segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ladrão de Sonhos

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Ladrão de Sonhos (La Cité des Enfants Perdus, 1995)

Estreia oficial: 17 de maio de 1995
IMDb



"Ladrão de Sonhos" foi o segundo longa de Jean-Pierre Jeunet, e sua quinta co-direcão com Marc Caro (anterior a ele, além de "Delicatessen", de 1991, ambos dirigiram três curtas-metragem).

A história é como uma fábula infanto-juvenil, sobre um humano criado em laboratório, Krank (Daniel Emilfork), que não consegue ter sonhos. Para resolver esse problema, ele, com a ajuda de seus auxiliares (que são clones do cientista que criou a todos eles), rapta criancinha e as leva para sua torre no meio do mar afim de roubar-lhes seus sonhos. Mas, apenas consegue tirar pesadelos dos pequenos, já que seu semblante assustador mete medo em qualquer criança. Quando o irmão caçula do grandalhão One (Ron Perlman) é sequestrado, ele e sua nova amiga, a durona órfã Migalha (ou Miette, no original, interpretada por Judith Vittet), farão de tudo para resgatá-lo.

O longa de Jeunet e Caro é, acima de tudo, um exercício estético. Visualmente impressionante com seus cenários apocalípticos, chama a atenção o preciosismo dos detalhes, desde a concepção dos figurinos ou layout dos personagens até os menores objetos de cena. Tudo com um ar que lembra em muito o primeiro longa da dupla, como se a história se passasse em um futuro caótico e sem lei. Além disso, o figurino foi composto pelo estilista Jean-Paul Gaultier, auxiliando a criar seres ainda mais exóticos (característica que Gaultier já mostrara em "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante", de 1989, de Peter Greenaway).

A fotografia trabalha com as cores bem contrastadas e, juntamente com a direção de arte, faz uso preferencialmente das cores vermelha e verde (como que já prenunciando a estética de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", de 2001, dirigido por Jeunet). Cores estas que são utilizadas principalmente em seus tons mais escuros, compondo um triste e depressivo cenário que, por mais que mostre-se colorido, jamais aparenta ser vívido e alegre.

Povoados de criaturas excêntricas, o roteiro de Jeunet e Caro abusa do humor negro, que dá o tom da narrativa juntamente com o ar inocente. Neste quesito, a parceria de One e Migalha é perfeita, já que o primeiro, apesar de todo o seu tamanho, parece mais uma criança, com seus sonhos e esperanças infantis; já a garota, cansada e castigada pelas agruras de uma vida nas ruas, explorada para ser uma 'mini-ladra', tem uma perspectiva bem diferente da realidade, quase sem esperança. E é justamente essa união, retratada com o humor cínico e com a sensibilidade dos autores, que torna o filme especial.

Quanto às atuações, o destaque fica por conta de Dominique Pinon (habitual colaborador de Jeunet), e que pode mostrar todo seu talento, com seis diferentes personagens - e o rosto expressivo do ator ajuda-o, e muito, neste trabalho.

Enfim, "Ladrão de Sonhos" é uma deliciosa fábula, que pode até interessar às crianças; mas certamente vai deliciar ainda mais aos adultos.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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