ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Micmacs - Um Plano Complicado (Micmacs à Tire-Larigot, 2009)
Estreia oficial: 28 de outubro de 2009
Estreia no Brasil: lançado diretamnete em DVD
IMDb
Jean-Pierre Jeunet é um contador de histórias fantásticas, todas elas mergulhadas em tons amarelos, vermelhos e verdes. Foi assim com "Delicatessen" (1991), "Ladrão de Sonhos" (1995) - ambos co-dirigidos com Marc Caro, "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (2001) e, de certa forma, até em "Amor Eterno" (2004). Todos trazem sua marca registrada com diálogos non-sense, a direção de arte impecável e repleta de detalhes e na belíssima fotografia que abusa das cores supra-citadas. Indícios que quando reunidos fazem o espectador dizer: "Taí, mais um filme de Jeunet!".
Neste "Micmacs - Um Plano Complicado" não é diferente. O roteiro aqui é centrado em Bazil (o ótimo e cartunesco Dany Boon), que acaba perdendo tudo o que tem depois de levar um tiro acidental na cabeça. Com a bala alojada no crânio, e sem nenhum bem, Bazil acaba juntando-se a uma incomum trupe que vive em um alojamento feito de sucatas. Cada integrante do grupo parece ter um "super poder", ou uma característica incomum, como a mulher contorcionista; ou a garota "calculadora, capaz de fazer a mais complicada das contas matemáticas; ou um inventor que é bem mais forte do que aparenta… A excentricidade vai longe… Encabeçando o grupo, está Fracasse (bom, seu nome já diz tudo, não necessita maiores explicações), interpretado por Dominique Pinon (grande colaborador de Jeunet: e se este é o sexto longa dirigido pelo diretor, é também a sexta colaboração entre Jeunet e Pinon).
Mas é quando Bazil encontra o fabricante da bala que está alojada na sua cabeça (interpretado por André Dussollier), e o fabricante de materiais bélicos (interpretado por Nicolas Marié) que foi responsável pela morte de seu pai, vítima de uma mina terrestre durante a guerra, que a história realmente começa, já que Bazil e sua turma traçam um plano mirabolante para colocar os dois 'mercadores da morte' em guerra e acabar com suas reputações e seus respectivos negócios.
Claro que por trás da história aparentemente bobinha, há toda uma crítica social, fato recorrente na filmografia do diretor, já que todos seus trabalhos, em maior ou menor grau, tecem alfinetadas contra a hipocrisia da sociedade capitalista, tudo travestido, claro, de muito humor negro.
Porém, a execução do complicado plano arquitetado pelos personagens parece atravancar um pouco o ritmo do filme, que se perde e não deixa a história fluída, já que parece se concentrar mais no plano em si do que no que poderia soar mais interessante: o desenvolvimento de seus excêntricos - e interessantes - personagens. Assim, diferentemente do que acontecia em "Delicatessen", em "Ladrão de Sonhos", e principalmente em "Amélie Poulain", os personagens deste "Micmacs" acabam sendo mais superficiais e nunca revelam-se tão interessantes quanto os dos longas anteriores.
Porém, como em todos os outros filmes com a 'marca Jeunet', a direção de arte bela e inventiva, a excelente edição e a colorida fotografia são os diferenciais. Comos nos seus dois primeiros longas, o diretor volta a trabalhar com cenários poluídos e repletos de objetos que dizem muito a respeito de seus personagens.
Finalmente, Jeunet mais uma vez brinda o espectador com uma direção rigorosa e apaixonada por aquilo que faz, gerando um filme prazeroso e que se destaca num mercado atual, tão carente de inovações e ousadias.
por Melissa Lipinski
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