quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ladrões de Sabonete

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Ladrões de Sabonete (Ladri di Saponette, 1989)

Estreia oficial: 16 de fevereiro de 1989
IMDb



"Ladrões de Sabonete" é uma homenagem a um dos mais famosos filmes da época do Neorrealismo italiano - corrente cinematográfica que marcou a produção desse país nas décadas de 1940 e 1950 - o clássico de Vittorio de Sica, "Ladrões de Bicicleta" (1948).

Além disso, o filme escrito, dirigido e protagonizado por Maurizio Nichetti é um protesto às redes de televisão, que acabam "mutilando" os filmes que exibem com as interrupções para os intervalos comerciais e assim, acabam até mesmo modificando essas produções cinematográficas.

No filme, Nichetti interpreta ele mesmo, um diretor de cinema cujo filme, "Ladrões de Sabonete" será exibido em uma emissora de televisão, logo após uma entrevista que ele concederá. O filme (dentro do filme) é protagonizado pelo próprio Nichetti, passa-se nos anos 50 e conta a história de uma pai de família, Antônio, que, devido à crise, não consegue arranjar emprego. Sua esposa, Maria (Caterina Sylos Labini), sonha em ser cantora e, por vezes, deixa de lado os dois filhos pequenos para tentar uma ponta em um pequeno cabaré da cidade. Antônio acaba conseguindo emprego numa fábrica de lustres e, para satisfazer ao desejo da esposa, certo dia acaba roubando um dos lustres.

E é aí que toda a confusão - e a genialidade do filme - tem início.

Há três núcleos (digamos assim) no filme: (1) o programa de televisão que está entrevistando Nichetti e transmitindo o filme "Ladrões de Sabonete", com seus intervalos comerciais; (2) o próprio filme (preto-e-branco) que está sendo transmitido; e (3) uma família que está assisitindo a toda essa programação pela TV em sua casa.

A história é contada intercalando esses três núcleos. Vemos Nichetti chegando e se preparando para a entrevista, o programa televisivo começa a transmitir seu filme, e a família assiste ao programa. Entretanto, à medida em que a história avança, um núcleo passa a interferir no outro, primeiro de forma bem sutil, e depois, com tanta força que personagens de um núcleo passam para outro. Explico. Uma moça de um dos comerciais de TV "passa" para o filme. A personagem de Maria acaba indo parar em um dos comerciais da TV. O próprio diretor, Nichetti, sai da televisão e vai interferir na história do seu próprio filme, inclusive, encontrando com o personagem que ele mesmo interpreta, Antônio. Nichetti também, a certa altura, de dentro do filme, consegue enxergar a sala da família que o assiste pela TV.

Ou seja, uma palavra consegue definir bem essa produção: intertextualidade. E assim, o filme de Nichetti (o real, não o filme dentro do filme) acaba sendo mais atual do que nunca, nessa vida de internet e "hyperlinks". É um meio de comunicação alterando a nossa maneira de ver outro, e assim, sucessivamente.

Muitos podem dizer que "Ladrões de Sabonete" referencia "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985), de Woody Allen. E, embora haja essa interação entre ficção e realidade, são duas obras totalmente distintas, pois Nichetti consegue inovar os conceitos e trabalhar numa esfera de intertextualidade bem maior que o filme de Allen (de forma alguma estou tirando o mérito, o valor artístico e a qualidade deste).

"Ladrões de Sabonete" também consegue ser engraçado, com gags físicas eficientes. Mas não somente, já que o filme dentro do filme, com sua história triste, consegue também comover.

As atuações são ótimas. Os efeitos visuais são eficientes. E a fotografia, que intercala preto e branco e colorido, muito bonita.

Enfim, "Ladrões de Sabonete" não é apenas uma linda homenagem ao clássico de De Sica. Torna-se, ele próprio, um novo clássico do cinema italiano e mundial.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski

3 comentários:

Xxx disse...

Oi,

Gostei muito da postagem!!

Abraços...

Kleber

Anônimo disse...

Bem, se o filme referencia A Rosa Púrpura do Cairo, este, por sua vez, referencia Hellzapoppin', de 1941 (dir. por H.C Potter, com Ole Olsen e Chick Johnson): um filme dentro do filme em que, de repente, uma voz em off anuncia que um fulano está sendo chamado por sua mãe. O filme para, os atores ficam esperando, e, na tela, e surge uma sombra que aos poucos cresce, depois diminui. Aí você percebe que é a sombra do corpo de um adolescente que se levantou, na sala de cinema, e sai para atender o chamado da mãe. O filme continua, por vezes a câmera recua e então são os atores atuando, enquanto o filme está sendo rodado. 1941. Não sei se é muito conhecido nos EUA, sei que ficou em cartaz por muitos anos, em Paris, na mesma sala de cinema. Consegui baixar da internet, mas não há legendas em português. É fantástico. quem quiser procurar informações, o Google traz muita coisa.

RMBS Rock disse...
Este comentário foi removido pelo autor.