quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A Separação

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Separação, A (Jodaeiye Nader az Simin, 2011)

Estreia oficial: 16 de março de 2011
Estreia no Brasil: sem data prevista
IMDb




"A Separação" é um drama que se baseia inteiramente sobre seus cinco personagens centrais e pelas interações entre eles. O que mais interessa ao diretor e roteirista Asghar Farhadi não é a história em si, mas o desenvolvimento de seus protagonistas, principalmente os dois casais envolvidos.

A partir de uma trama relativamente simples, Farhadi consegue criar personagens tridimensionais e extremamente realistas, onde ninguém é inteiramente bom ou ruim, todos são capazes de cometer atos cruéis e benevolentes ao mesmo tempo, movidos por interesses pessoais, por vezes egoístas, por outras, altruístas. Ou seja, seres humanos 'normais', independente da nacionalidade ou crença religiosa.

Assim, logo de cara ficamos sabendo que Simin (Leila Hatami) quer se separar de Nader (Peyman Maadi) por que este desisitiu de ir embora do Irã com ela e a filha deles, Termeh (Sarina Farhadi). O motivo é porque Nader não quer abandonar seu pai, que encontra-se em um estágio já avançado do Mal de Alzheimer. Assim, Simin vai morar com sua mãe e Nader contrata uma diarista, Razieh (Sareh Bayat) para passar o dia cuidando de seu pai enquanto ele está no trabalho. Razieh, porém, está grávida e trabalha contra a vontade do marido, Hodjat (Shahab Hosseini). Quando, um dia, Razieh sente-se mal e se vê obrigada a deixar o pai de Nader preso em seu quarto para ir ao médico, os mal entendidos começam e dão início a uma sucessão de processos judiciais e ações movidas por ambos os lados.

Mantendo a sua câmera sempre na mão, em movimento, o cineasta iraniano faz com que a narrativa se aproxime muito do documental, aproximando ainda mais aquelas pessoas do espectador. Sem contar que, ao escancarar aos nossos olhos os processos judiciais, torna a história ainda mais realista.

Mas o grade destaque desta história são mesmo os persoonagens e seus intérpretes. Sem reduzir suas ações em nenhum momentos a estereótipos, Farhadi torna-os tão realistas quanto imprevisíveis e capazes de atos contraditórios (afinal, são humanos). (E não leia o restante do parágrafo se não quiser saber spoilers!). Hodjat mostra-se extremamente descontrolado diante da situação, o que é totalmente compreensível já que sua esposa perdeu o bebê. Razieh pode até ter prendido um idoso doente à sua cama - o que à primeira vista parece crueldade, mas que ganha outra conotação diante do contexto em que ela se encontrava, já que seu bebê (dentro da barriga) não estava mais se mexendo. Já Simin, pode até parecer, em princípio, egoísta por querer ir para o exterior deixando seu sogro enfermo para trás, ou ao sair de casa e deixar a filha com o marido; mas num olhar mais acurado, vê-se que ela apenas quer o que acha melhor para o futuro de sua família. E o contraste entre Simin, uma mulher liberal em um país extremamente conservador e machista como o Irã, e Razieh, que é extremamente submissa e devota ao islamismo, é construído paulatina e sutilmente. E, se todas as atuações são igualmente excelentes, Peyman Maadi ainda consegue se destacar, compondo seu personagem, Nader, como um homem - da mesma forma que sua esposa - liberal, e extremamente carinhoso e atencioso à educação e criação da filha. Ao mesmo tempo em que se preocupa em passar à Termeh valores e ensinamentos que a levarão à independência de pensamentos; parece não enxergar o sofrimento que causa à adolescente ao colocá-la em situações cuja responsabilidade parece um tanto quanto pesada a uma garota de 11 anos, levando-a, inclusive, a mentir sob juízo para protegê-lo.

Contando ainda com um plano final que fecha com chave de ouro a narrativa e que mostra, literalmente, 'a separação' do casal protagonista, física e psicologicamente, Asghar Farhadi cria uma história aparentemente simples, mas que diz muito nas entrelinhas, sobre o próprio Irã, e sobre o comportamento humano.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


Um comentário:

disse...

um filme simplesmente mother fuckeeeer. daqueles de fazer o coração acelerar.