segunda-feira, 30 de maio de 2011

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides, 2011)

Estreia oficial: 15 de maio de 2011
Estreia no Brasil: 20 de maio de 2011
IMDb



"Piratas do Caribe 4" segue uma tendência verificada pela trilogia anterior: vai indo por água abaixo (com o perdão do trocadilho), e revela-se o pior dessa 'quadrilogia'.

Dessa vez, os roteiristas Ted Elliott e Terry Rossio (que também são responsáveis pelos três filmes anteriores), deixaram de lado o casal romântico interpretado por Orlando Bloom e Keira Knightley para focar-se ainda mais no Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp), abrindo brecha para novos filmes que poderão surgir a partir de agora (sinceramente espero que Depp ponha logo fim nessa franquia negando-se a participar de novos exemplares, mas enfim...).

A história baseia-se na descoberta da lendária Fonte da Juventude por Ponce de León, e na busca dessas águas milagrosas por espanhóis, ingleses e piratas, dentre eles o próprio Jack Sparrow, o malvado Barba Negra (Ian McShane), Angélica (Penélope Cruz) e o Capitão Barbossa (Geoffrey Rush). O grande problema do filme é o seu roteiro, que preocupa-se demais em explicar tudo o que acontece. A toda hora os personagens viram-se uns para os outros e explicam o que aconteceu ou o que vai acontecer. Chegam ao cúmulo de explicar o óbvio para ninguém! Por exemplo, (e aí vai um spoiler!) há uma cena em que Jack separa-se do grupo para achar o navio de Ponce de León, e quando por fim o encontra, ele fala (não exatamente com essas palavras): - Finalmente, achei o navio perdido de Ponce de León (detalhe é que ele tinha saído justamente à procura de tal navio, e isso já havia sido dito minutos antes). Simplesmente para olhar ao seu redor e notar que não há ninguém com ele, ou seja, ele está explicando a situação para ninguém, ou melhor, para o público, Os roteiristas devem ter pensado: - Ah, vamos explicar tudo tim-tim por tim-tim que é pra não restar dúvidas nas cabecinhas ocas dos nossos queridos espectadores! Eles não só duvidam da capacidade de raciocínio do público, como insultam a nossa inteligência, com explicações redundantes, ao mesmo tempo em que sabotam a própria narrativa, já que em certos momentos, a história pára simplesmente para alguma coisa ser explanada, prejudicando (e muito) o ritmo do filme.

E, se Johnny Depp conseguiu transformar o seu Jack Sparrow em um fenômeno mundial graças ao seu enorme talento e sua composição de personagem única, ele realmente chegou ao seu limite. O que me leva a pensar que o seu Capitão é melhor quando aparece como coadjuvante, já que como protagonista, assim como aconteceu também no terceiro filme, não consegue manter o nível da atuação durante toda a projeção, apelando para maneirismos que soam forçados até mesmo para... bom, Jack Sparrow!

E, se Geoffrey Rush consegue sair-se bem como o Capitão Barbossa, já conhecido do público, e do ator, o que fez (talvez) com que ele se sentisse mais à vontade no papel, sendo responsável pelos momentos mais engraçados do longa; o mesmo não pode ser dito do restante do elenco. Ian McShane é sabotado por um vilão chato e sem nenhum carisma. Penélope Cruz é relegada ao posto de mais um dos "rostinhos bonitos" do filme, já que sua personagem consegue ser mais chata e sem personalidade do que todos os outros, só perdendo para o clérigo interpretado pelo insosso Sam Claflin. O filme ainda desperdiça as participações de Judi Dench e Keith Richards.

E, se o roteiro é ruim, o mesmo pode ser dito do diretor Rob Marshall, que não consegue dar dinamismo nem mesmo às cenas de ação. Em outros momentos, utiliza-se do mesmo recurso várias vezes, transformando-o em clichê dentro do próprio filme, como quando introduz um personagem na cena sem revelar de imediato quem ele é, mantendo-o na sombra até finalmente mostrá-lo - o diretor faz isso (pasmem!) em três momentos distintos do filme, mesmo com um personagem que já havia aparecido e que logo sabemos quem é. Talento?!? Bom, o passado do diretor o precede. Dos filmes anteriores de Rob Marshall, "Nine" (2009) não precisa de comentários, de tão ruim, "Memórias de uma Gueixa" (2005) tem uma bela fotografia e ponto, e só "Chicago" (2002) pode realmente ser considerado um filme bom.

Mas, para não dizer que tudo é ruim, a direção de arte (como nos filmes anteriores) é deslumbrante, com um impressionante apreço aos detalhes. As embarcações vistas nos filmes são únicas e distintas entre si graças às minúcias concebidas pela equipe de arte do longa. O barco de Barba Negra, por exemplo, destaca-se não só pelo seu layout escuro e sombrio, mas pelo preciosismo de seus objetos, como um armário que guarda navios (de verdade) engarrafados - por mais que essa ótima ideia seja tremendamente mal aproveitada pelo roteiro.

Enfim, acho que mais vale a pena divertir-se revisitando as primeiras aventuras de Jack Sparrow do que se cansar assistindo a esta última.


por Melissa Lipinski


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