ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Homem Que Mudou o Jogo, O (Moneyball, 2011)
Estreia oficial: 23 de setembro de 2011
Estreia no Brasil: 3 de fevereiro de 2012
IMDb
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"Moneyball" pode muito bem afugentar os espectadores brasileiros por se tratar de um filme sobre baseball, um esporte nada popular por aqui. Mas aí vai um aviso: não se enganem pela premissa, pois o longa vai além. Não é um desse filmes 'padrão' de esportes (claro que há cenas de jogos, e referências às suas regras); mas é, sobretudo, um drama de personagem.
Basado em uma história real, o roteiro escrito por Steven Zaillian e Aaron Sorkin a partir do livro escrito por Michael Lewis, "Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game", conta como o Oakland A's passou de 11 derrotas seguidas ao recorde de 20 vitórias consecutivas dentro da Liga Profissional de Baseball, em 2002. E, mais precisamente, como o diretor do time, Billy Beane (Brad Pitt), auxiliado por seu braço direito, Peter Brand (Jonah Hill), desafiou a política dominante de escalação de jogadores, e apostou em estatísticas para montar um time de então desconhecidos ou renegados, contando com escassos recursos, e, como diz o título nacional, mudou a forma com que se encarava o esporte até então. Basta dizer que o famoso Boston Red Sox (principal rival do igualmente famoso New York Yankees) foi campeão em 2004 (depois de um jejum de impressionantes 86 anos) após adotar o revolucionário pensamento instaurado por Beane.
Repleto de diálogos inteligentes e, muitas vezes, divertidos (basta dizer que Sorkin é o roteirista de "A Rede Social", e Zaillian tem "A Lista de Schindler", "O Gângster", além da versão estadunidense de "Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres" em seu currículo), e personagens tridimensionais, "Moneyball" tem sua força motriz em suas atuações. Brad Pitt é, obviamente, o cerne do longa. Extremamente versátil, sempre considerei-o um ótimo ator, então não posso dizer que seu excelente desempenho nos últimos anos me surpreende. Ancorado em sua muleta de atuação preferida: a comida, Pitt cria um personagem complexo e que ganha a empatia do público, e que consegue equilibrar com maestria os momentos mais tensos dramaticamente com aqueles mais bem humorados (afinal não é de hoje que o ator têm demonstrado seu ótimo timing para o humor). E a inclusão no roteiro do núcleo familiar do seu personagem, principalmente de sua filha Casey (Kerris Dorsey), é eficaz no sentido de tornar o personagem mais real e 'humano'; além de criar os momentos mais tocantes do filme, quando Beane e Casey passam alguns momentos juntos.
Mas não é só Pitt quem se sobressai. Mesmo aparecendo pouco, Philip Seymour Hoffman, como o técnico do Oakland's A, Art Howe, cria uma espécie de antagonista à Beane, mostrando-se um personagem a quem o espectador vai antipatizar não por ele próprio (até porque não há tempo para o conhecermos o suficiente), mas pelo simples fato de não concordar (e teimar em não cooperar) com as ideias de Beane. Em contrapartida, o Peter Brand de Jonah Hill é simpático ao público por si só. Com um jeito contido, Hill cria um tipo diferente do que está acostumado a interpretar. E, se sua química com Pitt gera os melhores momentos (e diálogos) do filme, o ator continua demostrando seu grande talento para a comédia (mesmo num papel como esse, que nada tem de engraçado).
Dirigindo seu segundo longa de ficção (o primeiro foi o excelente "Capote", de 2005), o diretor Bennett Miller conduz com segurança não só os seus atores, mas consegue criar um filme coeso e com um ótimo ritmo, alternando de forma eficiente a narrativa principal, os flashbacks do protagonista e as cenas de jogos de baseball - e a opção em utilizar cenas reais dos jogos em alguns momentos, não só reafirma a origem 'verídica' da história, mas torna o longa mais orgânico. Além do mais, como toda a estratégia de Beane e Brand baseia-se em estatísticas, o diretor acerta em colocar, constantemente, os números na tela, pois, embora possamos não entender o que estamos vendo, torna suas ideias mais palpáveis e concretas, já que vemos de onde se originam.
Enfim, correto do início ao fim, "Moneyball" diverte e prende a atenção do espectador, mesmo daqueles alheios ao esporte em foco. Pode até não ser uma obra-prima, mas traz um roteiro coeso, diálogos inteligentes e espirituosos, e ótimas atuações. E não é isso que sempre queremos ver em um filme?
Fica a dica!
por Melissa Lipinski
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