quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Alpha e Omega

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Alpha e Omega (Alpha and Omega, 2010)

Estreia oficial: 17 de setembro de 2010
Estreia no Brasil: 21 de outubro de 2011
IMDb



"Alpha e Omega" tem uma história previsível e tola; personagens mal construídos e vazios; e uma animação "à moda antiga", antiquada. Portanto deve agradar apenas àqueles espectadores mais novos, que podem se encantar só por ver animaizinhos falantes.

Kate é uma loba alpha e está no 'estrato' mais alto da alcateia; Humphrey é um macho omega, e faz parte de uma 'classe' inferior. Amigos de infância, obviamente os dois vão se apaixonar enquanto passam por aventuras no seu caminho de volta ao parque onde vivem, no Canadá, depois de terem sido levados para repovoar uma reserva em Idaho.

Com um roteiro piegas, meloso e previsível, o pior é o mal gosto e o preconceito na composição de alguns personagens (basta ver os outros lobos omegas - fora Humphrey - que são retratados como palhaços com um QI abaixo da média). Para piorar, as situações repetem-se para dizer coisas que bastavam uma cena para isso, como os omegas brincando ou o uivo desastroso do pretendente alpha de Kate.

Além do mais, as piadas também não funcionam, e os personagens que serviriam como alívio cômico - um ganso e um pato - não têm a menor graça. Completando o pacote de mediocridades, os diálogos são mal escritos e redundantes.

Bom, não há muito o que escrever, porque o filme não propõe nada, e ainda tem aquela velha e 'mal fadada' (pelo menos pra mim) lição de moral ao final. Totalmente dispensável e desnecessário.


por Melissa Lipinski


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008)

Estreia oficial: 21 de maio de 2008
Estreia no Brasil: 21 de maio de 2008
IMDb



O arqueólogo Henry Jones Junior (ou Indiana Jones como ele mesmo preferia ser chamado) marcou a década de 1980 com sua sede de aventura, buscando e preservando objetos históricos e míticos, com seu jeito cínico e divertido, mas acima de tudo, humano - e suas interações com seus companheiros em cada episódio da série serviram, entre outras coisas, para humanizar o protagonista, seja com sua ex-namorada Marion (Karen Allen), com seu pequeno ajudante Short Round (Jonathan Ke Quan) e, obviamente, com seu carismático pai (Sean Connery).

É um pena, portanto, que Steven Spielberg e George Lucas resolveram desenterrar o herói para mais uma aventura, 'maculando' a imagem que tínhamos dele, e fazendo com que a qualidade da série desabasse.

Tendo que preencher a falta de personagens importantes da série, como o professor Henry Jones (Connery, que não aceitou participar do projeto), o grande amigo e colega da Universidade, Marcus Brody (Denholm Elliot, falecido em 1992), e o amigo de aventuras Sallah (John Rhys-Davies, que pediu um cachê muito alto), o roteirista David Koepp (partindo de uma ideia de Lucas e Jeff Nathanson) foi obrigado a incluir novos personagens, que, nem de longe alcançam o carisma e a profundidade dos três citados; como o novo parceiro de Indiana, o extremamente mal desenvolvido Mac (Ray Winstone); ou o reitor da Universidade vivido por Jim Broadbent, que até mostra-se competente (com seu habitual talento), mas que aparece tão pouco que não dá tempo de evoluir; ou o pior de todos, o professor Oxley, vivido por John Hurt de maneira vazia já que seu personagem é deixado em transe (literalmente) durante a maior parte do filme.

A ideia de trazer um jovem entusiasmado, Mutt (Shia LaBeouf), fazendo o contraponto ao já envelhecido arqueológo foi, inegavelmente, uma boa ideia, já que poderia recriar a dinâmica entre Indy e seu pai vista em "A Última Cruzada", e há cenas em que os autores tentam voltar a isso. Porém não conseguem fazer com que a interação soe verdadeira e fluida como na do longa anterior, e acaba parecendo forçada (ainda que engraçada, principalmente para os fãs mais antigos do herói de chapéu de feltro e chicote). A volta de Marion à série também parece forçar a barra, assim como a tentaiva (fracassada) de retomar a antiga química entre ela e o herói: seus desentendimentos e entendimentos soam sempre falsos e pouco inspirados, movidos por motivos fracos.

Mas o grande erro de composição dos personagens reside mesmo em como retrataram o próprio Indiana Jones. Parecendo um infalível super-herói, Indy (apesar de ainda tomar decisões equivocadas) jamais aparenta estar realmente em perigo, jogando fora um dos pontos mais fortes da antiga trilogia - o fato dele ser um 'homem comum' que passa por situações extraordinárias. E, se antes o próprio herói espantavasse com a própria sorte, agora parece ciente de sua invulnerabilidade.

Entretanto Harrison Ford continua vivendo-o de forma impecável, com seu charme e carisma habituais. Como conter um sorriso ao ver o próprio Indiana sorrindo cinicamente quando a vilã Irina Spalko tenta ler sua mente? Ele sabe que ela jamais conseguirá, sua mente é confusa, intrincada demais. Nós também sabemos disso. E Irina descobre, constatando o óbvio.

O que me leva a falar exatamente dela, a vilã interpretada por Cate Banchett. Sem sombra de dúvidas é a pior antagonista de toda a saga (senão a pior) e uma das piores atuações da atriz, que deixa seu terrível sotaque ser a sua única composição.

Quanto ao roteiro propriamente dito, não sei dizer se Spielberg opinou na sua confecção, mas chega a ser engraçado (e mal desenvolvido, diga-se de passagem) que o seu tema preferido - alienígenas - esteja agora presente numa aventura de seu maior herói. Aliás, a história funciona até o momento em que a trupe liderada por Jones chega à selva Amazônica, a partir daí, passa a ser uma sequência de situações mal desenvolvidas que culmina num final igualmente patético.

Quanto às cenas de ação - tão bem dirigidas por Spielberg nos longas anteriores, como a perseguição dos caminhões nazistas em "Os Caçadores da Arca Perdida", ou a corrida de carrinhos de mina em "O Templo da Perdição", ou a briga sobre o tanque nazista em "A Última Cruzada" - são extremamente aborrecidas e sem criatividade, com exceção de uma perseguição de moto que acontece logo no início do filme, fazendo com que o espectador apenas fique na esperança de uma boa dose de adrenalina, que nunca se concretiza.

Mas nenhum desse equívocos seria incontornável se realmente acreditássemos na história que estamos vendo, o que não acontece em nenhum momento, em parte devido ao uso indiscriminado da computação gráfica, que desumaniza as cenas. Assim, quando vemos Mutt locomovendo-se por cipós acompanhado de macacos digitais, rimos de vergonha; ou quando vemos formigas gigantes que devoram tudo e todos que vêem pela frente, ficamos impassíveis, sem sentir ao menos um arrepio (eu particularmente senti raiva), diferentemente do que acontecia em "O Templo da Perdição", quando víamos gigantes e asquerosos insetos subindo pelo corpo de Willie (Kate Capshaw), e nos sentíamos tão angustiados quanto a personagem, justamente por acreditar no que estávamos vendo.

Porém, o longa tem seus bons momentos - e todos são 'resquícios' da trilogia inicial: como o logo da Paramount fundindo-se em uma imagem real (agora com um tom mais bem humorado), ou a linha vermelha que aparece sobre um mapa, mostrando o trajeto aéreo do personagem. Mas principalmente na fotografia de Janusz Kaminski (e que acompanha Spielberg em todos os seus longas desde "A Lista de Schindler", de 1993), e que mantém a estética criada por Douglas Slocombe, com suas silhuetas demarcadas em sombra (a primeira vez que o herói surge, aqui, é extremamente inspirada e saudosista), e com o tom sépia que domina a saga, dando-lhe um tom clássico e realmente elegante. Isso sem falar na trilha musical mais do que consagrada de John Williams.

Enfim, "O Reino da Caveira de Cristal" acaba deixando um tom amargo na boca dos fãs mais ardorosos desse herói que marcou a infância de muita gente (e aí me incluo). Seria melhor tê-lo conservado apenas como uma boa memória do que atualizá-lo de forma decepcionante.


por Melissa Lipinski
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Minha pontuação para este filme se deve ao fato do filme em si, porque se fosse pelo conjunto ele ia ser pior ainda por 'sujar' a saga "Indiana Jones". Na verdade ele não estraga pois considero Indiana Jones como uma trilogia. Sim, eu desprezo este episódio. Mas vamos lá.

Interessante o Indiana Jones ser apresentado por sua sombra. Legal ele ainda usar o chicote para se livrar dos soviéticos. Mas agora ele sobreviver a um teste nuclear por estar dentro de uma geladeira? Um pouco demais. Assim como aquele papo do Indiana Jones e o seu amigo George "Mac" McHale (Ray Winstone). Mac é um agente duplo, ou triplo, ou quádruplo... Um negócio confuso, só serve para tentar (eu disse, tentar) despistar um roteiro mal feito. Mas até aí vai.

O que não rola são as cenas de perseguição requentadas de outros filmes. Como assim? Praticamente refazem algumas sequências só que agora algumas são com Harrison Ford e outras com o Shia LaBeouf. E convenhamos, na primeira cena em que este aparece. já sabemos qual a relação dele com o Indiana.

Mas o que mais me estarreceu no filme é a relação com os extraterrestres. Puxa vida, depois de todo o trabalho com a tal caveira de cristal simplesmente os ETs ligarem as turbinas e irem embora? O que é isso? E quando você pensa que não podia terminar, o filme termina com um casamento! Que triste!

Decepcionante.


por Oscar R. Júnior


domingo, 25 de setembro de 2011

Indiana Jones e a Última Cruzada

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade, 1989)

Estreia oficial: 24 de maio de 1989
IMDb



"A Última Cruzada" é o meu "Indiana Jones" favorito. Talvez porque Harrison Ford esteja mais à vontade do que nunca como o protagonista que imortalizou, talvez pela sua química perfeita com Sean Connery, talvez pelos diálogos espirituosos, talvez pelas sequências de ação eletrizantes… Talvez por tudo isso junto.

O início do longa já o diferencia dos anteriores. Sim, ele traz um prelúdio (como os demais), que conta uma mini-história já repleta de ação vivida por Indy. Sim, novamente traz o logo da Paramount (a montanha) fundindo-se com uma imagem real (agora uma pedra no mesmo formato). Porém, neste terceiro filme da saga, essa 'pré-história' é vivida por um Indiana Jones jovem (River Phoenix) e mostra o início da vida repleta de aventuras que o protagonista viria a ter, e também como o chapéu de feltro e o chicote (seus parceiros inseparáveis) surgiram em sua vida, assim como o seu medo por cobras.

Mas, para mim, o melhor do roteiro escrito por Jeffrey Boam é o desenvolvimento da relação entre o filho, Indiana Jones, e seu pai, Henry Jones (Sean Connery). Se no prólogo da história já nos é apresentada essa difícil relação, assim como o fato de o professor Henry Jones dar mais atenção às suas pesquisas do que ao filho, durante todo o restante do filme vemos como esses conflitos se colocam entre os dois e a maneira como isso os afeta, não escancaradamente, mas nos pequenos detalhes e olhares entre esses dois personagens.

Como o roteiro não precisa apresentar mais o personagem-título, parte direto para os fatos, o que faz com que este filme tenha bem mais ação do que seus anteriores. A recorrência em colocar os nazistas como vilões absolutos da trama também auxilia na identificação do público (já que eles são os 'vilões-mor' da história da humanidade), não precisando explicar muito a respeito, afinal ninguém gostaria de imaginar como seria se Hitler e companhia tivessem em suas mãos um poder que os tornassem imortais. É uma situação que todos temeriam (seja na realidade ou na ficção).

Mas não é somente aí que o roteiro acerta, mas também ao colocar mais humor e mais cinismo na história. O conflito entre pai e filho gera situações divertidas, assim como a maior participação de Marcos Brody (Denholm Elliott). Mas talvez o ponto máximo de humor esteja na cena onde os Jones vão parar no meio de uma manifestação nazista e dão de cara com ninguém menos que o próprio Adolf Hitler. As caras e bocas de Harrison Ford nesta sequência são impagáveis!

Ford, como disse no início, está bem à vontade com esse personagem que já conhecia tão bem, e pode desenvolver mais as suas nuances. Já Sean Connery (escolhido por Spielberg por ser "o" 007, já que o diretor anteriormente queria dirigir um filme do agente britânico) está melhor do que nunca e, embora apenas 12 anos mais velho que Harrison Ford, realmente aparenta ser seu pai e, deixa claro de onde Indiana puxou sua jovialidade e seu charme (principalmente com as mulheres).

A trilha musical deste terceiro "Indiana Jones" volta a ter a música-tema composta por John Williams como destaque absoluto, ainda que com arranjos mais sofisticados (e Williams recebeu sua terceira indicação ao Oscar pela série).

A fotografia, novamente feita por Douglas Slocombe, volta a ter as sombras demarcadas de semblantes como sua marca, ainda que em menor escalas do que nos dois filmes anteriores. Os efeitos visuais também são muito bem feitos (aliás, a única categoria do Oscar que foi premiada nos três filmes do herói), e não aparecem de forma gratuita, mas sim para auxiliar o desenvolvimento da história.

Mas é novamente Steven Spielberg quem sai soberano. Depois de um hiato de 5 anos e dois longas mais 'dramáticos' ("A Cor Púrpura" e "Império do Sol"), o diretor volta a dirigir as sequências de ação de forma magistral, construindo-as de maneira a deixar o espectador 'pregado' em sua cadeira, roendo as unhas ou arrancando cabelos. Brincadeirinhas à parte, Spielberg sagra-se definitivamente, com este filme, como um dos melhores diretores (senão o melhor) de filmes de ação e aventura. Ele sabe, como ninguém, manter a tensão de uma sequência, intercalando planos em montagem paralela, com duração cada vez menor, até atingir o ápice da ação, sua resolução, quando retoma o uso de planos mais longos para que o público possa voltar a respirar.

Enfim, "A Última Cruzada" é a consagração definitiva do melhor herói cinematográfico, com excelentes atores, um roteiro que equilibra humor, cinismo e aventura, e um diretor brilhante. Não é apenas a aventura máxima de Indy; é uma das melhores aventuras do Cinema.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Este definitivamente é o melhor filme da saga. Drama, aventura, comédia, de época, tudo junto.

O roteiro. Começa nos mostrando um pouco da motivação e dos medos do jovem Indiana Jones. Nesta história é incrível que mesmo não conhecendo muito dos pormenores do Santo Graal, nós entendemos o que se passa no filme. Os diálogos são muito bem escritos e as situações são construídas formidavelmente.

Arte e Fotografia. A Direção de Arte sempre competente recriando os ambientes. Neste terceiro filme teve o apoio daquela locação que fica em Petra (Jordânia). Este cenário é incrível. Incrível mesmo. A Direção de Fotografia também está muito bem e, pessoalmente, adoro a ilusão de ótica de uma das provações para se chegar ao Santo Graal.

Quanto ao elenco e personagens. Aqui Indiana Jones finalmente tem um personagem para disputar a atenção. O personagem de seu pai, Henry Jones (Sean Connery), é muito bem construído e interpretado. Os momentos cômicos do filme vêm da interação entre pai e filho na trama.

Por fim, na minha opinião, o melhor dos "Indiana Jones". Feito para se ver e rever mais de uma vez, sem nunca se cansar.


por Oscar R. Júnior


sábado, 24 de setembro de 2011

Indiana Jones e o Templo da Perdição

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom, 1984)

Estreia oficial: 23 de maio de 1984
IMDb



"O Templo da Perdição" foi a primeira sequência de Steven Spielberg. Produzido três anos depois do primeiro longa do herói de chapéu de feltro e chicote, "Indiana Jones e o Templo da Perdição" tem sua história ambientada cronologicamente antes dos episódios do primeiro longa.

Adotando um tom mais 'dark', esse segundo longa não apresenta o mesmo charme do primeiro, mas ainda assim é um bom exemplar de filme de aventura. Roteirizado por Wilard Huyck e Gloria Katz, a narrativa não é tão envolvente e ainda insere temas um tanto quanto polêmicos, como rituais satânicos, trabalho escravo infantil e violência contra crianças, o que certamente desagrada muita gente. A mim, particularmente, não incomoda. Politicamente incorreta assumida como sou, não me choco com isso. Bons tempos eram aqueles em que Steven Spielberg, o diretor mais 'bom moço' de Hollywood, ainda tinha a coragem (e a liberdade) de colocar temas tão polêmicos e contraditórios em suas produções. Hoje não se vê mais isso no cinema mainstream, ou pior, vemos até grandes nomes mudando seus projetos anteriores, como fazendo certos heróis atirarem depois (para ser considerado auto defesa), ou substituindo digitalmente espingardas das mãos de policias por walk talkies, já que estes estão enfrentando crianças em bicicletas… Enfim, os tempos eram outros, a mentalidade era outra, o mundo era outro… Mas essas são apenas minhas divagações. Vamos voltar ao filme.

O que importa mesmo é o carisma de Harrison Ford, que consegue transformar o longa em mais uma excepcional aventura do maior herói do cinema. Com seu jeito cínico, seu sorriso de lado e seu charme incontestável, Indiana Jones continua sendo o herói que qualquer indivíduo 'comum' poderia ser, afinal é um personagem tridimensional, com qualidades e defeitos (em grande número diga-se de passagem), como qualquer pessoa.

Além dele, ainda há o pequeno Jonathan Ke Quan (que interpreta o ajudante de Indy, 'Short' Round), o menino é carismático, inteligente e encantador. Além de ter um ótimo timing para a comédia. É impossível não se encantar com ele. Por outro lado, há a péssima escolha do par romântico do herói, Kate Capshaw, que faz Willie, uma das mociinhas mais irritantes de todos os tempos. O grande problema não é a personagem ser isuportável (afinal essa era a intenção do roteiro), com seus gritos ensurdecedores e sua atitude aborrecida e interesseira; mas sim a atriz não conseguir ir além disso. Capshaw não consegue fazer com que vislumbremos algo de bom em sua personagem, apesar de sua histeria e frescuras gerarem algumas boas cenas engraçadas, como a sequência em que, no meio da selva, interage com diversos bichos sem notar; ou aquela em que se vê coberta de insetos para salvar seus companheiros; ou ainda a famosa cena do banquete no palácio, onde são servidas iguarias que, literalmente, levam-na ao chão. (Para quem gosta de curiosidades, Cate Capshaw conheceu Spielberg neste filme, quando começaram um relacionamento que dura até hoje).

Foi com este filme que Spielberg sagrou-se, definitivamente, como o grande diretor de cenas de ação, fato que a história viria a confirmar, criando sequências de tirar o fôlego dos espectadores, como a 'corrida' de carrinhos na mina e que mais parece uma montanha-russa.

Claro que muitas gags do filme anterior estão de volta, potencializando o seu humor. Como uma porta de pedra que abaixa e por onde Indiana Jones puxa seu chapéu no derradeiro momento, ou quando Indy se vê frente a frente com dois habilidosos espadachins e apenas sorri cinicamente levando à mão ao coldre, porém aqui, diferentemente do longa anterior, ele está sem sua arma, tornando a cena, além de uma referência, uma paródia ao anterior.

Outras 'marcas' da série que não poderiam deixar de estar presentes são as sombras demarcadas de semblantes dos personagens, as linhas vermelhas sobre os mapas demarcando a trajetória dos vôos do herói, e no início, o logo da Paramount - uma montanha - fundindo-se com a imagem real do filme: se no primeiro ele fundia-se com uma montanha mesmo, aqui funde-se com uma montanha em alto-relevo de um gongo.

Finalmente, termino falando da maravilhosa trilha musical de John Williams, que reutiliza a música-tema do herói dando-lhe, em alguns momentos, uma nova 'roupagem'.

Enfim, "O Templo da Perdição" pode até não ter o mesmo charme, nem personagens tão bons quanto "Os Caçadores da Arca Perdida", mas ainda assim é um Indiana Jones, for God sake! Com todo carisma, cinismo, emoção e adrenalina que essas duas palavras evocam.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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O Indiana Jones continua muito bom neste segundo filme. Mesmo que ele tenha um roteiro com alguns pontos mais fracos. Vamos lá:

A Direção de Arte e a de Fotografia continuam estupendas. Todas as recriações são muito legais.

A história dá umas derrapadas com algumas situações muito forçadas. Fugindo de Xangai eles caem no Himalaia próximo a uma vila. Exatamente essa vila era a que possuía uma das pedras de Sankara e ele vai atrás. Não achei forte esse motivo, mas vamos lá.

No elenco há algumas disparidades. Harrison Ford continua soberano como o melhor em cena. O garoto Jonathan Ke Quan, que interpreta o Short Round, está muito bem. E destaque também para o indiano Amrish Puri, que interpreta o vilão Mola Ram. Já a Kate Capshaw não está bem no filme.

O filme tem cenas históricas como a do banquete no palácio Pankot, onde são servidos algumas iguarias intragáveis como cobra-surpresa, escaravelhos, sopa de olhos e a "deliciosa" sobremesa cérebro de macaco gelado.

Preciso fazer uma ressalva. Há uma cena que me recordo desde criança. Indiana Jones depois de cortar a ponte ao meio, quase morrer, lutar com o Mola Ram, salvar uma das pedras para devolver para a vila, depois disso tudo ficam olhando para a ponte caída achando que ele não se salvou. Eis que ele aparece, juntando as últimas forças e coloca a pedra mais a frente e pára para respirar. TODOS riem, acham graça mas ninguém vai lá ajudar o moribundo. Como assim? E se ele perde as forças e cai nesse momento? Desde que me recordo de ter assistido a esse filme pela primeira vez me lembro do absurdo dessa cena.

Por fim, recomendo o filme por causa do todo.


por Oscar R. Júnior


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Os Caçadores da Arca Perdida

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Caçadores da Arca Perdida, Os (Raiders of the Lost Ark, 1981)

Estreia oficial: 12 de junho de 1981
Estreia no Brasil: 21 de agosto de 1981
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O ano era 1980. George Lucas estava em meio à trilogia que o tornou famoso, "Guerra nas Estrelas" (ou "Star Wars", como queiram), com dois filmes já lançados e o terceiro em pré-produção; Steven Spielberg era um dos diretores mais promissores da época, já havia feito alguns filmes e séries para a TV e dirigido cinco longas-metragem, dentre os quais dois sucessos estrondosos de bilheterias: o thriller "Tubarão" (1975) e o drama de ficção científica "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (1977), e sonhava em dirigir um filme da série James Bond; Philip Kaufman havia dirigido um dos filmes mais tensos e assustadores de todos os tempos, "Os Invasores de Corpos" (1978). Foi da junção desses três nomes que nasceu uma das maiores aventuras cinematográficas de todos os tempos.

Lucas tinha a ideia e, junto com Kaufman, escreveu a história, que virou roteiro nas mãos de Lawrence Kasdan (que já havia transformado em roteiro a segunda parte da trilogia de Lucas, "Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca", de 1980). E assim, ganhava forma as aventuras de um tal Indiana Jones, que ganhou vida sob a direção de Spielberg (que nunca deve ter se arrependido em não ter dirigido um "007").

Em princípio, o longa nasceu como uma grande homenagem aos filmes de aventura da década de 1930 e 1940, mas ao longo dos tempos, sagrou-se como "a" grande aventura do Cinema, "o" grande herói das telonas, um dos maiores ícones da Sétima Arte.

Indiana Jones é um professor e pesquisador arqueológico que divide seu tempo entre a sala de aula e sua busca 'in loco' por objetos históricos. "Os Caçadores da Arca Perdida" já, de cara, apresenta-nos o personagem mostrando sua faceta aventureira, em uma sequência que possui uma das imagens mais emblemáticas do Cinema: Indy correndo de uma bola de pedra gigantesca.

Logo em seguida, descobrimos o dia-a-dia de Jones como professor, apenas para ele ser recrutado para mais uma aventura: encontrar a Arca Perdida da Aliança (aquela da Bíblia, e que supostamente teria as tábuas de Moisés contendo os Dez Mandamentos de Deus). Porém, Indiana não é o único atrás dessa preciosidade, e terá que encarar nada menos do que nazistas para conseguir o que quer.

Mas a aventura de Indy é apenas o pano de fundo para esse roteiro inteligente, que vai desenvolvendo seu (anti)herói de maneira gradativa e eficiente. Mas Indiana Jones não é um 'herói' no perfeito entendimento da palavra, não tem 'super poderes' e possui (vários) defeitos. E talvez isso é que o tenha tornado tão popular. Indiana Jones é um homem comum, que se dá mal, apanha, faz escolhas erradas… Claro que como herói, no final acaba se dando bem, pois é inteligente e conta com um bocado de sorte também, mas é essa vulnerabilidade que acaba tornando-o 'humano' e tão identificável aos olhos do espectador. Um herói que qualquer 'homem comum' poderia ser, com seu chapéu de feltro e chicote a tiracolo.

Claro que sem o estilo e carisma de Harrison Ford, a história talvez fosse diferente. Recém saído da trilogia de Lucas, como (o também anti-herói) Han Solo, Ford era um galã em ascensão, e foi a escolha perfeita para o personagem de Indiana Jones. Irreverente, cínico e com um sorriso encantador, Ford encarna o protagonista de forma magistral. Indy é um personagem complicado que transita entre a tênue linha entre proteger objetos históricos valiosos ou roubá-los. Seus inimigos, principalmente o francês Belloq (Paul Freeman), não são muito diferentes dele, e um pouco de ganância a mais poderia levar Indiana para o 'lado dos bandidos'. São essas sutilezas que fazem a diferença.

Fechando o elenco, Karen Allen, como Marion Ravenwood, encarna uma mocinha que também foge aos padrões, e não é nem um pouco indefesa, sabe se virar sozinha, além de gostar de uma bebida. John Rhys-Davies é Sallah, amigo de Jones, que o ajuda na sua busca pela Arca e é responsável por um tom mais cômico da história. E Denholm Elliott, o Dr. Marcus Brody, chefe e amigo de Indy na Faculdade de Arqueologia.

Mas não é apenas em seu conteúdo que "Os Caçadores da Arca Perdida" tem qualidades (o que já seria um feito e tanto), tecnicamente o filme é irrepreensível (e não é à toa que ganhou 5 Oscars: direção de arte, efeitos visuais, edição, som e efeitos sonoros; além de concorrer em mais quatro categorias: filme, direção, fotografia e música). Spielberg, junto com o diretor de fotografia Douglas Slocombe, abusam das sombras demarcadas que, geralmente, mostram o semblante de alguém, anunciando sua chegada (e que tornaria-se uma das marcas da saga).

A direção segura de Spielberg sobressai-se principalmente nas cens de ação, criando sequências memoráveis, como a da bola de pedra supra-citada; ou quando Indiana Jones despista bandidos em um mercado árabe; ou quando ele e Marion fogem de um verdadeiro ninho de cobras; ou ainda uma perseguição emocionante no deserto, onde Jones dependura-se sob um caminhão em movimento. São sequências audazes e emocionantes.

E não poderia terminar sem falar da excelente trilha sonora de John Williams, a lenda viva das músicas cinematográficas (e que em 2012 completará 80 anos), que criou aqui, um dos temas mais conhecidos da história do cinema. Além, é claro, de ser o responsável por outras tantas trilhas memoráveis. Quem não conhece as músicas de "Tubarão", "Star Wars", "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", "Superman", "E.T. - O Extraterrestre", "Império do Sol", "Esqueceram de Mim", "Parque dos Dinossauros", e "Harry Potter"? Todas obras de Williams.

Enfim, "Os Caçadores da Arca Perdida" é uma aventura que não envelhece, para espectadores de todas as idades. Uma junção perfeita de emoção, humor, cinismo e efeitos especiais. Eu não canso de assisitir.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Fabuloso esse filme. Não há como descrever uma empatia tão grande com um arqueólogo em suas buscas. A história é muito interessante: a busca pela Arca da Aliança. A história é do George Lucas, que também meteu o bedelho em um monte de coisas no filme. Nos extras do DVD ele conta que Spielberg queria partir para um projeto tipo James Bond, e Lucas apresentou-lhe o arqueólogo desbravador. Pensando depois percebo que em cada um dos filmes Indiana Jones se envolve com uma mulher (assim como o 007).

A Direção de Arte do filme é maravilhosa. Recriando templos antigos, fazendo a caracterização da década de 1940. Aliado a isso, a fabulosa Direção de Fotografia que atuou de forma a deixar bem místico os ambientes. O uso frequente de sombras é genial. Algumas tensões foram construídas somente pelas sombras. Muito bom.

O elenco está muito bem no filme e, obviamente, Harrison Ford é o melhor de todos. Não tem cena em que ele não se destaque. A construção do Indiana é muito bem escrita e muito bem interpretada.

Algumas cenas ficaram muito marcadas como a que um cara de turbante o desafia com uma grande espada, e fica fazendo firulas. Indiana simplesmente saca a arma e atira nele. Dá um sorisso e segue em frente. Ou a cena em que ele troca uma imagem por um saco com areia. Ou a mais eternizada do filme que é a dele fugindo da bola de pedra que o persegue.

É um filme que não canso de rever, e rever, e rever...


por Oscar R. Júnior


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Eterno Amor

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Eterno Amor (Un Long Dimanche de Fiançailles, 2004)

Estreia oficial: 27 de outubro de 2004
Estreia no Brasil: 25 de fevereiro de 2005
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"Eterno Amor", segunda parceria entre o diretor Jean-Pierre Jeunet e a atriz Audrey Tautou, é um belíssimo tratado sobre a força do amor.

Ambientado durante a Primeira Guerra Mundial, o roteiro de Jeunet e Guillaume Laurant (que já haviam trabalhado juntos em "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" e "Ladrão de Sonhos"), adaptado a partir de um livro de Sébastien Japrisot, conta a história de Mathilde, uma órfã criada pelos tios e deixada manca graças à poliomielite que teve na infância, e seu amor por Manech (Gaspar Ulliel). Os dois amam-se desde crianças; e, já adultos e noivos, vêem seu relacionamento interrompido quando Manech é convocado à Guerra. Três anos depois, Manech é dado como morto, mas como Mathilde não acredita nisso, parte em uma busca sem limites afim de encontrá-lo.

Utilizando-se de uma estrutura narrativa semelhante à utilizada em "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", Jeunet e Laurant utilizam-se da narração em off para apresentar seus principais personagens; reutilizando também o recurso de flashbacks para explicar fatos importantes das suas vidas. Porém, a história torna-se mais confusa do que precisaria ser devido às idas e vindas do roteiro e à enorme quantidade de personagens. Mas, à medida que o filme vai avançando, vamos nos familiarizando com nomes e personagens e as peças vão se encaixando.

Aficcionado pela plasticidade de suas imagens, Jean-Pierre Jeunet, juntamente com seu diretor de fotografia Bruno Delbonnel (responsável pelas fotografias igualmente belas de filmes como "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", "Across the Universe" e "Harry Potter e o Enigma do Príncipe"), criam cenas de tirar o fôlego pela sua beleza. Apostando nas cores que marcaram (e marcam) sua cinematografia, Jeunet aposta, aqui, nos tons mais amarelados, sem deixar de lado o verde e o vermelho. Nas cenas da busca de Mathilde, impera o amarelo; nas cenas da guerra, é o verde que predomina. E, em todos os momentos, o contraste entre luzes e sombras é bastante acentuado, criando uma fotografia bem contrastada.

Ainda "ajudado" por belíssimas locações, o longa traz planos deslumbrantes, como o momento em que um dos soldados é convocado para juntar-se ao exército francês em meio à sua plantação, e uma jarrada de vento 'balança' a grama; ou quando Mathilde visita um ex-combatente num hospital vazio e deprimente, mas que mantém uma beleza estrutural em seu arcos arquitetônicos; ou as cenas que acontecem no front, entre as trincheiras alemãs e francesas, que destacam-se pela sua dura violência.

A direção de arte (ou design de produção) é outro ponto mais do que positivo do filme, com seus belos cenários e figurinos que recriam época ao mesmo tempo em que corroboram com as cores do longa, tendo o cuidado com os mínimos detalhes, com os menores dos objetos de cena.

O elenco 'de primeira' encabeçado por Tautou, e que, além do já citado Gaspard Ulliel, ainda conta com Dominique Pinon (habitual colaborador e 'ator-marca' de Jeunet), André Dussollier, Marion Cotillard, Jodie Foster, Ticky Holgado, Jean-Claude Dreyfus e Albert Dupontel, dá força e credibilidade aos personagens. Audrey Tautou empresta sua doçura e fragilidade habituais a Mathilde, e compõe uma protagonista cativante que, se por um lado mostra-se tão frágil (e seu problema na perna é a marca disso); ao mesmo tempo demonstra que é capaz de enfrentar a todos (inclusive o exército francês) quando vê seu sentimento mais profundo, o amor por Manech, ser ameaçado.

Potencializado por um final comovente e lírico, a história de Mathilde e Manech vale a pena ser vista, e comprova que Jean-Pierre Jeunet é um esteta cinematográfico, um 'pintor' das telas de cinema, que usa (e abusa) das cores para potencializar os sentimentos e emoções das suas histórias.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Larry Crowne - O Amor Está de Volta

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Larry Crowne - O Amor Está de Volta (Larry Crowne, 2011)

Estreia oficial: 1 de julho de 2011
Estreia no Brasil: 9 de setembro de 2011
IMDb



"Larry Crowne" é um filme sem tempero, digamos assim. Falta aquele 'quê' para se tornar uma experiência, no mínimo, interessante.

Escrito por Tom Hanks e Nia Vardalos, o roteiro fala sobre um cinquentão, o tal Larry Crowne do título (Tom Hanks) que, após ser demitido do seu emprego, decide ir à faculdade para não perder mais nenhuma oportunidade na vida. Lá, acaba caindo na aula de Oratória, ministrada pela professora Mercedes (Julia Roberts), a qual parece estar desiludida não só com a carreira, mas também com a sua vida, já que sustenta um marido preguiçoso, e acaba bebendo mais do que deveria. Os dois, obviamente vão se apaixonar e mudar suas vidas.

Bom, pela premissa já pode-se ter uma ideia do que o filme é: mais do mesmo. E até poderia ter se diferenciado já que contava com bons atores, mas Hanks e Vardalos preferiram gastar a massa cinzenta escrevendo diálogos do que desenvolvendo os personagens. O resultado? Diálogos que até soam interessantes ou engraçados ditos por caricaturas cujos relacionamentos não transmitem veracidade, ou pior: parecem forçados demais.

Nenhum personagem parece ter motivação. Suas ações soam descabidas e desencadeadas apenas pela necessidade do roteiro em relacionar determinados personagens ou resolver certas situações. Em nenhum momento, por exemplo, entendemos porque Larry apaixona-se pela 'mal amada' Mercedes. Ou o porquê de Talia (Gugu Mbatha-Raw), amiga de Larry, resolver comportar-se como sua fada madrinha protetora.

Os personagens mal desenvolvidos enfraquecem até os tais diálogos engraçados que citei, fazendo com que percam a força que poderiam alcançar. Os atores principais até tentam: Tom Hanks faz o tipo boa gente que está tão acostumado; e Julia Roberts até convence como a professora de mal com a vida; mas não o suficiente para elevar o longa da sua condição de mediocridade.

A direção de arte é eficaz, dando um certo charme às locações e figurinos dos atores, com um certo ar retrô. Já com relação à direção de Tom Hanks, é apenas correta, mas nada que chame a atenção (mas também não é ela quem traz problemas ao filme).

Enfim, "Larry Crowne" é dispensável. Uma comédia romântica com uma história rasa e simplista como tantas lançadas por aí. E, se o encontro entre estes dois grandes astros é o que pode chamar a sua atenção para assistir a este longa, aí vai uma dica: vale muito mais a pena ver (ou rever) "Jogos do Poder" (de 2007, dirigido por Mike Nichols), onde além das excelentes atuações desses dois atores, há ainda a do restante do maravilhoso elenco - este sim é um filme 'diferenciado'. Já "Larry Crowne" é engraçadinho, é verdade; mas principalmente, é tolo e extremamente superficial.


por Melissa Lipinski


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Poderoso Chefão: Parte III

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Poderoso Chefão: Parte III, O (The Godfather: Part III, 1990)

Estreia oficial: 25 de dezembro de 1990
IMDb



"O Poderoso Chefão: Parte III" tinha uma difícil missão: 16 anos depois do grande sucesso de público e de crítica dos dois primeiros filmes sobre a família Corleone, manter o nível destes, ao mesmo tempo em que apresentasse novos personagens tão interessantes como os vistos anteriormente, e satisfazer a curiosidade dos fãs mais afoitos quanto ao destino daqueles personagens já tão conhecidos do público.

Na minha modesta opinião, Francis Ford Coppola foi bem sucedido em sua tarefa. Claro que esta terceira parte tem alguns deslizes e fica um pouco aquém dos anteriores, mas está longe de ser a catástrofe que alguns apregoam.

Se antes, nos dois filmes originais, o tema principal era sempre a família, aqui, apesar da família estar sempre presente, é a culpa o sentimento que norteia o roteiro de Mario Puzo e Francis Ford Coppola. Michael Corleone (Al Pacino), envelhecido e doente, não tem mais a antiga disposição para tocar os negócios da família (enfim legitimados), e tenta transformar o sobrinho Vincent (Andy Garcia), filho de Sonny, em um chefe inteligente e racional, tentando contornar o nervosismo e a impetuosidade que o rapaz herdou do pai, ao mesmo tempo em que faz negócios com o Vaticano e sente todo remorso de uma vida calcada no crime.

O arco dramático de Michael Corleone (e poderia dizer, da Família Corleone) enfim chega ao fim, e nada mais adequado em levá-lo a acontecer na Sicília, onde tudo começou. O filho de Michael, Anthony Vito Corleone (Franc D'Ambrosio), tornou-se cantor de ópera, e vai fazer sua estreia justamente na terra onde seu avô nasceu, levando toda a família reunir-se na Sicília.

Assim como aconteceu na segunda parte da trilogia com a Revolução Cubana, Puzo e Coppola colocam fatos históricos também neste derradeiro episódio: a escolha do papa João Paulo I e sua enigmática morte (ou assassinato). Em contrapartida, diferenciando-se dos anteriores, os autores recheiam a trama de diálogos (este episódio me parece bem mais falado e explicado que os demais), e fazem uso de flashbacks para atualizar os espectadores. E, se há uma gama de novos nomes, antigos personagens também dão o ar da graça, para alegrar àqueles fãs mais saudosistas, como Don Tommasino (Vittorio Duse) e o guarda-costas Carlo (Franco Citti); ainda que a falta de Tom Hagen (Robert Duvall) seja sentida e explicada através de uma morte prematura.

E, se novamente o elenco se sobressai, pode-se atribuir a isto o fato de Coppola ser um excelente diretor de atores. Al Pacino encarna Michael com grande intimidade, e conhecemos seus olhares, suspiros e gestos. Assim como Pacino, o público também já está familiarizado com Michael há cerca de 15 anos. E o ator consegue o impossível: mesmo sabendo de tudo o que Michael já fez sendo Don Corleone, passamos a sentir compaixão por ele, acreditamos no seu arrependimento. E isso graças à espetacular interpretação desse 'monstro' do cinema que é Al Pacino. Diane Keaton também está muito bem, e transmite todo o remorso e tristeza da vida de Kay. Talia Shire encarna uma Connie agora bem resolvida e disposta a fazer tudo para salvar o que ainda resta da sua família, e manter o seu poder - acho que é o melhor momento da personagem e da carreira de Shire. E, se o elo fraco das atuações fica por conta de Sofia Coppola (há cenas sofríveis de assistir); o destaque, certamente, é de Andy Garcia, que domina as cenas em que aparece. O ator empresta seu carisma e dinamismo a Vincent, e a transformação de atitude que acompanhamos o rapaz sofrer é lenta e verossímel.

A fotografia de Gordon Willis (que fotografou os três filmes) volta a apresentar a mesma estética dos anteriores, ainda que utilize menos sombras e ambientes semi-iluminados.

E, mais uma vez, Coppola volta a nos surpreender com uma sequência final arrebatadora, que consegue fazer páreo com a montagem paralela entre o batismo do afilhado de Michael e a sequência de assassinatos do primeiro filme. Aqui, as cenas da ópera intercalam-se com o assassinato dos conspiradores contra a família Corleone, culminando na cena na escadaria do teatro, onde o 'grito surdo' de Michael (que me faz lembrar "O Homem que Sabia Demais", de Alfred Hitchcock) fecha com chave de ouro esta que, senão a melhor, é uma das melhores trilogias da história do Cinema.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Este último filme do "O Poderoso Chefão" já não teve o mesmo apelo dos dois primeiros, mas continua muito interessante. Vamos lá:

Algumas das referências aos dois primeiros filmes são claras, como a cena em que Vincent Mancini (Andy Garcia) mata Joey Zasa (Joe Mantegna). A cena ocorre num dia festivo na rua, como na cena em que Vito Corleone (Robert de Niro) mata o Black Hand Fanucci (Gastone Moschin) nas ruas de Litte Italy. E a cena em que Michael passa os poderes para seu sobrinho, Vincent. Algumas cenas são muito bem feitas como a do assassinato no Vaticano, com o corpo caindo em direção à câmera.

O que dá umas derrapadas, na minha opinião, são as atuações. Colocar a Sofia Copola para atuar não rola. É fraca. O Andy Garcia até que vai. O Al Pacino continua excelente, assim como Diane Keaton. Talia Shire está melhor neste terceiro filme que nos anteriores.

Além da Sofia Copola o que não gostei mesmo foi da cena final, com Michael Corleone morrendo sozinho, jogado às moscas sentado numa cadeira. Cena desnecessária.

Fico por aqui.


por Oscar R. Júnior


domingo, 18 de setembro de 2011

O Poderoso Chefão: Parte II

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Poderoso Chefão: Parte II, O (The Godfather: Part II, 1974)

Estreia oficial: 20 de dezembro de 1974
IMDb



"O Poderoso Chefão: Parte II" é considerado por muitos como sendo superior à primeira parte da saga dos Corleone. Melhor, talvez não. Mas tão bom quanto, definitivamente.

O roteiro, novamente escrito por Mario Puzo e Francis Ford Coppola, mostra Michael, já estabelecido como o novo Chefão das famílias mafiosas, envolto em uma teia de poder, crueldades e traição; ao mesmo tempo em que narra o início, a formação dessa família tão poderosa, com a saída do pequeno Vito Andolini (posteriormente Corleone) da Itália, sua chegada à Nova York e o início do seu império.

Passado entre dois tempos bastante distintos, o roteiro consegue manter sua estrutura, de tramas paralelas, fazendo elegantes e importantes passagens de um tempo para outro. Não é apenas uma vez que vemos a imagem de Michael (Al Pacino) fundir-se com a imagem de seu pai ainda jovem, Vito Corleone (Robert De Niro). Essas ligações servem para mostrar ao público não só o quão parecidos são pai e filho, mas também como a história se repete, ainda que os tempos sejam outros e o poder de cada um também.

Afora a questão da trama paralela, a estrutura narrativa da parte da história que envolve Michael é muito semelhante a do filme original. Tem início, por exemplo, com uma grande festa de família, onde Don Corleone divide seu tempo entre a festa em si e reuniões particulares. Há também um atentado ao chefe da família, que desencadeia uma intrincada trama de falsidade e traições. Até chegar a um desfecho grandioso e genial.

O paralelo entre as histórias me parece ter apenas um enfoque central (assim como havia também no primeiro longa): a família. Se Vito Corleone consegue ter sucesso em seus negócios para sustentar e manter sua família unida. Michael, por outro lado, apesar de seus esforços e da manutenção do poder do clã Corleone, não tem o mesmo sucesso de seu pai, e vê sua família se desmantelar, seja pela raiva de sua irmã Connie (Talia Shire), a morte da mãe, a traição de seu irmão Fredo (John Cazale) ou a revolta da sua esposa Kay (Diane Keaton).

A direção de Coppola é excelente. Ele conduz as complicadas tramas com extrema segurança, sem nunca deixá-las confusas. Novamente cada diálogo e cada ação acontecem por um determinado motivo, e serão entendidas ao longo do filme, nada é gratuito. Chega a ser engraçado ouvir Coppola afirmar que só realizou essa segunda parte da trilogia da família Corleone para conseguir dinheiro e estabilidade ante o estúdio para produzir o "filme da sua vida" - "Apocalypse Now" (de 1979). Coppola, que quase foi demitido durante as gravações do primeiro longa, após o estrondoso sucesso de bilheteria, teve carta branca (e mais participações nos lucros) para dirigir essa sequência, controle artístico total.

A fotografia de Gordon Willis mantém as sombras e ambientes semi-iluminados vistos no primeiro longa, apesar de criar uma atmosfera bem mais sombria, como a história requisitava. A parte de Vito Corleone, por sua vez, é toda em cores sépia, dando esse aspecto de lembranças, de passado.

Novamente, Nino Rota e Carmine Coppola criam uma trilha musical incontestável (e, desta vez, levaram o Oscar). A música-tema do primeiro filme volta a ser ouvida aqui, e também parece ser decomposta em outras músicas marcantes.

E, mais uma vez, o trabalho dos atores é inquestionável. Ao contrário do primeiro longa, agora há espaço para as atuações femininas se sobressaírem, e Diane Keaton mostra seu talento como a cada vez mais amargurada Kay; e Talia Shire aparece muito superior que no filme original. Já os coadjuvantes são, novamente escolhidos a dedo, e além dos já conhecidos Robert Duvall (como Tom Hagen) e John Cazale (como Fredo), destacam-se as atuações de Michael V. Gazzo (como Frankie Pentangeli) e Lee Strasberg (como Hyman Roth, e mais conhecido por ter sido diretor do Actor's Studio). Os dois últimos também concorreram ao Oscar (assim como Talia Shire e Al Pacino). Mas o filme é mesmo de Al Pacino e Robert De Niro. Enquanto Pacino cria um Michael impassível, incapaz de mostrar a menor emoção; De Niro recria o Vito Corleone imortalizado por Marlon Brando. Parece que realmente estamos vendo aquele Don Vito Corleone de Brando em sua juventude: seus gestos, sua fala pausada e em tom baixo, seus olhares... Tudo recriado com perfeição. Não à toa, Robert De Niro ganhou seu primeiro Oscar (o único Oscar dado a um personagem que já havia ganho anteriormente, já que Brando também venceu, em 1972, interpretando o mesmo Vito Corleone).

