quinta-feira, 16 de junho de 2011

Delicatessen

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Delicatessen (Delicatessen, 1991)

Estreia oficial: 17 de abril de 1991
IMDb



Em um futuro apocalíptico, nos arredores de Paris, faz-se um curioso pacto velado entre os moradores de um pequeno edifício. A moeda de troca? em sua maioria alimentos secos como grãos. O vendedor? O açougueiro que mora no tal edifício. Os compradores? Os próprios moradores. A mercadoria? Carne... Carne humana. A vítima? O mais novo inquilino, um artista circense que acaba se apaixonando pela filha do açougueiro.

É a partir desse bizarro cenário que tem início este belíssimo filme dirigido por Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro. Um roteiro repleto de críticas à sociedade travestidas no melhor do humor negro e da arte calcada no grotesco. Humor negro esse que já se vê presente no próprio título: "Delicatessen", que remete a algo gracioso e saboroso. Porém, desfilam pelo filme personagens depressivos, solitários, que não são bem aquilo o que aparentam, em lugares não tão agradáveis, comendo carne humana, uma 'delicatesse' um tanto quanto esquisita.

A direção de arte é o grande atrativo do longa. Todo o universo criado em "Delicatessen" é repleto de riquíssimos detalhes. A cenografia tem um quê que Expressionismo Alemão, que, em consonância com a fotografia, expressam o estado de espírito ambíguo de seus personagens. As cores predominantes transitam entre o amarelo e o avermelhado, predominando o tom sépia na produção. Cada ambiente (apartamentos, açougue, esgoto) visto no filme é repleto de objetos que revelam a natureza dos personagens que ali habitam.

O humor do roteiro não é escancarado, mas sim sutilmente embutido nas situações, que soam mais trágicas do que cômicas, o que acaba dando o tom engraçado. Porém, por mais que o riso venha decorrente das situações, elas estão sempre imersas numa atmosfera sombria e densa.

O trabalho sonoro realizado aqui também é irrepreensível e, em duas cenas em particular, a música vem dos sons produzidos diegeticamente pelos personagens, como as molas de um colchão antigo, uma senhora batendo em um tapete, um metrônomo que dita o compasso de uma violoncelista, um pintor de teto, dois artesão trabalhando e um homem enchendo um pneu de uma bicicleta. Ou então, uma outra cena, na qual um serrote musical faz um dueto com o violoncelo. Belíssimas!

Enfim, um filme maravilhoso em seu rigor técnico e artístico. Uma poesia apocalíptica e escatológica. Uma mistura de conto de fadas pós-moderno, cinema grotesco e pastiche romântico. Imperdível!

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


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