sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Cidade Baixa

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Cidade Baixa (2005)

Estreia Oficial | no Brasil: 4 de novembro de 2005

IMDb



"Cidade Baixa" conta a história de Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura), dois amigos desde a infância, que vêem essa amizade ser abalada de uma hora para a outra pela presença de Karinna (Alice Braga), uma prostituta que pede, aos dois, uma carona para chegar a Salvador.

"Cidade Baixa" não é um filme de palavras, pois seus diálogos são, de certa maneira, econômicos - os personagens falam apenas o essencial. Entretanto, os personagens demonstram tudo o que estão sentindo através de suas ações e olhares - em uma linguagem bastante psicológica, que prende a atenção do espectador.

Sem se apegar a clichês, o filme consegue retratar sentimentos intensos - e consegue transmitir tal intensidade através de imagens. Que ganham ainda mais força com a atuação 'visceral' dos três protagonistas, principalmente o personagem de Lázaro Ramos, que demonstra ser o mais tridimensional e consegue a maior identificação com o espectador.

Talvez um dos pontos fortes de "Cidade Baixa" seja a universalidade da sua história; pois, assim como se passa na Cidade Baixa de Salvador, poderia muito bem se passar em qualquer outro lugar. Porém, isto não implica em uma 'desimportância' do lugar onde a história se passa, muito pelo contrário, o cenário possui tamanha influência sobre a trama, que é como se fosse um personagem. E isso é bastante visível na naturalidade com que algumas palavras são ditas pelos protagonistas, e que só soam verossimilhantes pois o filme possui esse olhar que vem de dentro; de dentro da Cidade Baixa e que faz com que o espectador seja também transposto para lá. E é justamente essa verossimilhança, aliada à ótima atuação dos protagonistas, que dá ao filme um toque documental.

Outro ponto alto do filme é a importância que é dada aos personagens. Tudo no filme, desde a fotografia de Toca Seabra até a trilha sonora de Carlinhos Brown está em função deles. O que chama a atenção é, como já citei, a proximidade com o espectador - e talvez isso se dê graças à escolha do diretor Sérgio Machado por planos próximos como closes, que geram uma aproximação física muito grande, o que amplifica as sensações transmitidas ao público.

A escolha feita pelo diretor em deixar o final em aberto também faz com que a história ganhe força e aumenta a interação com o espectador, que ajuda a concebê-la de maneira íntima e particular. Não é uma história onde tudo é dito, mas é deixado a cargo do próprio espectador tirar as suas conclusões.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski






** Texto originalmente escrito em 2005, durante o Curso de Graduação em Comunicação Social - Cinema e Vídeo, para a disciplina de Antropologia.

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