quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O Dublê do Diabo

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Dublê do Diabo, O (The Devil's Double, 2011)

Estreia oficial: 10 de agosto de 2011
Estreia no Brasil: sem data prevista
IMDb



"O Dublê do Diabo", do diretor Lee Tamahori, baseia-se em fatos reais, e conta parte da vida de Latif Yahia, que foi o dublê de Uday Saddam Hussein, filho mais velho do ex-ditador iraquiano.

Como o roteiro de Michael Thomas parte do livro escrito pelo próprio Latif, o ponto de vista é apenas dele. Assim, vemos apenas um lado da história. E, se isso pode até não ser o maior 'pecado' do filme, também é o fator que o enfraquece, e transforma seus personagens em pouco mais do que caricaturas.


Assim, Uday Hussein é visto, como diz o título, como o diabo em pessoa. E é isso. Suas atitudes (todas vis e inescrupulosas) são tomadas apenas porque ele é mau e pronto. Nunca entendemos quem realmente é aquela pessoa, suas reais motivações. Vejam bem, não estou defendendo o 'real' Uday (que publicamente sabia-se ser um crápula), mas a construção de um personagem que, por mais que seja baseado em alguém real, ainda é um personagem; e, como toda obra de ficção, precisa ter coerência e unidade dentro daquilo que se propõe (pelo menos ao meu ver). Mas enfim… O mesmo também pode ser dito de Latif, que passa a ser um mártir, porém sem realmente entendermos quem ele era antes de ser o sósia do filho de Saddam, e isso enfrquece-o, pois não nos identificamos com ele como 'pessoa', mas sim por ele ser o bonzinho em oposição ao malvado Uday.

Limitando-se aos acontecimentos revoltantes que tornaram-se públicos da vida de Uday, o roteiro contenta-se em encená-los, porém sem se preocupar muito com suas consequências ou efeitos sobre os demais personagens.

Há ainda a personagem de Ludivine Sagnier (Sarrab) que nada tem a acrescentar à trama, servindo apenas para que haja um interesse amoroso do herói, e potencializar ainda mais o drama de Latif, já que a moça é 'a preferida' de Uday.

Porém, Lee Tamahori consegue imprimir um bom ritmo à narrativa, conferindo-lhe agilidade. E há também a competente e bela fotografia de Sam McCurdy (ainda que alguns planos estourados demais tenham me irritado um pouco pela excessiva etereidade que acabaram conferindo).

Mas o filme é mesmo de Dominic Cooper, que reina absoluto, seja como o centrado e sofrido Latif, como o excêntrico e psicótico Uday. Até seu eventual 'overacting' cai como uma luva na personalidade de Uday. E Cooper mostra-se bastante competente em diferenciar os dois personagens, mesmo quando eles aparecem idênticos na tela: conseguimos identificá-los por pequenos detalhes, como um olhar ou um mero gestual.

Enfim, pode não ser um filme excepcional, mas talvez valha a conferida pela atuação de Cooper, ou como curiosidade sobre a vida de Uday Hussein, já que, por mais que o ponto de vista da narrativa seja de Latif, o longa acaba sendo sobre o próprio Uday.


por Melissa Lipinski


2 comentários:

Anônimo disse...

Tem o livro em português ? queria muito ler !!!!

rafael disse...

"Assim, Uday Hussein é visto, como diz o título, como o diabo em pessoa. E é isso. Suas atitudes (todas vis e inescrupulosas) são tomadas apenas porque ele é mau e pronto. Nunca entendemos quem realmente é aquela pessoa, suas reais motivações. Vejam bem, não estou defendendo o 'real' Uday (que publicamente sabia-se ser um crápula), mas a construção de um personagem que, por mais que seja baseado em alguém real, ainda é um personagem; e, como toda obra de ficção, precisa ter coerência e unidade dentro daquilo que se propõe (pelo menos ao meu ver)."

Entendo o seu lado ao preocupar-se com a veracidade das informações trazidas no filme, até pq eu mesmo me peguei pensando "será que o verdadeiro Uday era realmente uma figura tão cruel?". Porém, parando para pensar, acho que podemos tirar alguma respostas sobre estes questionamentos que você evidenciou em seu texto. Imagine alguém que tenha a certeza da impunidade, com uma criação que foi certamente desvalorada (tendo em vista quem são seus ascendentes), poder quase que ilimitado, e regado a drogas como o álcool e a cocaína que potencializam crimes violentos. Analisando estes aspectos creio que seja totalmente plausível que Uday fosse tão terrível quanto o descrito no filme, não me assustaria se fosse ainda pior... No Brasil temos crimes bárbaros acontecendo, e os criminosos não contam as vezes nem com a metade de fatores negativos contribuindo para seus atos.