domingo, 3 de julho de 2011

Rebobine, Por Favor

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Rebobine, Por Favor - Uma Locadora Muito Louca (Be Kind, Rewind, 2008)

Estreia oficial: 22 de fevereiro de 2008
Estreia no Brasil: 30 de janeiro de 2009
IMDb



Michel Gondry é um cineasta conhecido pela sua inovação e criatividade. Desde os videoclipes que dirigiu até seus longas, as dificuldades técnicas nunca foram problemas para o diretor, que, chegou a criar efeitos visuais com fotografias, ou ainda contornar o uso de efeitos digitais construindo cenários que suprissem o seu uso. Neste aspecto, pode-se dizer que este "Rebobine, Por Favor" tem um quê de auto-biográfico.

Dirigindo pela primeira vez uma história de sua autoria exclusiva ("Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças", de 2004, foi co-escrito com Charlie Kaufman; e "Natureza Quase Humana", de 2001, escrito apenas por Kaufman), o roteiro gira em torno de dois amigos, Mike (Mos Def) e Jerry (Jack Black), que decidem recriar grandes obras cinematográficas hollywoodianas depois que Jerry sofre um acidente e desmagnetiza todas as fitas VHS da locadora onde Mike trabalha. Locadora esta cujo dono, Elroy Fletcher (Danny Glover), está prestes a ser despejado para que haja a modernização do prédio. Assim, quando os filmes "suecados" (como chamam as fitas que Mike e Jerry regravam) começam a fazer um enorme sucesso, surge um última oportunidade de salvar o empreendimento do Sr. Fletcher.

E é nas regravações das superproduções do cinema estadunidense que o filme ganha o seu charme. "Conduzindo Miss Daisy", "2001 - Uma Odisséia no Espaço", "Caça-Fantasmas", "A Hora do Rush 2", "O Rei Leão", "Os Donos da Rua", "King Kong", "Carrie - A Estranha", "Robocop", "Rocky"… A lista de filmes suecados é longa. E é justamente quando Gondry, emulando um único plano sequência, mostra uma série de filmes "suecados" sendo gravados, a cena mais bela do longa. A nostalgia é inevitável.

Por vezes uma clara homenagem aos longas recriados, por outras incluindo certa crítica àquelas produções, "Rebobine, Por Favor" é uma clara alusão ao processo de produção de filmes. Gondry, através de Mike e Jerry, vai revelando (mesmo que de forma artesanal e sem que os personagens saibam o porquê estão utilizando determinados recursos) métodos e técnicas de realização. Como na cena onde, depois de gravar vários depoimentos em fitas K7 que servirão como base de um pseudo-documentário, os protagonistas espalham estas fitas sobre uma mesa e, a partir delas, determinam a ordem das cenas do filme que estão prestes a realizar; mesmo artifício que muitos roteiristas fazem ao escrever, porém em vez das fitas, utilizam cartelas.

Mas como falei, Gondry não apenas homenageia o cinema, também o critica. E sua crítica vai além, pois alfineta a produção contemporânea de filmes não pelo viés do lugar comum, criticando a indústria (não que esta saia ilesa da crítica). O seu olhar volta-se para o público consumidor, que é quem procura por filmes descerebrados, levando à massiva produção destes.

Enfim, "Rebobine, Por Favor" é engraçado quando volta-se para a produção caseira dos filmes "suecados" de Mike e Jerry, e tocante quando torna-se uma bela homenagem (sem perder a visão crítica) ao Cinema.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


Nenhum comentário: