terça-feira, 6 de setembro de 2011

Quanto Mais Quente Melhor

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959)

Estreia oficial: 29 de março de 1959
Estreia no Brasil: 4 de maio de 1959
IMDb



"Quanto Mais Quente Melhor" é considerada, pela AFI (American Film Institute) como a melhor comédia de todos os tempos; além disso, figura sempre entre as listas 'de melhores' do Cinema. Não é para menos, afinal essa deliciosa comédia dirigida pelo gênio Billy Wilder, e estrelada por Jack Lemmon, Tony Curtis e Marilyn Monroe, como todo filme fenomenal, não envelhece.

A história é simples. Dois músicos, Joe (Tony Curtis) e Jerry (Jack Lemmon), após presenciarem um assassinato cometido por gângteres na Chicago dos anos 1930, infiltram-se em uma banda que está indo se apresentar em Miami. O detalhe é que é uma banda feminina, e os dois travestem-se de mulher, respectivamente Josephine e Daphne. E é aí que conhecem Sugar Kowalczyk (Marilyn Monroe), por quem ambos se interessam, e que está disposta a conhecer um milionário na Flórida para se casar. Chegando ao hotel em que vão ficar, Jerry, ou melhor, Daphne, conhece Osgood Fielding III (Joe E. Brown), um milionário que casa-se e descasa-se como quem troca de roupa, e que, imediatamente, interessa-se por ela. Já Joe, finge ser um milinário para conquistar Sugar. E, quando os gângster aparecem em Miami, a situação complica-se.

O roteiro (que terminou de ser escrito apenas durante as filmagens, e que foi escrito por Wilder em parceria com I.A.L Diamond) possui a dose certa de comédia escrachada e cinismo (uma marca do cineasta), e tentava driblar a rígida censura estadunidense com diálogos rápidos e perspicazes. Afinal de contas, o filme é, acima de tudo, sobre sexo. A cena em que Marilyn tenta 'curar' o falso milionário, herdeiro da Shell Oil, interpretado por Tony Curtis é antológica, e com um simbolismo sexual muito forte. Quando Sugar beija-o (ambos colocados em posição que parecem estar deitados um sobre o outro), o sapato dele, visto por detrás dela, sobe de maneira fálica. E, logo em seguida, vemos que o gesto não foi ao acaso, já que o personagem diz estar sentindo uma estranha sensação nos pés, como se estivesse em brasas.

Outra cena que exala sexo é aquela na qual Sugar canta seu solo "I Wanna Be Loved by You", com um vestido justo e semi-transparente, que deixa seus voluptuosos seios quase à mostra. Billy Wilder e seu diretor de fotografia, Charles Lang, a iluminam de maneira que seus movimentos entram e saem de regiões com sombras, tornando-a mais provocante do que já é. Como se Wilder promovesse um striptease no qual Marilyn apenas fica passiva, sem precisar se despir (e aí o figurino tem uma importância fundamental, já que auxilia nesse processo). Porém, Marilyn parece não ter consciência deste efeito, e canta com um ar inocente. Assisitir a esta cena é entender o fascínio que Marilyn Monroe provocava (e até hoje provoca): seu ar de inocência misturado a um forte apelo sexual que exalava de seus poros aliados à uma sensual química com a câmera (e que nenhuma outra atriz na história do Cinema jamais teve).

Mas, se Marilyn rouba a cena por ser… bom, Marilyn. As atuações de Tony Curtis e Jack Lemmon são igualmente estupendas. Se Curtis fica com a melhor parte (Sugar) - a parte romântica da história. Lemmon é responsável pelo humor mais pastelão e pelas cenas mais engraçadas do longa. A clássica passagem que mostra Daphne dançando com Osgood, num timing perfeito, tanto que uma rosa passa dos dente de um para os dentes de outro, é apenas o início da melhor sequência do filme (pelo menos é a minha preferida). Aquela em que vemos o milionário de Curtis voltando para o quarto de hotel, depois da caliente noite que passou com Sugar, e encontra Daphne ainda dançando com suas maracas; o diálogo que os dois travam aí, é imbatível. Ao perguntar como foi a noite de Daphne, ela lhe responde que foi ótima, e que vai se casar. Ao que o primeiro questiona: "E quem é a garota de sorte?". "Eu sou", responde a encantada Daphne. E, sob os aparentes infrutíferos protestos do amigo, quando este lhe pergunta o que fará na lua de mel, Daphne diz: "Ele quer ir para a Riviera, mas eu prefiro as cataratas do Niágara". E estas são apenas duas frases de uma sucessão de momentos hilários. O timing cômico de Lemmon é impecável.

Impecável também é a 'rima' de várias passagens do longa. A precisão nos diálogos é tamanha, que em momentos distintos, por vezes a mesma frase é utilizada, numa elegante ligação. Os tempos das falas, as pausas, a comédia pastelão dosada com o cinismo dos diálogos, a sensualidade, o ótimo ritmo do filme… Enfim, tudo fruto da excelente direção de Billy Wilder. A sua inteligente opção em fazer o filme em preto e branco, mais do que uma ambientação da época, serviu para mascarar a maquiagem dos protagonistas, que pareceria realmente fake se fosse colorida. Enfim, uma obra-prima!

E, se ainda não bastasse isso tudo, "Quanto Mais Quente Melhor" possui a melhor frase final de filmes da história do Cinema (talvez apenas "Casablanca" se equipare neste quesito). Frase esta que foi escrita na noite anterior ao encerramento das filmagens. Wilder, em princípio, não gostou muito da ideia, mas Diamond o convenceu que era o final 'perfeito'. Bom, não vou estragar a surpresa. Se você ainda não viu o filme, merece ouvi-la sendo pronunciada depois do perfeito diálogo que a antecede.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Vou dar uma geral pelo filme. A fotografia e o som colaboram com o filme assim como a montagem. Na verdade a montagem consegue manter o ritmo e fazer com que as piadas funcionem.

O roteiro é muito bem escrito e amarrado; e a direção é perfeita (Billy Wilder também dirigiu o excelente "Se Meu Apartamento Falasse").

Mas o que salta aos olhos é a atuação. Como é bom ver um filme que a atuação se basta. A interação entre Jack Lemmon e Tony Curtis é de tirar o fôlego. Pessoalmente não curto tanto a Marilyn Monroe (estou sendo sincero, não precisa me xingar por causa disso). É que acho os outros dois tão bons, mas tão bons, que ela quase desaparece. Só não desaparece porque o roteiro necessita da personagem feminina e que gera boa parte dos conflitos.

Por último preciso citar as duas melhores cenas (na minha humilde opinião). A primeira é a conversa após o baile em que Jerry (Jack Lemmon) fala que vai casar. Entrou tanto no mundo feminino que se esqueceu de que não é uma mulher. É a cena mais hilária. A segunda, é a cena final. Jerry e seu "pretendente" Osgood Fielding III (Joe E. Brown): Jerry tenta contar que não é mulher e Osgood diz simplesmente que "ninguém é perfeito". Muito bom.

Recomendo.


por Oscar R. Júnior


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