quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Across The Universe

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Across The Universe (2007)

Estreia oficial: 28 de setembro de 2007
Estreia no Brasil: 7 de dezembro de 2007
IMDb



Sim, sou uma Beatlemaníaca declarada. Portanto, nada mais empolgante do que ver um filme cujo roteiro foi criado em cima das músicas (e também de acontecimentos da própria vida) dos quatro garotos de Liverpool. Eu não canso de assistir a "Across the Universe".

A história é simples. Um romance como tantos outros: os protagonistas se conhecem, apaixonam-se, separam-se e, ao final, reconciliam-se. Mas o que torna o longa de Julie Taymor diferente, é como as músicas dos Beatles coroam cada cena, ora reafirmando o significado das letras, ora gerando-lhes initerpretações tão distintas do senso comum.

Claro que, para encaixar as canções do quarteto de Liverpool em uma história que fizesse sentido, o roteiro apresenta alguns problemas. O pior deles, para mim, é a superficialidade de alguns personagens. Nomeados de acordo com o título de algumas canções, como Jude, Lucy, Sadie e Prudence; ou por nomes citados em outras, como Max e Jo-Jo; os personagens principais da trama recebem tratamentos diferenciados quanto ao seu desenvolvimento. Se Lucy, Jude e Max até apresentam certa consistência; Prudence, Sadie e Jo-Jo não recebem o mesmo cuidado, e suas ações e motivações nunca são claras, e eles acabam indo e vindo de acordo com a conveniência e a necessidade da narrativa.

Porém, o que poderia soar como uma falha grave na história, é contornada pelo carisma de seus protagonistas e pela química entre eles. Principalmente entre o casal principal: Evan Rachel Wood como Lucy e Jim Sturgess como Jude não só estão muito bem, como funcionam extraordinariamente como casal, convencendo-nos que pertencem um ao outro desde o momento que se conhecem.

E, se o roteiro tem falhas, o mesmo não se pode dizer da estética e do visual do longa de Julie Taymor. Com uma fotografia belíssima, é mesmo a direção de arte que se sobressai, recriando com perfeição a turbulenta e psicodélica década de 1960.

A trilha sonora de Elliot Goldenthal, como falei, dá uma nova cara às canções dos Beatles (que são interpretadas pelos próprios atores), gerando números musicais incríveis, como a chegada de Jo-Jo a Nova York ao som de "Come Together", interpretada por Joe Cocker, que participa em um papel triplo; o alistamento de Max para a Guerra do Vietnã, dando todo um novo sentido para a música "I Want You"; a comovente cena em que um garotiinho (irmão de Jo-Jo) esconde-se atrás de um carro enquanto canta a belíssima "Let It Be" durante os confrontos raciais entre a polícia de Detroit e a população negra (e que aconteceu em 1967); o desabafo de Jude enquanto canta "Strawberry Fields Forever", transformando-a em um hino anti-guerra; os delírios de um Max traumatizado com a guerra em "Happiness Is a Warm Gun", com a participação de Salma Hayek; ou ainda a sequência surreal na qual "I Am the Walrus" e "The Benefit of Mr. Kite" fazem alusão ao uso de drogas alucinógenas. São momentos belíssimos.

A direção segura de Julie Taymor (que já se mostrara em "Frida", de 2002) ainda traz 'rimas' muito bem feitas, como na canção "Hold Me Tight", que intercala uma festa típica do começo dos anos 1960 nos Estados Unidos, com o cenário underground inglês (onde nasceram os Beatles).

E são exatamente as referências de "Across the Universe" que fazem a diferença. Assim, vemos uma amizade instantânea acontecer entre Jude e Max, da mesma forma como entre John Lennon e Paul McCartney. Jude sai de Liverpool para os Estados Unidos, mesmo caminho que a banda inglesa percorreu. A gravadora dos Beatles era a Apple (maçã), a de Sadie é simbolizada por um morango. A banda de Sadie e Jo-Jo toca no telhado da sua gravadora, da mesma forma que os Beatles, em sua última apresentação, tocaram nos telhados do prédio da Apple Records.

Mas não há referências apenas a acontecimentos da vida da banda. A aparição de Bono como Dr. Robert (nome também extraído de uma canção dos Beatles) é uma clara alusão a Ken Kesey e os Merry Pranksters (grupo de artistas da década de 1960 que, assim como no filme, saíam em um ônibus escolar 'grafitado' com imagens psicodélicas, e se aventuravam sob os efeitos de LSD). O personagem de Bono é uma mistura de Ken Kesey (que anteriormente às suas experiências com o ônibus já havia escrito "Um Estranho no Ninho") e Neal Cassady, que era quem dirigia o ônibus (e foi o inspirador de "On the Road", de Jack Kerouac).

Enfim, poderia ficar horas citando as cenas que se relacionam às músicas dos Beatles, mas o melhor mesmo é que elas sejam vistas. Assim, Julie Taymor cria não apenas uma bela homenagem ao quarteto mais famoso do mundo (o que por si só já seria o suficiente), mas também um filme empolgante e comovente, que, ao final, deixa clara a sua mensagem (e que era também a proferida por John, Paul, George e Ringo): "All We Need Is Love".

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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"Across The Universe" é um musical composto somente com músicas dos Beatles. Não sei quantas exatamente, mas pelo menos umas 25 músicas são cantadas no filme. De diversos discos dos Beatles.

O filme conta o romante entre Jude (Jim Sturgess) e Lucy (Evan Rachel Wood). O rapaz que vai da Inglaterra para os Estados Unidos, conhece Max (Joe Anderson) e se apaixona pela irmã do amigo. A história é basicamente um romance, como muitos outros. Mas quando olhamos mais de perto vemos porque esse filme nos envolve tanto.

Ele tem como pano de fundo a época da Guerra do Vietnã, alistamento de jovens para ir à guerra, imensas passeatas pacifistas, luta por mais direitos das mulheres, repressão aos negros, resposta por diversos grupos entre eles os Panteras Negras e o mergulho nas drogas.

Julie Taymor já havia dirigido "Titus" (1999) e "Frida" (2002). Já em "Across The Universe" ela mostrou uma direção bem segura e que não deixa falhas. Os atores estão excelentes e os diálogos são muito bem colocados, a montagem do filme nos envolve por inteiro.

Direção de Arte e Fotografia incríveis. Na reconstituição de época, os cenários são fabulosos. Os momentos mais lisérgicos também nos saltam aos olhos. As cenas que mais me marcaram foi a da música "Let It Be", com os atores em Detroit e o garoto negro cantando, seguido pelos enterros; e a da música "I Want You", com o alistamento militar. Não que as outras cenas sejam menos incríveis, mas essas duas me marcaram mais. Além da maravilhosa mixagem de áudio, não nos deixando desprender das músicas e dos áudios ambientes.

Além disso tem uma enorme referência ao Woodstock (que aconteceu em 1968) por meio de personagens. Sadie (Dana Fuchs) que parece a Janis Joplin, o Jo-Jo (Martin Luther) que parece o Jimmy Hendrix, e o filme conta ainda com a participação do próprio Joe Cocker.

Ainda têm uma participação do Bono Vox, do U2.

Por fim, recomendo. Recomendo a todos.


por Oscar R. Júnior


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