sábado, 30 de abril de 2011

Rio

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Rio (Rio, 2011)

Estreia oficial: 3 de abril de 2011
Estreia no Brasil: 8 de abril de 2011
IMDb



"Rio" é a tradução exata da visão exótica que os estadunidenses têm da Cidade Maravilhosa. Carnaval, mulatas, pontos turísticos, macacos andando pelo centro da cidade, favela... E a lista não pára por aí. O fato de o filme ser dirigido por um brasileiro é apenas um detalhe, pois sabemos que, na realidade, a visão que impera aqui, é a do dono do dinheiro (ops! do estúdio), ou seja, o olhar do estrangeiro.

Sob essa perspectiva, então, tem-se um primeiro plano do filme que (mesmo se passando há uns 15 anos atrás) jamais condiz com a realidade da capital fluminense (mesmo naquela época): um amanhecer calmo e tranquilo, sem sequer um ruído que remeta à grande cidade que estamos vendo na tela. Esse tranquilo e silencioso plano cede espaço para a barulhenta e alegre selva brasileira, com suas aves exóticas e coloridas, num número musical que muito me lembrou aqueles protagonizados por Carmen Miranda em seus filmes yankees (e sim, nós temos bananas!).

Falando em musicais, adianto que, apesar de bonitinhos, os números vistos em "Rio" não se integram à história de forma orgânica. Embora a trilha musical de John Powell (com participação de Sérgio Mendes e Carlinhos Brown) seja empolgante.

Já a história em si é bem bobinha. Um roteiro fraco e unidimensional que jamais consegue desenvolver seus personagens. O que é realmente uma pena, pois os personagens que surgem na tela poderiam ter rendindo situações bem mais engraçadas ou bem mais emocionantes das vistas aqui, bastaria que os roteiristas dignassem-se a explorar melhorar o que tinham em mãos. A própria narrativa é fraca, o que pode-se notar, por exemplo, nos momentos em que a história praticamente pára para que sejam mostrados os pontos turísticos da cidade.

Porém, nem tudo é ruim. O talento dos atores que dublam os personagens conseguem elevar o nível do filme. Jesse Eisenberg e Anne Hathaway demonstram uma química incrível (mesmo não contracenando 'ao vivo') e um carisma incontestável, o que faz com que os espectadores imediatamente identifiquem-se com seus personagens, Blu e Jewel, respectivamente. E, se Leslie Mann e Rodrigo Santoro não surpreendem como os humanos Linda e Tulio; os passarinhos 'descolados' dublados por Jamie Foxx (Nico) e Will.I.Am (Pedro) roubam as cenas onde aparecem. Os dois, inclusive, pronunciam palavras em um português quase sem sotaque, o que deve ter sido obra, obviamente, de Carlos Saldanha. Já Tracy Morgan - e seu cachorro Luiz - ainda que apareça pouco, é o responsável pelos momentos mais engraçados do filme.

E, se por um lado, falei que a visão que imperava no filme não era a de Saldanha; por outro, só pode ser segundo a sua visão que nasceram os momentos mais belos do longa, como aquela melancólica sequência onde um garotinho órfão passeia por uma favela, e que termina com um primeiro plano dos barracos contrapondo-se, ao fundo, com às belas luzes da, igualmente bela, Baía da Guanabara.

O filme de Saldanha, deve-se dizer, é voltado exclusivamente para o público infantil, com seus animais antropomorfizados, com olhos grandes e expressivos, e cores vivas. Já os adultos (já acostumados com a excelência de animações como "Rango", "Toy Story 3", "Wall-E", "Coraline e o Mundo Secreto" e "Up - Altas Aventuras", só pra citar algumas) sentirão falta de um subtexto mais amadurecido (digamos assim) e de piadas mais adultas e referenciais. Os pequenos, por outro lado, tenho certeza que vão adorar as aventuras de Blu e Jewel na Cidade Maravilhosa.


por Melissa Lipinski
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Vamos por partes. A dublagem original é excelente. Muito bem feita e muito bem escolhido o elenco.

Quanto aos personagens, o "bonzinhos" são melhor construídos. Pelo menos são interessantes com destaque para o cachorro Luis, que é o mais cômico do filme. Em compensação os personagens "maus" são construídos superficialmente e na fórmula de chefe bem maldoso e assistentes bem desastrados. Não curti muito. Também não curti tanto os macacos ladrões.

A história do filme foi feita pelo próprio Carlos Saldanha e o por dois roteiristas de séries infantis. Já o roteiro foi escrito basicamente por roteiristas de séries e filmes infantis. Ok, mas é um filme da DreamWorks, que já fez "FormiginhaZ" (AntZ, 1998), "Shrek" (2001), "Madagascar" (2005), "Kung Fu Panda" (2008), entre outros. São excelentes filmes com excelentes roteiros, que é algo que falta nesse "Rio". E sobre o fato do filme se passar no Rio de Janeiro - bem, ele é do tipo de estereotipização normalmente associada ao Brasil: TODOS gostam de samba, todo mundo fala ingles, tem macaco pela cidade, os macacos roubam turistas, mulatas dançando e por aí vai.

