ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Sentimento de Culpa (Please Give, 2010)
Estreia oficial: 30 de abril de 2010
Estreia no Brasil: 29 de outubro de 2010
IMDb
Este já é o quarto longa de Nicole Holofcener, mas confesso que não assisti a nenhum dos anteriores, "Walking and Talking" (1996), "Encontro de Irmãs" (2001) e "Amigas com Dinheiro" (2006). Todos os quatro têm, encabeçando o elenco, Catherine Keener.
Aqui, Keener é Kate, uma mulher de classe média que divide seu tempo entre o trabalho e a família. Junto com o marido Alex (Oliver PLatt) tem uma loja de móveis antigos, os quais compra de parentes de pessoas recém falecidas que, ou querem se livrar logo dos pertences daqueles que não estão mais entre os vivos, ou simplesmente não sabem o que fazer com o que herdaram. Ao mesmo tempo, Kate e Alex tentam conviver (e compreender) a filha adolescente Abby (Sarah Steele), porém parecem não ter muito tato com a menina. Eles são vizinhos de porta de Andra (Ann Morgan Guilbert), uma senhora já em avançada idade que vive sob os cuidados da neta Rebecca (Rebecca Hall), cuja irmã, Mary (Amanda Peet) parece não se importar nem um pouco com a avó.
É nesse ínterim que a vida dessas seis pessoas vão se cruzando no coração de Nova York e revelando uma sensação apenas sugerida no filme (mas escancarada do título em português) de culpa. Culpa por se ter uma vida boa (mesmo que modesta) enquanto tantas outras pessoas passam fome pelas ruas. Culpa por se sentir feliz. Culpa por desejar a morte de alguém, mesmo que essa pessoa não lhe tenha feito nada de mal. Culpa por levar uma vida medíocre mesmo não sofrendo ou passando por grandes dificuldades...
E é com diálogos inteligentes e aparentemente inocentes que "Sentimento de Culpa" ganha profundidade e revela toda a hipocrisia de uma sociedade calcada em valores cada vez mais consumistas e egoístas. Onde a doação (seja de alguma coisa ou de algum sentimento) serve mais para apaziguar os seus próprios demônios do que um ato de altruísmo.
Assim, o filme logo troca o tom aparentemente cômico por um semblante mais dramático, mais depressivo. E é aí que o talento de todo o elenco (e da diretora) vêm à tona, já que, devido às atuações, o que transparece, pelo menos num olhar mais superficial, é um tom mais leve, que vai justamente contrapor-se ao que passa no interior de cada uma dessas personagens.
Ao fim do filme você poderá se pegar pensando se todos nós somos egoístas e hipócritas como as pessoas retratadas no longa... O que fazemos quando estamos frente à situações semelhantes em nossas próprias vidas? Cada um que acha sua própria resposta, e uma maneira de continuar vivendo a sua vida numa sociedade onde tal sentimento de culpa é inevitável para quem tem (nem que seja um pouco de) consciência...
Fica a dica!
por Melissa Lipinski
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