ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Mesmo Amor, a Mesma Chuva, O (El Mismo Amor, la Misma Lluvia, 1999)
Estreia oficial: 16 de setembro de 1999
IMDb
Depois de ganhar o Oscar por "O Segredo de Seus Olhos", Juan José Campanella ficou mundialmente famoso. Este "O Mesmo Amor, a Mesma Chuva" foi seu terceiro longa metragem (os dois anteriores, "Sedução Chantagista", de 1997, e "The Boy Who Cried Bitch", de 1991 - co-producões argentinas e estadunideses - confesso que não conheço); e sua primeira colaboração (de quatro; ou seus três longas posteriores) com Ricardo Darín.
Roteirizado pelo próprio Campanella e por Fernando Castets, o filme narra os encontros e desencontros amorosos entre Jorge (Darín) e Laura (Soledad Villamil), durante 20 anos (de 1978 a 1998), tendo como pano de fundo os acontecimentos que marcaram a história contemporânea da Argentina, como a ditadura militar, a Guerra das Malvinas e a redemocratização do país a partir do final dos anos 1980. Assim, os conflitos pessoais do protagonista, Jorge, são reflexos dos problemas pelos quais o seu país passa.
Porém, ao fazer tal comparação, Campanella acaba transitando por um terreno perigoso, já que acaba soando saudosista (ainda que, ao final, traga uma mensagem de esperança), e ligando bons valores (do país e do caráter do protagonista) à época da ditadura militar da Argentina, como dizendo que, apesar da repressão política e militar, havia uma certa dignidade (novamente, no país e no personagem), que vai diluindo-se com a redemocratização da sociedade (como uma substituição dos valores). Assim, de escritor de contos promissor, Jorge passa a um crítico de artes corrupto e desiludido, o que culmina numa tentativa de suicídio, para que o personagem possa reavaliar seus próprios valores. Seria Campanella assim tão desiludido com a sociedade argentina? Em contraponto, Laura percorre o caminho oposto: de atriz medíocre e idealista passa a bem sucedida produtora, vindo "salvar" Jorge ao final. Como se Campanella, mesmo desiludido, ainda acreditasse num futuro para seus conterrâneos.
Com uma estrutura narrativa clássica, Campanella não subverte, mas mostra com competância o desenrolar de sua história, ainda que alguns efeitos de transições sejam questionáveis e sem propósito. Mas a edição tem um bom ritmo e consegue fazer a narrativa fluir de forma satisfatória. A maquiagem é um dos destaques, já que consegue envelhecer os protagonistas de forma realista e convincente.
Mas o forte do longa são mesmo as atuações de Darín e Villamil (que viria repetir a dobradinha em "O Segredo de Seus Olhos"). Soledad Villamil empresta firmeza e doçura a sua personagem, contrapondo-se com a insegurança e falta de coragem que Darín imprime em Jorge. Darín, que considero um dos melhores atores da atualidade, predomina em tela, e com seu carisma, consegue transformar Jorge, que é um 'perdedor', em alguém por quem realmente torcemos; afinal de contas, ele é um bom sujeito, apesar de seus inúmeros defeitos. E é exatamente isso que o torna tão 'humano', tão tridimensional.
Apostando em coadjuvantes engraçados para dar o tom de comédia da narrativa (Eduardo Blanco e Graciela Tenenbaum estão ótimos), e em diálogos ágeis e inteligentes, "O Mesmo Amor, a Mesma Chuva" pode até não ser tão bom quanto os longas posteriores do diretor, mas vale a pena conferir para ver da onde tudo começou, de onde vieram algumas das experiências que ransformaram Juan José Campanella neste diretor consagrado dos dias atuais.
Enfim, um filme engraçado e tocante, que cativa por seus personagens.
Fica a dica!
por Melissa Lipinski
Um comentário:
É um filme extremamente simpático, que mistura drama com uma história de amor sensível e ainda comprova a química na tela do grande Ricardo Dardin e da ótima Soledad Villamil, além é claro do talento de Campanella na direção.
Um filme que merece ser descoberto.
Até mais
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