quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Vida dos Peixes

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Vida dos Peixes, A (La Vida de los Peces, 2010)

Estreia oficial: 10 de junho de 2010
IMDb



Às vezes, você nem sabe explicar direito o porquê, mas um filme te cativa desde o primeiro minuto. Foi assim comigo e este "La Vida de los Peces", do diretor chileno Matías Bize, que apesar de jovem (32 anos), já dirigiu 5 longas.

O filme conta a história de Andrés (Santiago Cabrera), que volta ao Chile, depois de 10 anos, e, numa visita a um amigo durante o aniversário deste, revisita aqueles que fizeram parte de seu passado, inclusive o seu grande amor, Beatriz (Blanca Lewin).

Bize (que também é roteirista do longa junto com Julio Rojas) sabe como contar a história a partir dos diálogos que Andrés vai travando durante a festa. Despedindo-se desde a primeira cena, parece que algo impede o rapaz de sair da casa onde o longa inteiro acontece.

A grande sacada do roteiro é ter uma estrutura semelhante a de um road-movie: o tom episódico é o que dita a narrativa. Andrés vai passando por várias pessoas que, excluindo Beatriz, não voltam a cruzar com ele durante o resto da festa. E como ele caminha pela casa inteira encontrando seus antigos amigos e conhecidos, é como se fosse um "walk-movie" (não resisiti ao trocadilho!).

O que prende a atenção do espectador é justamente o fato de, aos poucos (à medida em que encontra cada uma das pessoas), ir construindo a história passada de Andrés. A cada novo diálogo, vamos descobrindo o que se passou com aquele rapaz e, em nosso imaginário, refazendo a sua vida.

A estrutura do filme lembrou-me um pouco "Antes do Amanhecer" (1995) e "Antes do Pôr-do-Sol" (2004), ambos de Richard Linklater, onde os sentimentos vão sendo revelados e construídos a partir das andanças, conversas e, principalmente, silêncios entre os personagens.

E Bize é sábio o suficiente em pontuar vários momentos com silêncios contemplativos que, mais do que levar o espectador a descobrir o que se passa (e passou) com o protagonista, leva-o a refletir sobre suas próprias indagações perante a vida.

Com uma fotografia que me pareceu inspirada em filmes de Won Kar Wai, com seus constantes flairs na lente da câmera, e luzes resplandecendo nos rostos dos protagonistas, uma cena chama a atenção por sua sensibilidade e genialidade de composição: em um lado do quadro está Andrés, do outro, Beatriz, e, em frente a eles (e em primeiro plano em relação à câmera), um aquário. Ambos contemplam os peixes nadando bucolicamente. Em seus tristes olhares, o reflexo de sentimentos não revelados, a falta de coragem de falar o que estão pensando e sentindo; ao mesmo tempo em que invejam o quão tranquila e simples é a vida daqueles peixes... Comovente.

As atuações são ótimas e dão o ar tão naturalista necessário para a direta identificação do público. Os diálogos, inteligentes, verdadeiros e intimistas, corroboram com esta familiaridade do espectador.

Ainda que a música (que parece onipresente) tenha me incomodado em certos momentos, a sutileza na construção de personagens tão densos faz com que pequenos deslizes como este sejam perdoados.

Enfim, Matías Bize dá uma prova incontestável que não é preciso histórias mirabolantes e efeitos pirotécnicos para se criar um bom filme. Prova justamente o contrário, é com tramas simples e comoventes que se faz um bom cinema.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


P.S.: Comentário escrito durante o FAM 2011.


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