terça-feira, 8 de março de 2011

Rango

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Rango (Rango, 2011)

Estreia oficial: 2 de março de 2011
Estreia no Brasil: 9 de março de 2011
IMDb



Gore Verbinski é um diretor que adora variar os gêneros dos filmes que dirige, já passou pelos infantis ("O Ratinho Encrenqueiro", 1997), comédia romântica ("A Mexicana", 2001), suspense/terror ("O Chamado", 2002), drama intimista ("O Sol de Cada Manhã", 2005) e aventura/fantasia (os três primeiros "Piratas do Caribe", 2003, 2005 e 2007), chegando agora no mundo da animação. E não decepciona, ao criar um desenho que também é um western.

"Rango" é uma animação que faz uma rivalidade à altura com as criadas pela Pixar, tanto tecnicamente quanto com relação ao conteúdo, uma história que vai encantar crianças ao mesmo tempo que envolve os mais crescidinhos, com um enredo complexo e repleto de referências a filmes famosos.

A galeria de personagens criada em "Rango" é impressionante. São animais que trazem as mazelas de sua vida em cada marca de seu rosto castigado. Todos os personagens típicos do western estão aí: os pistoleiros malvados, a mocinha rebelde, o índio velho, os fazendeiros oprimidos… a lista vai longe. E, embora os personagens sejam feios e sofridos, há também lugar para os mais 'fofinhos' (para agradar à criançada), como as corujas mariachis ou a pequena Priscilla, uma aparente inocente 'filhota', cujos grandes olhos doces opõem-se à dureza da sua realidade, já que a própria menina carrega consigo armas de fogo.

Já o personagem-título dessa história é, também, o seu grande diferencial. Uma espécie de mistura de Clint Eastwood e os "três amigos" ("Three Amigos!", filme estrelado por Steve Martin, Chevy Chase e Martin Short, de 1986), Rango é um camaleão que viveu toda sua vida num aquário, sozinho, o que o fez desenvolver uma grande imaginação. Pensando ser um ator capaz de desempenhar qualquer papel, quando Rango, acidentalmente, é lançado no meio do deserto e acaba indo parar numa cidadezinha no meio do oeste norte-americano, ele acaba assumindo a 'persona' de lenda local, pistoleiro, que acaba virando o xerife de Poeira (o nome da cidade). Esse personagem foi claramente baseado no personagem de Clint Eastwood em "Por um Punhado de Dólares" (1964), o pistoleiro sem nome; inclusive a roupa que Rango utiliza na sequência final, com o famoso poncho imortalizado por Eastwood.

Aliás, como falei, o filme é repleto de referências. Além do já citado, os filmes de Sergio Leone são a grande inspiração aqui. A cobra Jake é uma versão 'reptiliana' do bandido de Lee Van Cleef em "O Bom, o Mal e o Feio" (1966), com seu chapéu preto com abas retas e seu bigodinho. A trilha sonora de Hans Zimmer também é claramente inspirada nas compostas por Ennio Morricone para esses e outros filmes. Há também referência a John Wayne, ao ilustrar um personagem que caminha da mesma forma que o ator o fazia. Assim como uma homenagem a grandes sucessos do Cinema, como "Apocalypse Now", "Star Wars", "Indiana Jones" e "Pulp Fiction" (nos créditos finais). E a filmes estrelados por Johnny Depp (que empresta sua voz a Rango), como "Don Juan" e uma sequência hilária de "Medo e Delírio".

Mas é dos filmes de western que Gore Verbinski tira sua maior inspiração, e todas as sequências clássicas deste gênero tão consagrado estão presentes: duelo na rua principal da cidade, brigas nos saloons, perseguição envolvendo carruagens. Além, claro de elementos importantes, como o relógio que parece se mover lentamente, um agente funerário que parece já estar fazendo o caixão do protagonista, e por aí vai. Além dos enquadramentos super fechados que Verbinski utiliza, e que foram tão magistralmente usados por Leone, mostrando as expressões nos rostos de seus personagens. Para fechar as homenagens, o próprio Clint Eastwood aparece de uma forma inusitada, como um espírito que, justamente, vem declarar toda a importância que o oeste norte-americano teve (e ainda tem) na cultura daquele país.

