quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Hora da Estrela

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Hora da Estrela, A (1986)

IMDb



"A Hora da Estrela", primeiro longa roteirizado e dirigido por Suzana Amaral, é uma adaptação do livro homônimo de Clarice Lispector. Possui certas modificações e liberdades artísticas em relação à obra literária, principalmente no sentido de deixar a história mais enxuta e 'cinematográfica'; mas mantém o seu espírito.

O roteiro de Amaral tem um lado mais crítico socialmente, com um olhar delicado, porém ácido, sobre as desigualdades sociais e a migração nordestina para a capital paulista. A história conta como Macabéa (Marcelia Cartaxo), migrante nordestina, sobrevive em São Paulo, trabalhando como secretária e dividindo um quarto com mais quatro moças em uma pensão suburbana. Dividindo seu dia-a-dia entre o recém conhecido namorado, Olímpico de Jesus (José Dumont), e o trabalho, onde convive com Glória (Tamara Taxman), Macabéa vai levando sua vida quase miserável.

Com uma estética 'crua', quase documental, a câmera de Edgar Moura persegue a protagonista em seu cotidiano. Notadamente influenciada pelo neorrealismo italiano (movimento cinematográfico das décadas de 1940 e 1950), a trama centra-se numa personagem 'do povo', com dificuldades econômicas, e o fato de ser nordestina também conecta-a com outro movimento, o Cinema Novo, que também preocupava-se em enfocar, dentre outras temáticas, a figura marginalizada dos nordestinos em busca de uma nova vida na cidade grande, fazendo um forte comentário sobre sua implicações sociais.

Suzana Amaral não critica explicitamente a sociedade, mas o faz de forma subliminar, discretamente. Não em diálogos ou imagens de denúncia, mas na bela composição de seus quadros, com a escolha de suas locações, objetos de cena e figurinos. No comportamento da protagonista, que se opõe aos demais. Enfim, tudo é muito sutil.

Ao colocar uma protagonista totalmente apática em cena, Clarice Lispector - e também Suzana Amaral - deixam ao público as 'tomadas de decisões'. Cabe ao espectador unir os pontos, sentir, pensar a respeito, enfim, refletir sobre a história. No fundo, "A Hora da Estrela" é uma história de amor, imperfeito e trágico é verdade, mas amor...

E o mais bonito de tudo isso, embora o ritmo do filme seja irregular e, por vezes, acabe prejudicando a narrativa, é que por mais miserável que achemos Macabéa, por mais que sintamos pena dela, também acabamos por nos identificar, e torcemos por ela. Por mais que saibamos que de nada adianta… É o famoso pessimismo de Lispector que faz-se também presente na obra de Amaral.


por Melissa Lipinski



Um comentário:

Hugo disse...

É um daqueles filmes que sempre deixei para ver depois e até hoje não conferi.

A atuação de Marcélia Cartaxo foi muito elogiada na época.

Até mais