quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um Conto Chinês

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Conto Chinês, Um (Un Cuento Chino, 2011)

Estreia oficial: 24 de março de 2011
Estreia no Brasil: 2 de setembro de 2011
IMDb



Ricardo Darín, como já disse aqui no blog outras vezes, é um dos meus atores favoritos. Acho que ele sabe dar vida a cidadãos comuns de maneira surpreendentemente realista. Aqui, neste "Um Conto Chinês", há mais uma prova desta sua 'marca'.

O filme escrito e dirigido por Sebastián Borensztein gira em torno de Roberto (Darín), um ferrageiro que mantém uma vida hermética, metódica, extremamente solitária e melancólica. Além de cuidar de sua loja, ele ocupa seu tempo procurando notícias fantásticas, absurdas sobre acidentes do acaso, como a espetacular cena de abertura do longa, onde uma vaca, na China, literalmente cai do céu sobre um pequeno barco onde um rapaz está prestes a pedir a mão da sua noiva em casamento. O que Roberto mal pode esperar é que justamente um desses acasos da vida fará com que ele reavalie toda a sua existência.

Baseado em diálogos rápidos e ácidos, o roteiro aposta sua graça tanto nesses diálogos como no choque entre diferentes costumes e na incomunicabilidade entre um argentino que só fala castelhano e um chinês que só fala mandarim.

Acho que o ponto fraco do roteiro é transformar o personagem Jun (Ignacio Huang) em uma muleta que serve apenas para ser o alívio cômico da trama. Transformado em uma caricatura, o personagem serve apenas para que o personagem de Darín possa percorrer a sua transformação, o seu arco dramático; e jamais é considerado como um personagem tridimensional. O fato de suas falas (em mandarim) não serem traduzidas (legendadas), é o principal fator desta estereotipização.

Assim como todo filme 'positivo' (os "feel good movies"), as situações são criadas afim de que os personagens possam sofrer transformações que os melhorem, os façam felizes, e consequentemente, pela identificação, também façam os espectadores felizes. E "Um Conto Chinês" não traz nada de novo ou especial neste quesito. O grande mérito do diretor é fazer com que o protagonista realmente pareça real, e portando, suas dores, angústias, e também seus sucessos e felicidade soam autênticos e verdadeiros.

E isso graças ao talento espetacular de Ricardo Darín (sim, não me canso de elogiá-lo), e também ao contraponto da personalidade de seu personagem com as dos outros personagens, tanto com a espontaneidade de Jun, quanto com o amor de Mari (Muriel Santa Ana).

A escolha do diretor (e roteirista) em não traduzir as falas de Jun também tornam-se um ponto positivo do longa, por mais contraditória que eu possa parecer. Pois esse fato mostra que não é preciso entendermos o que se está falando para compreendermos o sentimento, a emoção transmitida pelo filme, e a cena em que Jun fala ao telefone, no ápice emocional do longa, é a prova inconteste disso.

Contando ainda com uma meticulosa direção de arte - a casa de Roberto é um festival de lembranças e recordações; e uma belíssima fotografia; destaca-se também a trilha musical, muito bem escolhida.

Enfim, "Um Conto Chinês" é mais um ótimo exemplar do cinema argentino, que dialoga diretamente com o público, mesmo que para tanto, utilize-se principalmente de palavrões, idiomas desconhecidos e silêncios... Afinal, o que é a vida senão essa sucessão de acasos, contradições, caos e felicidade?

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


3 comentários:

Hugo disse...

Poucos escreveram sobre este filme, mas todos elogiaram.

Todos os filmes que vi com Ricardo Darin são bons, é incrível como a qualidade do cinema argentina cresceu nos últimos dez anos.

Preciso assistir este.

Até mais

Oscar disse...

Na verdade fico pensando. Não é que eles melhoraram. Nós é que temos mais acesso aos filmes argentinos. Considenrando o Academy Awards (Oscar) eles já ganharam duas vezes e nós nenhuma. Abração.

Maxwell Soares disse...

Maravilhoso e fantástico blogger. Sou uma amante da sétima arte. Temos temáticas parecidas, daí o meu interesse. Não conhecia este filme, Um Conto Chinês, e navegando na net a procura de algum material encontrei o seu. Tive uma indicação de uma amiga em meu blogger a poucas horas atrás. Excelente texto. É um blogger a ser seguido. Estou postando a trilogia do Senhor dos Aneis. Portanto, será um prazer ler sua impressão. Um abraço... Estarei seguindo...