Fico por aqui.


por Oscar R. Júnior


 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Como Você Sabe

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Como Você Sabe (How Do You Know, 2010)

Estreia oficial: 17 de dezembro de 2010
Estreia no Brasil: 29 de abril de 2011
IMDb



James L. Brooks foi responsável por uma das melhores comédias dos anos 1990, "Melhor É Impossível" (1997), que contava com Jack Nicholson, Helen Hunt e Greg Kinnear, todos em ótimas atuações. Antes disso, o roteirista/ diretor já tinha feito dois bons longas, "Laços de Ternura" (1983) e "Nos Bastidores da Notícia" (1987). Porém, depois de 1997, dirigiu apenas dois longas, o fraco "Espanglês" (2004), e agora, este igualmente fraco e insosso "Como Você Sabe".

A trama é fraca. Os personagens mal construídos e suas motivações parecem surgir do nada, e mudar de uma hora para a outra, bastante superficiais, eu diria. Os diálogos pulam do non-sense para o irritantemente óbvio em frações de segundo. E o elenco não tem o carisma necessário para segurar a produção.

Não que Owen Wilson não tenha carisma. Tem até de sobra, e o recente "Passe Livre" é prova disso. Porém, aqui, relegado a um personagem secundário e inexpressivo, o ator não consegue desenvolvê-lo de forma satisfatória. Já Paul Rudd, especialista em "tipos meio tapados", aqui não consegue conquistar o espectador, o que é fatal, afinal seu personagem é o "mocinho" da história. Reese Witherspoon faz as caras e bocas que lhe são corriqueiras e não sai do 'lugar comum'. E nem Jack Nicholson consegue sobressair-se, fazendo um personagem bem mais comedido do que está habituado. Talvez isso tenha limitado o ator, já que Nicholson soa quase inexpressivo (e olha que isso é difícil!) na tela.

Enfim, uma sucessão de escolhas erradas, é o que melhor define essa comédia de L. Brooks.

Junte-se à falta de carisma generalizada, um ritmo excessivamente lento, e tem-se um filme que não anda, não evolui. O que torna a suas absurdas 2 horas de duração parecendo ainda mais longas....

Não foi dessa vez que James L. Brooks conseguiu emplacar novamente.


por Melissa Lipinski
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Não me recordo de ter assistido uma comédia romântica com diálogos non sense. Mas esse "Como Você Sabe" tem vários desses diálogos malucos e que funcionam na interação do casal principal Lisa e George (Reese Witherspoon e Paul Rudd).

Tenho que admitir que foi muito estranho ver Jack Nicholson "normal". Ele que semrpe é cheio de caretas nesse filme faz um papel mais comedido e por isso não chama a atenção. Já Matty (Owen Wilson) derrapa nas cenas. Não captar muito desse personagem.

Já o casal principal tem uma interação interessante que segura por um tempo o filme mas os dilemas dos dois personagens são mal apresentados, mal utilizados e em vários momentos são deixados de lado.

Além disso tudo o filme é longo demais, uma meia hora a menos não faria falta.


por Oscar R. Júnior


 

terça-feira, 26 de abril de 2011

Um Ano Mais

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Ano Mais, Um (Another Year, 2010)

Estreia oficial: 5 de novembro de 2010
Estreia no Brasil: sem data prevista
IMDb



Mike Leigh é um perito em retratar pessoas comuns... e infelizes. Desde "Segredos e Mentiras" (1996), passando por "Agora ou Nunca" (2001) e "O Segredo de Vera Drake" (2004), até "Simplesmente Feliz" (2008) - que, apesar do título, e de sua protagonista meio "Pollyana", também possui seu quê de pessoas infelizes - e isso apenas citando os longas aos quais assisti. E esse seu último filme, "Another Year", é mais um belíssimo exemplar desta sua peculiaridade.

"Another Year" trata das visitas que o casal Tom (Jim Broadbent), um geólogo, e Gerri (Ruth Sheen), uma psquiatra, recebem ao longo de um ano. A amiga de Gerri, Mary (Lesley Manville) é a personagem que mais visita o casal. É também aquela que vai, através de suas neuroses e tristezas, nos mostrar o quanto Tom e Gerri (sim a piada é inevitável, até para os personagens do filme) são felizes dentro de sua vidinha pacata e rotineira. Também passam pela casa do casal, neste ano, seu filho, Joe (Oliver Maltman), sua namorada Katie (Karina Fernandez), o irmão de Tom, Ronnie (David Bradley), e o amigo Ken (Peter Wight).

