ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Natimorto (2009)
Estreia oficial | no Brasil: 29 de abril de 2011
IMDb
"Natimorto" é a segunda adaptação de um romance do escritor e autor de histórias em quadrinhos, Lourenço Mutarelli, e guarda interessantes similaridades com a obra anterior, "O Cheiro do Ralo" (de 2006). Ambas tratam de um romance obsessivo, tendo como objeto de adoração uma mulher que ao mesmo tempo aparenta estar tão perto, mas é propositadamente inatingível ao protagonista.
E é o próprio Mutarelli quem protagoniza esta bizarra história cujos personagens não têm nome. Ele interpreta uma espécie de produtor musical que recebe uma cantora (Simone Spoladore) que, supostamente, teria a mais bela das vozes. Encantado com a garota e desgostoso com o mundo ao seu redor, o homem propõe a ela que eles vivam fechados em um quarto de hotel, pois suas economias lhes garantiriam morar ali por uns 6 anos. Depois de certa relutância da cantora, eles acabam entrando em um acordo, onde ele permaneceria ali enclausurado, e ela poderia sair - até para poder trabalhar e bancar parte das despesas. A partir deste confinamento (total dele e parcial dela), ambos vão adentrando e intensificando uma relação de dependência, onde ele conta suas histórias de vida, e ela, em troca, canta para ele, enquanto impregnam-se de cigarros. Dependência tanto um do outro (mais da parte dele do que dela, obviamente), como do cigarro. Ele, inclusive, tem a rotina de 'ler' a sua sorte nas imagens de advertência impressas no verso dos maços, fazendo um paralelo com as cartas de tarô, o que vai consumindo-o e deprimindo-o cada vez mais.
O roteiro de André Pinho concentra-se quase que inteiramente no interior do tal quarto de hotel (apenas a introdução dos personagens e os flashbacks nos quais aparece a esposa do agente - Betty Gofman - passam-se fora dali). E por isso mesmo, o filme baseia-se todo sobre as atuações de seus protagonistas. Simone Spoladore (ótima como sempre) empresta doçura e cinismo na medida certa para sua personagem. Mas é Mutarelli tanto o ponto alto quanto o mais baixo da produção. No início, sua interpretação mais teatral soa um pouco artificial, e o coloca em desigualdade com sua companheira de cena. Porém, à medida em que o filme avança, essa mesma teatralidade recai como uma luva sobre a paranóia do personagem, elevando a qualidade de sua interpretação.
Contando com uma fotografia excepcional de Lito Mendes da Rocha, que mantém planos em movimento, ora fechados nos rostos dos atores, em desfoque, ora mais abertos, mostrando as luzes coloridas que vêm da rua e entram pela janela do quarto, praticamente 'pintando' os quadros; toda a ambientação vai armando uma crescente sensação de sufocamento e claustrofobia. Aliado a isso, o diretor Paulo Machline mantém o bom ritmo do filme inserindo os flashbacks em ordem não cronológica em meio à narrativa.
Assim como a loucura do seu protagonista, a sensação de desconforto criada no espectador vai aumentando ao longo do filme. Fica, ao final, um sentimento amargo: será mesmo que a humanidade é tão cruel a ponto de se preferir a misantropia? Como diz o personagem em certa altura do filme ao invejar um natimorto: "imagine ir da não-existência à não-existência, protegido pelo único ser que vai te amar, ficando afastado dos males do mundo". E a ótima opção em não mostrar a voz de Simone Spoladore cantando reitera esse aspecto, afinal, nós, espectadores, fazemos parte do 'mal do mundo', e não seríamos merecedores de ouvir a mais bela das vozes.
Enfim, "Natimorto" é assim, doentio e sufocante. Como seu protagonista.
Fica a dica!
por Melissa Lipinski
Um comentário:
ola nos do http://supermegavirtual.blogspot.com/
achamos seu blog o maximo ja estamos a seguir espero sua visita e que nos siga tambem :)
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