conhecido por ser rude e desagradável com seus atores - é como se o seu oficial nazista fosse uma paródia dele mesmo.

Assim, Wilder criava mais um clássico do cinema. Um retrato cínico e realista sobre uma guerra que causou a ele mesmo perdas familiares, desespero e dor. Um drama de guerra que não mostra bombardeios, explosões ou conflitos grandiosos, mas que tem em seus personagens e nas relações entre estes o seu grande trunfo. Poderoso.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


   

   

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