A escolha de Mike Leigh em dividir a trama nas estações do ano, é acertada, pois o tom episódico que dá, assim, ao filme, favorece o contar da história, atribuindo a cada estação uma visita diferente feita ao casal. Na primavera, conhecemos Mary (que também aparece em todas as outras estações). No verão, Ken. No outono, Joe e Katie. E, no inverno, Ronnie.

O relacionamento feliz de Tom e Gerri não nos é mostrado através de juras de amor ou demonstrações arrebatadoras de paixão, mas pelo dia-a-dia deste casal que já viveu muita coisa juntos. Vemos todo o carinho que um sente pelo outro nas pequenas coisas, olhares, frases soltas ditas com tamanha naturalidade... É o retrato de um casal que se conhece tanto, e que, às vezes, não precisa nem dizer nada para se entender.

E, se a Tom e Geri, sucedem a alegria e harmonia, em oposição a eles, estão os seus visitantes, atolados de tristezas e mágoas, de amores não concretizados e problemas não resolvidos. Mary é a personificação disto. É o oposto da felicidade que o casal vive. E, por mais que, volta e meia, retorne à casa de Tom e Gerri, nunca consegue "embriagar-se" com um pouco da sua paz de espírito. Muito pelo contrário, às vezes, ela consegue é levar a quebra momentânea desta paz, com sua atitude derrotista. O plano final, que vai fechando no rosto de Mary, é desalentador. Com ele percebemos que Mary jamais conseguirá ter sequer um pouquinho daquilo que Tom e Gerri construíram, por mais que ela se esforce para fazer parte. Vale dizer que, não fosse a belíssima atuação de todo o elenco, talvez a força do filme seria menor.

Assim, Mike Leigh consegue nos comover, oferecendo um filme otimista, com todo o amor que Tom e Gerri sentem um pelo outro, e pelos relacionamentos de amizade que cultivam; e, ao mesmo tempo, pessimista, já que Mary (principalmente) parece nunca acertar a sua vida, por mais que pareça se esforçar.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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O filme gira em torno do casal Tom (Jim Broadbent) e Gerri (Ruth Sheen). Gira em torno deles e de suas amizades depressivas. Não as amizades em si, mas sim as pessoas que são muito pra baixo, sem muita motivação na vida.

O casal principal é excelente. Ótimos atores numa interação incrível, mas quem rouba a cena é a Mary (Lesley Manville). Ela consegue puxar e tensionar toda a cena para o que esta personagem está passando. Incrível a atuação de Lesley.

O resto do elenco também está ótimo. Na verdade o roteiro é muito bem escrito. A montagem é excelente e o filme é dividido em estações do ano, o que corroborou para um bom ritmo do mesmo.

Excelente. Recomendo.


por Oscar R. Júnior


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ladrões de Sabonete

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Ladrões de Sabonete (Ladri di Saponette, 1989)

Estreia oficial: 16 de fevereiro de 1989
IMDb



"Ladrões de Sabonete" é uma homenagem a um dos mais famosos filmes da época do Neorrealismo italiano - corrente cinematográfica que marcou a produção desse país nas décadas de 1940 e 1950 - o clássico de Vittorio de Sica, "Ladrões de Bicicleta" (1948).

Além disso, o filme escrito, dirigido e protagonizado por Maurizio Nichetti é um protesto às redes de televisão, que acabam "mutilando" os filmes que exibem com as interrupções para os intervalos comerciais e assim, acabam até mesmo modificando essas produções cinematográficas.

No filme, Nichetti interpreta ele mesmo, um diretor de cinema cujo filme, "Ladrões de Sabonete" será exibido em uma emissora de televisão, logo após uma entrevista que ele concederá. O filme (dentro do filme) é protagonizado pelo próprio Nichetti, passa-se nos anos 50 e conta a história de uma pai de família, Antônio, que, devido à crise, não consegue arranjar emprego. Sua esposa, Maria (Caterina Sylos Labini), sonha em ser cantora e, por vezes, deixa de lado os dois filhos pequenos para tentar uma ponta em um pequeno cabaré da cidade. Antônio acaba conseguindo emprego numa fábrica de lustres e, para satisfazer ao desejo da esposa, certo dia acaba roubando um dos lustres.

E é aí que toda a confusão - e a genialidade do filme - tem início.

Há três núcleos (digamos assim) no filme: (1) o programa de televisão que está entrevistando Nichetti e transmitindo o filme "Ladrões de Sabonete", com seus intervalos comerciais; (2) o próprio filme (preto-e-branco) que está sendo transmitido; e (3) uma família que está assisitindo a toda essa programação pela TV em sua casa.

