quarta-feira, 30 de março de 2011

VIPs

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
VIPs (2010)

Estreia oficial | no Brasil: 25 de março de 2011
IMDb



"VIPs", inspirado no livro "Histórias Reais de um Mentiroso", de Mariana Caltabiano, foi roteirizado por Bráulio Mantovani e Thiago Dottori, e conta a história (inspirada na vida real) de Marcelo Nascimento da Rocha (interpretado por Wagner Moura), que foi preso no final de 2001 e é considerado um dos maiores vigaristas brasileiros.

O roteiro segue a linha estrutural de "Prenda-me Se For Capaz" (2002), de Steven Spielberg, e acompanha o falsário desde sua adolescência até o momento de sua prisão. Se há algum mérito na história de Mantovani e Dottori é apostar mais em seu lado cômico, transformando-o em um passtaempo leve e divertido. Porém, o filme tem problemas estruturais e, principalmente, morais, ao "desculpar" as trapaças e crimes cometidos por Marcelo através de uma doença.

Mas, felizmente, "VIPs" tem Wagner Moura, que consegue mais um trabalho sólido em sua carreira, transformando o protagonista em alguém simpático ao público, o que, diga-se de passagem, é um feito arriscado, já que Marcelo é, acima de tudo, um criminoso. Moura consegue nos fazer esquecer do seu tão famoso Capitão Nascimento (de "Tropa de Elite 1 e 2"), e encarna Marcelo com fragilidade e carisma.

Wagner só não convence mesmo no início do filme, quando tem que interpretar um adolescente de 17 anos. Wagner Moura como adolescente? Nem todo o talento do mundo poderia dar jeito nisso, não é mesmo? E a peruca 'pseudo-emo' que o ator usa nessa fase da produção é horrível! Porém, na fase adulta (e trambiqueira) de Marcelo, Wagner pode mostrar todo seu talento de um dos melhores atores nacionais, indo da alegria quase juvenil à agonia e perturbação psicológica com extrema consistência.

Com um início fraco e um final moralmente duvidoso e forçado, "VIPs" traz em seu segundo ato a sua melhor parte. Assim, o ritmo do longa oscila muito, e só quando Marcelo realmente começa a enganar e mentir descaradamente é que o filme parece engrenar, mas só para descambar em seu terço final.

E assim chego no maior equívoco de "VIPs", o de justificar as ações de Marcelo como se fosse uma doença. E, por mais que a trama que envolva seu pai (assim como a edição de imagem e som que dão pistas da sua real condição) seja eficiente, o filme parece duvidar da inteligência do espectador. Como um cara com um raciocínio rápido e racional se auto-engana a tal ponto de realmente acreditar na mentira que está contando? A enfermidade do personagem acaba servindo para suavizar seus crimes (já que ele era contrabandista e traficante, além da falsidade ideológica) e suas escolhas morais.

Dessa forma, os realizadores perderam a chance de mergulhar mais a fundo na mente de um personagem fascinante - assim como o era o Frank Abagnale Jr. de Leonardo DiCaprio no ótimo "Prenda-me Se For Capaz".


por Melissa Lipinski


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