ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Carros 2 (Cars 2, 2011)
Estreia oficial: 22 de junho de 2011
Estreia no Brasil: 23 de junho de 2011
IMDb
E aconteceu o que parecia impossível! Pela primeira vez a Pixar escorrega e produz um filme realmente fraco. Não que "Carros 2" não tenha lá suas virtudes, mas está longe (muito longe) de se comparar aos outros filmes do estúdio encabeçado por John Lasseter. O próprio "Carros" (2006), podia até ser o mais infantil dos filmes do estúdio, mas ainda assim possuia grandes qualidades. Já essa sua continuação parece até mesmo deixar o bom senso de lado apenas para produzir um produto potencialmente lucrativo (e falo não só do filme mas, principalmente, de seus derivados: brinquedos, roupas e afins).
Depois de vencer seu quarto título da Copa Pistão, Relânpago McQueen volta à pequenina Radiator Springs para passar as férias com seu melhor amigo, Mate, que já traçou um roteiro completo para preencher os dias de folga do amigo. Porém, quando o carro de corridas italiano, Francesco Bernoulli, começa a alardear que é o mais veloz do mundo, McQueen interrompe seu descanso para participar de um campeonato idealizado por Sir Miles Eixodarroda, e que contará com os carros mais velozes do mundo para comprovar a eficiência de um novo combustível alternativo e renovável. Em meio a estas viagens pelo mundo, entretanto, Mate será confundido com um espião estadunidense pelos agentes Finn McMíssel e Holley Caixa de Brita, que investigam quem estará sabotando essas corridas para que o novo combustível não vingue e a gasolina mantenha-se como a principal fonte de energia para os carros.
Adotando o ar de espionagem, pelo menos a Pixar acerta em mudar o tom do filme anterior, evitando repetir fórmulas. Porém, erra ao promover Mate como o protagonista da história. Se o guincho funcionava como personagem secundário do filme original e como alívio cômico, o mesmo não se pode dizer desta vez. Tendo que aumentar (e muito) o número de piadas ao seu redor, o roteiro peca por diluir o seu potencial cômico em tiradas que, em sua maioria, soam óbvias e sem graça. Assim, McQueen é colocado como personagem secundário e relegado à única função de corroborar com a lição de moral do longa: 'não tente mudar as pessoas (principalmente seus amigos), aceite-as do jeito que elas são'.
E, se nos filmes anteriores da Pixar tais mensagens vinham 'camufladas' em roteiros que primavam pela qualidade, aqui, toda e qualquer sutileza é jogada fora com frases óbvias e clichês, que chegam a irritar. E até mesmo as tais lições parecem falhas já que, além da que mencionei no parágrafo anterior, o filme traz outras, porém moralmente duvidosas, como mostrar que os velhos e diferentes (os 'carros-limões' do filme) sentem-se acuados e invejosos, e sempre agem com raiva e más intenções; além de alardear que a gasolina é insubstituível, numa mensagem que, além de anti-ecológica, soa até mesmo perigosa se considerarmos que o filme é voltado (quase que exclusivamente) para o público infantil. E, como falei, se em seus trabalhos anteirores, o estúdio primava pelo bom senso, aqui parece estar desesperado apenas em obter lucro, não se preocupando com o teor de seu produto e as consequências que podem causar (ou alguém duvida do apelo desses personagens? Basta perguntar a qualquer garotinho com menos de 6 anos para ver se ele não sabe o bordão de Relâmpago McQueen). Ka-Chao!
Por outro lado, a Pixar mantém sua qualidade técnica e cria locações incríveis: seja na árida Radiator Springs, ou na multicolorida Tóquio. Assim como sequências de ação eficientes, como naquela que abre o longa, e nas corridas protagonizadas por McQueen. Igualmente inteligente é a transposição do universo das pessoas para mundo dos carros, e a colocação de objetos automotivos para ações mais humanas; como um jogo de cassino que é feito por aqueles dados que servem para pendurar no retrovisor, assim como muitos outros exemplos.
Enfim, apostando em uma história que nem mesmo parece se preocupar com sua própria lógica interna (basta ver quantos 'furos' o roteiro possui), a Pixar lança um filme duvidoso. Certamente vai conquistar as crianças (principalmente as menores). Já os adultos, que se emocionavam vendo "Up - Altas Aventuras", "Ratatouille", "WALL-E", "Toy Story", e tantos outros filmes do estúdio, vão ficar a ver navios… e carros… caminhões… e até papa-móvel! (Ok, ok… Meu trocadilho é do mesmo nível da animação!).
por Melissa Lipinski
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