A história é contada intercalando esses três núcleos. Vemos Nichetti chegando e se preparando para a entrevista, o programa televisivo começa a transmitir seu filme, e a família assiste ao programa. Entretanto, à medida em que a história avança, um núcleo passa a interferir no outro, primeiro de forma bem sutil, e depois, com tanta força que personagens de um núcleo passam para outro. Explico. Uma moça de um dos comerciais de TV "passa" para o filme. A personagem de Maria acaba indo parar em um dos comerciais da TV. O próprio diretor, Nichetti, sai da televisão e vai interferir na história do seu próprio filme, inclusive, encontrando com o personagem que ele mesmo interpreta, Antônio. Nichetti também, a certa altura, de dentro do filme, consegue enxergar a sala da família que o assiste pela TV.

Ou seja, uma palavra consegue definir bem essa produção: intertextualidade. E assim, o filme de Nichetti (o real, não o filme dentro do filme) acaba sendo mais atual do que nunca, nessa vida de internet e "hyperlinks". É um meio de comunicação alterando a nossa maneira de ver outro, e assim, sucessivamente.

Muitos podem dizer que "Ladrões de Sabonete" referencia "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985), de Woody Allen. E, embora haja essa interação entre ficção e realidade, são duas obras totalmente distintas, pois Nichetti consegue inovar os conceitos e trabalhar numa esfera de intertextualidade bem maior que o filme de Allen (de forma alguma estou tirando o mérito, o valor artístico e a qualidade deste).

"Ladrões de Sabonete" também consegue ser engraçado, com gags físicas eficientes. Mas não somente, já que o filme dentro do filme, com sua história triste, consegue também comover.

As atuações são ótimas. Os efeitos visuais são eficientes. E a fotografia, que intercala preto e branco e colorido, muito bonita.

Enfim, "Ladrões de Sabonete" não é apenas uma linda homenagem ao clássico de De Sica. Torna-se, ele próprio, um novo clássico do cinema italiano e mundial.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Todos Dizem Eu Te Amo

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Todos Dizem Eu Te Amo (Everyone Says I Love You, 1996)

Estreia oficial: 3 de janeiro de 1997
Estreia no Brasil: 27 de março de 1997
IMDb



Essa semana revi "Todos Dizem Eu Te Amo", que, na minha humilde opinião, é uma das obras-primas de Woody Allen. Um filme que não envelhece. Aliás, os bons filmes são assim, não é mesmo? Não ficam datados. São até mesmo como os bons vinhos: quanto mais o tempo passa, ficam ainda melhores.

Woody Allen tem (ou pelo menos tinha) essa capacidade de se renovar a cada trabalho. Não havia limites para sua imaginação e criatividade. Ultimamente acho que ele já está ficando cansado... Afinal, de contas, ele já está com 75 anos de idade, e em 45 anos - atua como diretor desde 1966 - produziu a "bagatela" de 41 longas-metragem. É mole?

Neste filme, Allen homenageia os musicais, gênero que tanto tempo seduziu os espectadores, principalmente os estadunidenses. A diferença "alleniana", digamos assim, é que aqui, a maioria dos atores não sabe cantar direito, e nem tem voz para isso. É o caso de Edward Norton, Drew Barrymore, Julia Roberts, Natalie Portman, Tim Roth, e, inclusive, o próprio Woody Allen.

No entanto, são justamente as cenas musicais o ponto alto do longa. Logo no início, vemos um desajeitado Edward Norton tentando fazer alguns passos de dança. É hilário. O destaque, claro, fica com a melhor coreografia do filme, aquela interpretada por Allen e Goldie Hawn, a já clássica cena em que eles dançam e ela "flutua" à beira do rio Sena, em Paris.

Quanto às atuações não há o que comentar, todos estão muito bem (especialmente Goldie Hawn), o que é praxe nos filmes de Woody Allen, já que ele é conhecido por ser um ótimo diretor de atores.

A história é simples, descomplicada e, como tantas outras do roteirista/diretor, pontuada pelas neuroses e inseguranças de relacionamentos e da vida cotidiana.

Enfim, pode não ser um "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), ou um "Hannah e Suas Irmãs" (1986), ou ainda um "Manhattan" (1979). Mas ainda assim, é um dos melhores longas deste tão talentoso gênio da cinematografia mundial.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


quinta-feira, 14 de abril de 2011

Um Homem que Grita

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Homem que Grita, Um (Un Homme Qui Crie, 2010)

Estreia oficial: 23 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 19 de novembro de 2010
IMDb



"Um Homem que Grita" retrata o cotidiano de Adam (Youssouf Djaoro), um salva-vidas que trabalha em um hotel na capital do Chade, N'Djamena. Quando o hotel é comprado por chineses, em plena crise econômica e em meio a uma guerra civil, a ameaça de desemprego paira sobre os funcionários. Para não ser demitido, Adam é relocado para trabalhar como porteiro do estacionamento do hotel, deixando o cargo de salva-vidas que tanto ama para o seu filho, Abdel (Dioucounda Koma).

