quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Korczak

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Korczak (Korczak, 1990)

Estreia oficial: 6 de maio de 1990
IMDb



Muitas vezes acusado de anti-semitismo em seus filmes, a verdade é que o cineasta, Andrzej Wajda, sempre levanta a bandeira de seu país, a Polônia, em suas obras. Católico, Wajda acaba conferindo sua própria visão a temas bastante polêmicos, já que muitas vezes fala sobre a Segunda Guerra Mundial, quando a Polônia foi invadida pelos Nazistas, que ali foram responsáveis pelo Holocausto - genocídio principalmente de judeus.

Mais do que se colocar contra ou a favor, Wajda conta histórias (claro que seu viés católico polonês está embutido aí, seria impossível ignorá-lo). E assim é este "Korczak", filme de 1990, baseado em fatos reais, que conta a história do pediatra-pedagogo que dá título ao longa. Janusz Korczak tinha prestígio na sua época devido ao seu método em educação de crianças. Ele comandava, dentre outros afazeres, um orfanato para crianças judias em Varsóvia, capital polonesa. Quando ocorreu a ocupação nazista do seu país, em 1939, Korczak foi obrigado a mudar seu orfanato para dentro do Gueto de Varsóvia, e ele mesmo (um não judeu) foi junto, para não abandonar suas crianças.

Dentro do gueto, Korczak fez o que pôde para preservar as crianças do terror da guerra, mas, com a admissão de um número cada vez maior de órfãos da guerra sob sua tutela, isso tornava-se cada vez mais difícil. Korcsak utilizava-se de peças de teatro para incutir nos pequenos a ideia da morte, e o quanto isso era inevitável, para que eles se acostumassem a conviver com ela. Em 1942, o médico, seus funcionários e todas as crianças foram levadas para o campo de concentração de Treblinka. Não se sabe ao certo o que aconteceu com Korczak e suas crianças a partir daí. Oficialmente foram mortos na câmara de gás; mas diz uma lenda judia-polonesa que o vagão em que o doutor e seus pupilos estavam, misteriosamente soltou-se do comboio, e eles conseguiram fugir.

Wajda conta essa história de maneira crua e direta, sem amenizar em violência. A fotografia em preto-e-branco de Robby Müller colabora na frieza do discurso. Para dar ainda mais verosimilhança à história, Wajda utiliza-se de partes de filmes-notícia da época.

Porém, o roteiro de Agnieszka Holland está mais preocupado em mostrar o sacrifício do médico do que realmente ambientar a história e desenvolver seus outros personagens. Assim, muitos deles entram e saem de cena sem sabermos exatamente quem são (confesso que só fui entender alguns deles quando fui buscar mais informações sobre a vida do real Korczak). O próprio pediatra-pedagogo, vivido por Wojciech Pszoniak, sofre com a falta de profundidade e torna-se 'apenas' um mártir, mas não um ser humano - é alguém que se sacrifica em prol de uma causa, mas jamais conseguimos saber quem ele realmente é.

Mais do que ser anti ou pro-semita, vejo em "Korczak" a vontade de Andrzej Wajda em contar uma história de um 'herói'. Um herói judeu que não era judeu, mas que prolongou o máximo quanto pôde a vida daquelas crianças das quais cuidava. O final do longa de Wajda, a meu ver, apenas traduz o sentimento de um polonês dando voz às suas lendas, à esperança, independentemente de suas crenças religiosas.


por Melissa Lipinski


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