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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Elvis & Madona

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Elvis & Madona (2010)

Estreia oficial | no Brasil: 23 de setembro de 2011
IMDb



"Elvis & Madona" é uma escrachada comédia que trata de um romance ''nada convencional" - e depois explicarei as aspas. Elvis, ou Elvira (Simone Spoladore), é uma aspirante a fotógrafa que ganha a vida como entregadora de pizza. Ela é gay. Madona (Igor Cotrim) é travesti, e sonha montar um show enquanto trabalha de cabeleireira para juntar dinheiro para tanto. Elvis e Madona vão se conhecer e, inusitadamente, se apaixonar.

O roteiro, escrito pelo também diretor Marcelo Laffite, tem como ponto alto tratar tal relacionamento como uma relação 'normal' (mas o que é normal não é mesmo?), sem levantar bandeiras ou tratá-la como algo bizarro. Porém, infelizmente, a história possui mais defeitos do que qualidades.

Nitidamente baseando-se em um atmosfera 'almodovariana', o universo assumido por "Elvis & Madona" é over, kitsch e colorido, e suas tiradas geralmente assumem duplo sentido. Porém, as semelhanças com o diretor espanhol param por aí, já que o filme brasileiro investe em piadas um tanto quanto inocentes, discussões rasas e apela para efeitos sonoros para deixar claro os momentos mais engraçados - ou por achar que o público não seria capaz de identifcá-los ou por não confiar em seu potencial cômico.

Para piorar, apesar de sua aparência de comédia pós-moderna, sem classificação de gêneros (no sentido de masculino e feminino e todos os outros existentes), o filme de Laffite acaba se tornando clássico e conservador em sua linguagem, já que não parece ousar em nenhum momento, além de tratar o romance de forma burocrática e convencional. Parece que o diretor, com medo de soar tendencioso ou simpatizante de determinado gênero ou movimento, acaba colocando Elvis e Madona como um casal tradicional, e seu romance não foge às convenções de qualquer relacionamento do cinema comercial entre homens e mulheres. Uma pena. Além do mais, as motivações dos personagens acabam soando um tanto quanto forçadas, e eles parecem agir mais por necessidade do roteiro do que por escolha própria, digamos assim.

Ainda para enfatizar o tom cômico do longa, o diretor dirige seus atores da forma mais exagerada possível, principalmente os coadjuvantes, o que tira a força e, ironicamente, a graça da maioria das situações. Além de prejudicar a participação de Maitê Proença e José Wilker.

Sorte que os atores principais não se deixam levar por essa tendência e estão bem mais contidos, sendo somente eles, o que salva a produção de um desastre maior. Igor Cotrim, que por vezes aparece exagerado - o que cabe perfeitamente à sua personagem, dá verossimilhança a Madona. Já Simone Spoladore, que é uma excelente atriz, acerta na dose de 'masculinidade' de Elvis, ao mesmo tempo em que empresta sua habitual meiguice e delicadeza à personagem - o que pode parecer um contrasenso, mas acaba dando tridimensionalidade à moça.

Enfim, em meio às comédias 'Globais' que andam dominando o cinema nacional, "Elvis & Madona" surge como uma 'luz no fim do túnel', prova que se pode produzir material cômico que não esteja atrelado à Globo Filmes; embora Marcelo Laffite tenha errado um pouco a mão e contou com a sorte de ter bons protagonistas.


por Melissa Lipinski