ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Gato de Botas (Puss in Boots, 2011)
Estreia oficial: 27 de outubro de 2011
Estreia no Brasil: 9 de dezembro de 2011
IMDb
Depois de literalmente roubar a cena em "Shrek 2" (2004), não iria demorar para que o gatinho ruivo de olhos pidões e encantadores ganhasse um filme solo. Infelizmente um dos melhores personagens realizados pela Dreamworks perde um pouco de seu brilho nesta sua primeira (sim, Antonio Bandeiras falou que o Gato ganhará sua própria franquia) aventura.
Não que o bichano tenha perdido seu carisma ou sensualidade, pois ele permanece cínico e adorável (ainda que um pouco sentimental demais), mas o roteiro que ganhou não consegue empolgar o suficiente devido à falta de maturidade de sua narrativa. Sim, sei que a maioria do público de ainda assiste a animações é o infanto-juvenil. Mas isso não significa dizer que a história deva ser rasa, com apenas um nível de leitura (e a grande maioria dos filmes da Pixar, e o próprio "Shrek" - o originial, de 2001 - estão aí para comprovar isso).
Abandonando o clima medieval das histórias de contos de fada presente nos filmes do ogro verde, essa aventura do Gato de Botas aposta num tom mais western, intensificado pelas áridas paisagens e pela trilha sonora. O roteiro conta a origem do Gato, como ele chegou num orfanato, foi acolhido e logo fez amizade com outro órfão, o ovo Humpty Dumpty (personagem do folclore de países de língua inglesa, e que já apareceu inclusive no livro de Lewis Carroll, "Alice no País dos Espelhos"). Porém, um fato o leva a ter que fugir de sua pequenina cidade San Ricardo, e desfazer sua parceria com seu melhor amigo. Porém, anos depois, ele vê a chance de colocar suas patas num sonho de infância, os famosos feijões mágicos. Assim, o Gato novamente junta-se a Humpty e a sua nova parceira, Kitty Pata-Mansa, uma sedutora gatinha que, como seu nome sugere, tem as mãos rápidas e leves, o que a torna uma grande (e desculpem o trocadilho) gatuna. Os três partem então em busca dos feijões que os levará ao castelo do gigante, onde tentarão roubar a gansa dos ovos de ouro.
Recheando a história com personagens do mundo dos contos de fadas - ele mesmo, o Gato de Botas; o ovo Humpty Dumpty; mas principalmente a história da gansa (e não mais galinha) dos ovos de ouro e de João e o pé de feijão, o roteiro não precisa perder tempo explicando a natureza dessas histórias, já que todos estão familiarizados com elas, e pode se focar na história do protagonista. Porém, os roteiristas não conseguiram elaborar uma trama coesa e de tal maneira interessante que empolgasse do início ao fim. Porém, quando os heróis partem, literalmente, para a ação (depois de um grande flashback), o ritmo do filme melhora e você é levado pelas aventuras dos três.
E, se Antonio Banderas já está acostumado e sente-se bastante à vontade como o gato sedutor; Salma Hayek não fica para trás, e empresta sensualidade à Kitty; já Zack Galifianakis consegue dar carisma e simpatia a um personagem de moral duvidosa. Pena que os vilões Jack e Jill (Billy Bob Thornton e Amy Sedaris) sejam mal construídos (a única parte em que aparecem interessantes, quando, num momento mais íntimo, discutem sobre maternidade, é logo deixada de lado para que voltem a encarnar os tipos caricatos de bandidos mal encarados).
Contando ainda com um visual irrepreensível (porém repetitivo - parece que os realizadores de tão deslumbrados com sua tomada aérea das paisagens áridas resolveram repeti-la como que para exibi-la), "Gato de Botas" surpreende pela sua preciosidade técnica, e basta ver os movimentos dos pelos do casal principal de gatos para comprovar isso.
Porém, como disse, a trama aqui, é o grande problema, e se limitou aos contos de fadas infantis. As pitadas para um público mais adulto são poucas (ainda que a referência a "Clube da Luta" seja engraçada). Sorte que o filme contava com um protagonista encantador e extremamente carismático, pois não há como permanecer impassível ante àqueles grandes olhos expressivos e suplicantes.
por Melissa Lipinski
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