Enfim, "O Poderoso Chefão: Parte II" é a continuação perfeita e irretocável da saga da família Corleone, e seu mentor, Francis Ford Coppola, definitivamente, um gênio da Sétima Arte.

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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Essa continuação entra na minha seleta lista de continuações que conseguem ser melhores que os originais. Agora temos em paralelo Michael Corleone continuando e expandindo os negócio da família e a história de como Vito Corleone virou o Padrinho.

A Direção de Fotografia e a Direção de Arte continuam muito boas. As cenas que contam a história de Vito têm um tom sépia, muito bem utilizado. Muito bom mesmo.

Quanto às atuações, a de Al Pacino é animal. Mas esse filme é do Robert De Niro. Ele consegue, com perfeição, ser o Vito Corleone na juventude. Tom de voz e modo de agir idênticos. O resto do elenco é muito bom também.

Quanto às cenas memoráveis, tem várias. Tem a que metralham o quarto do Michael Corleone. A que Vito Corleone vinga a morte da família na Itália. E a melhor de todas, na minha opinião, que é quando Michael beija seu irmão Fredo e o encara sobre a traição.

E uma curiosidade. Esta foi a primeira continuação a conseguir o Oscar de melhor filme. Só sendo "imitado" em 2004 com "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei", que é o terceiro filme da Saga. E considerando que somente a partir de 2001 tem a categoria separada de filme de animação, "Toy Story 3" venceu de melhor animação. Mas continua sendo o único caso em que o filme original e a continuação ganharam o prêmio da Academia de Melhor Filme, um feito e tanto.


por Oscar R. Júnior


 

sábado, 17 de setembro de 2011

O Poderoso Chefão

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Poderoso Chefão, O (The Godfather, 1972)

Estreia oficial: 24 de março de 1972
IMDb



O que resta ainda hoje para se falar de "O Poderoso Chefão"? Ele é, merecidamente, tido como um dos melhores filmes de todos os tempos, e muitos (muitos mesmo) sempre o colocam na condição de 'filme favorito'. Eu não poderia ser tão categórica, afinal, acho impossível escolher "o" meu filme favorito, tenho tantos… E "O Poderoso Chefão" - e aí sim posso ser categórica - certamente é um deles.

A adaptação do livro de Mario Puzo (feita pelo próprio em parceria com Francis Ford Coppola), alavancou a carreira do próprio cineasta, Coppola, e dos atores, na época iniciantes, Al Pacino e James Caan. Além de marcar um retorno triunfal de Marlon Brando (que acabou levando o segundo Oscar da sua carreira, o qual recusou mandando uma falsa índia à cerimônia para recebê-lo).

Puzo juntamente com Coppola conseguem transformar mafiosos em 'mocinhos', e fazer-nos torcer por eles. Isso porque o universo de "O Poderoso Chefão" é fechado, passa-se inteiramente nesse submundo de gângsteres italianos. Os autores fazem, assim, com que reflitamos sobre a Máfia a partir se seus próprios princípios.

Os personagens são tão maléficos quanto são carismáticos e admiráveis. Don Vito Corleone (Marlon Brando) é simpático, e faz tudo em nome da 'famiglia'. Como podemos recriminar um homem que se coloca contra o tráfico de drogas? Que não abusa de mulheres e inocentes? Michael Corlene (Al Pacino) é herói de guerra, lutou pelo seu país, e apenas entrou no mundo criminoso para vingar a honra e o nome de seu pai. Como recriminá-lo? Quem não defenderia o próprio pai?

Essa é a 'mágica' de Coppola e Puzo. Nós 'traímos' nossos próprios princípios morais para apoiarmos e torcermos por esses anti-heróis. O mundo 'real' é (durante o tempo do filme) trocado pelo mundo da Máfia, um autoritário patriarcado onde a justiça está do lado do 'Padrinho', e somos convidados a fazer parte dele. E nos deixamos convencer. Afinal, como diz o próprio Michael, "jamais se atreva a aliar-se com alguém contra a família".

O filme é tão magistralemnte orquestrado por Coppola que não há peças fora do lugar. Tudo é mostrado por alguma razão e no tempo certo. Ao final da sequência inicial, por exemplo, que mostra o casamento da filha de Don Corleone, Connie (Talia Shire), intercalado com reuniões do Padrinho, já ficamos sabendo quem é quem nessa família, e a personalidade de cada um deles. Coppola nos apresenta àquela família, e de imediato, nos sentimos integrados a ela, conhecendo seus principais componentes.

O roteiro é tão intrincado em suas idas e vindas que você não pode dispersar um segundo. Uma informação perdida aqui, será o não entendimento de uma reação acolá; e assim, a história fecha-se magistralmente. Uma história, como falei, patriarcal, que não dá voz às mulheres. Todas as personagens femininas passam pelo filme como meros fantoches, joguetes ou apenas companheiras dos mafiosos. Kay (Diane Keaton) é, certamente, quem tem maior importância. Ela casa-se com Michael porque acredita, como ele lhe diz ao começo do filme: "essa é a minha família, Kay, não sou eu". Mas, ao final (em um dos finais mais belos em toda a história do Cinema), ela vê que o que ele lhe fala não necessariamente é a verdade. Ela compreende que será apenas mais uma mulher no clã Corleone. Entende que Michael agora é o Padrinho. E para isso, Coppola apenas precisou de um beijo na mão e uma porta sendo fechada. É brilhante!

O filme trata da Máfia, mas acima de tudo é sobre a lealdade à família. E a personificação disto é o personagem Tom Hagen (Robert Duvall). No mundo diegético do filme, é a lealdade que importa, e não a honestidade, afinal de contas, estamos falando de um mundo de crimes.

Mas talvez, o filme não tivesse tanta força se o elenco não tivesse funcionado. Seja o time principal, Brando, Pacino, Caan e Duvall (todos indicados ao Oscar por suas atuações, sendo que somente Brando levou o prêmio), com interpretacões viscerais, arrebatadoras e acima de qualquer comentário. Seja os nomes coadjuvantes, como Richard Castellano (como Clemenza); a própria Diane Keaton; Al Lettieri (como Sollozzo); Abe Vigoda (como Tessio); John Cazale (como Fredo); e Richard Conte (como Barzini), todos convincentes em seus respectivos papéis; e, se alguns não podem ser considerados realmente bons atores, funcionam ora pela sua dura fisionomia, ora por sua corpulência. Enfim, todos escolhidos a dedo para exercer seu personagem de acordo com o que importava.

Mas o filme é mesmo de Marlon Brando, que domina toda e qualquer cena em que aparece. Sua composição de Don Vito Corleone talvez seja a mais famosa (e mais imitada) da história do Cinema. A força de sua interpretação "leva nas costas" inclusive aqueles companheiros não tão talentosos. As 'muletas' de interpretação que Brando utilizava já viraram lenda - como o gatinho da primeira cena e que não estava no roteiro, foi incluído pois o ator improvisou na hora e pegou o gato que 'passeava' pelo set de filmagens. Lendária também é a 'incorporação' que Brando fez em seu teste de elenco, utilizando chumaços de algodão para encher as bochechas (no filme, ele não usou algodão, e sim bolas de resina preparadas para esse fim). Enfim, Marlon Brando era uma lenda, assim como tudo o que fazia, ainda mais relacionado a este personagem. Suas ações, seus olhares, as pausas de suas falas, o tom da sua voz, tudo milimetricamente calculado para transformar Don Vito em uma lenda tão forte quanto ele mesmo. Conseguiu.

A fotografia do longa também é belíssima, com suas sombras e ambientes mal iluminados. As únicas cena em que vemos o Sol brilhar são a primeira, a cena do casamento, e as sequências em que Michael está na Sicília. São arroubos de calmaria e felicidade numa realidade dura e violenta.