Quando o exército cobra de Adam a cessão de seu filho para combater na linha de frente, Adam vê a possibilidade de retomar seu antigo posto na piscina, e assim, abre mão da liberdade de escolha do próprio filho. Uma decisão difícil que mudará para sempre suas - já tão duras - vidas.

O diretor Mahamat-Saleh Haroun trabalha com sensibilidade a história, optando por uma estética crua e um ritmo bastante lento. Os longos planos sequência que dominam o filme servem para que nós, espectadores, possamos vivenciar um pouco a experiência dos próprios personagens frente àquela vida de pobreza e guerras.

Também há pouco uso de trilha sonora, o que deixa o filme com um ar quase documental, aproximando ainda mais o espectador daquela realidade.

O belíssimo plano final, quando Adam finalmente compreende as consequências dos seus atos, é coroado por uma mudança na belíssima fotografia de Laurent Brunet, deixando o filme com tons mais coloridos, como uma revelação final, bela e trágica, do personagem principal.

Enfim, não foi à toa que "Um Homem que Grita" recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes 2010. É realmente um filme contundente e emocionante.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Lançamento Curta "Retrato Falado"

Abrimos uma brecha nos comentários sobre filmes para o lançamento do nosso próprio curta-metragem.


"RETRATO FALADO"

Realizado com o Prêmio Funcine, Retrato Falado, de Melissa Lipinski e Oscar R. Júnior, estreia dia 13 de abril, às 20 horas, no Cineclube Ieda Beck, na Cinemateca Catarinense. O filme narra a trajetória de uma artista que desenha o rosto de pessoas a partir da voz ouvida em diálogos por telefone. Será que os desenhos correspondem à fisionomia dos personagens?


O lançamento celebra a parceria de um encontro de realizadores de audiovisual formado durante o curso de cinema na Universidade do Sul de Santa Catarina, a Unisul. Junto com Retrato Falado, que tem Brígida Miranda no papel principal, serão exibidos também Num Piscar, de Deici Dias, Quimera, de Melissa Lipinski e Obra sem título, de Breno Furtado.


Os curtas foram realizados pelo grupo durante a faculdade e são Trabalhos de Conclusão de Curso. Retrato Falado é o início de uma nova fase de uma amizade e parceria profissional que sobreviveu após a formatura.


Quando Melissa venceu o Prêmio Funcine 2010, com o projeto Retrato Falado, algumas funções já tinham nomes definidos, como a Produção, a cargo de Deici, o Som, com Breno, e a direção, que Melissa dividiu com Oscar. Mesmo morando em cidades diferentes, os jovens produtores já planejam fazer outros trabalhos juntos.




O quê: Mostra Cineclube Ieda Beck com lançamento de Retrato Falado, de Melissa Lipinski e Oscar R. Júnior
Quando: quarta, 13 de abril, quarta-feira, às 20h
Onde: Cinemateca Catarinense/Instituto Arco-Iris. Travessa Ratclif, 56, Centro, Florianópolis.
Quanto: gratuito.


FILMES (por ordem de exibição)

Quimera, de Melissa Lipinski (ficção, 16min, 2010)
Esda tem um amante de longa data, até que decide partir em busca de novas experiências. Mas como terminar um relacionamento que durou toda a sua vida?

Num Piscar
, de Deici Dias (ficção, 10min, 2009)
Um jovem se suicida e fica condenado a ver o momento da própria morte por toda a eternidade, enquanto uma jovem caminha para o mesmo fim.

Obra sem título, de Breno Furtado (ficção, 3min, 2010)
Um escritor indeciso sai em busca de respostas e encontra em páginas em branco as perguntas que procurava.

Retrato Falado, de Melissa Lipinski e Oscar R. Júnior (ficção, 22min, 2011)
Estela vive sozinha e adora desenhar. Ela faz rostos de pessoas desconhecidas baseadas apenas na voz, por isso estende ao máximo suas conversas telefônicas com atendentes de telemarketing. Mas será que os desenhos correspondem a esses desconhecidos?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quando Fala o Coração

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Quando Fala o Coração (Spellbound, 1945)

Estreia oficial: 28 de dezembro de 1945
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Alfred Hitchcok também teve sua parcela de filmes noir na década de 1940. Este "Quando Fala o Coração" é um dos exemplos (acho que outro que se encaixa no gênero é "Suspeita", de 1941).