Visulamente, "Rango" também lembra as antigas produções do 'velho oeste'. A fotografia, belíssima, utiliza-se de grandes planos gerais para mostrar a imensidão de suas áridas paisagens e os tons avermelhados do pôr-do-sol. Assim como enquadramentos menos usuais, que colocam objetos em primeiro plano, e a ação propriamente dira em segundo, como a entrada do herói no sallon, tendo o ventilador (e apenas o som deste) em primeiro plano; ou quando Rango caminha pelas ruas e é visto por entre garrafas d'água quebradas penduradas em varandas. Belíssimo.

Enfim, "Rango" transita de forma fluida entre momentos de maior tensão, mais cômicos e aqueles mais poéticos, como quando o protagonista parte em sua jornada de auto-descobrimento e cruza o deserto que parece chorar com a sua partida, ou quando ele atravessa uma estrada super movimentada na intenção de tirar sua própria vida.

Será que finalmente a Pixar ganhou um estúdio 'rival' que esteja à sua altura? Essa foi só a primeira animação feita pela Industrial Light & Magic. E que venham as outras!

Fica a dica!


por Melissa Lipinski

P.S: A dublagem brasileira é muito bem realizada.
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Rango é uma dessas animações que têm vários e vários níveis de entendimento e muitas referências.

Bem, vi o filme dublado e curti muito a dublagem. Bem feita e feita por dubladores mesmo. Só não encontrei a lista dos dubladores brasileiros, não achei na internet e não lembro dos nomes que vi ao final do filme.

Mas vamos lá. Como o dublador original do Rango é o Johnny Depp, no início do filme o Rango tem um monólogo e interpreta vários personagens que Depp, entre eles Don Juan ("Don Juan DeMarco", 1994). Assim como quando ele é quase atropelado pelo carro do filme "Medo e Delírio" ("Fear and Loathing in Las Vegas", 1998). Muito boa. Mais pra depois da metade do filme começam as referências ao "Apocalypse Now" e "Star Wars". Como o filme é do estilo Western não poderia faltar o Clint Eastwood em seus filmes de faroeste. E o próprio Clint aparece, com seus Oscars num carrinho de golf.

Isso porque cito os que percebi, vários devem ter passado desapercebidos por mim. E vale a pena. Muito bem construído, muito bem animado com uma ténica incrivelmente boa.

Por fim, recomendo. Recomendo a todos.


por Oscar R. Júnior



 

2 comentários:

Marcello Trigo disse...

Eu assino embaixo de tudo o que vcs disseram.

Acho, no entanto, que Rango não é pra crianças. Esse é meu medo, o de um dia levar meu filho pra ver um desenho onde uma cobra pega a mocinha e diz "Juro pelo Fogo do inferno que vou te matar!!!" Meio pesado pra crianças, cheio de armas e referências bélicas. Será que as crianças estão mais sabidas do que eu fui na mesma idade? De qualquer forma, achei pesado, e que deveria ter um aviso de faixa etária. Cenas como a do tatu amassado pela metade na estrada, ou a daquela mnosquinha que toma o suco de cactus e perde um olho, são fortinhas, fora a fala da cobra que já citei. Bom, mas o que mais gostei é ver um filme de bichinhos escrito numa linguagem que aborda temas existenciais. Sempre quis ver o que daria fazer um filme de estética infantil para adultos, e exemplos como Shrek e agora o Rango dão ótimos trabalhos. Ganharia um Oscar se tivesse sido lançado antes. Já vi duas vezes, e não lembro onde está a referência a Star Wars, mas lembro que quando vi os morcegos tocando a Cavalgada das Valkírias no banjo, lembrei na hora do Oscar! rsrsrs

um abraço

Oscar disse...

Marcello o filme têm classificação indicativa sim: 10 anos. Vi no cartaz quando entrei no cinema.

E a cena do Star Wars é a parte logo após a Cavalgada das Valkírias. Eles na perseguição, desviando das pedras é como a corrida de pods do Episodio I.
abs