quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Reféns

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Reféns (Trespass, 2011)

Estreia oficial: 14 de outubro de 2011
Estreia no Brasil: 11 de novembro de 2011

IMDb



Joel Schumacher é dono de uma cinematografia deveras irregular, com longas que vão do excelente ("Um Dia de Fúria", de 1993), passando pelo interessante ("Ninguém É Perfeito", de 1999; "Tigerland", de 2000; ou "Por um Fio", de 2002), até os medíocres ou incrivelmente ruins ("Número 23", de 2007; "O Fantasma da Ópera", de 2004; "O Custo da Coragem", de 2003; "Batman & Robin", de 1997; e "Batman Eternamente", de 1995). E este "Reféns" também entra para este último grupo.

Contando com um roteiro (do estreante Karl Gajdusek) medíocre e sem criatividade, "Reféns" é uma sucessão de erros. A história começa mostrando os três personagens que compõe o núcleo familiar que, como diz o título nacional, serão tomados como reféns. Kyle (Nicolas Cage), Sarah (Nicole Kidman) e Avery (Liana Liberato) formam uma família rica que, apesar da aparente harmonia entre eles, oculta mentiras, segredos e insatisfações.

Mas, na realidade, os personagens pouco importam aqui, já que Gajdusek não faz questão de desenvolvê-los de forma coerente ou minimamente tridimensional. Eles são estereótipos: o rico empresário, frio e calculista, que não tem tempo para a família; a esposa que se sente relegada a segundo plano; e a filha adolescente rebelde mas 'boazinha'.

Quando sua casa é invadida por um grupo de bandidos, entretanto, essas pessoas 'normais' parecem se transformar em verdadeiros estrategistas, entrando em um jogo que, se Gajdusek ou Schumacher tencionaram parecer inteligente e complexo, conseguiram um resultado oposto, caricato e que beira o risível por suas situações forçadas e que desrespeitam a inteligência do espectador.

Os bandidos por si só parecem ter saído diretamente de um filme de comédia. Há o 'psicopata' que só sabe dizer estar apaixonado pela dona da casa (dããã!); a viciada que parece ir direto ao guarda roupa de sua 'anfitriã' para usar suas roupas caras e chiques; o 'fortão-abobalhado' que nem consegue dominar numa luta o franzino refém que ainda está com a mão quebrada (Péra aí! Mas ele não era 'o' fortão!?!?); e o chefe da quadrilha, que se julga tão inteligente que não consegue perceber que está sendo manipulado a todo momento… Enfim, com vilões como esses, como levar o tal 'duelo' de estratégias entre mocinhos e bandidos a sério?

Isso sem falar no trio protagonista! Nicolas Cage mas uma vez apoia-se na suas tão habituais muletas de interpretação para tentar (em vão) dar mais complexidade ao personagem. Nicole Kidman (que ainda bem não está mais sob os efeitos de botox!) limita-se a ficar gritando e/ou chorando o tempo todo, e toda a ação da 'moça' vem seguida ou precedida por incontáveis e irritantes sons lamuriantes. É incrível como esses dois atores conseguem atuações tão contundentes e orgânicas em alguns de seus trabalhos e, em outros, oferecer um trabalho tão pobre e unidimensional... Há ainda a jovem Liana Liberato, que não tem muito o que fazer, já que sua personagem age conforme as necessidades do roteiro: ora choramingando como a mãe, ora enfrentando os bandidos como o pai.

Recheando a trama de revelações e reviravoltas totalmente tolas e desnecessárias, Karl Gajdusek ainda deve ter achado o máximo incluir na sua história vários momentos de 'suspense' (como o envolvimento de Sarah com um dos bandidos ou a real situação econômica de Kyle), e que, auxiliados pelo recurso de flashbacks, deixa tudo ainda mais inverossímel e irritantemente previsível.

E, apesar de alguns pequenos momentos em que Schumacher consegue realmente colocar tensão em suas cenas, a grande parte do filme carece de ritmo (e olha que só tem 90 minutos de duração!), principalmente pelo mal uso dos tais flashbacks. Contando ainda com um final moralista e maniqueísta, "Reféns" vem comprovar que bons filmes são realmente as excessões na cinematografia de Joel Schumacher.


por Melissa Lipinski



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