A trama é de suspense, claro, mas é a psicanálise que domina a história. Vale lembrar que, nessa década houve o grande crescimento e aceitação desse ramo da psicologia, que baseia-se nos conceitos desenvolvidos por Sigmund Freud. O filme abusa um pouco desta linha de raciocínio, já que todos os fatos parecem ter uma explicação calcada neste pensamento, o que acaba enfraquecendo um pouco a trama. Mas jamais a desmerece. Inclusive, chega a ser responsável pela melhor cena do longa: uma sequência de sonhos onde os cenários foram todos criados por Salvador Dalí. A obra deste grande pintor, fotógrafo e cineasta é logo reconhecida. Seu trabalho é inconfundível. Há inclusive uma imensa cortina com olhos estampados que, quando cortada por um personagem, a tesoura faz um corte transversal em um dos olhos, remetendo imediatamente à famosa cena de "Um Cão Andaluz" (1929), curta de Dalí e Luis Buñuel, onde um olho é cortado por uma navalha.

Para interpretar os psicanalistas Dr. Edwards e Dra. Constance Petersen, Gregory Peck e Ingrid Bergman, respectivamente. Os dois estão muito bem. Hitchcok sempre foi conhecido pelo rigor que tinha com os atores, e isto é sempre notado em seus filmes, já que é difícil ver algum onde a direção de atores não é, no mínimo, regular.

Outra sequência que vale destacar é aquela em que aparece uma mão apontando uma arma para a personagem de Bergman. A mão, em primeiro plano, está numa escala bem maior que a Dra. Constance, que está ao fundo. Para conseguir tal efeito, Hitchcock construiu uma mão de madeira gigante, e colocou-a bem rente à câmera. O mais interessante desta cena (e aí vai um spoiler), é que a arma vira para a câmera (para o espectador) e atira. Há, aí, uma quebra, já que, de certa forma, Hitchcok atira na direção do público. Vale lembrar que a dita quarta parede não era usualmente "rompida" na época, e esta interação com o espectador faz com que este seja 'chamado' para a realidade, distanciando-se do filme. Hoje em dia isso não mais surpreende (nem os efeitos da mão parecem tão bons), mas na época, com certeza, foi um "estouro"! (com o perdão do trocadilho).

A trilha sonora composta por Miklós Rózsa é excelente, e sabe equilibrar bem os climas de tensão e romance que intercalam-se na tela.

Claro que visto hoje em dia, talvez o filme pareça um pouco datado - e acho que isso deve-se, principalmente, ao abuso da psicanálise na trama. O romance entre os personagens também me soa um pouco forçado, já que não dá pra entender como uma médica, extremamente racional, larga toda a sua vida para ir atrás de um susposto assassino. Claro que há toda a justificativa da médica que quer tratar o paciente, mas o envolvimento romântico entre eles jamais parece bem desenvolvido. Mas, no geral, acaba sendo um pequeno deslize frente ao resultado final da obra.

Enfim, mais um ótimo exemplar deste que foi o Mestre do Suspense.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Uma Manhã Gloriosa

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Manhã Gloriosa, Uma (Morning Glory, 2010)

Estreia oficial: 10 de novembro de 2010
Estreia no Brazil: 1 de abril de 2011
IMDb



Acho que a roteirista Aline Brosh McKenna gastou todas as suas fichas de como fazer uma história bobinha se tornar um filme com algo mais em "O Diabo Veste Prada" (2006) - ou será que foram as belas atuações de Meryl Streep e Anne Hathaway que fizeram a diferença? Já que este seu novo longa, "Uma Manhã Gloriosa", abusa da liberdade de ser mais do mesmo, ou seja, não traz nada de novo. E o que é pior, chega a insultar a inteligência do espectador.

Rachel McAdams (de quem gosto bastante) até tenta compor uma personagem com que o espectador se identifique, mas a superficialidade é tanta, que qualquer ação da atriz neste sentido é em vão. Já Harrison Ford nem tenta: o ator está caricato ao extremo. E ver Dianne Keaton aqui chega a ser constrangedor. Mas, como disse, a culpa não é apenas dos atores, já que todos, absolutamente todos os personagens do longa são caricatos e superficiais.

Utilizando-se de uma estrutura que mistura comédia romântica com filme de superação, "Uma Manhã Gloriosa" não se define nem como um, nem como outro. Não que um filme precise se definir. Aliás, acho bem mais interessante aqueles que conseguem subverter as regras. Mas, como este longa já nasce formulaico, a falta de definição acaba sendo desastrosa para o seu resultado final, já que não consegue aproveitar o que nenhum dos gêneros tem de melhor.

Além do mais, o filme consegue ser sexista, já que a personagem de McAdams, Becky Fuller, parece uma neurótica que tem que sacrificar sua vida pessoal para conseguir um mínimo de sucesso na carreira. Enquanto o seu namorado, Adam (Patrick Wilson) consegue conciliar muito bem as duas coisas, mesmo tendo uma função muito similar a de Betty. E mais: antes de começar o relacionamento com a protagonista, o bonitão, aparentemente, conseguia a mulher que queria. Ou seja, o homem consegue tudo facilmente. Já a mulher tem que "rebolar" para conseguir um reconhecimento. O filme está ou não uns vinte anos atrasado?

Até porque o reconhecimento buscado por Becky acontece pelos princípios errados. Afinal, além de tudo, "Uma Manhã Gloriosa" prima pelo emburrecimento de seu público (tanto o público da história, quanto o público real). Por mais que o filme "diga" que o que importa é o jornalismo sério e não o entretenimento sem conteúdo, o que vemos na tela é justamente o contrário, já que, pelo que parece, nem McKenna, nem o diretor Roger Mitchell se dão conta que, ao colocar o personagem de Ford, Mike Pomeroy, rendendo-se ao quadro de culinária do programa apenas para trazer a produtora Becky de volta, concretizam a vitória da imbecilização. O que falar então da cena em que vemos uma Becky toda feliz ao colocar a personagem de Keaton, Colleen Peck, beijando um sapo na boca? Seria uma Ana Maria Braga estadunidense? Isso é jornalismo de qualidade? Só se for lá na terra do Tio Sam!

Pra não dizer que nada presta, até há uma ou outra piada que faz você sorrir, e Rachel McAdams consegue emprestar uma certa doçura à personagem (apesar de exagerar na dose em alguns momentos), mas não são o suficiente.

Finalmente, a terrível trilha sonora parece oprimir e comprimir qualquer tentativa de emoção dos próprios atores.


por Melissa Lipinski


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Os Dois Ladrões

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Dois Ladrões, Os (1960)

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"Os Dois Ladrões" é uma chanchada produzida pelo antigo estúdio brasileiro Atlântida, especializado neste tipo de produção.

O filme narra a história de "Mão Leve" (Cyl Farney), um tipo de Robin Hood, que rouba de pessoas ricas e para doar dinheiro aos pobres. Mas também o faz por diversão, já que ele mesmo é rico.

Para realizar seus planos, ele sempre conta com a ajuda de seu parceiro no crime, Jonjoca (Oscarito), que, não precisa nem dizer, é super atrapalhado. Os dois roubam as jóias de uma mulher rica, Madame Fortuna (Ema D'avila). Mais tarde, durante um novo golpe em outra ricaça, Madame Gaby (Eva Todor), "Mão Leve" descobre que a sua primeira vítima é cunhada de seu irmão mais novo. Então, começam as confusões com o galã tentando devolver as jóias e se apaixonando por uma corretora de seguros, enquanto Jonjoca, sozinho, tenta dar prosseguimento ao novo golpe.

Não é preciso nem comentar que toda a graça do filme está em Oscarito. A cena em que ele, travestido de Madame Gaby, dá de cara com a própria num corredor de hotel e finge ser um espelho, é clássica. E engraçadíssima! Oscarito foi único.

O restante da história não tem nada de novo. O filme investe na sátira a filmes dos gêneros noir e policial. A cena inicial, com os dois ladrões no contraluz é muito bonita e realmente lembra os filmes noir das décadas de 1940 e 1950. No restante, apenas a bastante utilização de sombras. Já que as personagens não são, nem de longe, tão dúbias quanto nos filmes estadunidenses do gênero. Aliás, Carlos Manga foi quem iniciou esse tipo de sátira a filmes hollywoodianos dentro da Atliantida.

Apesar do humor um pouco ultrapassado (não para quem gosta de "Zorra Total" e afins), vale a pena como um dos poucos filmes preservados da Atlântida. E para rever Oscarito, claro.


por Melissa Lipinski


terça-feira, 5 de abril de 2011

Matar ou Correr

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.
Matar ou Correr (1954)

IMDb



"Matar ou Correr" é uma das mais famosas chanchadas da Atlântida, estúdio brasileiro que foi criado em 1941 e teve como maior expoente as comédias escrachadas, as famosas chanchadas.

O gênero foi a marca registrada do estúdio, que tentava implantar no Brasil um sistema parecido com o adotado em Hollywood, onde os estúdios, além de serem responsabilizados pela produção, distribuição e exibição dos filmes, também apostava no star system, onde os atores eram contratados do estúdio e só trabalhavam em suas produções.

As maiores estrelas das chanchadas da Atlântida foram Oscarito e Grande Otelo, a dupla que trabalhou pela primeira vez para o estúdio em 1944, no longa "Tristezas Não Pagam Dívidas", fez , dentro da Atlântida, 12 filmes juntos, e um anteriormente - "Noites Cariocas" (1936). "Matar ou Correr" é um dos seus filmes mais famosos, e é dirigido por Carlos Manga, diretor que estreou na Atlântida e foi quem trouxe as sátiras de grandes sucessos estadunidenses para dentro do estúdio carioca.

"Matar ou Correr" foi um dos maiores sucessos de Manga, e faz uma paródia clara a "Matar ou Morrer" (1952), de Fred Zinnemann e que traz Gary Cooper como protagonista. Na paródia nacional, Oscarito e Grande Otelo são, respectivamente, Kid Bolha e Ciscocada, e que, acidentalmente, vão parar em Citydown, um cidadezinha do oeste que é aterrorizada pelas maldades de Jesse Gordon (José Lewgoy, um dos maiores vilões da Atlântida). Por acaso, a dupla de vigaristas de bom coração acaba nocauteando o pistoleiro, e Kid Bolha é nomeado pela população como o novo xerife da cidade. E, quando o vilão consegue fugir da prisão, os problemas do xerife começam a aparecer, já que Gordon resolve se vingar. O filme ainda conta com um jovem John Herbert como o mocinho do filme, um agente federal que vem para a cidade atrás do vilão.

A história é boba e ingênua (como a maioria das chanchadas), mas na época era o cinema de melhor qualidade técnica realizado no Brasil.

Oscarito e Grande Otelo são impagáveis, com suas piadas e gags visuais que até hoje são imitadas pelos comediantes das TVs. É engraçado ver como um ramo do audiovisual nacional não evoluiu em suas piadas, apenas ficou mais sensual (ou sexual).

O trabalho de arte também merece destaque, com os grandes cenários criados pela Atlântida, e os figurinos caprichosos.

Hoje, é claro, o ritmo do filme não agradará a todos, mas, para quem se interessa pela história do cinema (sobretudo do cinema nacional), é um filme obrigatório. E ver Oscarito no auge da carreira é sempre divertido.


por Melissa Lipinski

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Falcão Maltês

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Falcão Maltês, O (The Maltese Falcon, 1941)

Estreia oficial: 18 de outubro de 1941
IMDb



"Relíquia Macabra" foi o nome deste filme quando, na época, foi lançado nos cinemas brasileiros. É o primeiro longa dirigido pelo ótimo John Huston (que posteriormente fez "O Tesouro de Sierra Madre", 1948; "Uma Aventura na África", 1951; "Moby Dick", 1956, só pra citar alguns), e que, até então, era roteirista da Warner.

Diz a história que Huston brigou para adaptar o livro homônimo de Dashiell Hammett, e que só conseguiu levar os filme à tela porque a obra já havia sido adaptada duas vezes anteriormente. Não li o livro, mas diz a lenda que Huston quis fazer essa adaptação para ser mais fiel ao livro de Hammett.

"O Falcão Maltês" também tem outro mérito. É considerado por vários autores como o primeiro filme noir da história. O longa traz várias das característica utilizadas, posteriormente, pelos filmes do gênero, como a trama policial sombria, envolta no crime e corrupção; o anti-herói com seu cinismo e índole não muito confiável; a mulher fatal e perigosa; a utilização de sombras marcadas; e diálogos com duplo sentido.

O filme ainda iniciou Humphrey Bogart no tipo de papel que lhe consagraria: o do detetive durão e extremamente cínico. Mas não só o personagem de Bogart, Sam Spade, possui essas características. O filme é um 'desfile' de tipos dúbios e seus diálogos ambíguos. Desde a 'femme fatale' interpretada por Mary Astor, que inicia o filme como uma inocente moça, para depois revelar-se uma manipuladora de mão cheia. Ou o bandido Kasper Gutman (Sydney Greenstreet) que consegue ser bonachão e amedrontador ao mesmo tempo. Ou o tipo afeminado de Peter Lorre, Joel Cairo, com seus lenços perfumados, e que não hesitaria em atirar em nenhum dos personagens - é interessante notar que, na primeira cena em que Cairo aparece, ele é anunciado pela secretária de Spade, que lhe entrega o seu lenço. Spade o cheira e sente o perfume. Depois que Cairo adentra na sala, Spade o esbofeteia sem razão logo na primeira oportunidade. Ora, não é preciso ser muito astuto para juntar as peças e ver o preconceito e homofobia não tão velados assim.

A trama do longa é cheia de reviravoltas e suspense, como todo bom filme noir. E a relíquia macabra do antigo título nacional (o próprio falcão maltês), é uma estatueta incrustada de jóias que mal aparece no filme, mas é quem move a trama. Um típico exemplo do McGuffin definido por Alfred Hitchcock (algo que os personagens perseguem e que faz a trama avançar, mas que, na realidade, não altera em nada a história em si, portanto, sabermos ou não o que ele é, não importa realmente).

Não há muita ação no filme, ele é todo calcado nos ótimos diálogos com duplo sentido. Há ainda a famosa cena em que Sam Spade deixa sua amada, Brigid (Astor), ser presa pela polícia, e as grades do elevador fecham em frente ao seu rosto como barras de uma cela de prisão. Perfeita!

A ótima trilha sonora ajuda a dar ritmo à narrativa, também evidenciando o clima de suspense e mistério, mas sem exageros.

Enfim, é um filme obrigatório para todos aqueles que gostam da Sétima Arte.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski