domingo, 31 de outubro de 2010

Melinda e Melinda

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Melinda e Melinda (Melinda and Melinda, 2004)

Estreia Oficial: 29 de outubro de 2004
Estreia no Brasil: 26 de maio de 2005
 
IMDb



Em "Melinda e Melinda", de Woody Allen, os princípios básicos da semelhança e repetição e da diferença e variação mostram-se bem evidentes, e aparecem concomitantemente ao longo do roteiro.

Na personagem principal, Melinda, já se notam esses dois princípios bem nitidamente. A começar pelo seu nome, que é o mesmo tanto na história de tragédia como na de comédia. Entretanto, é em Melinda que as diferenças também são mais gritantes, sendo notada já na composição da personagem nas diferentes histórias, desde o seu figurino até a maneira da atriz interpretar a personagem.

Algumas diferenças e variações notadas comparando-se as duas histórias - tragédia e comédia: na tragédia, Melinda é uma antiga conhecida de algumas das personagens; na comédia, passam a conhecê-la no instante que a história começa. Na comédia, ela passa a ser o centro das atenções na cena na qual primeiramente aparece; na tragédia, é como que rejeitada pelos anfitriões. Na tragédia, Melinda possui filhos; na comédia, não.

Algumas semelhanças e repetições notadas tanto na tragédia como na comédia: em ambas as histórias Melinda tem encontros fracassados com dentistas; ela acaba se apaixonando por pianistas; tem um passado semelhante, de desventuras amorosas; e não se dá muito bem nas entrevistas de emprego que realiza. As semelhanças não ocorrem só com a personagem principal. Tanto na tragédia como na comédia, no casal amigo da personagem, os maridos são atores fracassados; há um confrontamento de uma personagem com o espelho (mesmo não sendo a mesma personagem nas diferentes histórias); safaris são citados; aparece uma lâmpada "mágica"; e há uma tentativa de suicídio quando uma personagem tenta saltar pela janela (novamente, não é a mesma personagem que executa a ação). Os ambientes também se repetem, como um bistrô de vinhos e um hipódromo.

Quanto ao desenvolvimento, o filme propõe-se a brincar e tentar encontrar as diferenças entre o que realmente é a tragédia e a comédia; será que elas são tão diferentes assim? Acho que ele consegue mostrar que a grande diferença está em como encaramos a vida, e que, no fundo, esta não faz sentido nenhum, sendo triste ou engraçada.

Durante todo o filme, os personagens buscam saber quem realmente são, conhecer-se de verdade. Acho que por essa razão, Woody Allen insiste tanto em enfatizar nomes no filme, pois de certa maneira, o nome é aquilo que primeiro determina quem você é.

Acho que dentro da sua proposição, "Melinda e Melinda" tem uma unidade, já que mostra diferenças de composição entre uma tragédia e uma comédia.


por Melissa Lipinski



 


** Texto originalmente escrito em 2006, durante o Curso de Graduação em Comunicação Social - Cinema e Vídeo, para a disciplina de Teoria do Cinema.

Nenhum comentário: