quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Scott Pilgrim Contra o Mundo

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs. the World, 2010)

Estreia oficial: 13 de agosto de 2010
Estreia no Brasil: 5 de novembro de 2010
IMDb



"Scott Pilgrim Contra o Mundo" é um filme de nerd para nerds. Explico. Baseado numa graphic novel (que não conheço), o filme tem uma estética que muitas vezes lembra bastante quadrinhos. Porém, na grande maioria do filme, ele parece bem mais um videogame. Quadrinhos e videogames… Poderia ser mais nerd?

Sim! É só ver seu protagonista. Interpretado por Michael Cera (que vem se especializando em 'tipos nerds'), Scott Pilgrim é o nerd que todo nerd gostaria de ser. Ele toca em uma banda de garagem (e aparentemente é um ótimo baixista) e (pasmem!) é muito bom com as mulheres. Mesmo estando se recuperando de um 'pé na bunda', o rapaz conta com várias ex-namoradas.

A história tem início quando Scott conhece e se apaixona por Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead), termina seu namoro com Knives Chau (Ellen Wong), e, para continuar o relacionamento com Ramona, tem que enfrentar uma liga composta por seus sete ex-namorados.

O que chama a atenção no filme é, sobretudo, a sua estética. O diretor Edgar Wright (do ótimo e hilário "Todo Mundo Quase Morto", 2004) opta por retratar a cidade onde se passa a história (Toronto, Canadá) de forma realista, quase deprimente, com suas cores frias decorrentes de um inverno nevoso, porém, isso serve de contraponto para os personagens fantásticos, coloridos e cheios de super poderes; onomatopéias que aparecem sobre as imagens ou letreiros que dão características-chave dos personagens quando estes aparecem pela primeira vez (o que lembra em muito os quadrinhos); ou outros grafismos como os pontos ganhos depois de uma batalha, ou os rastros deixados pelos movimentos durante as brigas (que lembram videogames).

Aliás, a edição do longa é um charme à parte, e vejo que a grande injustiça do
Oscar deste ano foi não ter incluído Jonathan Amos e Paul Machliss entre seus indicados. Eles mereciam. Além do ritmo super ágil, as telas divididas e os letreiros que remetem à passagem de tempo lembram novamente os quadrinhos. Mas não pára por aí, e a sacada genial da edição vem através de raccords de movimentos interessantes entre as cenas, quando os personagens estão em certa posição num ambiente e (com um corte invisível) aparecem na mesma posição em um lugar diferente, dando uma fluidez incrível à narrativa. E também os cortes inusitados, que ajudam a contar uma piada, "arrumando" o personagem que está sendo 'zoado', como por exemplo, quando fazem piada com o cabelo de Scott: simplesmente há um corte e o personagem aparece usando um boné para esconder seu cabelo arrepiado.

Outro fato interessante do roteiro (escrito pelo próprio Wright em parceria com Michael Bacall) é a sua metalinguagem. Embora os personagens não tenham consciência de aparentemente viverem em um videogame, também não se espantam pelo fato que, de uma hora para a outra, surjam elementos fantásticos ao seu redor, como uma espada que é tirada do próprio tórax de um personagem, como bônus de uma luta, ou o fato de outra personagem sempre aparecer com uma tarja na boca quando fala palavras mais pesadas.

A fotografia de Bill Pope é belíssima, e também nos remete a quadrinhos, com enquadramentos estáticos e que, em alguns momentos, chegam a remeter ao preto-e-branco (como no belíssimo plongée de um balanço na neve). Já em outros momentos, seus movimentos de câmera (principalmente nas cenas de brigas) nos remetem aos videogames de lutas.

A direção de arte também é ótima, e os ambiente externos frios e monocromáticos dão o contraponto ideal aos interiores super coloridos, criando uma dualidade que corrobora com a história, e que, mais uma vez lembra tanto quadrinhos e jogos de videogames, onde há sempre o bem contra o mal.

Da mesma forma, aqui, Scott tem que lutar contra os malvados ex-namorados de sua namorada. Mas o roteiro não se prende no dualismo e vai mais fundo do que isso, explorando os estereótipos de forma contundente (e até mesmo crítica) para transmitir algo mais. Aliás, é engraçado ver dois 'tipos nerds', magricelas e longe do padrão de beleza tão divulgado por Hollywood - Michael Cera e Jason Schwartzman, se enfrentando como se fossem super-herói contra super-vilão.

Mas como eu falei, é um filme de nerd para nerd. Porém, acho que não só os nerds vão curtir...

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


 

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