quarta-feira, 25 de maio de 2011

Reflexões de um Liquidificador

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Reflexões de um Liquidificador (2010)

Estreia oficial | no Brasil: 9 de agosto de 2010
IMDb



"Reflexões de um Liquidificador" é uma comédia de humor negro que tem como narrador o eletrodoméstico aí do título, dublado por Selton Mello, em mais um papel cínico na sua talentosa carreira pelo cinema nacional.

A história é simples e inusitada. Depois de passar por um conserto, um antigo liquidificador adquire consciência da sua própria existência e de sua peculiar condição de eletrodoméstico e passa a conversar com sua dona, Elvira (Ana Lúcia Torre). O liquidificador logo vai virar amigo confidente da dona-de-casa, e seu cúmplice diante do crime que move a história.

"Reflexões de um Liquidificador" abusa do cinismo, personificado nas reflexões do tal liquidificador, e beneficia-se da narração de Selton Mello para isso, já que o ator consegue realmente dar vida ao objeto, mesmo utilizando-se apenas da sua voz para isso, já que o liquidificador não apresenta (obviamente) nenhum gestual nem expressão. Ponto para Mello, que, se já era um ator realmente competente em carne-e-osso, agora prova (se é que precisava disso) todo seu valor e talento.

Mas não é só Mello quem faz um ótimo trabalho na atuação. Ana Lúcia Torre "divide" a tela com o liquidificador sem deixar por menos, e os dois possuem conseguem estabelecer uma boa dinâmica. Fabiula Nascimento, como a vizinha de Elvira, também faz um bom trabalho, sendo responsável pelo humor mais escrachado da trama. Em compensação os protagonistas masculinos não conseguem um desempenho semelhante, Germano Haiut (como Onofre, o marido de Elvira) é, sem dúvida, o ponto fraco das atuações; e Aramis Trindade (como o investigador da polícia, Fuinha) peca pelo excesso, transformando seu personagem em uma caricatura exagerada. Está certo que, no seu caso, o estereótipo era o que procurava alcançar, mas me atrevo dizer que ele passou do ponto.

Mas o ponto alto do filme é mesmo seu roteiro (de José Antônio de Souza), que não se preocupa (ainda bem!) em explicar o porquê do liquidificador ganhar uma consciência e começar a falar. Os diálogos ácidos e rápidos dão dinamismo à narrativa.

Mas o diretor André Klotzel também acerta em cheio nos enquadramentos, ao colocar, por exemplo, o liquidificador em primeiro plano e sua dona, desfocada, falando em segundo plano, levando-nos a esperar (por mais que saibamos que isso é impossível) uma certa reação desse objeto (não tão inanimado assim).

Enfim, ao assisti-lo lembrei-me muito de "Durval Discos" (2002, de Anna Muylaert), já que, além de se passarem em meio à "paulicéia desvairada", têm como pontos comuns o humor negro e a presença de cenas com muito sangue. Finalmente, "Reflexões de um Liquidificador" é um bem-vindo filme nacional, que vem fugir das comuns "comédias-palestão" (assinadas pela Globo Filmes) que tomam conta de nossos cinemas.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Primeiramente destaque para o trailer, que me instigou instantaneamente para ver o filme.


Quanto ao elenco, Selton Mello dá um banho emprestando sua voz ao liquificador. Um objeto inanimado e que só com a fala transmite muito bem o que sente e pensa. Ana Lucia Torre (Elvira) está excelente, mas Fabiula Nascimento (a vizinha) rouba um pouco a cena quando aparece. Aramis Trindade (investigador) também está ótimo. Dos principais quem é mais fraco é o Germano Haiut, que faz o marido “desaparecido”.


Bem, o roteiro é bem construído e as personagens bem embasadas. Rola uma empatia forte pelo liquidificador. Na verdade a história lembrou um pouco “Durval Discos” (2002, de Anna Muyalert). Ambos excelentes filmes.


Recomendo.


por Oscar R. Júnior


Um comentário:

ANTONIO NAHUD disse...

O blog está muito interessante.
Bravo!
Cumprimentos cinéfilos!

O Falcão Maltês