quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Os Nomes do Amor

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Nomes do Amor, Os (Le Nom des Gens, 2010)

Estreia oficial: 24 de novembro de 2010
Estreia no Brasil: 2 de dezembro de 2011


"Os Nomes do Amor" é uma peça rara: uma comédia romântica que exibe criatividade em sua narrativa, cuidado com o desenvolvimento de seus personagens, uma fotografia trabalhada 'emocionalmente' e, além de tudo, um fundo socio-político surpreendente.

Escrito pelo próprio diretor, Michel Leclerc, juntamente com Baya Kasmi, o roteiro, desde sua primeira cena, já trata de evidenciar as diferenças entre o casal protagonista, quando, olhando para câmera, eles literalmente apresentam-se: se Arthur Martin (Jacques Gamblin) tem um nome extremamente comum e uma personalidade introspectiva; Baya Benmahmoud (Sara Forestier) é uma jovem idealista, impulsiva e 'atirada', que chega a transar com homens de 'direita' afim de convertê-los politicamente. Em comum, porém, os dois trazem segredos de família: Arthur é recalcado pois jamais pode discutir com seus pais (extremamente conservadores) o passado de sua mãe - sobrevivente do Holocausto; já Baya foi molestada sexualmente quando criança, e tal assunto virou um tabu dentro de sua família liberal e engajada politicamente.

Além do cuidado minucioso dado ao desenvolvimento de seus personagens, fato que garante que o espectador se identifique e passe a torcer por eles, a narrativa comandada por Leclerc apresenta-se sempre criativa e, a cada cena, surpreende-nos de uma maneira diferente, seja mostrando as recordações dos protagonistas de forma engraçada; seja misturando os tempos narrativos; ou fazendo os personagens falarem diretamente com o espectador; ou ainda invertendo certas convenções - como na primeira cena de sexo entre Arthur e Baya, onde mostra o primeiro vestindo a moça, em vez de despi-la, num momento bastante inspirado e sensual.

Contando com atuações irretocáveis, Jacques Gamblin e Sara Forestier criam personagens adoráveis mas extremamente críveis em suas características tridimensionais, deixando os estereótipos e clichês (muito bem trabalhados por sinal) para os intérpretes de seus pais: os Martin - ultra-conservadores, preconceituosos e maníacos por tecnologia - interpretados por Jacques Boudet e Michèle Moretti; e os liberais, pró-estrangeiros, mas também preconceituosos Benmahmoud (Zinedine Soualem e Carole Franck).

Há ainda a criativa fotografia de Vincent Mathias que ilustra os momentos mais íntimos e felizes do casal com cores saturadas e contrastadas e uma textura mais granulada, que remete à imagem de uma câmera de vídeo caseira.

Tratando com um humor o tão batido tema 'opostos se atraem', "Os Nomes do Amor" ainda consegue fazer graça de situações extremamente delicadas, mostrando que, no final das contas, o que importa mesmo é subverter as regras com criatividade e talento.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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