quinta-feira, 7 de abril de 2011

Uma Manhã Gloriosa

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Manhã Gloriosa, Uma (Morning Glory, 2010)

Estreia oficial: 10 de novembro de 2010
Estreia no Brazil: 1 de abril de 2011
IMDb



Acho que a roteirista Aline Brosh McKenna gastou todas as suas fichas de como fazer uma história bobinha se tornar um filme com algo mais em "O Diabo Veste Prada" (2006) - ou será que foram as belas atuações de Meryl Streep e Anne Hathaway que fizeram a diferença? Já que este seu novo longa, "Uma Manhã Gloriosa", abusa da liberdade de ser mais do mesmo, ou seja, não traz nada de novo. E o que é pior, chega a insultar a inteligência do espectador.

Rachel McAdams (de quem gosto bastante) até tenta compor uma personagem com que o espectador se identifique, mas a superficialidade é tanta, que qualquer ação da atriz neste sentido é em vão. Já Harrison Ford nem tenta: o ator está caricato ao extremo. E ver Dianne Keaton aqui chega a ser constrangedor. Mas, como disse, a culpa não é apenas dos atores, já que todos, absolutamente todos os personagens do longa são caricatos e superficiais.

Utilizando-se de uma estrutura que mistura comédia romântica com filme de superação, "Uma Manhã Gloriosa" não se define nem como um, nem como outro. Não que um filme precise se definir. Aliás, acho bem mais interessante aqueles que conseguem subverter as regras. Mas, como este longa já nasce formulaico, a falta de definição acaba sendo desastrosa para o seu resultado final, já que não consegue aproveitar o que nenhum dos gêneros tem de melhor.

Além do mais, o filme consegue ser sexista, já que a personagem de McAdams, Becky Fuller, parece uma neurótica que tem que sacrificar sua vida pessoal para conseguir um mínimo de sucesso na carreira. Enquanto o seu namorado, Adam (Patrick Wilson) consegue conciliar muito bem as duas coisas, mesmo tendo uma função muito similar a de Betty. E mais: antes de começar o relacionamento com a protagonista, o bonitão, aparentemente, conseguia a mulher que queria. Ou seja, o homem consegue tudo facilmente. Já a mulher tem que "rebolar" para conseguir um reconhecimento. O filme está ou não uns vinte anos atrasado?

Até porque o reconhecimento buscado por Becky acontece pelos princípios errados. Afinal, além de tudo, "Uma Manhã Gloriosa" prima pelo emburrecimento de seu público (tanto o público da história, quanto o público real). Por mais que o filme "diga" que o que importa é o jornalismo sério e não o entretenimento sem conteúdo, o que vemos na tela é justamente o contrário, já que, pelo que parece, nem McKenna, nem o diretor Roger Mitchell se dão conta que, ao colocar o personagem de Ford, Mike Pomeroy, rendendo-se ao quadro de culinária do programa apenas para trazer a produtora Becky de volta, concretizam a vitória da imbecilização. O que falar então da cena em que vemos uma Becky toda feliz ao colocar a personagem de Keaton, Colleen Peck, beijando um sapo na boca? Seria uma Ana Maria Braga estadunidense? Isso é jornalismo de qualidade? Só se for lá na terra do Tio Sam!

Pra não dizer que nada presta, até há uma ou outra piada que faz você sorrir, e Rachel McAdams consegue emprestar uma certa doçura à personagem (apesar de exagerar na dose em alguns momentos), mas não são o suficiente.

Finalmente, a terrível trilha sonora parece oprimir e comprimir qualquer tentativa de emoção dos próprios atores.


por Melissa Lipinski


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