E, coroando este estupendo filme, há ainda a belíssima trilha musical composta por Nino Rota e Carmine Coppola (pai de Francis Ford). Carmine Coppola foi o responsável pelas canções da cena do casamento. Nino Rota, o excepcional compositor italiano que já havia trabalhado muitas vezes com Federico Fellini, criou o tema que seria mundialmente conhecido, uma música melancólica e nostálgica que encaixa-se perfeitamente no filme, funcionando como mais uma peça fundamental deste intrincado quebra-cabeças.

Enfim, como já disse aqui algumas vezes, bons filmes são aqueles que não envelhecem, independente da idade que tenham. "O Poderoso Chefão" é, incontestavelmente, mais um desses. Talvez o maior de todos… Talvez…

Fica a dica!


por Melissa Lipinski
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"O Poderoso Chefão" entra na lista dos filmes que não me canso de assistir. Mas vou tentar analisar por partes o filme.

Roteiro. O roteiro é baseado no livro homônimo de Mario Puzo, que escreveu o roteiro junto com o diretor do filme, Francis Ford Coppola. A construção da história é perfeita. Começa apresentando os personagens na cena do casamento. Vemos como é o Don Corleone (Marlon Brando) e seu jeito de tratar e cuidar da família. O filho "adotivo" Tom Hagen (Robert Duvall) que é o seu braço direito. Conhecemos Sonny (James Caan), o filho mais agressivo. Michael (Al Pacino), o filho que não se envolve com os negócios da família. Vários outros personagens são apresentados, mas esses são os principais.

As sequências são muito bem construídas e temos várias que viraram ícones e faço questão de citar algumas:

- A cena em que Tom Hagen vai a Holliwoody falar com um produtor de cinema, e que culmina na famosa cena da cabeça do cavalo na cama do cara.

- A montagem em paralelo do batizado com a "limpa" que Michael faz contra os inimigos.

E por último, faço destaque para Marlon Brando. Ele domina quando está em cena, sem a menor dúvida. A construção e colaboração dele para o Vito Corleone é extraordinária. E a cena em que ele brinca com seu neto é mais umas das cenas clássicas que o filme gerou.

Recomendo.


por Oscar R. Júnior


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cowboys & Aliens

ATENÇÃO: O texto pode conter citações sobre o desenrolar do filme. Caso não tenha visto o filme ainda, tenha cuidado ou o leia após assisti-lo.

Cowboys & Aliens (2011)

Estreia oficial: 29 de julho de 2011
Estreia no Brasil: 9 de setembro de 2011
IMDb



A ideia era boa: alienígenas em pleno Western. Confesso que não conhecia os quadrinhos de Scott Mitchell Rosenberg, mas quando vi o trailer deste novo filme de Jon Favreau, achei que daria um longa interessante, até pelo trabalho que o diretor havia feito nos dois longas do "Homem de Ferro" (2008 e 2010). Bom, resultado interessante sim, não se pode negar. Mas longe de ser um filme realmente bom.

Roteirizado por 5 pessoas (muitas cabeças pensantes com ideias distintas sobre um mesmo tema quase nunca resulta em boa coisa), o início do filme atrai a atenção, ao mostrar o cowboy Jake Lonergan (Daniel Craig) acordando no meio do deserto, com amnésia e portando um estranho bracelete de metal. Chegando a um pequeno vilarejo chamado Absolution (um nome interessante, que pode ser traduzido como 'perdão' ou 'absolvição', já que é a partir dali que o herói encontrará sua própria redenção), Lonergan acaba indo parar na prisão, e só consegue se safar porque os tais aliens atacam o lugar, abduzindo parte de seus habitantes.

Até aí, o filme funciona bem, apresentando os principais personagens de forma interessante: o 'dono' da cidade, grande fazendeiro local, Dolarhyde (Harrison Ford), seu filho encrenqueiro Percy (Paul Dano) e seu guarda-costas Nat Colorado (Adam Beach); o chefe do bar, Doc (Sam Rockwell) e sua esposa Maria (Ana de la Reguera); o xerife Taggart (Keith Carradine) e seu neto Emmett (Noah Ringer); e a enigmática Ella (Olivia Wilde).

Porém, após nos familiarizarmos com os personagens, e depois da ideia de ver aliens em meio a cowboys já estar absorvida, o que sobra é um roteiro com sérios problemas. Problemas narrativos, já que é preciso recorrer a flashbacks para se entender a história. Gravíssimos problemas de elipse temporal e geográfica: em um plano vemos Jake afugentar Ella durante sua busca pelos alienígenas, e no plano seguinte, Ella já se junta ao grupo liderado por Dolarhyde que está saindo da cidade - detalhe é que se subentende que Jake já havia saído em sua busca um bom tempo antes, portanto já deveria estar um pouco longe da cidadezinha. Ou então, na cena que antecede a batalha com os aliens, Jake se afasta de seu grupo para recrutar mais homens - de seu antigo bando, com quem cruzaram pelo caminho - o porém aqui, é que, aparentemente, esse antigo bando já havia sido deixado para trás há certo tempo e, quando Jake parte, parece encontrá-los 'logo ali na esquina' (ou depois da próxima montanha, como queiram!). Assim, ficamos totalmente perdidos quanto ao tempo em que se passa a história. Outro fator que contribui para isso é que, em sua jornada, o grupo que está à caça dos aliens parece passar por mais noites do que dias… Enfim, uma confusão temporal!

Há ainda problemas na elaboração dos personagens, já que, de uma hora para a outra, certa personagem parece saber tudo a respeito dos tais alienígenas, sendo que até aquele momento, nada havia dito neste sentido. Ou então a coincidência de conflitos entre o garotinho Emmett e o inseguro Doc, que parecem ter o mesmo problema de falta de autoestima, resolvida com a empunhadura de uma arma (seja de fogo ou uma faca). Isso sem contar o número de integrantes do grupo liderado por Dolarhyde, que, em determinado momento, parece, inexplicavelmente, duplicar de tamanho. Ou então os aliens, que parecem ser indestrutíveis em alguns momentos, e extremamente frágeis em outros; ou quando um personagem diz que eles não enxergam bem na luz do dia, apenas para este fato ser totalmente esquecido e vermos os aliens correndo aparentemente sem nenhum problema de visão - em plena luz do Sol! Enfim, o roteiro usa e 'desusa' informações quando lhe convém.

Porém, não só de problemas constitui-se "Cowboys & Aliens" e, assim como nos dois "Homem de Ferro", Jon Favreau dirige-o com determinação e seriedade, criando boas cenas de tensão e eficientes sequências de ação. Os bons efeitos visuais são outra qualidade; além da criativa direção de arte, que concebe cenários convincentes: seja a cidadezinha Absolution, o barco virado onde os heróis se abrigam por uma noite, ou a nave extratora alienígena.

Mas o que faz o longa salvar-se de ser um desastre total é mesmo o seu elenco. E, se o roteiro não tem o cuidado de conceber seus personagens adequadamente, é, de certa forma, compensado pela cuidadosa concepção que os atores fazem deles. E nota-se um bom ator quando este se utiliza de pequenos gestos (que muitas vezes passam desapercebidos aos olhos do público) para compor seu personagem, como Sam Rockwell faz com seu Doc - basta notar a forma desajeitada com que ele empunha uma arma ou segura as rédeas de seu cavalo. E, se Harrison Ford dá densidade ao seu Dolarhyde, conferindo uma dureza que vai se atenuando aos poucos (mas sem nunca deixar de existir) - e se o personagem não se define com relação à sua índole, é mais culpa do roteiro do que do próprio ator; Daniel Craig acerta em cheio ao compor Jake Lonergan com o jeito taciturno e a virilidade que lhe é habitual. Infelizmente, Olivia Wilde nada pode fazer, já que sua personagem surge apenas para se ter uma mulher na história, e é tratada mais como objeto e interesse romântico do protagonista do que uma personagem de verdade.

Enfim, "Cowboys & Aliens" é o desperdício de uma boa premissa, um bom elenco e um promissor diretor. Prova incontestável de que, sem um bom roteiro, não se faz um bom filme, independentemente do orçamento existente.


por Melissa Lipinski