segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cisne Negro

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Cisne Negro (Black Swan, 2010) 

Estreia Oficial: 17 de dezembro de 2010 
Estreia no Brasil: 02 de fevereiro de 2011 
IMDb



"Cisne Negro" é um thriller psicológico muito bem construído, que faz com que o espectador adentre no psicológico de sua protagonista, Nina, desde a primeira cena do filme, visto que já começa mostrando, em um sonho, os temores da bailarina.

E eu me arriscaria dizer que, até aqui, é o ponto máximo da carreira de Darren Aronofsky, que constrói uma narrativa densa e repleta de simbolismos. Que também serve como um ótimo estudo do processo criativo de uma bailarina (e poderia ser qualquer artista) que usa o lado profissional para atingir a realização da vida pessoal.

E Natalie Portman tem o papel de sua vida, ao encarnar Nina Sayers. Compondo a personagem com perfeição, e não só fisicamente, já que a atriz aparece tão magra que parece que vai quebrar a cada subida na ponta de sua sapatilha, vemos cada mudança que ela vai sofrendo à medida que a trama vai avançando. Inicialmente uma moça mimada e infantilizada pela mãe, Erica, algo que se vê não apenas em seu quarto cor de rosa cheio de bichinhos de pelúcia, mas principalmente no comportamento da garota, que desde o início já mostra uma falta de segurança preocupante, mesmo sem ter motivos, Nina vai mudando com o peso da responsabilidade que lhe é oferecida: é escolhida como primeira bailarina para apresentar o balé "O Lago dos Cisnes", algo que começa a mexer com sua cabeça, pois para interpretar o cisne branco, Odete, ela não tem problemas - já que sua técnica beira à perfeição; porém, a bailarina não consegue entregar-se à gêmea Odile, o cisne negro, que exige uma maior sensualidade em seus movimentos. Portman merece aplausos na composição de sua Nina, não só pela mudança que vai acontecendo exteriormente em sua personagem, mas principalmente naquela que acontece em seu interior: são os olhares e a respiração que dão a complexidade que a personagem exige. Um dos planos finais exibe bem essa mudança: ao se maquiar para o terceiro e último ato do balé, Nina, a cada passada de maquiagem no rosto, deixa para trás a recalcada e insegura bailarina para dar lugar ao seu alter-ego, a sua própria encarnação de Odile, e Portman consegue retratar essa mudança com uma sutileza de tirar o chapéu, apenas com o olhar.

O restante do elenco fecha com chave de ouro a escalação. Mila Kunis é muito competente ao encarnar Lilly, a nova bailarina que surge como estopim para a loucura de Nina, já que Lilly é tudo que Nina não é: alegre, divertida, sedutora, e parece realmente se divertir dançando balé (algo que em nenhum momento vemos em Nina, já que sua insistência com a perfeição leva-a a forçar demais os limites do seu corpo). Vincent Cassel é o diretor do balé, Thomas, que deixa evidente sua frustação com a incapacidade que a sua nova primeira bailarina tem de ser tomada pela emoção, e o ator consegue fazer isso sem exprimir uma palavra. Já Barbara Hershey, que faz a mãe de Nina, compõe uma personagem complexa, já que, por mais que aparente torcer pela filha, ela parece culpá-la por ter sido o empecilho que fez com que ela mesma não prosseguisse na carreira de bailarina. E a crueldade com que a mãe não dá privacidade e tenta controlar cada movimento de Nina é de dar raiva. Fechando o elenco, Winona Ryder está bem em sua pequena participação como Beth, a bailarina a quem Nina vem substituir no corpo de balé, e que é uma espécie de ídola da protagonista.

A direção de arte e a fotografia dialogam de maneira excepcional, trabalhando com a dualidade, entre claro e escuro, branco e preto. A edição de som é algo fascinante, já que ajuda na construção do pavor e insegurança da protagonista, visto que, a todo momento, surgem risadinhas ou sons de asas batendo incorporados ao som do filme. A trilha sonora de Clint Mansell utiliza-se da obra de Tchaikovsky, "O Lago dos Cisnes", em vários momentos, às vezes distorcendo seus sons ou ritmo para que gerem mais tensão. E os efeitos visuais são muito bons, e incorporam-se à narrativa de maneira orgânica, sem chamarem a atenção sobre si mesmos como efeitos pura e simplesmente, mas sim ajudando e dando significado às ações e intenções dos personagens.

O uso dos espelhos (e reflexos) é muito bem empregado. E o duplo não está presente apenas nos reflexos. Aronofsky utiliza-se dele em toda a narrativa, seja no contraste entre o claro e o escuro (e a utilização das sombras é muito bem empregada), ou na utilização constante do preto e o do branco. Tudo para simbolizar a personalidade 'dupla' da protagonista.

O próprio balé de Tchaikovsky traz essa dualidade em seu tema: o cisne banco é o bem, enquanto o cisne negro é o mal. A escolha das atrizes reforça ainda mais esse pensamento, já que Natalie Portman surge quase loira e com a pele bem clara, sempre trajando roupas brancas e em tons claros; e Mila Kunis (morena) está sempre com peças pretas. Na cena em que as duas personagens saem juntas, inclusive, vê-se nitidamente o início da transformação de Nina no cisne negro, simbolizada pela peça de roupa (preta) que empresta de Lilly - fato esse que vai terminar justamente numa entrega e descontrole da protagonista. Descontrole não apenas sexual (ao se entregar ao prazer), mas também mental, já que a partir daí, Nina exterioriza seu alter-ego - que em alguns momentos tem o rosto de Lilly.

Mas é claro que as duas personalidades não podem dividir o mesmo corpo (David Fincher já havia nos mostrado isso com seu Tyler Durden em "Clube da Luta", 1999), e Nina faz aquilo que seu diretor, Thomas, diz a ela - tira a única pessoa que pode atrapalhar o seu caminho: ela mesma. E numa cena belíssima, Nina mata a si mesma (ou melhor, mata a Nina recalcada e cheia de pudores) e deixa o cisne negro "voar". Claro que para esse desfecho, usa como arma nada 'mais apropriado' do que um pedaço quebrado de espelho… Pontos para Aronofsky!

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Vamos por partes. Os personagens são bem construídos fazendo com que o elenco consiga se destacar. Vicent Cassel e Winona Ryder estão muito bem. Mila Kunis também se sobressai bastante, mas quem definitivamente rouba toda a cena é a personagem principal que é interpretada pela Natalie Portman. Ela consegue nos transmitir toda uma ingênuidade num momento, com um furor e insanidade em outros momentos. Excelente.

Junte a isso uma edição de som primorosa. Quando está dançando ou correndo pelos corredoras do teatro, tem sons de pássaros. Incrível a sensação. Nós enquanto público, praticamente entramos no universo angustiante e aterrorizante da personagem principal.

Como pode? A trilha principal é logicamente a musica "Lago dos Cisnes". A Música por si só já tem uma evolução muito boa. No filme ela têm várias e várias versões. Acho que só vendo de novo para constatar se usam outra trilha se não essa no filme todo.

Por fim, preciso falar dos efeitos visuais. No começo do filme já ficamos intrigados com a quantidades de espelhos sem revelar a câmera. Os momentos de tensão são muito bons com as "alucinações" da personagem principal, mas o efeito que mais me chamou a atenção foi a trasnformação que a personagem sofre quando está se apresentando como Cisne Negro, em que as costas e braços, a cada giro, vão se transformando em asas de um cisne. Esse efeito foi devastador. Muito bom.

Recomendo.


por Oscar R. Júnior

 


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