sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Filho da Noiva

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Filho da Noiva, O (El Hijo de la Novia, 2011)

Estreia oficial: 16 de agosto de 2001
Estreia no Brasil: 22 de novembro de 2002
IMDb



Segunda parceria entre o diretor Juan José Campanella e o ator Ricardo Darín, este "O Filho da Noiva" é um belíssimo drama argentino que, como pano de fundo, aborda questões importantes como o mal de Alzheimer, a crise econômica argentina e a 'pendenga' entre capitalismo e humanismo.

O roteiro do próprio Campanella e de Fernando Castets prima por colocar as relações humanas em primeiro plano, e conta um complicado período da vida de Rafael (Darín), um estressado dono de restaurante que, por causa da crise econômica, está sofrendo pressão para vender seu estabelecimento para uma grande major internacional. Junto a isso, tem que lidar com namorada Naty (Natalia Verbeke); a filha Vicky (Gimena Nóbile); a ex-mulher Sandra (Claudia Fontán); um amigo de infância insistente, Juan Carlos (Eduardo Blanco, também assíduo colaborador de Campanella); e claro, os pais, Nino (Héctor Alterio) e Norma (Norma Aleandro), que depois de muitos anos de casamento, resolvem oficializar a união na igreja.

Sutil e delicado ao retratar a doença de Norma, o mal de Alzheimer, Campanella acerta a mão na dose de melodrama que impõe à narrativa, assim como o equilíbrio com momentos mais engraçados. A base melodramática da história é quebrada por momentos de humor cínico e ferino, e dessa forma, o espectador transita do riso às lágrimas naturalmente.

Porém, assim como os demais trabalhos do diretor, a história só se complementa com a atuação. E que atuação! Darín comprova que sabe fazer o mais difícil, dar vida a homens comuns de maneira tão realista. Com seu sorriso meio cínico, seu falar rápido e seu jeito de 'boa gente', Darín parece ser um homem 'qualquer', que você poderia conhecer ou passar por ele na rua. E isso, tenho certeza, não é tarefa fácil. Já a dupla Alterio-Aleandro (do excepcional "A História Oficial", primeiro longa argentino a vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1986) emociona pela simplicidade de seus personagens. Norma Aleandro, em especial, compõe sua própria Norma de maneira delicada, e retrata de forma espetacular uma mulher que sofre com um início do Alzheimer, com seus olhares distantes e vazios, sua infantilidade, uma certa mania de pegar tudo que encontra pela rua (seja lixo ou pertences de outras pessoas). E quem já passou pela doença se emocionará ainda mais pela identificação com as situações.

Mas o que o filme traz de melhor é a sutil maneira como encara a vida, uma constante entre preocupações e relaxamentos, alegrias e tristezas. Escrevendo assim pode até parecer que é fácil ou comum. Mas não é sempre que se vê um filme tão simples e tão cativante. Campanella é campeão nisso. E, assim como em seu longa anterior "O Mesmo Amor, a Mesma Chuva", coloca essa história trivial sobre um pano de fundo político-econômico. Assim, quando um personagem responde a um questionamento dizendo: "mas quando é que não estivemos em crise [econômica]?", nós brasileiros (igualmente aos argentinos), entendemos muito bem como é essa realidade. Isso dá força à narrativa, e reitera o caráter realista do filme, ao mesmo tempo em que faz uma crítica social de forma discreta, sem levantar panfletos ou ser partidário.

Contando ainda com um quê de metalinguagem em sua história (há uma discussão entre dois personagens durante a gravação de uma cena de um filme; e uma reconciliação amorosa que se vê a partir de uma câmera de segurança de um edifício), "O Filho da Noiva" é engraçado, comovente, cativante e o que é melhor, te faz pensar sobre a vida. E não é isso que todo bom filme deveria fazer?

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


Um comentário:

Guilherme Z. disse...

Olá gostei muito do seu blog e estou seguindo-o. Se puder visite meus blogs. Tenho interesse em fazer parceria para divulgação.
Abs.

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